Entrevista ao presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Domingos Bragança
Domingos Bragança é presidente da Câmara Municipal de Guimarães desde 2013, completando neste ano de 2024, 11 anos como responsável máximo da autarquia Vimaranense.
A pouco mais de um ano do final do seu último mandato (termina em 2025) e a pretexto da construção da residência universitária a partir das instalações da antiga Escola de Santa Luzia, o UMdicas foi conversar com o presidente da muitas vezes designada como “Cidade Berço”, uma longa entrevista, durante a qual foi feito um balanço do caminho traçado até aqui e do trabalho executado, dos projetos realizados e das dificuldades encontradas, dos sucessos e das coisas menos boas que aconteceram, da UMinho e do futuro da cidade e das suas gentes, entre muitos outros assuntos.
Assumiu funções como Presidente da Câmara Municipal de Guimarães em 2013. Que balanço faz do trabalho que a sua equipa realizou durante estes quase 11 anos de governação distribuídos por três mandatos?
Quando assumi as funções de Presidente da Câmara Municipal de Guimarães, em 2013, propus um projeto coletivo, sustentado em diferentes temas estruturantes, todos eles importantes. O objetivo foi o de definir um rumo para o futuro que pudesse envolver todos os cidadãos, reforçando a identidade e o espírito vimaranenses, e que considerasse a totalidade do território, ou seja, a cidade e todas as vilas e freguesias. De certa forma, preparei a nossa equipa para poder “Continuar Guimarães”, sem descurar a visão que preconizava, e preconizo, para o desenvolvimento da nossa comunidade.
Em 2017, renovei esse compromisso, centrando-o nas preocupações das pessoas, para que elas estivessem no centro da governação. Em 2021, propus-me solidificar o desenvolvimento de Guimarães através de três dimensões nucleares (Educação, Cultura e Ciência) e dois objetivos maiores (Coesão Territorial e Sustentabilidade Ambiental).
Passados estes 11 anos, vejo Guimarães como um território mais criativo, inovador, competitivo, digital e ambientalmente mais sustentável. Um território mais inclusivo, integrador, capacitado, coeso e tolerante. Um território com um tecido económico mais ético, ecológico e com responsabilidade social. Um território educador, cultural e de ciência, que democratiza o conhecimento e que faz emergir o que de melhor existe em cada um de nós. Que promove a aproximação e a participação dos seus cidadãos na construção de uma boa sociedade, na base da ética, do deslumbramento da vida e da melhor compreensão do mundo e da nossa humanidade, e do sentimento de compaixão, do cuidar do outro, que a sabedoria nos inspira. Um território de formação e produção cultural, de Património Cultural da Humanidade e de fatores distintivos como os da investigação tecnológica, inovação e criatividade.
Quais as marcas que acredita que vai deixar como responsável máximo da autarquia Vimaranense?
Deixar marcas pessoais em Guimarães não é propriamente um dos meus objetivos, mesmo sabendo que isso é quase inevitável, e que as pessoas acabam por associar um determinado legado a quem se preocupou em construí-lo. Bastar-me-á saber que a nossa cidade e o nosso concelho são reconhecidos como um território onde se vive bem, com qualidade de vida e bem-estar, como um território que se preocupa com os valores ecológicos e com os valores humanistas da solidariedade, e como um território que acredita no potencial dos seus cidadãos para construir uma comunidade que saiba, a todo o momento, desenvolver-se com base no empoderamento proporcionado pelo conhecimento e pela cultura.
Mas as marcas que mais ouço serem referidas pelos vimaranenses são as do desenvolvimento ambientalmente sustentável, da Ciência e da coesão social do território.
11 anos, muitos projetos e muitas decisões. Quais os que destacaria como mais emblemáticos?
Independentemente dos projetos e das decisões tomadas, e da importância de cada um deles, o que eu gostaria de destacar como fundamental dos meus mandatos tem mais a ver com a forma como tentamos alcançar os objetivos. Dou como exemplo o Ecossistema de Governança Guimarães 2030, rumo à sustentabilidade ambiental, que tem permitido a construção de pontes entre a academia, os cidadãos e os decisores políticos. Esta é uma abordagem que pode ser implementada com êxito nas cidades e contribuir para melhorar as políticas locais, reforçando o papel das cidades como aceleradoras de uma transformação liderada pela comunidade através do estabelecimento de processos multidisciplinares e participativos. É esta participação da comunidade que, sempre que possível, privilegiamos. Não por acaso, criámos vários conselhos consultivos, em diversas áreas da vida em sociedade, pois queremos que o futuro de Guimarães seja um processo coletivo, do qual todos possam fazer parte.
