PERCURSOS…
José Albano da Silva Conde nasceu em Moçambique há 58 anos e vive em Guimarães há 42. Casado, pai de um rapaz, desempenha funções no Departamento Alimentar desde 1981, do qual faz parte até hoje, juntamente a uma equipa com cerca de 150 trabalhadores.
Nesta entrevista, o trabalhador dos Serviços de Ação Social da Universidade do Minho (SASUM), fala-nos do seu percurso de vida e experiência profissional, conta como é vivido o dia a dia, afirmando-se “esperançado” no futuro.
Como chegou aos SASUM e qual o seu percurso profissional?
Trabalho na área da restauração desde os 13 anos, inicialmente na zona do Douro em Santa Marta de Penaguião, depois, e após vir viver para Guimarães, comecei a trabalhar, no final da escola e aos fins de semana, em restaurantes. Na altura em que os SASUM começaram a funcionar aqui em Guimarães, precisaram de uma pessoa, fui à entrevista e fiquei cá a trabalhar como auxiliar de alimentação. Passei por vários setores, inclusive pela cozinha, altura em que tirei formação de cozinheiro. O serviço foi-se expandindo e, quando fomos para o Campus de Azurém, assumi o primeiro bar, o Bar de Engenharia I, como encarregado. Depois, todos os bares que abriram a partir daí, praticamente todos os colegas passaram por formação nesse bar.
Há quantos anos está nos Serviços e quais são, atualmente, as suas funções?
Estou nos SASUM há 42 anos, desde os meus 17 anos, comecei a trabalhar, na altura, no Palácio de Vila Flor. Neste momento sou encarregado operacional, mais especificamente encarregado de Bar.
Gosta do que faz?
Gosto muito. Aprecio muito a interação com o nosso público académico, por isso estou cá até hoje!
O que mais o motiva e quais as maiores dificuldades, no dia a dia, no desenvolvimento do seu trabalho?
O que mais me motiva é a interação com a comunidade académica, principalmente com os alunos. Somos a extensão dos Serviços, e, naquilo que é a política dos SASUM, tentamos fazer com que o aluno se sinta em casa. Gosto que se sintam bem, que se sintam à vontade, até mesmo para nos chamarem a atenção de alguma coisa não está bem no serviço que prestamos, pois podem ajudar-nos a melhorar. Gosto desta interação, motiva-me a estar aqui, motiva-me a prestar um serviço de qualidade.
O que por vezes me desmotiva é o facto de os próprios responsáveis não terem mais autonomia de decisão, devido à própria burocracia que existe nos serviços do Estado, o que leva a que muitas vezes não consigamos prestar o serviço que gostaríamos.
Como caracteriza o trabalho que é feito no Departamento Alimentar, em particular na sua área?
O trabalho feito no Departamento Alimentar e em todas as suas unidades alimentares é essencial no apoio à população universitária, fornecendo refeições sociais, bem como uma enorme diversidade alimentar. Na minha área, em particular a nível dos bares, somos nós que damos a cara pelo serviço, somos a interação direta com o cliente, e por isso, acabamos por ser a imagem do serviço que prestamos.
Quais são as melhores e as piores memórias que tem do seu trajeto nos SASUM?
As melhores são quando entrei aqui. Éramos muito poucos, tanto trabalhadores como estudantes, viamo-nos como uma família. Mesmo quando isto cresceu, continuamos a ser considerados uma família. Neste momento, o que mais me entristece é ser tratado com demasiado distanciamento, é verdade que temos uma dimensão muito grande e nem sempre é possível a mesma interação, mas é sempre possível tratar o trabalhador pelo nome, com consideração, e não como número. Neste momento sinto apenas que sou um
Também, o que mais me marcou, foi o facto de um dirigente, há uns anos, me ter magoado muito, não teve consideração, não me deu o benefício da dúvida, “condenou” e depois é que foi investigar. Essa atitude foi o que mais me marcou nesta casa, algo que me fez sair daqui três anos. Hoje está tudo bem, mas ficou a mágoa.
Como olha para o futuro?
Estou sempre esperançado que o futuro nos possa trazer melhores situações. Em termos de serviço, isto tem tendência a crescer e quanto mais crescer mais problemas vai ter, mas se o trabalhador se sentir acarinhado vai acarinhar o cliente. Aqui será sempre um jogo de interação, se eu estiver alegre vou passar essa boa disposição às pessoas. Pessoas felizes fazem pessoas felizes. Quem gosta do atendimento ao público, esta é a melhor casa para se trabalhar, estes são os melhores clientes.
Curiosidades
O que o marcou?
O nascimento do meu filho.
O que ainda não fez?
Gostava de concluir o 12.º ano. Estou a tentar, estou-me a esforçar para isso.
Ainda tem um grande sonho?
Sim. Gostava de ter uma infraestrutura minha, um negócio meu neste ramo.
Livro?
Bíblia.
Uma música e/ou um músico?
Sou romântico. Gosto muito de Roberto Carlos.
O que gosta de fazer nos tempos livres?
Passear e jardinagem. Neste momento tomo conta de jardins.
Vício?
Pelo trabalho.
Um lugar?
Gostava de voltar a Moçambique.
A Universidade do Minho?
A melhor universidade do país. Para mim significa tudo, significa o meu ser, estou cá há 42 anos.
Texto: Ana Marques
Foto: Nuno Gonçalves