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Quem
é Filipe Vaz?
Um Professor Associado com Agregação da Escola de
Ciências da Universidade do Minho, presentemente a exercer funções de
Pró-reitor com o pelouro dos novos projetos de ensino.
Como recebeu o convite para ser um dos pró-reitores da
UMinho?
Fui convidado em agosto do ano transato pelo Professor
Rui Vieira de Castro. Tratou-se de um convite que me deixou com um misto de
sensações. Em primeiro lugar fiquei extremamente honrado pelo facto de
acreditaram nas minhas capacidades para desempenhar o lugar, mas também com
alguma apreensão pois tratava-se de desempenhar funções num cargo de grande
responsabilidade e que necessitaria de um grande envolvimento pessoal e de uma
capacidade de trabalho que imaginava ser muito exigente.
É Pró-Reitor para os novos projetos de ensino. Qual a essência desta pasta?
Digamos que é uma pasta diversificada e que funciona em
grande articulação com a pasta do vice-reitor para a Educação. Trata-se de um pelouro
que, como o próprio nome indica, pretende definir uma estratégia clara para a
implementação de um conjunto de novos projetos de ensino que visam a contínua
afirmação da Universidade do Minho no panorama nacional e internacional,
atraindo novos públicos e respondendo a uma necessidade crescente da sociedade
para a formação contínua, quer nas dimensões presenciais, quer na sua
componente à distância. A missão da Universidade terá que passar sempre por uma
resposta rigorosa e adequada às necessidades individuais e coletivas,
respondendo de forma clara aquilo que de nós se espera: formação e atualização
contínua das pessoas. Passa muito por isto a essência da minha pasta, tentando
implementar um conjunto de ideias e de projetos que possam concretizar estes
propósitos.
Que funções tem a seu cargo e o que espera ver concretizado
em 2017?
As funções que temos a nosso cargo quando inseridos numa
equipa reitoral vão sempre muito para além daquilo que inicialmente definimos.
Estando inserido num grupo e a trabalhar em forte articulação com o pelouro da
Educação, diria que todos os aspetos relacionados com ele podem ter alguma
participação minha. De qualquer forma, existe um conjunto de projetos que foram
enunciados na candidatura desta equipa reitoral, e para os quais estou mais
diretamente relacionado. Em primeiro lugar destacaria a coordenação do projeto
do ensino à distância e a do Gabinete de Apoio ao Ensino (GAE). Ao passo que no
primeiro a minha intervenção passa pela definição e implementação de toda uma
estratégia de desenvolvimento, no caso do GAE a minha função é essencialmente
de coordenação das várias atividades em que este gabinete tem
responsabilidades, que passam, substancialmente, pelo apoio aos projetos de
ensino e á formação de docentes e, mais instrumentalmente, pela gestão de
complexos pedagógicos e pela gestão de horários.
Quais são os principais objetivos do pelouro que lidera
para próximos quatro anos?
Existe um conjunto de objetivos definidos por esta equipa
reitoral, relativamente aos quais tenho responsabilidade direta, que vão desde
a formação e atualização de docentes nos domínios das metodologias de ensino e
da utilização de plataformas eletrónicas, ao reforço do programa de ligação a
escolas secundárias para promoção da cultura científica e identificação de
estudantes com elevado potencial. Para além destes objetivos, que se espera
venham a ter uma importância relevante ao nível do impacto nos vetores
programáticos definidos por esta equipa reitoral, há ainda um grande projeto
para o qual irei dedicar uma grande parte do meu tempo: a definição estratégica
e implementação da operação “ensino à distância”. Este projeto terá como
suporte a criação de um portefólio de cursos de especialização, avançados ou
atualização em diferentes áreas temáticas, visando públicos diferenciados e
respondendo a necessidades da sociedade ou a solicitações específicas de
empresas ou de outras instituições. Trata-se de um projeto de dimensão
significativa que requer um planeamento muito detalhado com as várias UOEI que
iremos envolver numa primeira fase. Já conseguimos chegar a um modelo comum de
implementação, da definição de públicos e de áreas de interesse para a fase
inicial, sendo que esperamos ter um conjunto de projetos piloto a funcionar
ainda este ano civil. Estamos também na fase de definição de uma equipa multidisciplinar
que se pretende venha a discutir as formas possíveis de implementação deste
projeto.
No
âmbito da sua tutela, quais são os projetos mais importantes a curto/médio
prazo?
Sem dúvida que o grande projeto que posso considerar
como mais importante é o do ensino à distância. É um projeto de grande
importância para a Universidade do Minho, mas acima de tudo para a sociedade
envolvente.
