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“…ser presidente da AAUM foi a experiência mais gratificante que alguma vez tive”



Quem
é atualmente Carlos Videira?

No
essencial continuo a ser um estudante como qualquer outro, uma pessoa com
virtudes e com defeitos que luta diariamente pelos valores em que acredita. Hoje
acho que dou muito mais importância ao lado mais humano das coisas, por trás de
cada situação há uma história pessoal que importa compreender…

 

Já no teu terceiro
mandato à frente dos destinos da AAUM, que balanço fazes desta experiência?

A
nível pessoal, ser presidente da AAUM foi a experiência mais gratificante que
alguma vez tive.  Foi a oportunidade
única de assumir muitos e diferentes papéis, a oportunidade de ser depósito de
muitas emoções, de conhecer pessoas extraordinárias com quem aprendi muito. A
nível associativo, costumo dizer que ninguém é bom juiz em causa própria,
portanto essa é uma avaliação que deverá ser feita pelos estudantes. Mas se os
mesmos me escolheram três vezes para liderar os destinos da sua Associação
Académica, acredito que as coisas boas terão superado aquilo que poderá ter
corrido menos bem em alguns momentos.

 

Ao longo deste
trajeto à frente da AAUM, qual foi para ti o projeto de mais relevo da
Associação?

Sinto
que houve conquistas marcantes – a vitória no diferendo acerca da propriedade
do emissor da RUM, a criação do Fundo Social de Emergência, a publicação do
Regulamento Académico da Universidade do Minho, o não aumento de propinas em
2013 e 2014, a conquista do 1º lugar do ranking da Associação Europeia de
Desporto Universitário, a realização de grandes eventos desportivos, a criação
do Cartão Jovem Académico, a abertura de salas de estudo 24 horas por dia. Mas
uma Associação Académica é sempre um projeto inacabado, ainda há muito por
fazer.

 

Uma das grandes
bandeiras desta Direção tem sido a aproximação entre os estudantes e o mundo laboral.
Isso tem sido conseguido?

Sim,
o Gabinete de Inserção Profissional e o Liftoff – Gabinete do Empreendedor da
AAUM são dois dos projetos mais bem conseguidos pela AAUM a este nível. Em
2014, o site do Liftoff foi considerado um dos 10 melhores sites de empreendedorismo
a nível nacional pela Caixa Geral de Depósitos. Temos ajudado muitos estudantes
a preparem-se para o mercado de trabalho através de um atendimento muito
personalizado, auxiliando na elaboração do seu curriculum, nas sessões de
técnicas de procura de emprego, no encaminhamento para oportunidades de
trabalho ou na criação do seu plano de negócio.

 

Colocas no teu
horizonte uma recandidatura à AAUM?

Não,
foi a promessa que fiz à minha família. Não seria bom para mim nem para a AAUM.
Tive a oportunidade ser presidente muito jovem, com apenas 21 anos, e sinto que
este é um ciclo da minha vida que se deve fechar este ano. Além disso, a AAUM
é, por natureza, uma estrutura que vive da rotatividade dos seus dirigentes. Tenho
a certeza que há colegas nesta equipa muito bem preparados para levar a AAUM a
um patamar mais alto no futuro.

 

Quando deixares a
AAUM, como gostarias de ser recordado?

Como
disse um dia Nelson Mandela, eu gostaria de ser recordado apenas como um
elemento de uma equipa e gostaria que o meu contributo fosse avaliado como o de
alguém que executou as decisões tomadas por esse coletivo.

 

Qual é a principal
preocupação do presidente da AAUM neste momento?

A
principal preocupação de um presidente da AAUM tem que ser sempre o bem estar
dos seus estudantes. Desde os assuntos mais relevantes que exigem sempre
posições mais generalistas, às questões mais pessoais que exigem uma grande
atenção ao pormenor e ao individual e que não saem da informalidade e
confidencialidade dos gabinetes onde certas conversas se têm. Mas sem dúvida
que os assuntos mais sensíveis foram os que estiveram relacionados com as
carências financeiras de muitas famílias.

 

A AAUM, como todos
nós também tem sentido a crise. Como se encontra financeiramente a AAUM?

A
nível financeiro, a AAUM tem mantido a estabilidade que tem caracterizado os
últimos anos. Vivemos um quadro de grandes restrições, mas a AAUM soube
adaptar-se a esse quadro restritivo, reduzindo despesas, renegociando contratos
com empresas e fornecedores, registando ganhos de eficiência na sua estrutura e
procurando fontes alternativas de financiamento

 

A sustentabilidade da
AAUM está dependente das festas académicas ou existem outras formas?

A
decisão que tomamos no ano passado prova o contrário. De facto, as várias
direções da AAUM fizeram um trabalho notável, dotando-a de uma independência
ímpar a nível nacional. São fontes de receita importantes, têm um grande
impacto no orçamento da AAUM, é preciso ter muito cuidado nas escolhas que são
feitas, mas a sustentabilidade da AAUM não é ditada pelas mesmas.

