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“O desporto coletivo é uma metáfora daquilo que encontrei na sociedade e no mercado de trabalho”


 


O que te levou à UMinho e ao curso de Engenharia de
Sistemas?

Fiz essa escolha por duas razões: porque a área de
informática me pareceu, na altura, uma boa aposta e devido ao enorme prestígio
da Universidade do Minho e em particular do curso de Engenharia de Sistemas.

 

De que forma é que a tua escolha moldou o teu futuro
profissional?

Somos aquilo que escolhemos ser. O curso e a universidade
revelaram-se uma excelente escolha e prepararam-me muito bem para o que acabei
por encontrar na vida profissional. Actualmente, não é garantido que vamos
trabalhar na nossa área de formação, felizmente no meu caso foi isso que
aconteceu.

 

Como é que foram esses anos na academia minhota?

Numa palavra: inesquecíveis. Considero os tempos de
Universidade uma das fases mais marcantes da vida, porque é um período longo e
uma fase de muitas definições a nível pessoal. Cresci como pessoa, aprendi, fiz
amigos.

 

Como é que se deu a tua entrada para o desporto na
UMinho?

No meu segundo ano, quando fui aos treinos de captação de
Futsal.


Que atividades desportivas praticaste na UMinho?

A oferta desportiva era tanta que foi difícil optar. Acabei
por praticar apenas futsal, que me ocupava praticamente todo o tempo disponível
entre treinos e competição. Foram 5 anos na equipa Universitária e Federada.

 

O que te levou a escolher o futsal?

Desde miúdo que jogava futebol federado. Na altura a
dúvida era entre o Futebol ou o Futsal. Como o futsal tinha uma competição mais
regular, optei pelo futsal.

  

Que recordações guardas do desporto universitário, das atividades
desenvolvidas na Universidade e pela Universidade?

Representar a UMinho e a AAUM foi um motivo enorme de
orgulho. Foram 5 anos muito intensos, formamos um grupo de amigos fantástico e
ainda tive o privilégio de ser capitão de equipa. Tive a felicidade de me
cruzar com pessoas apaixonadas pelo desporto: Dr. Paisana, Prof. Parente que
sempre nos proporcionaram condições fantásticas a todos os níveis.

Lembro-me também da Gata na Praia, um evento marcante
onde participei nas 5 primeiras edições. Senti o verdadeiro espírito académico
do Minho!



 

Qual foi o momento mais marcante que tiveste enquanto
envergavas a camisola da UMinho?

Pela positiva, a estreia na 2º. divisão nacional pela mão
do actual seleccionador nacional. Pela negativa, a final da Liga Universitária
que perdemos em 2005 frente à AAC.

 

Achas que foi importante (o desporto) no teu
desenvolvimento enquanto indivíduo?

Sem dúvida. O desporto sempre desempenhou um papel muito
importante na minha vida, como uma paixão. O desporto colectivo é uma metáfora
daquilo que encontrei na sociedade e no mercado de trabalho: vivência em grupo,
capacidade de liderança, resolução de conflitos, lutar por um objectivo comum.

 

A entrada no mundo profissional, como é que aconteceu?

Depois de terminada a licenciatura, tinha a carreira
internacional como meta. Concorri ao Inov Contacto um programa de estágios
internacionais que me deu a possibilidade de trabalhar durante 9 meses na
China.

 

Foi difícil essa passagem do mundo académico para a realidade
do mundo do trabalho?

No meu caso, acabou por não ser tão difícil assim. A
última etapa da minha licenciatura, ainda pré-bolonha, integrava um estágio
profissional numa empresa. Acabou por ser uma forma mais suave e gradual de
entrar no mercado de trabalho.

  

Atualmente estás a trabalhar no Brasil, mas já estiveste
na China. O que te levou, outra vez, a mudar de pais, de realidade?

Vivemos num mundo cada vez mais globalizado e como tal,
temos de estar onde nos oferecem melhores condições. Se o nosso país não o
consegue proporcionar, temos de as procurar noutro lugar.

 

Em que área estás a trabalhar e quais são as tuas
funções?

Sou consultor de SAP, um software de gestão de empresas.
Mais especificamente, trabalho como programador, desenvolvendo soluções à
medida das necessidades dos clientes.