Como avalia o desempenho da UMinho na área do Ensino
nestes últimos anos?
Parece-me claro que a UMinho se vem afirmando cada vez
mais no panorama nacional. Em primeiro lugar, temos assistido a um crescimento
contínuo da Universidade ao nível do número de alunos, sendo que o reforço na
sua componente de pós-graduação é talvez o exemplo mais marcante do
reconhecimento do nosso desempenho ao nível do ensino. Por outro lado, a nossa
oferta de ensino tem merecido avaliações muito positivas ao nível das agências
de acreditação nacionais e internacionais, destacando-se aqui a Agência de
Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES), que, em sucessivas missões
na UMinho, tem reconhecido a mais-valia e importância da nossa oferta
formativa.
A UMinho tem em andamento a abertura de novas formações e
novos cursos. Quais são, e que necessidades vêm cobrir?
A oferta de ensino à distância será sem dúvida dos
projetos mais marcantes a este nível. Trata-se como já referi um projeto que
iremos dedicar muito do nosso tempo (eu em particular) e que pretendemos venha
a ser uma marca diferenciadora da UMinho. A grande necessidade a que
pretendemos responder é a da formação contínua.
Para além destes, quais serão as novas possibilidades de
desenvolvimento do portefólio de cursos da UMinho nos próximos quatro anos?
Tal como referido no nosso plano estratégico, a UMinho assume como objetivos estratégicos para os próximos seis anos
atingir 25 000 estudantes em regime presencial, 45% dos quais estudantes de
pós-graduação, incluindo 20% de alunos estrangeiros e uma aposta clara na
concretização de um projeto de ensino a distância, que se traduzirá na
existência de 10 000 alunos envolvidos nesta modalidade. É claro que as áreas e
os projetos em que a UMinho vai crescer terão que ser balizadas pelos desígnios
de concretização da universidade completa, da universidade de investigação e da
universidade da educação integral, a alcançar de forma inteligente (seletiva),
sustentada, inclusiva e aberta (ao exterior), num quadro de promoção do
desenvolvimento educativo, económico, social e cultural.
Neste âmbito, e naquilo que mais diretamente se
cruza com a minha área de intervenção, o
projeto do ensino a distância vai possibilitar de forma clara o desenvolvimento
de um portefólio de novos cursos de especialização ou atualização em diferentes
áreas temáticas. Este conjunto de cursos de especialização, que poderão ainda
evoluir para cursos livres, ou avançados, visam atingir públicos diferenciados,
que podem requerer a existência de alguns pré-requisitos, o que posteriormente
poderá permitir a sua creditação em algum dos nossos ciclos de estudo. Por
outro lado, podem servir apenas para a formação/atualização em determinadas
áreas do saber, sempre com uma matriz de responder a necessidades da sociedade
ou a solicitações específicas de empresas ou de outras instituições.
Na sua opinião ainda temos margem para continuar a reforçar a nossa oferta educativa?
Sem dúvida. Sabemos muito bem que a sociedade está em contínua evolução e que requer especialização contínua e formação cada vez mais abrangente. Há vinte anos não se falava em nanotecnologia e hoje temos vários cursos que estão diretamente relacionados com esta temática. A Universidade tem que ser dinâmica, acompanhando de muito perto a evolução da sociedade e das suas necessidades.
Quais são as iniciativas que estão a ser planeadas de
forma a conseguirmos “chamar” cada vez mais alunos à UMinho, uma vez que o
objetivo é termos 25000 alunos em 2020?
Há várias atividades em desenvolvimento, podendo
destacar-se a interação com as Escolas Secundárias, quer ao nível da ida da
Universidade às Escolas, quer da vinda das Escolas à Universidade, através de
iniciativas das várias UOEI, quer da própria Reitoria.
Um dos objetivos principais da UMinho para o programa de
Ação Quadriénio 2013-2017 é “crescer e diferenciar no ensino” como é que isto
será feito?
Esta é uma das nossas apostas. A Reitoria entende que só
poderemos crescer pela diferenciação e pela aposta em projetos de ensino
inovadores e de ligação cada vez maior às exigências da sociedade. A nossa aposta
em projetos educativos diferenciadores é baseada em componentes de formação
transversal cada vez mais claras e em atividades extracurriculares marcantes, o
que vem ao encontro das exigências cada vez maiores do mercado de trabalho de
formação abrangente, sólida e multifacetada. Neste âmbito destaco o grande
programa de alteração da oferta formativa da UMinho que foi desencadeado em
2011 e que culminou com a apresentação de um portefólio de oferta formativa
mais coerente e mais de acordo com as necessidades de formação na sociedade em
que vivemos. Fruto desta necessidade crescente de formação mais abrangente e
multifacetada, a Universidade criou a opção UMinho que visa promover a criatividade e o pensamento reflexivo e critico necessários á
análise dos problemas contemporâneos, à geração de soluções inovadoras e
sustentadas e à participação plena e ativa dos estudantes na sociedade.
