"Dar novamente a conhecer o Grupo de Música Popular da Universidade do Minho e a cultura portuguesa pelo mundo fora é, sem dúvida, um dos maiores sonhos do Grupo atualmente."
O gosto pela música tradicional portuguesa e pelas tradições portuguesas fez surgir a ideia, a enorme vontade de fazer coisas novas foi o desafio que os juntou há 39 anos. Aberto a qualquer aluno ou ex-aluno da Universidade do Minho (UMinho), o Grupo é atualmente composto por cerca de vinte membros ativos, porém, já passaram pelo grupo mais de cem estudantes!
O UMdicas esteve à conversa com a direção do grupo para saber mais sobre o GMP, sobre a sua origem, trajeto, sobre os seus projetos e sobre o seu futuro.
O GMP é um dos grupos culturais mais antigos da Universidade do Minho. Como surgiu a ideia da sua criação?
A ideia surgiu no café Gulbenkian, entre dois amigos que se desafiaram a fazer uma formação na Universidade do Minho que fosse ao encontro da música tradicional portuguesa que muito se ouvia na altura, mas que também produzisse as suas próprias composições e arranjos, bem como efetuasse no terreno recolhas inéditas. Pretendia-se também dar um cunho próprio e mais alargado em termos de número de elementos que pudesse potenciar a polifonia com mais elementos por vozes.
De que é feito este grupo e como se caracterizam?
O GMP é feito de jovens estudantes e antigos estudantes da Academia Minhota, com uma enorme vontade de explorar a música e as tradições portuguesas. O gosto pela música é a peça comum entre os elementos, mas também o convívio e a amizade se tornaram parte fundamental do Grupo.
O grupo foi fundado em 1984. Qual a data exata da sua criação e quem foram os seus criadores?
Não há registo de um dia exato para o surgimento dessa ideia. Sabe-se que foi no início do ano letivo 1984/1985 e que, de imediato, se colocaram cartazes na Universidade a convidar os estudantes a participar por volta de outubro. Com dezenas de estudantes a pretender entrar, começaram-se os ensaios pela altura do São Martinho, em novembro de 1984. Os seus criadores terão sido Luis Veloso e Zé Lino na sua ideia e génese. O grupo viria a fazer várias pequenas atuações espontâneas pela cantina e corredores da Universidade, alguns espetáculos mais ou menos informais até à Queima das Fitas de 1985, com espetáculos oficiais em Braga e Guimarães.
Como descrevem o vosso trajeto e que balanço fazem destes 39 anos de existência?
Direta ou indiretamente o Grupo de Música Popular foi o “responsável” ou a inspiração pela criação de todos os grupos que existem na academia, e inspiração para outros grupos em escolas e outros não académicos no Minho, e até noutras academias e noutros distritos!
O trajeto nunca foi fácil… nunca é para nenhum grupo… um grupo de muita gente, flutuante (permanência limitada quase sempre ao percurso académico), o que implica em alguns anos quase voltar à estaca zero…, mas, em balanço, consideramos extremamente positivo e acima de tudo profícuo por tudo o que fez e faz, pelas sementes que deitou à terra que tão boas colheitas deram!
Em que se destaca e diferencia o GMP dos outros grupos culturais?
O Grupo de Música Popular tem uma forte componente de estudo e recolha de cancioneiro popular português, investindo ainda na reinvenção do mesmo. Isto contribui imensamente para que o nosso património imaterial e cultural não se perca no tempo, mas acrescentando também um toque moderno e atual àquelas que são as canções que os nossos antepassados cantavam e tocavam. Assim, esperamos que as camadas jovens voltem a ganhar o gosto e o interesse pela nossa tão rica cultura.
Participam em espetáculos e eventos muito diferenciados. Como caracterizam as vossas performances em palco? O que trouxeram e trazem ao panorama cultural da Universidade?
O GMP expressa-se através de um coro harmoniosamente associado à simplicidade dos instrumentos tradicionais e populares portugueses. Após um período de menor atividade, temos trabalhado bastante para trazer o Grupo de volta ao ativo. Este ano tivemos já bastantes oportunidades de apresentar o nosso repertório “revitalizado” ao público, o que tem corrido imensamente bem, obtendo reações bastante positivas do público e de quem nos acompanha! O Grupo de Música Popular traz sonoridades bastante diferentes daquelas a que os estudantes da Universidade do Minho estão habituados, uma vez que as tunas representam a grande maioria dos grupos culturais da Academia. Tendo sido dos primeiros grupos culturais a surgir na Universidade, foi o percursor de muitos outros grupos, trazendo uma vertente cultural e musical que previamente não existia no nosso contexto académico. Acima de tudo, trouxe o gosto pela música tradicional e popular portuguesa, o gosto e a aprendizagem dos instrumentos tradicionais (alguns estavam praticamente em desuso e outros no mesmo caminho). No GMP, estão as raízes que todos os grupos foram beber e devem continuar a beber, desde as tunas, aos fados, aos coros e percussões!
