Publicado em Deixe um comentário

Izmir recebeu a maior delegação portuguesa de sempre!!


Universíadas de Verão


A comitiva portuguesa, a maior de sempre, integrou atletas das modalidades de atletismo, natação, esgrima, taekwondo, ginástica artística e rítmica, voleibol feminino, basquetebol masculino e pólo aquático masculino. Na bagagem levaram as esperanças em obter bons resultados, dado que contou com alguns atletas de valor inegável, como Naide Gomes no atletismo, Joaquim Videira na esgrima e Manuel Campos na ginástica artística. Contaram ainda com uma chefia de ?peso?, liderada por Manuel Janeira, pró-reitor da Universidade do Porto e ainda com as presenças de Vicente Moura, presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), e Pedro Dias, membro do Comité Executivo da Federação Internacional do Desporto Universitário (FISU), personalidades que tudo fizeram para que esta delegação conseguisse o maior sucesso possível.


Portugal, através da organização da FADU, já participa nas Universíadas desde 1991, estes que são os jogos mundiais universitários por excelência, reunindo de dois em dois anos milhares de atletas de diferentes modalidades.


Portugal tem conseguido ao longo dos últimos anos alguns lugares de destaque, como foi o caso da medalha de ouro conquistada por Pedro Soares no judo (Palma de Maiorca, 1999) e as medalhas de prata de Carla Sacramento (Sicília, 1997), Susana Feitor e Nédia Semedo (Pequim, 2001).


Nestas Universíadas, Portugal alcançou duas medalhas de prata, com Naide Gomes no Salto em Comprimento e Vera Santos na Marcha, entre outros resultados de destaque.


Portugal pondera agora uma candidatura de às Universíadas de 2011, algo que é ainda uma miragem, mas que tornaria Portugal mais uma vez o palco do desporto mundial e seria uma rampa de lançamento para o desenvolvimento desportivo em Portugal.


 


Entrevistas com personalidades que estiveram em Izmir, Turquia

 

Prof. Manuel Janeira

Chefe de Missão Comitiva Portuguesa às Universiadas de Izmir

 

 

Dicas- Sabemos que o Prof. Manuel Janeira foi o chefe de missão da comitiva portuguesa a Izmir, em que consistiu essa função?

 

Manuel Janeira- Ao chefe de missão cabe ser o responsável pela organização, orientação e bom funcionamento, tal como conduzir a correcta participação do ponto de vista social e desportivo de uma missão desta natureza. Tenho a dizer que fui muito bem coadjuvado, assim o papel que representei foi muito facilitado, sobretudo realçando o papel do Prof. Fernando Parente, que pela sua experiência de outras Universíadas, foi facilitador do meu papel, bem como dos outros oficiais que responderam de forma muito profissional às tarefas quase distribuídas on-line.

 

Dicas- Como chefe de missão, no geral, que avaliação nos pode fazer das Universíadas de Izmir? Quais os aspectos positivos e negativos que mais ressaltaram?

 

M.J.- Já tinha participado em universíadas como atleta, é fácil perceber a importância de umas universíadas. É o segundo maior evento desportivo depois dos jogos olímpicos, onde estão os melhores ou os grandes atletas do momento em todas as modalidades, é um evento de uma dimensão muito importante, um momento particular na vida de um atleta, poder participar num evento desta dimensão.

Na organização destas Universíadas houve uma coisa que perturbou um pouco, pois alguns locais onde decorriam as competições eram um pouco longe da aldeia olímpica, ponto este que sofreu alguma censura, de resto não há grandes críticas. Sei que a preparação que foi aqui feita, que pensávamos que seria facilitador para a acreditação inicial, quando lá chegamos vimos que foi em vão, pois com tanto volume de informação nem viram que o trabalho estava feito e tivemos que fazer tudo novamente. De resto apenas a apontar alguma aridez que a aldeia olímpica ainda tinha por ter sido terminada à pouco, mas esses são aspectos que se ultrapassaram facilmente.

 

Dicas- Sabemos que estar à frente da comitiva não deve ser tarefa fácil, o que engloba levar uma comitiva deste tipo para a Turquia? Em termos de trabalho e responsabilidade?

 