Contudo, permitam-me destacar as candidaturas da zona de Couros a Património Mundial e de Guimarães a Capital Verde Europeia, pela forma como ambas abriram novos horizontes para todos nós e para o nosso território.
No apartado das obras, não pelo valor do investimento, mas pelo impacto comunitário causado, quero destacar as Bacias de Retenção de Água, o Largo de Donães, o Parque de Camões e a Centralidade da Vila das Taipas, por serem intervenções do espaço público muito discutidas e obviamente muito importantes.
Do seu ponto de vista, qual foi a decisão mais difícil e qual foi a melhor decisão que tomou no exercício destas funções?
As decisões mais difíceis foram as tomadas durante a crise pandémica de COVID-19. Essas decisões, que fomos obrigados a tomar, desenharam um quadro de grande isolamento social, num tempo muito difícil e de grande incerteza.
As melhores decisões relacionam-se com o investimento na Ciência: Teatro Jordão para o Conservatório de Guimarães e para os cursos de Teatro e Artes Visuais da UMinho; Instituto Cidade de Guimarães e Residências para estudantes e investigadores no Avepark; Casa da Quinta do Costeado para a Escola Hotel do IPCA; Fábrica do Arquinho para a licenciatura e mestrado em Engenharia Aeroespacial, da Escola de Engenharia da UMinho, e para a Fibrenamics.
Em setembro/outubro de 2025 “deixará” a Guimarães que projetou? Que projetos gostaria de ter deixado concretizados e que não conseguiu?
Gostaria de ter deixado construída a via do Avepark, que, por razões alheias ao querer da Câmara, ainda não avançou. Trata-se de uma obra estratégica para a mobilidade de Guimarães, fundamental para o desenvolvimento do parque de Ciência e Tecnologia, que constituirá uma variante à zona norte do concelho e permitirá ocupar a EN 101, de Fermentões às Taipas, com um tramo dedicado ao MetroBus, para a ligação a Braga e à alta velocidade.
Outro projeto que poderá ser iniciado ainda no meu mandato, mas que certamente terá frutos mais para o futuro, é o da “Fábrica do Futuro”. Este é um projeto enquadrado na especialização Inteligente da Região Norte, liderado pela Universidade do Minho, e que conta com todo o nosso empenho e participação.
O novo Campus da Justiça de Guimarães, projeto em que coloquei tanta diligência, mas que se atrasou por diversos motivos, é também algo que ansiava ver concretizado nos meus mandatos. Espero, no próximo ano, ver ser lançado o concurso para a sua construção.
Deixar uma marca ambiental foi uma das “bandeiras” deste executivo. Em que sentido isto foi conseguido e o que espera da nova candidatura de Guimarães a capital verde europeia?
Quando, por volta de 2014, começámos a delinear um futuro ambientalmente sustentável, tivemos como objetivo a candidatura ao título de Capital Verde Europeia. Sabíamos que sem um objetivo concreto, dificilmente nos balizávamos devidamente para seguir um rumo com critérios científicos. Mas, sempre dissemos que o caminho a percorrer era mais importante do que o título. E esse caminho tem vindo a ser trilhado com sucesso.
Na primeira candidatura, não conseguimos passar à segunda fase, mas, em contrapartida, ficámos munidos de um conjunto de indicadores ambientais que nos permitiram efetuar um trabalho focado em objetivos bem específicos, embora sabendo que alguns desses défices possuem barreiras que impõem alguma dificuldade. Dou como exemplo dessas dificuldades o facto de Guimarães ser um território predominantemente industrial, o que coloca desafios acrescidos. Impulsionámos a criação de Brigadas Verdes, uma das grandes conquistas deste percurso, envolvendo os cidadãos, incutindo-lhes responsabilidade no processo, e fazendo-lhes ver quão importantes são para o sucesso de um território cada vez mais saudável e ambientalmente sustentável.
Na segunda candidatura, fomos umas das três cidades finalistas, em Tallin, na Estónia, e, embora não tenhamos ganhado, recebemos vastos elogios do júri, com destaque, precisamente, para o envolvimento da comunidade. A impressão que causámos e a sensação que sentimos de termos estado bem perto de vencer o título de Capital Verde Europeia 2025, fez-me, na própria noite da cerimónia do prémio, comunicar a toda a equipa que avançaríamos para uma nova candidatura no ano seguinte.
