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Arqueologia Urbana: desafios e perspetivas

Artigo de opinião – Fernanda Magalhães , Professora Auxiliar do Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho.

A arqueologia urbana tem sido um dos setores da atividade arqueológica que mais contribuiu para a afirmação profissional da arqueologia nas últimas décadas. No entanto, urge questionar o seu real impacto social, quando, em muitas situações, a utilidade cognitiva, social e económica da generalidade das escavações urbanas preventivas que são praticadas na maioria das cidades portuguesas é questionada e colocada em causa.

De facto, a cidade histórica deve ser perspetivada como um único sítio arqueológico, que se vai conhecendo a partir das intervenções arqueológicas que nele se realizam. Em Braga, são múltiplas as situações em que, por vezes, decorrem décadas até que se possa compreender e interpretar devidamente o significado das estruturas arquitetónicas, muitas vezes escavadas sectorialmente e como tal difíceis de compreender, sobretudo quando estamos perante grandes edifícios. Foi isso que aconteceu na intervenção arqueológica realizada, entre 2022 e 2023, pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, na rua Nossa Senhora do Leite, em Braga. A cooperação entre as instituições é por isso indispensável para que a informação seja tratada de forma integrada e possa contribuir para o conhecimento da cidade e das suas mudanças ao longo do tempo. A ineficácia das políticas liberalizantes no mercado de trabalho de arqueologia tem originado a intervenção descoordenada de várias equipas no meio urbano, a qual dificilmente se pode traduzir em conhecimento útil, ou no bem público, seja ele a conservação do património, ou o seu uso para benefício das comunidades e da economia.

Nesse sentido, é imperativo que nos posicionemos a favor do estudo continuado das cidades, que deve estar assente numa legislação abrangente e responsável cimentada nas boas práticas relacionadas com a gestão do património urbano. Dessa maneira, a atividade arqueológica poderá conduzir à criação de novos patrimónios, à resolução de problemas de investigação que são hipóteses de pesquisa, bem como contribuir para a socialização do património em conjunto com a cidadania.

Partilhamos, por isso, da convicção de que a arqueologia urbana não pode ser reduzida a um somatório de intervenções desgarradas, feitas por diversas equipas para possibilitar o desenvolvimento de processos imobiliários. Sendo certo que a arqueologia urbana constitui um dos domínios mais complexos e exigentes da intervenção arqueológica, os seus resultados são fundamentais ao planeamento e reabilitação urbana, uma vez que estes só podem ser corretamente viabilizados quando os agentes neles envolvidos estão devidamente informados sobre os impactos da sua atuação no subsolo.

Assim, a arqueologia urbana deve efetivamente contribuir para compreender o processo histórico da evolução das cidades, mas também para a criação de novos patrimónios, para consolidar a identidade das cidades e aumentar a autoestima dos seus residentes, com um impacto muito positivo na economia das cidades, contribuindo para aumentar a atração turística e o desenvolvimento das chamadas indústrias culturais e criativas.

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