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Márcia Cortinhas, aluna da Licenciatura em Gestão, é bi-campeã nacional de equitação (juvenil e posteriormente, junior), tendo sempre como fiel montada, o puro sangue “Quarto Ijzeren Lindenhof”. Márcia apesar de jovem, conta já no seu curriculo com duas participações em Campeonatos da Europa, bem como em prestigiadas provas interncaionais de equitação realizadas em Reims, Morselle, Le Touquet, San Remo e Compiegne.
UMDicas – Com que idade é que iniciaste a prática competitiva da Equitação e onde?
Márcia Cortinhas – Iniciei com 10 anos de idade e foi no centro hípico de Sezim em Guimarães. Como esse centro hípico já não existe, actualmente monto no Regimento de Cavalariça nº6 no Quartel de Braga.
U – Achas que Equitação ajudou no teu desenvolvimento enquanto individuo?
MC – Sem duvida que sim. Montar a cavalo exige muito dos cavaleiros. Passa por uma interacção constante com o cavalo porque no fundo somos uma equipa e não é o mesmo que interagir com outros seres humanos. São animais, meigos mas inconstantes e muito sensitivos. Por incrível que pareça todos os nossos receios, bem como o stress, a adrenalina que sentimos transmitimos aos cavalos e isso pode ditar a diferença numa prova. Enquanto individuo tive que aprender a controlar melhor as minhas emoções, a pensar antes de agir e principalmente a agir muito rápido. Concentrar-me no essencial e abstrair-me do desnecessário, saber ouvir e passar para a prática o que me transmitem, e principalmente tomar decisões, optar por uma ou outra coisa e levar isso adiante.
U – Qual foi o papel da tua familia no teu percurso enquanto atleta de alta competição?
MC – Foi crucial. Nada poderia ter acontecido sem o total apoio deles, tento a nível financeiro como a nível emocional. Os meus pais são adeptos constantes das minhas provas e acompanham-me sempre nas provas mais importantes. Em todos os momentos mas principalmente nos de muito stress é óptimo saber que eles estão lá e que acreditam em mim. Sei também, que alem de apoio posso contar com criticas construtivas que melhoram o meu desempenho.
U – Quantas vezes treinas por semana, e quanto tempo?
MC – Não tenho treinos certos por semana. Devido á faculdade monto quando posso de modo que por semana pelo menos treino uma vez, mas se me for possível monto todos os dias. O tempo de cada treino varia consoante o treino que vou fazer nesse dia.
U – A forma como lidas com a pressão e a ansiedade antes das provas é algo que tu consegues trabalhar e treinar, ou simplesmente é algo com que apenas lidas na hora em que entras em acção?
MC – A pressão e ansiedade é algo que fui aprendendo a controlar ao longo das provas. Não é nada que possa treinar em casa porque só sobre stress e adrenalina das provas é que tal acontece. Quanto mais frequentemente fizer provas menos complicado é lidar com a pressão e o stress. Mas isso também só é possível porque tenho excelentes pessoas a trabalhar comigo como o meu professor João Paulo Ramos e o meu tratador Ricardo Faria, bem como os meus pais que me transmitem serenidade e confiança.
U – Qual é para ti a grande diferença entre a competição federada e a competição universitária?
MC – Ao nível de equitação nunca participei em competição universitária, só competição federada, como tal não tenho base de comparação.
U – A equitação condicionou a tua escolha de Universidades quando concorreste? Porque?
MC – Condicionou porque para poder continuar a montar a um nível competitivo e conseguir alcançar os objectivos que tanto queria como cavaleira precisava de treinar muito e frequentemente e para tal tinha que ter os cavalos perto de mim. Uma vez que passei a montar no quartel de Braga teria que estudar numa universidade não muito além do Porto e que fosse conceituada no curso que escolhi. A Universidade do Minho pareceu-me a melhor opção.
U – Para muitos atletas de alta competição torna-se difícil conciliar os estudos com a prática desportiva. Como é que tu consegues gerir esta nem sempre fácil “relação”?
MC – Se quando entrei na faculdade se tornou bastante complicado conciliar, agora que estou a acabar o curso parece praticamente impossível. Uma coisa é montar por lazer, outra é montar para competir. Isso passa já a um nível quase profissional e para tal teria que abdicar de muita coisa a nível académico. Por causa de levar o desporto muito a sério nos primeiros anos da faculdade, de ter mesmo faltado a exames, já não falando da frequência às aulas, devido às provas a nível nacional e internacional que faziam, além de treinos, tive que estar muito tempo ausente de casa, e fui deixando cadeiras para trás. Cheguei ao ponto, em que se quero acabar o curso nos anos previstos tenho que deixar um pouco a competição de lado e dedicar-me a valer á faculdade. É o que acontece actualmente.
U – A UMinho iniciou em Portugal um programa pioneiro no que diz respeito ao apoio aos atletas de alta competição, o TUTORUM. O que pensas desta iniciativa e do programa em si?
MC – Eu fiquei muito satisfeita quando me contactaram pela primeira vez e me explicaram que ia fazer parte deste novo programa TUTORUM. Infelizmente quando ingressei na UM ainda não estava este projecto em vigor. É muito positivo que comecem a olhar para os atletas de alta competição não como alunos que são descuidados com os estudos, mas alunos que além da faculdade, tem outros projectos igualmente importante, como o desporto. Quando falamos de atletas de alta competição falamos de profissionais e pensar que é fácil conciliar o desenvolvimento académico com árduos treinos e competições é um erro. Ser profissional exige muito esforço e dedicação. É necessário que programas como este, sejam incentivados e ajudem os atletas a não ter que abdicar de uma coisa para conseguir a outra. Saber que podemos contar com a compreensão e ajuda da Universidade a nível académico, tentando consciencializar e não deixar que sejamos prejudicados enquanto alunos, é um incentivo a sermos cada vez melhores atletas e melhores alunos.
U – Em áreas já recebeste apoio através do Tutorum?
MC – A nível de conciliação dos trabalhos que me eram exigidos com os treinos e provas que tinha obrigatoriamente que participar. Também me foi atribuído um tutor onde sempre que necessário posso contar com ajuda dele nos problemas que me vão surgindo ao nível de conciliação do meu desporto com a vida académica. Sempre que foi preciso contei com a compreensão e ajuda de todos envolvidos neste projecto preocupando-se em ter um feedback de modo a ver se estava tudo a correr como o esperado.
U – Os teus objectivos pessoais passam por uma carreira profissional na equitação ou os estudos vêm em primeiro lugar?
MC – Os estudos vêm em primeiro lugar. Sempre me dediquei muito à equitação mas sempre com a consciência que seria o meu desporto eleição, a minha grande paixão mas que não iria depender disso. Mas após esta fase muito intensa na faculdade, onde tenho que me dedicar mais afincadamente aos estudos espero voltar á equitação e atingir de novo um nível de profissionalismo necessário para alcançar os meus objectivos pendentes. Ainda há muito para conquistar e espero voltar a competir a nível nacional e representar novamente Portugal internacionalmente.
Nuno Gonçalves
Nunog@sas.uminho.pt
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