E nesta última candidatura, conseguimos estar novamente nas três cidades finalistas. Temos agora uma grande expectativa, alicerçada na certeza, validada pelos especialistas europeus da Comissão Europeia, de que os passos que estamos a dar vão na direção certa. O Pacto Climático que estabelecemos com um grupo significativo de empresas, que queremos ver crescer, é um exemplo desse comprometimento coletivo para uma Guimarães Mais Verde que, ainda que não seja o mais importante, esperamos nos confira o título de Capital Verde Europeia 2026, mesmo sabendo que não estamos na corrida sozinhos. Em novembro, na cidade espanhola de Valência, saberemos o desfecho deste importante galardão.
A construção da nova academia do V. Guimarães é um dos projetos que se prevê avançar ainda em 2024. O projeto é, no entender da Câmara Municipal, importante para o desenvolvimento de Guimarães e essencial para o crescimento do clube? Em que vai consistir o projeto e a colaboração com o Vitória?
O Vitória Sport Clube é uma instituição das mais relevantes de Guimarães, significando muito para as suas gentes. Sendo uma marca da cidade, o seu crescimento é importante não apenas para a visibilidade do território, mas também para dar cumprimento a um conjunto de funções que não podem ser esquecidas, e que estão associadas a um clube desportivo, ainda para mais com a dimensão do Vitória. Falo da função social da formação desportiva e humana, da componente económica que deriva da empregabilidade e da atratividade que gera, da componente identitária e de coesão fortemente associada ao fenómeno desportivo.
Em relação à nova academia do Vitória, a autarquia tem prevista a disponibilização de terrenos na zona de Silvares/Ardão e Ponte, uma área que totaliza cerca de 15 hectares, que está pendente da resolução de constrangimentos legais e da aprovação do Plano Diretor Municipal. Para acelerar este processo, numa reunião do Executivo Municipal ocorrida em junho, propus a constituição de uma comissão de acompanhamento, com a participação de um vereador a indicar pela coligação Juntos por Guimarães (PSD/CDS), que espero possa vir a traduzir-se no resultado que todos ambicionamos.
Na mensagem que deixa na página do município aponta o futuro de Guimarães a partir dos pressupostos da educação e da cultura, do conhecimento e da ciência. Qual tem merecido maior preocupação do executivo e por que razão?
Todas nos têm merecido atenção e preocupação, esta última no sentido de um espírito ocupado por uma ideia de constante melhoria e aperfeiçoamento de caminhos que se cruzam. Na verdade, há condições holísticas que nos fazem olhar para a Educação, a Cultura, o Conhecimento e a Ciência não tanto como um rizoma, pois as implicações não estão todas ao mesmo nível, mas como um corpo que se vai movendo e em que cada parte tem impacto nas restantes.
No primeiro nível, ou no nível zero, se preferirmos, temos a educação formal, que nos fornece as ferramentas cognitivas e nos transmite o conhecimento que, em dado momento, entendemos como basilar. É esta educação que nos desperta, ou pode despertar, para procurarmos novo conhecimento, que pode ser obtido por novas formas, como a educação não formal. E dentro do conhecimento, temos que separar o que é conhecimento científico e o que é conhecimento empírico, muitas vezes transmitido oralmente, de geração em geração. De uma certa forma, é a partir deste nível zero, e da interação social, que se gera o ambiente cultural dentro de um determinado grupo ou comunidade, que, a partir da aprendizagem, da memória, do raciocínio, da perceção define normas, valores e comportamentos.
Dir-se-ia que a cultura popular nasce deste caldo social que, mais tarde, é enriquecido com outras camadas, que advêm dos estímulos a que cada indivíduo é exposto. Por exemplo, a alta cultura ou a cultura erudita é normalmente uma consequência das interações pessoais em fóruns mais restritos, como a academia ou certos núcleos associativos. A cultura de massas é um fenómeno mais ligado ao modernismo tardio ou ao pós-modernismo, e tem a ver com dinâmicas que se prendem com o fenómeno das indústrias culturais e da globalização.
Apostar na ciência e no conhecimento significa criar as condições de contexto para que as diversas instituições de ensino e investigação possam desenvolver cada vez melhor o seu trabalho, criando mais oferta educativa e mais inovação. Com isso, fomentamos a evolução académica dos nossos cidadãos e impulsionamos o avanço tecnológico para uma economia mais criativa e diferenciadora.
