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Entrevista à Presidente do Instituto de Letras e Ciências Humanas (ILCH)



 


 


Eduarda Keating foi eleita em 2008 Presidente da Escola, tendo sido reeleita, já no quadro dos novos estatutos, em Março de 2010.


 


Como caracteriza a função do Presidente de Escola?


Penso que são várias as funções de Presidente de Escola. Em primeiro lugar, representa a Escola para o exterior, quer em relação às outras Escolas e Serviços dentro da Universidade, quer às outras instituições, à sociedade envolvente, aos parceiros internacionais.


 


Dentro da Escola, penso que tem sobretudo um papel de gestão e coordenação dos esforços de todos e de dinamização da reflexão e do desenvolvimento da Escola. Acho que o Presidente tem a função de estar atento aos problemas imediatos que precisam de ser resolvidos, de tomar decisões. Ao mesmo tempo cabe-lhe ?pensar mais longe? em termos estratégicos, tentando integrar as diferentes forças que constituem a Escola num projecto que seja coerente e enriquecedor para todos.


 


É um desafio ser presidente do Instituto de Letras e Ciências Humanas (ILCH)?


Sem dúvida que é, sobretudo num momento problemático como o que atravessamos, ao nível nacional e internacional. Ao nível nacional, questiona-se frequentemente no ensino superior o papel das Humanidades e das Artes num momento em que a União Europeia preconiza a aprendizagem de pelo menos duas línguas para além da língua materna e num momento em que a actividade artística tem nos países mais desenvolvidos, um papel essencial para o desenvolvimento… Por outro lado, tanto nacional como internacionalmente, há tendência para questionar o papel das Humanidades, quando, na minha opinião, elas conferem às pessoas a indispensável espessura cultural, alargando a sua dimensão humana. Nenhuma universidade seria completa sem esta componente fundamental, capaz de integrar e de desenvolver a diversidade de experiências das outras áreas.


 


Quais são na sua opinião os pontos fortes do ILCH?


O ILCH tem vários pontos fortes, que se podem resumir em 2 palavras: transdisciplinaridade e multilinguismo. Os docentes do ILCH são investigadores num único centro classificado pela FCT como Excelente – o Centro de Estudos Humanísticos (CEHUM) – e que se dedica à investigação transdisciplinar em Ciências Humanas, integrando as diferentes valências e interesses dos investigadores.


 


Conseguimos até agora desenvolver uma politica de multilinguismo bastante consistente, ancorada numa equipa de docentes multilingue e numa rede vasta de relações internacionais. Esta abertura permitiu a criação de vários cursos inovadores em Portugal, como a Licenciatura em Estudos Orientais, a criação da Licenciatura em Línguas Aplicadas, que foi pioneira em Portugal, mais recentemente os Mestrados em Mediação Literária e Cultural, em Tradução e Comunicação Multilingue, em Relações Interculturais – Português e Chinês. Já no próximo ano lectivo vai iniciar uma nova licenciatura em Estudos Culturais – em regime pós-laboral – e em 2011 também em regime pós-laboral, começará uma nova licenciatura em Línguas e Culturas Eslavas.


 


Trata-se em todos os casos de projectos marcados pela transdisciplinaridade e pelo multilinguismo que referia ao princípio. Outro ponto forte foi a criação do Babelium – Centro de Línguas, que promove esta política multilingue e intercultural em extensão, dentro e fora da Universidade.


 


Finalmente, a integração da Licenciatura em Música no ILCH, há cerca de um ano e meio, veio dar mais força a este carácter transdisciplinar da Escola e constituiu um enriquecimento grande na vertente artística, até agora limitada à literatura, e que esperamos que se venha a desenvolver com novos projectos.


 


 Se tivesse de escolher um destes pontos fortes como o mais importante, aquele que melhor projecta o ILCH, qual seria?


Em termos de excelência penso que neste momento a investigação produzida no CEHUM é a actividade com maior reconhecimento e projecção, tanto nacional como internacional.


 


E os pontos fracos?


Há dois problemas essenciais: a taxa de abandono por um lado e a precariedade do estatuto de uma boa parte dos docentes – os leitores, por um lado, e os docentes convidados por outro, o que afecta muito gravemente a área da Música. Isto cria enormes dificuldades na implementação de uma politica consistente tanto de desenvolvimento do multilinguismo como do ensino artístico.


 


Qual tem sido a evolução do ILCH no decorrer deste anos? O que na sua opinião mais o tem feito evoluir?


O ILCH começou por ser uma Escola dedicada essencialmente à formação de professores. Nos últimos anos essa situação mudou radicalmente e o ILCH começou a diversificar a sua actividade com novas licenciaturas, como a licenciatura de Filosofia, de Línguas Aplicadas, de Línguas e Literaturas Europeias, de Estudos Orientais, que propõem também perfis mais diversificados e flexíveis, mais capazes de se adaptarem às exigências do mercado de trabalho e ao seu carácter internacional. Para isso contribuiu a consciência da necessidade de adaptação às novas realidades sociais por um lado e por outro, uma convicção profunda da importância das Humanidades no mundo contemporâneo. Não foi por acaso que esta evolução em termos de políticas das línguas foi acompanhada também por uma consolidação a nível da investigação e pela abertura a novas áreas, como é o caso das Artes.


 


O que o caracteriza relativamente às outras escolas/institutos do país?


Essencialmente a sua versatilidade e capacidade de inovação. Este diálogo interdisciplinar que caracteriza as práticas do ILCH desde há muito tempo, aliado à estrutura matricial da UM, que convida a “falar com o vizinho do lado” e a fazer projectos em conjunto, são, na minha opinião, o que faz a principal diferença do ILCH, em comparação com outras Escolas da área de Letras, com estruturas mais rígidas e mais estritamente disciplinares.


 


Estes elementos diferenciadores serão motivos suficientes para que os alunos escolham o ILCH da UMinho?


Sem dúvida.


 


O que podem esperar os nossos estudantes do ILCH, em termos de qualidade de ensino e inserção no mercado de trabalho?


Em termos de qualidade de ensino, os estudantes do ILCH podem contar com docentes com um excelente formação científica – para além dos docentes doutorados, praticamente todos os outros, incluindo leitores, e uma grande parte dos convidados estão em formação de doutoramento ou de mestrado – e em geral muito empenhados nos projectos de ensino. Quanto ao mercado de trabalho, embora seja do conhecimento geral que é um mercado difícil para as áreas de Humanidades neste momento, o ILCH oferece um conjunto de cursos, de graduação e pós-graduação, cujas características, aliadas a uma orientação para a promoção da flexibilidade, da internacionalização e do espírito empreendedor permitem aos estudantes encontrar oportunidades profissionais em contextos muito diversos.


 


O Instituto, como a própria Universidade tem sofrido alterações a vários níveis nos últimos tempos. Qual a Estratégia do ILCH para os próximos anos?


Muito resumidamente, diria que é o desenvolvimento das políticas do multilinguismo, na Universidade e na região; o aprofundamento da investigação, nomeadamente a nível internacional; o alargamento da vertente artística através da consolidação da área da Música e da criação de mais um projecto na área das Artes, a nível do Teatro e das Artes Performativas.


 


Números de docentes da Escola a trabalhar a tempo integral?


Temos cerca de 80 docentes a tempo integral, entre professores de carreira, leitores e docentes convidados, e cerca de 10 colaboradores a tempo parcial, sobretudo na área da Música e nalguns leitorados.


 


Texto: Ana Coimbra


anac@sas.uminho.pt


 


Fotografia: Nuno Gonçalves


nunog@sas.uminho.pt

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