M.J.- Como já disse tive o trabalho muito facilitado, nomeadamente nas questões da preparação. Tive alguns momentos longe da partida em que estive mais envolvido em deslocações às federações, nos contactos, mas nada muito trabalhoso. Na semana antes do momento da partida, aí foi quando fiquei mais disponível, com as férias da Faculdade e me envolvi mais nas Universíadas. Nessa semana estive em Lisboa a acompanhar o basquetebol e outros assuntos da FADU, depois foi a partida e aí sim fiquei muito empenhado e preocupado e o primeiro impacto foi tentar controlar tudo, saber se tudo estava a funcionar bem, andar a saltar de colega para colega de chefia de missão. A preparação aqui foi muito facilitadora, tivemos dois ou três dias de alguma preocupação inicial na acreditação dos atletas, que foi facilmente ultrapassada, só custou estar tudo preparado de cá e ninguém tinha dado importância. Depois disto foi a preparação da Cerimónia de Abertura, e convencer a todos que era importante estarmos todos formalizados quando era preciso estar formalizado e estarmos à vontade quando era altura mas respeitando do ponto de vista social as pessoas, o que todos perceberam facilmente e foi muito bem aceite. Depois tive também que preparar os momentos, ver quem estava ligado a quê, quem tinha responsabilidades junto das diferentes modalidades, etc. A noite era um pouco custosa, pois tínhamos que fazer o balanço do dia, preparar o press release para a comunicação social, ver a agenda do dia seguinte para cada um dos oficiais, distribuir quem vai a onde, fazer esse calendário e comunicar a cada um, como também à equipa médica e pessoal da imprensa que acompanhavam as nossas equipas. Era este o dia-a-dia, que depois da tensão inicial se foi dissipando, ajudando em muito toda a comitiva que foi excelente, respeitadores das orientações da chefia de missão. Soubemos coordenar, mas as pessoas também souberam respeitar as nossas ordens, entenderam os momentos em que era para relaxar, os momentos em que era para estarmos sérios e para dignificar a nossa missão. 

 

Dicas- O que pensa dos resultados obtidos, sendo que não foram muito maus mas que poderiam ser melhores?

 

M.J.- Se compararmos com as outras Universíadas, esta foi a segunda melhor, pois já estivemos numas Universíadas onde conquistamos três medalhas. A apreciação que faço é que houve muita gente que esteve muito perto de uma medalha e outros com prestações muito boas e por isso são uma esperança para o desporto português.

A nossa representação foi bastante boa, estivemos em níveis competitivos que ultrapassaram aquilo que eram as nossas expectativas iniciais. No atletismo até esperávamos algo mais, foi onde ganhamos as únicas medalhas, mas onde as nossas expectativas para outras medalhas ficaram goradas, mas outras modalidades, como a ginástica desportiva, rítmica, o basquetebol e voleibol estiveram em momentos num nível que ultrapassou as expectativas. É claro que o que conta são as medalhas, mas no ranking ficamos à frente de países que têm uma maior tradição do que Portugal no panorama internacional, como a Grécia, Austrália, Bélgica, Finlândia, Suécia, etc.

Agora é preciso que a FADU seja capaz de fazer entender às federações desportivas não universitárias a importância deste acontecimento, para que sejam capazes de integrar a participação nas Universíadas como um momento da preparação desportiva das suas selecções. É também um desafio às próprias universidades que eram distraídas em Portugal, sendo que a Universidade do Minho foi nisto pioneira e a Universidade do Porto vai a reboque, mas é preciso que todas as outras tomem este alerta de que prática desportiva é fundamental, as universidades têm que ser capazes de acolher os atletas desportistas. A entrada para a universidade tem que deixar de ser o momento das desistências, mas se o forem do ponto de vista da competição ao mais alto nível, que tenham outro tipo de acolhimento para prolongar a prática desportiva. Que encontrem mecanismos (tal como a U.M.), para apoio aos estudantes atletas, para que a entrada para a universidade não seja um momento de abandono, mas um reforço da capacidade que os atletas têm para continuarem a progredir na sua prática desportiva, mas também que os atletas não se sirvam do desporto só para entrarem na universidade e depois abandonem.

 

Dicas- Qual a razão para terem levado uma tão grande comitiva a estas Universíadas?

 

M.J.- Foi a maior comitiva de sempre, mas o que fez aumentar o número de atletas foram os desportos colectivos, habitualmente vai uma equipa colectiva e desta vez foram três, o que veio aumentar de facto a delegação. Houve também do ponto de vista estratégico, um interesse em avançar com estas modalidades colectivas, mas outra das razoes foi a proximidade da Turquia, pois se fosse longe era complicado levar uma delegação tão numerosa. Posso também dizer que a decisão de levar esta comitiva decorreu também do apoio das federações, pois entenderam aproveitar este momento num plano estratégico das modalidades, se outras aderirem isso no futuro vai condicionar também os tamanhos.

 

Dicas- O que pensa da possível candidatura de Portugal às universíadas de 2011?

 

M.J.- Eu gostava que Portugal se candidatasse, não sei é se 2011 é muito próximo. Acho bem que se analise a ideia de Portugal se candidatar a umas universíadas, mas apenas num o futuro não determinado. Espero é que sejamos capazes de equacionar e perspectivar essa candidatura, juntando as pessoas, instituições, reflectindo o que é que isso pode representar. Que esta candidatura não apareça como uma altitude governativa para marcar uma posição, e que não apareça como atitude de repor a verdade de 69 (como disse Mariano Gago), não pode ser esse o objectivo. É de facto um momento para tomar o pulso ao próprio país, mas que deverá ser equacionado com os pés bem assentes no chão, ver se estamos preparados quer do ponto de vista material, humano e organizativo para abraçar uma iniciativa dessa natureza.