Em termos políticos, a aposta de Guimarães nestas várias dimensões pretende criar uma sociedade que seja capaz de não se deixar enredar por um relativismo cultural que coloque a verdade ao mesmo nível da mentira, ou a superstição ao mesmo nível da ciência. É conseguir algo que hoje parece tão difícil, como repor algum tipo de hierarquia no pensamento fragmentado contemporâneo. Mas, acima de tudo, colocar as pessoas a falar umas com as outras com espírito crítico, que implica também a autocrítica, um diálogo fundamental para construir uma sociedade vimaranense onde cada um possa ter a capacidade de se colocar no lugar do outro, que possa ter a capacidade, cada vez mais rara, de ser empático.
Quais têm sido os maiores investimentos deste executivo nestas áreas e quais têm sido os parceiros de maior relevo?
O maior parceiro é a Universidade do Minho, mas não esqueçamos a relevância das parcerias com o IPCA e com a Universidade das Nações Unidas.
Em termos de grandes investimentos, destaco o Teatro Jordão, um equipamento destinado aos cursos de Artes Visuais e Teatro da UMinho e ao Conservatório de Música de Guimarães.
Ainda na zona de Couros, é incontornável falar da 2ª fase de reabilitação da antiga Fábrica Freitas & Fernandes, equipamento ocupado pela UNU, e de uma 3ª fase que permitirá a instalação da Cantina do Campus de Couros. Em local próximo de Couros, importa referir a obra em curso na Quinta do Costeado, que permitirá instalar a Escola Hotel e Escola de Desporto do IPCA.
De referência também incontornável, é a requalificação da Fábrica do Arquinho, onde serão instalados a licenciatura e o mestrado em Engenharia Aeroespacial, da Escola de Engenharia da UMinho, o Fibrenamics e o Polo Tecnológico Aeroespacial do CEiiA/EEUM. Como é incontornável falar da aquisição das instalações outrora ocupadas pela Fábrica do Alto, em Pevidém, onde funcionará a Academia de Transformação Digital.
No apartado das residências para estudantes e investigadores, refira-se a construção da residência no Avepark e a cedência, à Universidade do Minho, do edifício da antiga Escola de Santa Luzia, para funcionar como residência de estudantes.
Lembro a importância do novo edifício do Instituto Cidade de Guimarães, da Faculdade de Investigação em Medicina Regenerativa da UMinho, que está instalado no Avepark.
Realço ainda a cedência, em regime de comodato, do palácio Rosa Lima, para a instalação do CINDOR – Centro de Formação Profissional da Indústria de Ourivesaria e Relojoaria.
A aposta na relação estreita com a Universidade implantada no município tem sido notória e profícua para ambas as partes. Faz, inclusivamente, parte do Conselho Consultivo da Escola de Engenharia da Universidade do Minho (EEUM) e há muitos projetos de colaboração em curso entre as instituições, incluindo parcerias para reabilitação e utilização de estruturas e equipamentos reabilitados. Qual é para si a relevância da proximidade entre a Universidade do Minho e a Câmara Municipal?
Guimarães é uma cidade inovadora e voltada para o futuro e cada vez mais uma cidade universitária. O facto de cá existir um polo da Universidade do Minho, com importantes escolas como a Escola de Engenharia e a Escola de Arquitetura, Arte e Design, permite-nos criar um ambiente propício ao progresso e à criatividade. Daqui resulta a evidência da necessidade de uma parceria estratégica, que tenha como resultado a construção de um futuro partilhado de conhecimento, de ciência, de inovação, de criatividade, de sabedoria coletiva.
Não é possível prescindir de um sistema científico robusto e aberto à sociedade, capaz de empoderar os cidadãos e de fortalecer o seu tecido económico. Este é um futuro que só a Universidade do Minho é capaz de sustentar, emergindo, nesta senda, a sua Escola de Engenharia como um núcleo basilar que, através da formação de engenheiros em diversas especialidades, capacita recursos humanos fundamentais para o robustecimento da estrutura económica e diversificação setorial de que Guimarães está necessitada.
