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Entrevista ao Presidente da FADU, Ricardo Nora

O UMdicas esteve à conversa com o responsável máximo do desporto universitário português que nos falou da responsabilidade de dar continuidade ao passado, ao presente e ao futuro da FADU, dos projetos e planos da instituição, entre muitas outras coisas.
Ricardo Nora é um estudante da Universidade da Beira Interior (UBI) que está a terminar o seu Mestrado em Engenharia e Gestão Industrial. Natural de Anadia, distrito de Aveiro, tem atualmente 26 anos.
 
Durante os três últimos anos foi presidente da Associação Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI), e foi a partir daí que estreitou o contacto com o desporto universitário e com a Federação Académica de Desporto Universitário (FADU), principalmente em 2021, quando foi presidente da comissão organizadora das Fases Finais dos Campeonatos Nacionais Universitários (CNU).
 

Como surgiu a oportunidade de se candidatar à presidência da FADU e qual a motivação que o levou a abraçar este desafio?

A experiência enquanto presidente da AAUBI proporcionou-me uma ligação e uma aproximação ao desporto universitário e à FADU, e uma maior interação com os meus pares das diferentes Associações Académicas e de Estudantes do país. A minha integração neste meio e o facto de achar que poderia acrescentar algo à FADU foram a grande razão desta candidatura. Tenho uma equipa que procurei que fosse representativa do nosso País, uma equipa abrangente que quer chegar e levar o desporto universitário a cada ponta do continente e também às ilhas. Foi essa a principal motivação, o querer dar um bocadinho mais de mim, o querer estar à frente de uma federação com tanta história, com um grande legado, para o qual queremos contribuir e ajudar a fazer crescer. 

O que podemos esperar do presidente Ricardo Nora e desta nova Direção da FADU?

Sobretudo um respeito pelo passado desta instituição. Aquando da nossa tomada de posse foi inaugurada a Casa do Estudante-Atleta e o Museu do Desporto Universitário Português da FADU, um espaço que recorda e perpetua o passado desta instituição, os anos de história, e mostra o contínuo crescimento que está à vista desde a sua criação. De facto, o desporto universitário e a FADU têm sido cada vez mais valorizados em Portugal, não às vezes da forma acelerada e ao ritmo que queremos, mas, uma coisa é certa, o desporto universitário e o próprio ensino superior têm sido cada vez mais valorizados no nosso País. Um trabalho que queremos continuar a fazer, com o intuito de sermos cada vez mais reconhecidos. Acima de tudo, queremos ajudar a criar condições para termos cada vez mais estudantes-atletas a praticar desporto e depois, ter cada vez mais qualidade no que se produz, esse é o nosso grande objetivo. 

Quais serão as grandes prioridades para este mandato?

A grande prioridade-chave é ter cada vez mais estudantes-atletas a praticar desporto, ou seja, aumentar os números de participação nos campeonatos, chegar aos números pré-pandemia e conseguir números recorde de participação nas nossas provas.

Queremos, por um lado, criar condições para que as nossas competições sejam cada vez mais regulares e queremos, por outro, incrementar a vertente do desporto informal, que na FADU denominamos de Desporto para Todos. Nesse âmbito, queremos ter um momento em que possamos reunir os estudantes que já participam nas habituais taças e torneios internos promovidos pelos nossos clubes associados e instituições de ensino superior, num momento a que queremos chamar “Jogos Universitários de Portugal” e onde estarão representados os vencedores desses torneios internos. Será um evento mais lúdico e abrangente quando comparado, por exemplo, com umas fases finais, em que a vertente competitiva está mais presente. 

O desporto universitário em Portugal tem a particularidade de ser liderado por uma federação composta por estudantes. Quais são as vantagens deste modelo em comparação com outros que existem na Europa e no resto do Mundo?

Os estudantes são irreverentes, no sentido em que as coisas são mais genuínas e não estão presas a interesses. Nesse sentido podem ser uma mais-valia, bem como no sentido em que representam os seus pares e em que partilham, naturalmente, uma mesma visão geracional, acabam por trazer sempre entusiasmo e novidade. Depois há o outro lado da moeda, a “escola” que estes estudantes ganham neste tipo de experiência. O que seria das nossas associações de estudantes, associações académicas e da própria FADU se não tivesse na sua génese os estudantes para trabalhar em conjunto. Há desafios, naturalmente, porque a FADU tornou-se uma estrutura profissional, conhecida internacionalmente, que tem crescido nos últimos anos, e, há aqui muito trabalho que tem sido feito. Queremos continuar esse caminho, no sentido de conjugar da melhor forma os dois mundos: a frescura de uma nova Direção com o “saber fazer” que os quadros da FADU nos proporcionam. 