 

É mais fácil ser reconhecido pela nossa qualidade
profissional lá fora ou cá dentro?

Isso é relativo. Se somos competentes, se fazemos
bem o nosso trabalho, tanto somos reconhecidos cá como lá. Acontece que, em
Portugal, muitas vezes temos de trabalhar mais horas e contentar-nos com uma
palmada nas costas, enquanto que no estrangeiro somos recompensados com o que
realmente importa: reconhecimento hierárquico e monetário.


Como foi essa adaptação à realidade (social/profissional) de outro país?

O ser humano vive de rotinas. Depois de um período de
adaptação, que varia de país para país, e de criada uma rotina, acaba por
significar o mesmo morar na China, no Brasil ou em Angola.



 

Como é que os brasileiros veem o emigrante português?

É difícil generalizar quando o Brasil é um país tão
grande e a comunidade portuguesa tão diversa. Com a nova geração de emigrantes,
os brasileiros vêm-nos agora de uma forma diferente do que viam há uns anos
atrás. Há cada vez menos o preconceito do português de bigode, chamado Manuel
ou Joaquim que é dono de uma padaria. Em termos profissional, vêm-nos como
pessoas qualificadas que vêm para ajudar. Do ponto de vista pessoal, muitos
brasileiros têm sangue português o que faz com que se sintam próximos de nós.

 

Sentes-te seguro no Brasil?

Nos primeiros tempos, com o estereótipo da
insegurança, andava mais retraído. Hoje em dia não penso muito nisso. Nota-se
que têm feito um esforço para melhorar nesse sentido, até porque o Mundial de
Futebol e os Jogos Olímpicos estão à porta. Até agora não tive nenhum problema,
no entanto, a segurança é aparente e convém tomar sempre as devidas precauções.

 

O que te levou a deixar Portugal da primeira
vez e aceitar o desafio China?

A China foi uma aventura sem destino marcado.
Quando concorri ao Inov Contacto não sabia em que país ou empresa iria
trabalhar. Acho que foi a China que me escolheu, e não o contrário. O que me
levou a aceitar o desafio foi a possibilidade de iniciar uma carreira
internacional num país tão grande e desconhecido. Só pensei em agarrar a
oportunidade, senti-me um privilegiado.

 

Na China, a adaptação a uma cultura
completamente diferente da nossa? como é que foi?

O choque cultural é enorme. A língua é a principal
barreira, é muito difícil fazermo-nos entender. Há também a poluição, a comida,
o regime comunista com um pouco de censura à mistura. Os chineses são
simpáticos, introvertidos e disciplinados. Tratam os ocidentais de uma forma
positivamente especial porque somos diferentes. Foi uma experiência pessoal
fascinante.

 

Sentes que foi a decisão certa, a de emigrar?

A opção de emigrar surgiu por vontade própria, por querer
valorizar-me, e não porque senti uma necessidade extrema de o fazer. Atendendo
à situação actual do país, tomei uma decisão mais do que acertada.

 

Pensas um dia regressar a Portugal?

Portugal será sempre a minha casa e o regresso estará
sempre no meu horizonte. Infelizmente o país está mergulhado numa crise
profunda e num futuro próximo as coisas não vão melhorar.

 

Qual é a tua visão do estado atual do nosso país?

É uma mistura de sentimentos, infelizmente, nenhum deles
positivo: tristeza, descrença, revolta. Que país é este que não aproveita os
jovens que forma?

Tenho amigos em situação difícil, sem emprego ou com um salário
miserável, que encaram a emigração como única saída para uma vida melhor. O
problema é que, até as pessoas com uma situação até aqui confortável, já o
ponderam. Perdemos a esperança. Portugal transformou-se num país apenas para
alguns.

 

Que conselho deixas aos milhares de estudantes da UMinho
que procuram um futuro mais risonho através de um curso superior?

Não tenham pressa mas não percam tempo, um curso
superior é apenas uma ferramenta. Não é um garantia.
Aproveitem ao máximo o tempo que ainda vos resta na
universidade. Mas assim que terminarem, não hesitem perante os desafios. Lutem
por aquilo que querem, alarguem horizontes, arrisquem e realizem os vossos
sonhos.


Texto e Fotografia: Nuno Gonçalves


(Pub. Out/2012)

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