A zona de Couros, que desde setembro de 2023 é Património da Humanidade, historicamente dedicada à indústria dos curtumes, votada ao abandono da sua primeira função com a desativação das suas fábricas, passa a albergar um projeto de aproximação e abertura da Universidade à cidade, com uma componente fortemente inovadora. Da recuperação dos edifícios outrora utilizados na indústria da curtimenta, nascem, numa primeira fase, o Instituto de Design, o Centro Avançado de Formação Pós-graduada e o Centro de Ciência Viva. Mais tarde, fruto das políticas culturais, instalam-se, no reabilitado Teatro Jordão, os cursos de Teatro e Artes Visuais da Universidade do Minho, dando forma ao Bairro C, o Bairro da Criação, Criatividade, Conhecimento, Comunidade, Couros. Consolida-se, assim, Guimarães como cidade que produz cultura, e dá-se um passo decisivo para o reforço da componente cultural na educação dos cidadãos do futuro. Com a nova Geração das Artes, e com, mais uma vez, a Universidade do Minho, o Campus de Couros está agora maior, mais diverso e mais enriquecido.
Como entende que a evolução e crescimento da UMinho em geral e das Escolas de Engenharia e Arquitetura em particular, têm contribuído para o desenvolvimento da região do Minho e do município em particular?
Como polo que gera atividade em diversas áreas, como a educação, a pesquisa, a inovação e o empreendedorismo, a Universidade do Minho, reconhecida nacional e internacionalmente pela sua excelência académica, tem um papel preponderante na formação e na produção de conhecimento, servindo como âncora na atração de estudantes de diferentes partes do país e do mundo, enriquecendo a diversidade cultural da cidade, promovendo um ambiente académico dinâmico e multicultural, e contribuindo para o rejuvenescimento da população, sendo vital no desenvolvimento socioeconómico e cultural das cidades que serve.
Na sua mais nobre expressão, a Universidade assume também a responsabilidade de cultivar a mente humana, de maneira igualmente crucial, para a edificação de seres sensíveis, solidários e socialmente comprometidos. É um espaço que proporciona terreno fértil para a compreensão das complexidades interrelacionais que permeiam a sociedade, um farol ético que inspira os seus alunos, professores, investigadores, reconhecendo a importância da partilha e da cooperação como alicerces fundamentais para o florescimento coletivo.
Ao olhar para o futuro, é evidente que a evolução e o crescimento da Universidade do Minho continuarão a ser decisivos na formação e produção de novo conhecimento, na geração de inovação e no fortalecimento das conexões entre a academia e a comunidade. O seu impacto é duradouro e transcende as fronteiras do campus universitário, deixando uma marca indelével na região que serve. A Universidade do Minho soube adaptar-se aos novos e exigentes tempos que vivemos, desempenhando um papel integral no crescimento e no desenvolvimento sustentável da região do Minho, que dela não pode prescindir.
Atualmente, uma das parcerias mais relevante será, certamente, a que decorre no âmbito da construção da residência universitária a partir das instalações da antiga Escola de Santa Luzia. Como se concretiza e em que moldes se concretizará, no futuro, esta parceria? Pode falar-nos um pouco sobre as características deste projeto e sobre a fase em que se encontra?
A parceria realizada entre a Câmara Municipal de Guimarães e a Universidade do Minho, para a construção de uma residência universitária na antiga Escola de Santa Luzia, estabeleceu que, a esta última, fosse emprestada a propriedade, através de um contrato de comodato válido por um período de 50 anos. Este contrato deu origem à transferência das competências para a Universidade do Minho.
Como consequência, o comodatário Universidade do Minho deu início ao processo, bem-sucedido, de uma candidatura, ao abrigo do Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior, a financiamento do PRR, competindo-lhe agora toda a gestão das futuras instalações.
Refira-se ainda que a reabilitação do edificado terá como premissa uma elevada qualidade e a preservação da memória e da autenticidade de um espaço que faz parte de um património social importante de Guimarães.
Existem outros projetos por parte da Câmara Municipal no sentido de responder à falta de alojamento estudantil em Guimarães?
Sim. As já referidas residências para estudantes e investigadores no Avepark.
Existem outros projetos a ser desenvolvidos/estudados em parceria entre as duas instituições que queira assinalar?
Gostaria de assinalar um dos projetos em que estamos envolvidos com a Universidade do Minho, que é o da criação da Academia de Transformação Digital, a instalar na Fábrica do Alto, em Pevidém. Uma infraestrutura que se dedicará à conversão ou reconversão de competências profissionais, adaptando-as às necessidades do tecido empresarial, para que este possa competir num mundo digital cada vez mais exigente. Trata-se de uma infraestrutura muito importante na formação de recursos humanos, que se querem cada vez mais qualificados, com a vantagem de ser efetuado através de um processo que tem em linha de conta as necessidades da região. Passa-se, desta forma, a proporcionar às empresas um conjunto de competências que elas identificam como prioritárias para o desenvolvimento da sua atividade, tendo sempre em conta uma indústria cada vez mais tecnológica, de valor acrescentado.
