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O que te levou à UMinho e ao curso de
Engenharia Biomédica?
Optei pela
Engenharia Biomédica na UMinho pois sempre me senti atraído pelas áreas da
Saúde e da Tecnologia, e aliado a isto a necessidade na altura da minha entrada
de escolher um curso e uma universidade que me permitisse conciliar a vida de
estudante com a desportiva (representava na altura os séniores do Óquei Clube
de Barcelos).
De que forma é que a tua escolha moldou
o teu futuro profissional?
No meu caso a
escolha do curso serviu-me como um grande suporte para toda a minha atividade
profissional. Desde a conclusão do mestrado trabalhei em áreas ligadas
principalmente ao meu projeto final, que englobam técnicas avançadas em
imagiologia médica, nomeadamente neuroimagem e radioterapia.
Como é que foram esses anos na academia
minhota?
Sempre fui das pessoas que defende que
os anos universitários são dos melhores das nossas vidas. Apesar de ter sido
uma fase bastante desgastante e exigente, uma vez que todos os dias antes e/ou
no final das aulas tinha treinos de hóquei, e tinha que gerir todo o meu tempo
ao minuto, considero que foram tempos únicos e com experiências inesquecíveis,
de onde resultaram inúmeras histórias para contar e grandes amigos.
Como é que se deu a tua entrada para o
desporto na UMinho?
Foi de uma forma natural, sou uma pessoa
bastante ativa, que gosta e pratica vários desportos e na UMinho surgiu a
oportunidade de continuar a competir pela equipa de hóquei em patins e praticar
em lazer outros desportos como futsal, ténis de mesa ou musculação.
O que te levou a escolher o Hóquei
Patins?
Depois de ter
experimentado diversas modalidades como futebol, andebol, natação, foi o hóquei
que mais me fascinou pela sua velocidade de execução e necessidade de uma
extrema coordenação motora e destreza. Aproveito também para agradecer aos meus
pais todo o suporte e tempo disponibilizados para que eu chegasse onde cheguei.
Que recordações guardas do desporto
universitário, das atividades desenvolvidas na Universidade e pela
Universidade?
Sem dúvida alguma as melhores;
relativamente ao hóquei em patins estive presente naquele que considero o
momento de ouro do hóquei em patins da UMinho, com a conquista de 2 campeonatos
nacionais, e em 5 anos de participações conquistámos 5 medalhas. Recordo também
a vitória no troféu do reitor de futsal, 2 participações na final e uma
participação no troféu do reitor de ténis de mesa.
Qual foi o momento mais marcante que
tiveste enquanto atleta da UMinho?
A conquista do
1º campeonato nacional universitário de hóquei em patins numa altura em que
havia um enorme desinteresse pela modalidade e poucos acreditavam que fosse
possível…
Achas que foi importante (o
desporto) no teu desenvolvimento enquanto indivíduo?
Como é óbvio
foi fundamental pelos valores de companheirismo, grupo, superação de
adversidades, sacrifício, organização e disciplina que incute. Dou como exemplo
o destaque e importância que teve a parte desportiva na obtenção do meu atual
emprego, onde foi altamente valorizada.
A entrada no mundo profissional, como é
que aconteceu?
Foi uma
transição normal, em que depois de acabar o curso surgiu a oportunidade de
trabalhar num projeto entre o Instituto de Ciências da Vida e Saúde, a escola
de Psicologia e o Departamento de Informática da UMinho. Sinto-me orgulhoso
pelo trabalho desenvolvido, e por ter sido um dos pioneiros juntamente com os
Professores Nuno Sousa, Óscar Gonçalves, Victor Alves e Adriana Sampaio pelo
arranque de uma nova área tanto na UMinho como em Portugal que é a Neuroimagem.
Esta minha vertente profissional permitiu-me também em paralelo iniciar o meu
doutoramento que estou prestes a terminar e defender.
Foi difícil essa passagem do mundo
académico para a realidade do mundo do trabalho, ainda por cima continuando a
jogar Hóquei ao mais alto nível?
Não, esta
transição foi a etapa mais fácil do processo. Dificílima foi a decisão que tive
de tomar no 3º ano do curso, em que tive que optar por concluir o curso em
detrimento da alta competição. Foi uma fase em que jogava pelo Óquei de
Barcelos e tinha jogos de campeonato, taça, liga dos campeões, seleção nacional
de juniores, hóquei universitário, e foi impossível aguentar o ritmo mantendo a
atenção que queria dar à minha formação académica. Optei por nesse ano deixar a
alta competição e ir jogar para a 2ª divisão, privilegiando a conclusão do meu
curso. Foi uma decisão difícil mas que hoje em nada me arrependo dada a minha
situação profissional e o estado das ditas modalidades amadoras no nosso país.
Foi duro posteriormente ter que
abandonar o desporto que tanto te deu e te moldou?
Sim e não. Sim
porque é verdade que sinto falta do ambiente de balneário e da competição e
pressão do desporto de alto nível. Não porque continuo a praticar desporto
frequentemente, porque creio que superei todos os meus objetivos em termos
desportivos e porque sinto que na fase que deixei, há cerca de 1 ano o hóquei
já me tirava mais do que o que me dava.
Em que área estás a trabalhar e quais
são as tuas funções?
Neste momento
sou Engenheiro de suporte e formação na Brainlab (empresa alemã) na Europa,
África do Sul e Médio Oriente principalmente. Faço instalação de equipamentos
em hospitais e clínicas, dou formação a médicos, físicos e técnicos e colaboro
também na parte de investigação e desenvolvimento. Estou também a acabar o meu
doutoramento em Ciências da Saúde, mais concretamente em Neuroimagem.