 

Como correu esta
edição do Enterro da Gata? Que balanço fazes da maior festa da Academia
Minhota?

Faço
um balanço muito positivo e devo um reconhecimento público a toda a minha
direção que apesar da pouca experiência que tinha neste tipo de eventos fez um
trabalho notável e foi de uma entrega inexcedível. O feedback que recebemos de
todos os parceiros foi excelente, não foram registados incidentes de maior e a
semana foi marcada por uma grande afluência ao Gatódromo. Fica um sentimento
muito gratificante e de grande orgulho destes meses de trabalho.

 

O Santoínho foi
cancelado… qual foi o motivo?

A
dois dias do evento ainda não havia qualquer inscrição. A participação no
arraial minhoto diminuiu bastante quando se aumentou as noites no Gatódromo de
seis para sete noites. É um esforço financeiro que poucos têm a possibilidade
de acompanhar. Nos últimos anos, a atividade tem vivido sobretudo dos grupos
culturais e antigos estudantes.

 

A crise refletiu-se
na adesão dos estudantes ou esta não foi notória?

Sim,
refletiu-se sobretudo na aquisição de bilhetes gerais que caiu mais de 10 %.
Sinto que muitos estudantes optaram por alguns dias quando no passado tinham
disponibilidade para ir a todos. E note-se que o bilhete geral do Enterro da
Gata é o mais baixo do país quando comparado com as semanas académicas de
Porto, Coimbra, Aveiro ou Vila Real, por exemplo.

 

Qual a tua opinião sobre
a ação social escolar?

A
ação social escolar teve um retrocesso muito grande em 2010 e, desde então, têm
sido feitas pequenas alterações pontuais que não chegam para responder às
necessidades de todos os estudantes carenciados. Fruto da pressão do movimento
associativo estudantil, foi criada recentemente uma comissão de trabalho pelo
Governo que produziu um conjunto de recomendações para tornar o sistema mais
justo. Estas alterações permitiriam incluir mais de 5000 novos estudantes no
sistema. Agora resta que as mesmas sejam aceites pelo Governo.

 

Relativamente ao
Fundo Social de Emergência. Qual o balanço deste apoio aos estudantes?

A
necessidade de criar o FSE representa a prova de que o sistema de ação social
falhou por insuficiência. Daí a necessidade de se criarem fundos locais. Mas
perante uma situação tão complicada não se podia fechar os olhos às
necessidades dos estudantes. Ao longo destes três anos já apoiamos centenas de
estudantes através deste Fundo. Muitos deles poderiam ter ficado pelo caminho.

 

Como viste a
iniciativa do Calendário Solidário por parte dos judocas da nossa academia?

Manifestei
o meu apoio a esta ideia desde o primeiro momento. Foi uma excelente iniciativa
que permitiu dar destaque a um problema que não nos pode deixar indiferentes. Tal
como afirmei na altura, é a prova de como a irreverência estudantil pode estar
ao serviço de causas nobres e daqueles que mais precisam.

 

Que significado tem
este donativo de 5000 dólares da Federação Internacional de Judo para o FSE?

Eu
disse-o acerca da iniciativa e penso que o posso dizer também relativamente a
este donativo da IJF. Mais importante do que o dinheiro alcançado é a
visibilidade que se dá ao FSE. A verdade é que muitos estudantes continuam sem
conhecer este fundo a que podem recorrer caso estejam em dificuldades. E esse é
o principal mérito desta iniciativa. O donativo da IJF mostra, acima de tudo,
que a solidariedade não tem fronteiras.

 

Qual a tua opinião
sobre este fenómeno de uma tão grande taxa de jovens que não consegue encontrar
emprego em Portugal?

É
um fenómeno muito preocupante e que terá consequências gravíssimas sobretudo porque
está associado a uma crise demográfica sem precedentes na história do nosso
país. Ainda assim, é importante desmistificar a ideia de que não vale a pena
estudar… A verdade é que a taxa de desemprego qualificado é muito menor e que
os salários auferidos por diplomados são também, em média, superiores.

 

Qual é a tua maior
preocupação relativamente ao Ensino Superior?

É
fundamental que o próximo Governo, seja ele qual for, volte a criar um
Ministério do Ensino Superior. Foi um erro colocar o Ensino Superior na pasta
da Educação sob a responsabilidade de um Secretário de Estado. Minimizou o
sector, retirou-lhe importância na definição de uma estratégia para o
desenvolvimento do país. É necessário rever a rede de Ensino Superior, rever o
financiamento das Instituições, alargar a ação social, combater o abandono
escolar e reforçar a autonomia universitária.


Nestes últimos anos muito se tem falado e discutido o abando escolar. O que tem sido feito pela AAUM de forma a contrariar essa tendência?