Na sua opinião, o desporto universitário já tem a visibilidade e o reconhecimento pretendidos?

Óbvio que não. É necessário que o desporto seja cada vez mais valorizado, que o valor que estes estudantes têm por conciliar o percurso desportivo com o percurso académico seja, de facto, valorizado. Infelizmente, o desporto universitário ainda não chega a todas as instituições de ensino superior, o que, só por aí, é algo que mostra que ainda não temos o reconhecimento pretendido. Cada vez mais temos de chegar a todas as instituições de ensino superior, a cada estudante que queira ser atleta no meio universitário, há aqui um trabalho que tem de ser contínuo. Têm-se conseguido grandes vitórias ao nível de condições e da qualidade do que se produz em Portugal nesta matéria, mas é claro que é preciso um trabalho mais marcado e com os vários agentes a trabalhar nesse sentido. 

Uma das grandes conquistas da FADU foi a publicação do Estatuto do Estudante-Atleta? Que avaliação fazem sobre a forma com tem sido implementado nas instituições de ensino superior a nível nacional?

Naturalmente que este estatuto foi importante para termos na lei algo que de facto balize, neste caso as instituições de ensino superior, que exija o mínimo. O que acabou por acontecer é que muitas instituições, e bem, foram além deste estatuto, o limite mínimo foi ultrapassado e têm tido resultados positivos, no entanto, há outras tantas instituições de ensino superior que nem estes mínimos implementaram, e os estudantes têm, nestas instituições, muita dificuldade em conseguir ter acesso ao que o estatuto exige. Há aqui um caminho que tem de ser continuado, não se pode ficar apenas pelo estatuto, há uma avaliação que a própria tutela tem de fazer deste estatuto, e depois, também, deve-se procurar, de alguma forma, penalizar aquelas instituições em que este estatuto não está a ser implementado. Naquelas em que está, há que valorizar, melhorar o financiamento, para que as instituições de ensino superior comecem a perceber que há aqui um caminho que tem de ser seguido. É a própria tutela e os governantes que devem ter isto como objetivo e como uma das prioridades do nosso País. 

Soube-se, recentemente, que está concluído o processo que visa alargar o programa das Unidades de Apoio ao Alto Rendimento na Escola (UAARE) ao ensino superior. Pela relevância estratégica que este programa tem para o desenvolvimento do desporto universitário, permitindo a conciliação da carreira académica e a desportiva, como o vê e o que será feito pela FADU para que a concretização deste seja suma realidade?

Isto acaba por ser também uma vitória para o ensino superior. Falamos muitas vezes daquilo que é a passagem dos estudantes-atletas do ensino secundário para o ensino superior, da falta de acesso das instituições de ensino superior ao percurso desportivo do estudante. Falamos do trabalho que as instituições de ensino superior têm na procura da informação, e do potencial que muitas vezes as instituições e os clubes associados perdem por não terem acesso ao perfil do estudante-atleta. Muitas vezes há interesse em continuar o percurso desportivo e a própria instituição tem essas condições, mas não se avança por simples desconhecimento. O facto de estes programas colocarem todos os agentes – escolas, instituições de ensino superior, municípios e estudantes-atletas, a trabalhar no mesmo sentido, é uma grande mais-valia. Vamos estar atentos, e trabalhar, de alguma forma, programas e atividades específicas no âmbito deste programa, para que, de facto, as coisas tenham impacto e impactem os nossos estudantes. 

A FADU já foi distinguida como a Federação Nacional de Desporto Universitário mais ativa da Europa. A pandemia veio, de certa forma, desacelerar o caminho que estava a ser traçado. O que pode ser feito para aumentar as participações?

Naturalmente, a pandemia veio desacelerar, em todas as instituições, o número de participações nas competições das várias modalidades. Durante a pandemia, o trabalho da FADU e dos nossos clubes associados sofreu grandes dificuldades e entraves. Os números estão, no entanto, a voltar aos que antecederam esse período, nomeadamente, aos da época 18/19, como foi o caso do Campeonato Nacional Universitário de Judo, que decorreu no passado dia 20 de novembro, e que teve um elevado número de participantes. Continuando este caminho esperamos ter números de participação recorde relativamente ao pré-pandemia. O que temos feito é não ficar pelas habituais competições/atividades, queremos de alguma que a FADU e o desporto universitário cheguem por diversos canais aos nossos estudantes.