Como é que surgiu a oportunidade de
trabalhar para essa empresa?
No seguimento
do trabalho realizado para a UMinho e em colaboração com alguns hospitais fui
abordado pela Brainlab para fazer parte da equipa de Engenheiros da empresa.
Foi um processo um pouco rápido e inesperado, mas que aproveitei dada a
situação económica e mentalidade existentes em Portugal e as condições e
progressão de carreira oferecidas.
Sei que viajas muito e um pouco por todo
o mundo. Qual foi até agora o pais/sociedade que mais te impressionou e porquê?
Vou destacar duas viagens que fiz ultimamente e que me surpreenderam. A primeira a Kota Bharu na
Malásia em que destaco as enormes dificuldades e falta de meios mas que são
compensadas pela enorme entrega e qualidades humanas das pessoas. Depois Tel
Aviv, que me surpreendeu (talvez pelo meu desconhecimento total) por ser um
país extremamente desenvolvido e organizado. O que me dá mais prazer é conhecer
e lidar com culturas completamente diferentes e observar como reagem de forma
tão diversificada às mesmas situações.
E o teu doutoramento, em que fase está?
Estou na fase
da escrita final e a preparar a entrega e defesa depois de 4 anos intensos.
O que é que te levou a tirar o
doutoramento e mais especificamente nessa área?
O gosto pela
área da Neuroimagem e Ressonância Magnética e as dificuldades e limitações
existentes em Portugal. É uma área onde por exemplo é praticamente impossível
obter algum tipo de ajuda no nosso país, temos recursos tecnológicos muito
limitados, o que me despertou interesse principalmente pelo desafio.
Como é o dia-a-dia do José Soares?
A verdade é
que não existe o dia-a-dia do José Soares. Posso acordar em Braga, Munique,
Singapura, Tel Aviv, Ljubljana? Estou sempre preparado para que me liguem e
entrar num avião nesse mesmo dia. Quando estou em Braga estou normalmente na
UMinho a trabalhar no meu doutoramento e aproveito também para estar com a
minha família, namorada e amigos. Por outro lado tento também disfrutar das
viagens e conhecer ao máximo as tradições e culturas por esse mundo fora.
Na tua área de conhecimento, como é que
está o mercado de trabalho?
Na minha área
de conhecimento e naquilo que gosto de fazer em Portugal não existe mercado de
trabalho. Primeiro porque é uma área que necessita de investimento dada a sua
grande vertente tecnológica. Depois devido aos interesses e à organização (como
é óbvio falta dela) pelos quais se rege o nosso país torna impossível a
integração de pessoas com formação tecnologicamente avançada no mercado da
saúde. Costumo dizer por brincadeira que quando estou fora só sinto falta das
pessoas.
Onde é que te vês daqui a 10 anos?
Sou uma pessoa
que vive o dia-a-dia e tento dar o meu melhor constantemente. Não costumo fazer
muitos planos a longo prazo, mas diria que me vejo responsável por uma equipa
de investigação e desenvolvimento na área da saúde. Tenho também projetos para
criar uma empresa, o que será uma possível realidade daqui a 10 anos.
Achas que Portugal está a produzir
mão-de-obra qualificada a mais ou os jovens licenciados estão apenas a pagar a
fatura de uma crise que levou muitas empresas à falência?
Acho as duas
coisas. Hoje em dia criou-se o preconceito de que quem não tem curso superior é
um zé-ninguém. Há também um grande contributo das universidades públicas/estado
que apenas se interessam no número de estudantes e na possível receita que daí
advém, independentemente da qualidade da formação e da empregabilidade.
Concordo com as pessoas que dizem que somos um país de D(d)outores. Há também
depois o problema do fecho das empresas que obviamente reduz as perspetivas de
empregabilidade, principalmente aos jovens.
Acreditas que o Empreendedorismo é uma
solução para alguns dos atuais problemas dos jovens licenciados?
Acredito que o
empreendedorismo deva ser uma possibilidade que se deve dar aos jovens e
apoiar. No entanto, não me parece ser uma solução para a situação atual, que é
bem mais complexa.
É mais fácil ser reconhecido pela
nossa qualidade profissional cá dentro ou achas que ainda existe a mentalidade
de que quem vem de fora é melhor?
Acho que é
muito difícil ser reconhecido pela qualidade profissional em Portugal
(dependendo do apelido) mas também acho que felizmente existem óptimos
profissionais no nosso país. Uma das coisas que me dá mais prazer é ouvir pessoas
de diversos países elogiarem os trabalhadores portugueses, que são pessoas
dedicadas, inteligentes e acima de tudo desenrascadas. Acho piada às pessoas
que me perguntam como é possível o nosso país estar na situação em que está se
todos os emigrantes portugueses são profissionais exemplares.
Notas grandes diferenças nos métodos e
ritmos de trabalho entre Portugal e, por exemplo, Israel que é onde estás agora?
Sem dúvida.
Não só em Israel mas na maior parte dos países por onde passei, noto principalmente
diferenças em termos de método e organização de trabalho. Quanto ao ritmo e
carga de trabalho, já somos dos países com maior número de horas de trabalho
semanais, no entanto a produtividade não o reflete.
Que conselho deixas aos milhares de
estudantes da UMinho que procuram um futuro mais risonho através de um curso
superior?
Digo
que se tentem evidenciar e destacar de todos os outros de alguma forma, seja
ela académica, desportiva ou cultural, e que não deixem de lutar pelos seus
sonhos e objetivos.
Texto e Fotografia: Nuno Gonçalves
(Pub. Nov/2013)
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