Por quantos elementos é constituído o grupo atualmente, e quem pode fazer parte dele?
Atualmente, o Grupo é composto por cerca de vinte membros ativos, porém, já passaram pelo grupo mais de cem estudantes! O Grupo de Música Popular é aberto a qualquer aluno ou ex-aluno da Universidade do Minho, independentemente de terem contexto e conhecimento musical ou não. Não existe praxe ou hierarquia no seio do Grupo, pelo que toda a gente que se queira juntar é bem-vinda!
No vosso percurso, quais os momentos e participações que destacam? Qual o vosso ponto alto do ano?
Desde a sua fundação, o Grupo de Música Popular participou em várias Queimas das Fitas para as academias de várias universidades, em festas e romarias populares de norte a sul do país, realizando ainda digressões internacionais, com especial destaque para a digressão europeia em 1990 (passando por países como França, Alemanha, Dinamarca, Suécia, Finlândia, ex-URSS, Polónia e ex-Checoslováquia), organizada pelo GMP, e que daria origem à fundação da ARCUM – Associação Recreativa e Cultural da Universidade do Minho! Em agosto de 2000, o GMP realizou a sua segunda digressão europeia, que contemplou as seguintes cidades: Paris, Bruxelas, Hannover, Hamburgo, Berlim, Praga, Budapeste, Viena e Zurique. A passagem por um conjunto de países tão diferentes permitiu ao Grupo conhecer melhor a realidade das comunidades portuguesas na Europa, que assumem características tão diversas, de cidade para cidade. O ponto alto desta digressão foi, sem dúvida, a atuação do GMP no Pavilhão de Portugal, na Expo 2000 em Hannover, integrados no programa oficial desta exposição mundial. Além disso, o Grupo de Música Popular organizou, em colaboração com o Grupo Folclórico da Universidade do Minho, vinte edições do FUMP – Festival Universitário de Música Popular.
Após um período de interregno, o GMP reergueu-se com novas caras e novas roupagens, com arranjos mais voltados para a contemporaneidade da música popular portuguesa! Nos últimos anos, fomos convidados a participar numa reportagem da SIC sobre o Farol de Montedor, dada a nossa interpretação da canção homónima ao farol. Além disso, tivemos ainda a oportunidade de participar em vários festivais de Folk e World Music, tais como o Festança (em Ancede, Baião), o Arredas Folk Fest (em Tregosa, Barcelos) e o Do Bira ao Samba (organizado pelos nossos amigos dos Bomboémia, em Braga). É de destacar também a nossa participação na organização do festival Castro Galaico, um dos maiores eventos de música folk do Norte do país!
Quais os projetos do grupo mais importantes a curto/médio prazo?
Para o futuro próximo, temos já vários projetos em andamento, nomeadamente a contínua renovação do nosso repertório, a gravação de videoclipes para a divulgação do nosso trabalho e a realização de workshops e oficinas relacionadas com a música popular portuguesa (instrumentos de cordas, percussão tradicional e danças). Temos ainda planeados alguns projetos a mais longo prazo, nomeadamente a gravação de novo registo discográfico e a organização de eventos abertos ao público bracarense.
A dinamização do grupo, torná-lo cada vez mais atrativo é, provavelmente, um dos vossos grandes objetivos. O que têm a dizer aos interessados em fazer parte do grupo?