Outro dos projetos de suma importância é o que se destina a enriquecer a Escola de Engenharia com as futuras instalações para o curso de Engenharia Aeroespacial, um passo essencial para lançar o território na corrida da denominada “Nova Economia do Espaço”. O salto qualitativo acontecerá após a reabilitação e refuncionalização da Fábrica do Arquinho, na Caldeiroa, um espaço funcional que será também a nova sede da Associação Fibrenamics, importante centro de investigação aplicada no domínio dos novos materiais, e do Polo Tecnológico Aeroespacial do CEiiA/EEUM.
Neste momento e no seu entendimento, Guimarães já se afirmou como cidade universitária? Como define a relação entre a UMinho e o Município de Guimarães?
Sim. Guimarães é uma Cidade Universitária e a visão que temos é de continuarmos a afirmar e a distinguir esta marca como uma das dimensões de maior referência e relevância do território, a par do Património da Humanidade. Muito caminho foi feito, mas muito caminho ainda há para fazer.
Para definir a relação com a UMinho, bastará referir que ela é vista, por várias pessoas e instituições, como um bom exemplo a nível nacional.
Que oportunidades oferece a cidade aos jovens que nela estudam após terminarem o Ensino Superior?
A cidade de Guimarães é uma referência a nível nacional e europeia, nomeadamente nas áreas ambiental, cultural, patrimonial, mas também na inclusão e coesão social que faz questão de promover nas suas políticas. É uma cidade que possui um ecossistema empresarial dinâmico e que cada vez mais aposta na ciência e na tecnologia. Não raramente, os jovens saídos da universidade encontram oportunidades de trabalho no tecido empresarial local ou regional, ou mesmo no sistema de spin-offs, start-ups e interfaces que a academia potencia. É também uma cidade de bem-estar e saúde, com boas condições de contexto para que os jovens possam concretizar as suas ambições e aplicar os seus conhecimentos e competências.
Finalmente, quem é o homem e o profissional Domingos Bragança?
Não consigo sair da minha simplicidade e proximidade afetiva com as pessoas.
Tenho uma curiosidade imensa, o que me leva a uma procura incessante de conhecimento.
Sou um apaixonado pela natureza, e daí a minha expressão constante de vivermos em “harmonia com a natureza”. Sustento a minha visão do mundo na ciência e na filosofia.
No meu trabalho profissional, tenho a honestidade e a competência como alicerces.
Na vida política que abracei, ao serviço de Guimarães, apresentei os desígnios coletivos em que convictamente acredito: os pilares de uma boa sociedade são a educação, cultura e ciência, que robustecem os cidadãos para uma interação social inclusiva, e robustecem a economia, pelas competências que continuamente adquirem, na base da cultura e do desenvolvimento ambientalmente sustentável. Em síntese, para que possamos construir uma cidade decente e sábia, na qual se possa viver uma vida tranquila, de bem-estar e de felicidade.
Uma mensagem à academia, em geral, e aos seus estudantes, em particular, que gostasse de deixar?
À academia, gostaria de dizer que considero fundamental a postura que tem vindo a ser adotada, de aproximação entre o conhecimento gerado no seu seio e a sua aplicabilidade no mundo empresarial. Que considero uma universidade de “portas abertas” fundamental para dotar os seus alunos de uma visão mais holística e de um sentido mais pragmático, necessário no seu futuro profissional, e que considero as parcerias com as empresas absolutamente decisivas para um tecido económico de maior valor acrescentado.
Aos estudantes, gostaria de dizer que o maior valor que poderemos ter é o conhecimento. Mais especificamente, na Universidade, o conhecimento científico. Aprendam as competências específicas da vossa escolha académica, que vos permitirá desenvolver as vossas capacidades profissionais, mas nunca deixem de aprofundar as questões éticas, da filosofia e da necessidade de conhecimento pluridisciplinar, para que desenvolvam a vossa cidadania completa, no sentido da criação de valor económico, mas também de valor social e comunitário. Desejo-vos o melhor para as vossas vidas e desejo que continuem em Guimarães.
Texto: Ana Marques
Foto: Nuno Gonçalves