É um dos fenómenos mais alarmantes do sistema de Ensino Superior em Portugal e que está intimamente ligado às dificuldades financeiras que os estudantes atravessam, bem como às dificuldades de adaptação que resultam em insucesso académico. O ano passado foi criado o Programa Retomar para recuperar estudantes que tenham deixado as Universidades sem concluir os seus cursos. Mas é um programa limitado e com alcance reduzido. Temos vindo a pressionar a Reitoria e o Governo a trabalhar de forma preventiva criando grupos de trabalho que monitorizem o fenómeno e criem um guia de boas práticas que permita sinalizar casos de risco precocemente.

 

 

Recebemos em abril a
Fase Final dos CNU’s. Que balanço fazes do evento?

Foi
um evento muito exigente que juntou quase três milhares de pessoas de doze
modalidades, em apenas oito dias, em mais de vinte complexos entre Braga e
Guimarães. Em termos organizativos, devo um sincero obrigado a toda a equipa
envolvida pelo esforço e disponibilidade que foram totais. O apoio dos Serviços
de Ação Social e das Câmaras Municipais de Braga e Guimarães também foram
essenciais para o sucesso do evento. Em termos desportivos, a AAUM voltou a ser
a grande vencedora destes CNU’s com 5 medalhas de ouro, 1 medalha de prata e 2
medalhas de bronze.

 

Vamos receber em
agosto, em Braga o Europeu Universitário de Andebol. Como estão os preparativos
para o evento?

Estamos
a finalizar o processo de inscrição de equipas, tanto na vertente masculina,
como feminina. Assim que esse processo estiver concluído, tudo ficará melhor
definido e os preparativos vão intensificar-se até ao início do mês de agosto.
Felizmente, temos um Comité Organizador muito experiente, sobretudo decorrente
da organização do Campeonato Mundial Universitário no ano passado em Guimarães.

 

Quais são as
perspetivas para este europeu?

Em
termos organizativos, esperamos manter o excelente nível que nos tem
distinguido a nível internacional, envolvendo toda a cidade neste evento. Em
termos desportivos, esperamos revalidar o título conquistado em 2013 e 2014.

 

A aposta no desporto da
parte da AAUM é para continuar?

Sim,
é uma aposta muito forte, tanto da AAUM, como da própria Universidade. Este ano
teremos perto de uma dezena de equipas a competir nos Campeonatos Europeus
Universitários e esperamos voltar a ter um lugar de destaque no ranking da Associação
Europeia de Desporto Universitário depois de termos alcançado o 1º lugar em
2013. O desporto assume-se como um complemento fundamental na formação dos
estudantes/atletas e como um factor de projeção nacional e internacional da
própria AAUM.

 

O que na tua opinião
deve ser mudado ou melhorado de forma a mantermo-nos no topo?

O
facto dos critérios de classificação para o ranking da EUSA se terem alterado
recentemente prejudica-nos na luta pelos lugares cimeiros. Além disso, é
importante compreender que há um investimento muito avultado da AAUM no
desporto universitário para alcançar estes resultados. Mas penso que no
essencial há uma cultura desportiva muito consolidada e que assenta numa forte
relação com os clubes da região e com o desporto escolar, na valorização do
mérito desportivo e académico e na criação de condições que permitam conciliar
estas duas vertentes.

 

Para quando a nova
sede da AAUM?

Infelizmente
ainda não é possível avançar com uma data concreta. As necessidades para
requalificação do edifício da Fábrica Confiança já foram apresentadas à Câmara
Municipal de Braga, sendo que neste momento nos resta aguardar pelo lançamento
dos avisos para candidaturas a fundos comunitários para a viabilização
financeira do projeto. Algo que já deveria ter acontecido.

 

Em relação ao teu
futuro. Tens ambições políticas?

Não
tenho ambições políticas, não tenho nem nunca tive nenhuma filiação partidária.
Mas, desde muito novo que tive a oportunidade de lidar com adultos que me
ensinaram o dever de não ignorar o que via, ouvia e lia. Foi assim que entrei
no associativismo e é assim que espero continuar a ter um percurso cívico,
baseado na motivação de transformar e mudar coisas, de causar impacto positivo
na vida das pessoas. A cada momento, espero ter o discernimento para decidir
sobre a melhor forma de o fazer.

 

Uma mensagem à
Academia e aos estudantes?

Eu
não sei se a nossa academia é melhor que as outras, mas sei que é diferente.
Esta academia tem uma identidade singular, um imaginário próprio, tradições
únicas e uma tendência particular para seguir caminhos improváveis. Este é um
legado que necessita de ser continuamente reinventado e é
por marcar essa diferença que todos os estudantes se devem bater dia após dia.

 

Texto:
Ana Coimbra

Fotografia:
Nuno Gonçalves

 

(Pub.
Jun/2015)

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