De que forma programam conseguir atrair estudantes
estrangeiros para a nossa Universidade?
Existem várias medidas pensadas nesse sentido. Em
primeiro lugar voltaria a destacar o projeto do ensino a distância. Este
projeto, tal como idealizado procura responder a necessidades de atualização
e/ou formação contínua de profissionais no ativo e na situação de procura de
emprego. Porque é pensada para uma lógica de ensino à distância, a atração de
públicos de língua oficial portuguesa como de África, Brasil, Timor e mesmo da
China com interesses na língua portuguesa irá certamente permitir um aumento
significativo de estudantes estrangeiros. Por outro lado, o facto de sermos uma
das línguas de maior difusão no Mundo (uma das 5 línguas mais faladas no mundo)
poderá funcionar como elemento importante.
Por último, gostaria ainda de referir a importância que
irá ter para esta atração de estudantes estrangeiros a recente aprovação pela
tutela do estatuto do estudante internacional, que atualmente se encontra em
fase de discussão interna na UMinho, cuja proposta de regulamento irá ser presente numa das próximas reuniões do Senado
académico.
Outra das medidas será implementar cursos em consórcio. O
que é isto, e de que forma será feito?
Penso que este é um ponto fundamental da nossa ação. Em
primeiro lugar acredito que a Universidade do Minho deve apostar claramente no
seu crescimento, apesar das dificuldades que o país passa atualmente. Contudo,
é minha convicção que este crescimento também terá que passar por parcerias
estratégicas com as outras universidades portuguesas, tirando partido das
valências diferenciadoras de cada uma delas. A verdade é que esta ideia está em
prática em diversas áreas, nomeadamente nos projetos de cursos doutorais, onde
a ideia do consórcio está plenamente assumida.
Este mesmo modelo de cooperação já começa a ter exemplos
também nas parcerias com instituições de Ensino Superior estrangeiras,
destacando-se as colaborações com universidades norte-americanas, europeias, africanas,
brasileiras, timorenses e mesmo chinesas.
Há um caminho ainda longo a percorrer no que diz respeito
a cooperações ao nível dos projetos de licenciatura e mestrado integrado, mas
mais uma vez acredito que em casos pontuais há todo um leque de possibilidades
a pensar, quer no tocante a projetos já existentes, mas acima de tudo relativo
a novos projetos a serem lançados.
A que se referem quando falam em desenvolvimento de cursos conferentes de grau em instalações externas à UMinho?
O recente interesse da tutela no projeto de acreditação de cursos para funcionamento à distância poderá dar um impulso significativo. Temos vindo a participar em reuniões com o governo em que parece haver interesse em que possamos estender a oferta presencial para um modelo misto ou mesmo em funcionamento integral em instituições com as quais haja protocolo de cooperação estabelecidos. Claro que tudo isto passará por alterações no processo de acreditação da oferta formativa e da alteração de legislação.
O que é ou será o projeto de Educação integral que
pretende ser diferenciador dos ciclos de estudos da UMinho?
A nossa aposta vai no sentido de haver cada vez mais uma interação
forte entre o ensino e a investigação. A procura constante de responder às
necessidades da sociedade em que nos inserimos, de formar recursos humanos
capazes de responder ao desafio da cada vez maior internacionalização das
nossas empresas e serviços, deve ser um princípio que nos norteia e que
pretendemos venha a ser diferenciador na UMinho.
Tal como vem referindo o nosso Reitor, a Universidade do
Minho deve estar cada vez focada nas oportunidades que nos surgem no âmbito das
metas Europa 2020, bem como do aumento da procura de formação superior em
economias emergentes, destacando-se aqui os países de língua portuguesa como o
Brasil e países africanos com Angola e Moçambique. Por outro lado, um dos
aspetos que deve ser norteador da educação integral como elemento diferenciador
dos ciclos de estudos da UMinho deve ser o do compromisso assumido com o
desenvolvimento da região em que nos inserimos, o que requer uma UMinho que se
afirma no contexto nacional e internacional, que seja capaz de criar
expetativas de futuro na nossa comunidade académica.