A FADU, nos dois últimos dois anos, tem-se diferenciado nas suas atividades, tem estado na vida do estudante universitário de formas diferentes, e queremos continuar nesse caminho. Queremos apostar muito naquilo que é o desporto informal, criar atividades, criar campeonatos para que cada vez mais, e de forma mais regular, haja atividade desportiva entre os estudantes. Temos a ideia de arrancar, numa primeira fase, com ligas universitárias em algumas modalidades, de forma a criar essa competição regular para os nossos estudantes. 

A competição universitária da época desportiva 22-23 arrancou recentemente e terá o seu ponto alto com a realização das Fases Finais dos Campeonatos Nacionais Universitários em Viana do Castelo. Quais são as expectativas para esta época e que alterações estão a ser preparadas na vertente competitiva e organizativa?

As expectativas estão altas, até porque o próprio modelo organizacional das Fases Finais tem vindo a melhorar, ou seja, os estudantes que participam nas Fases Finais têm dado à FADU um feedback muito positivo, no sentido de que a organização tem melhorado de ano para ano, é uma verdadeira experiência para o estudante participar num evento desta natureza, e Viana do Castelo não será exceção. Queremos que o evento continue a ser uma verdadeira e positiva experiência para os participantes e que crie um impacto positivo nas cidades que o acolhem. 

Na vertente internacional, que candidaturas tem a FADU relativas à organização de campeonatos mundiais ou europeus universitários, e quais as perspetivas?

Em 2023, e relativamente aos europeus, teremos o voleibol no Minho, o rugby 7 em Lisboa e o basquetebol em Aveiro. A FADU tem uma grande expectativa sobre estes eventos desportivos, quer estar próximo das organizações, são acontecimentos com grande impacto no nosso país. Vemos estas atribuições como mais um voto de confiança da Associação Europeia do Desporto Universitário (EUSA) a Portugal, e serão, certamente, momentos de grande participação desportiva que as academias não irão esquecer. Estamos confiantes de que serão três organizações desportivas de qualidade. 

O desporto informal é um aspeto relevante para a FADU, até porque a entrada no ensino superior acaba, muitas vezes, por corresponder a uma quebra/abandono da prática de atividade física regular. Que estratégias lhe parece que podem ser implementadas para combater essa realidade?

Quem participa no desporto universitário, nos Campeonatos Nacionais Universitários, é uma pequena percentagem dos estudantes do ensino superior, é um dado conhecido por todos. O que se passa é que temos de encontrar outras estratégias, através do desporto informal, para entrarmos gradualmente na vida do estudante. Temos tentado fazê-lo através de comemorações como o Dia Internacional do Desporto Universitário (DIDU), vamos tentar implementar os Jogos Universitários de Portugal, que em conjunto com os torneios e as taças internas dos nossos clubes, deverão ser estratégias que potenciem de forma mais regular a prática desportiva, até com os próprios amigos ou colegas de curso. Será uma das formas de conseguirmos chegar e entrar aos poucos na vida do estudante, e eles, quase sem perceberem, estarão a praticar desporto de forma regular e com alegria. Estes torneios internos mexem as academias, mexem os seus estudantes. 

A Universidade do Minho recebe, em 2023, o Campeonato Europeu Universitário de Voleibol. Será a 15.ª grande competição internacional que terá lugar na Academia Minhota. Quais são as expectativas da FADU para este evento?

A Academia minhota tem-nos habituado a ter qualidade no que produz, nos eventos que organiza, e este não será exceção, será, certamente, um grande evento. A modalidade de voleibol é uma atividade rainha da UMinho, por isso, prevejo um grande evento, um evento de qualidade, com muita participação e com um bom resultado das academias portuguesas que estarão na competição. 

Gostarias de deixar alguma mensagem para os estudantes do ensino superior, em geral, e para os da UMinho, em particular?

Para o ensino superior, a minha mensagem é que abracem o desporto universitário, que experienciem, porque quem por lá passa diz que é uma experiência inesquecível, que vale a pena conciliar o percurso académico com o desportivo. Aos estudantes da UMinho, digo que aproveitem o que é estar numa academia que aposta no desporto, que tem condições, que tem uma grande variedade de modalidades ao dispor, aproveitem esta frequência no ensino superior, e, acima de tudo, pratiquem desporto e abracem o desporto universitário.

Texto: Ana Marques 

Fotos: FADU 

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