O Grupo de Música Popular é aberto a toda a comunidade académica. Quem se junta ao GMP pode esperar uma paixão pela música (não só popular): se adoras música e queres explorar diferentes estilos e culturas musicais, este é o sítio certo para ti. Valorizamos a diversidade de experiências musicais e culturais. Não importa de onde vens ou qual é a tua formação musical, todos são bem-vindos e respeitados aqui. Além disso, estamos comprometidos com a aprendizagem constante. Se és um músico experiente, ainda há muito para aprender no nosso grupo. Se és iniciante, oferecemos oportunidades de crescimento e desenvolvimento musical. Ao juntares-te ao nosso grupo, farás parte de uma comunidade musical unida, onde poderás fazer amigos e conexões valiosas, uma vez que o Grupo de Música Popular está inserido na ARCUM – Associação Recreativa e Cultural Universitária do Minho, da qual fazem parte muitos outros grupos, como a Tuna Universitária do Minho, os Bomboémia e a Tunao’Minho, por exemplo. Sendo que a música popular desempenha um papel importante na cultura contemporânea, ao fazeres parte deste grupo, contribuirás para a criação e preservação da mesma!
Qual é maior sonho do GMP? O que ainda não fizeram e gostavam de concretizar?
O Grupo de Música Popular, desde a sua criação, já fez aquilo que todos os grupos culturais académicos desejam: gravou o seu trabalho em estúdio, viajou pelo mundo, participou em grandes eventos e organizou o seu próprio festival (FUMP – Festival Universitário de Música Popular, organizado em conjunto com o Grupo Folclórico da Universidade do Minho), dinamizando e trazendo a cultura popular à sua cidade de Braga. No entanto, o GMP esteve bastante tempo parado, pelo que as gerações de elementos mais recentes não participaram nas atividades dos tempos áureos do Grupo. Assim, temos uma grande vontade de voltar a fazer o que o GMP foi capaz há cerca de duas décadas! Dar novamente a conhecer o Grupo de Música Popular da Universidade do Minho e a cultura portuguesa pelo mundo fora é, sem dúvida, um dos maiores sonhos do Grupo atualmente.
Como veem o panorama dos grupos culturais universitários em Portugal e a nível internacional?
A nível nacional, é muito bom ver o número de grupos culturais universitários que existem! Porém, a grande maioria deles são tunas. Existe um pequeno número de grupos que trabalhem na preservação e divulgação da música tradicional regional. Contudo, é importante reconhecer o empenho que a grande maioria dos grupos demonstra ao trabalhar arduamente para integrar o maior leque de grupos possível nos eventos que promovem! Por exemplo, o Grupo de Música Popular participou já em espetáculos organizados por várias tunas do país. A nível internacional, vemos também a vontade de preservar as tradições e a cultura por parte da comunidade académica.
Como analisam o contexto dos grupos culturais na vida da Universidade e de um universitário?
É sempre fantástico para os estudantes do ensino superior poderem juntar-se a grupos culturais, que se tornam num porto seguro para o resto das suas vidas, com as amizades desenvolvidas no seio destes, além de serem também um escape do stress dos estudos. Os grupos culturais são uma forte escola das chamadas “soft skills”, ajudando imenso os seus membros a desenvolverem competências de responsabilidade, organização, empatia e solidariedade.
A comemoração dos 40 anos vai ser especial? Já está pensada?
Será, certamente, bastante especial! São poucos os grupos que atualmente se podem orgulhar de existir há quase quatro décadas. Para as celebrações, temos já algumas atividades planeadas, nomeadamente juntar os elementos do grupo das várias gerações desde a sua fundação, organizar um evento com aqueles que são dos maiores nomes da música popular e folk do Península Ibérica, fazer um retiro e digressão ao norte de Espanha (região da Galiza, forte centro de tradições intimamente ligadas às do Minho) e começar a pensar na gravação de mais um trabalho discográfico e de multimédia! Estamos muito entusiasmados com a celebração dos 40 anos do Grupo de Música Popular!
Uma mensagem à comunidade académica?
A música é uma linguagem universal que nos une através das fronteiras culturais e sociais. Tem o poder de inspirar, emocionar e unir as pessoas. Acreditamos que a música popular é uma forma extraordinária de explorar a diversidade musical e cultural não só do nosso país, mas também do mundo! Juntar-se ao GMP é uma oportunidade de aprender, crescer e, acima de tudo, divertir-se através da música. Encorajamos todos os interessados, sejam estudantes ou antigos alunos da Universidade do Minho, a fazerem parte desta emocionante jornada connosco. A preservação e exaltação das nossas tradições e da nossa cultura é fundamental para que as mesmas não morram com o tempo, e é incrível ver a quantidade de jovens estudantes que se juntam para trabalhar nesse sentido. Deixamos ainda o repto a quem tiver interesse em se juntar a nós, estamos abertos para vos receber e vos integrar no nosso Grupo e no nosso projeto!
Texto: Ana Marques
Foto: GMP