O ?Projeto de mérito estudantil? iniciado é para
continuar e reforçar?
Sim é para se manter e até reforçar. Neste momento já estamos
na fase de implementação gradual nos diferentes anos dos cursos de graduação.
A atividade letiva pós-laboral continua a ser um sucesso?
Sim, parece-me que foi uma aposta ganha e uma
oportunidade muito interessante para um conjunto de profissionais no ativo, mas
também para estudantes típicos do ensino em horário normal. Gostaria ainda de
destacar os casos de pessoas que viram neste tipo de ensino uma forma de
atingir os seus objetivos académicos que nunca tiveram oportunidade de
realizar, quer por disponibilidade de horários, quer até por dificuldades de
índole familiar. Gostaria ainda de destacar o grande esforço e atenção que foi
dado pelas diferentes unidades orgânicas a estes projetos, assim como o cariz
diferenciador dos mesmos, o que permitiu o seu crescimento em paralelo com a
oferta em horário normal.
Com todos os cortes que as universidades têm sofrido, em
particular a UMinho, o ensino continua e continuará a ter a mesma qualidade?
Apear das dificuldades, julgo que temos conseguido
manter a marca que nos distingue e para a qual lutamos durante as últimas
décadas: o ensino de qualidade. A verdade é que nos continuamos a pautar por
critérios de qualidade e de excelência, para os quais as nossas UOEI têm
trabalhado imenso e com um esforço significativo e assinalável do seu corpo
docente e de trabalhadores não docentes, com participação cada vez mais
importante dos nossos investigadores. Os cortes no financiamento ameaçam cada
vez mais este trabalho, sendo que a capacidade de superação que nos caracteriza
tem conseguido fazer autênticos milagres. Continuamos a acreditar que iremos
assistir brevemente a uma maior consciencialização dos poderes políticos para
esta realidade e uma necessidade urgente de correção de uma situação injusta e
que ameaça fazer-nos regredir para uma posição que ninguém deseja.
A participação em redes de investigação e no
desenvolvimento de projetos de ensino em parcerias internacionais tem sido
reforçado? De que formas e com que objetivos?
Sim. Estamos apostados no reforço desses tipos de
parcerias, que muitos resultados positivos têm trazido para a UMinho. O reforço
destas parcerias passa muito pelo reforço da articulação entre os projetos de
ensino e a investigação de excelência que se faz na nossa Universidade. Os
projetos de investigação que felizmente temos em grande número com Instituições
de ensino superior estrangeiras podem servir como elemento municiador do
estabelecimento de parceiras, nomeadamente ao nível da formação pós-graduada:
projetos de mestrado e de doutoramento. Os objetivos podem e devem ser vários,
mas sempre numa perspetiva de consolidação da nossa importância e valorização
Internacional. É fundamental apostar na valorização da nossa Universidade e
acreditar que podemos crescer “lá fora” fazendo uso daquilo em que somos
manifestamente de grande valor: nos nossos recursos humanos para o Ensino e
Investigação.
Um dos objetivos traçados pela atual reitoria foi a
aposta, ao nível do ensino, nos diversos espaços que têm o português como
língua oficial, designadamente em Angola, Moçambique, Cabo Verde, Timor-Leste e
Brasil, nos Estados Unidos e na China. Como é que isto está a ser feito?
Mais uma vez, espera-se que o projeto de ensino a distância
possa ter aqui um papel decisivo. Por outro lado, a excelência da nossa oferta
formativa e abertura cada vez maior do mundo lusófono à cooperação externa,
nomeadamente com a Universidade Portuguesa, serão elementos facilitadores dessa
aposta. Importante ainda será o cada vez maior aproveitamento das nossas
colaborações científicas com esses países para o estabelecimento de relações
mais fortes ao nível dos projeto de ensino.
Concorda com a implementação de cursos de dois anos no
ensino superior. Na sua opinião em que moldes deve ser feito?
Este tipo de cursos parece ter sido desenhado para o subsistema
politécnico, mas nem este parece estar muito interessado. Não me parecem
adequados ao sistema universitário.
Que mensagem gostaria de deixar à Academia?
Que
acreditemos que podemos ser grandes. Que a UMinho pode ser uma Instituição cada
vez maior e que cada um de nós pode fazer algo por isso. O futuro da UMinho
passa por todos nós. Apesar
das dificuldades económicas e da situação algo critica que o País atravessa, só
pela formação podemos ultrapassá-las.
Texto:
Ana Marques
Fotografia:
Nuno Gonçalves
(Pub.
Mai/2014)
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