Um momento destes era fulcral para o desenvolvimento estratégico desportivo do próprio país, poderia até fazer-se destas universíadas um motor de arranque do desporto em Portugal, particularmente do desporto universitário.

 

Dicas- No imediato, o que seria necessário fazer-se para que Portugal tivesse condições para organizar um evento deste tipo?

 

M.J.- Um evento deste tipo custa muito dinheiro, precisamos de ter capacidade do ponto de vista material, humano e organizativo muito grande. Já temos várias experiências organizativas, como o EURO, Expo 98, mas devemos ser capazes de ver se temos condições já neste momento sobretudo a nível dos equipamentos desportivos. Não deve ser visto como um momento para construir outros mega estádios, pistas fantásticas e sobretudo o que parece claríssimo é que era outra oportunidade para levar uma coisa destas para Lisboa. Penso que não há necessidade, mas sim encontrar aqui uma razão para trazer um acontecimento de grande envergadura para outras regiões, diversificar o seu ponto nevrálgico. O norte do país está equipado e poderia com grande facilidade acolher um evento desportivo desta envergadura e era uma oportunidade para recuperar partes desta zona do país que só por fogachos consegue ser visível. Era o momento oportuno para um evento desta envergadura se centrar no norte de Portugal que tem as condições a nível dos equipamentos desportivos. O que posso dizer é que temos equipamentos desportivos para organizar, a única coisa que era necessário construir era uma aldeia para os atletas.

 

 

Fernando Parente

Dicas- Gostaríamos de saber qual foi a sua função nestas Universíadas e já agora se houve algum dirigente português com um papel mais determinante à frente da organização das Universíadas?

 

F.P.-A minha função foi apoiar directamente o chefe de missão e trabalhar no secretariado com o Carlos Santos e os dirigentes da FADU, no que diz respeito à preparação da missão, o meu papel foi estar atento às questões operacionais. Em termos de destaque, penso que será de distinguir toda a direcção da FADU, principalmente o Carlos Santos, pois sem as decisões que deveriam ser tomadas a determinada altura, sem a motivação que era necessária para estas coisas, não ter o Carlos era muito complicado. Mas também o Rui Matos enquanto tesoureiro, o Paulo Ferreira no secretariado, o Pedro Dias na organização local em Izmir, que pela função que ocupa (membro da Comissão executiva da FISU) e pela qualidade da função, teve um papel crucial, e o Carlos Magalhães que faz parte da comissão médica da FISU. Tínhamos mais de cem pessoas nas Universíadas e se não fosse desenvolvido algum trabalho de equipa e alguma colaboração muito próxima tinha sido muito complicado levar esta missão avante.

De resto quando isto acaba, da maneira como correu e o comportamento exemplar de toda a gente neste evento, existe uma enorme satisfação e penso que o saldo é muito positivo.

 

Dicas- Sabendo que já esteve presente em várias Universíadas, o que achou da organização por parte dos turcos e qual foi para si a melhor?

 

F.P.- A análise que faço da organização destas Universíadas de Izmir é que os turcos superaram todas as expectativas, as pessoas iam com expectativas baixas e com algum receio, mas os turcos esforçaram-se muito e acho que acabaram por cumprir um papel muito positivo, do ponto de vista desportivo das competições correu muito bem. Havia o problema da aldeia estar longe de algumas instalações e da cidade onde se poderia criar uma maior envolvência de quem estava nas Universíadas com a cidade, mas acabou por ser um evento muito positiva.

Já estive em várias e para mim a melhor foi a de Fukuoka no Japão (1995), também gostei muito de estar na de Pequim 2001 mais pelo país, mas penso que os japoneses foram quem melhor organizaram as Universíadas.

 

Dicas- Como pessoa que esteve por dentro de todo o processo, qual foi a política seguida na selecção dos atletas que foram ás Universíadas?

 

F.P.- Nós tentamos dentro da medida do possível levar atletas que representassem bem o país, que tivessem qualidade desportiva e que de alguma maneira representassem o desporto universitário. Daí que utilizamos critérios de representatividade, atletas que estivessem estado nos CNU?s, não foi possível para todas as modalidades porque algumas nem existe competição desportiva universitária, mas os critérios passaram por: qualidade internacional e representatividade nos Campeonatos Nacionais Universitários.

 

 

 

Dicas- Qual a razão para os sucessos portugueses serem principalmente e quase só no atletismo?

 

F.P.- Porque o atletismo é de facto uma modalidade onde podemos competir internacionalmente. Outras modalidades poderão ter sucesso no futuro, mas têm que rever um pouco os seus processos e formas de trabalhar.

 

Dicas- Sabemos que estiveram presentes alguns alunos da UM, que apreciação faz da sua participação?

 

F.P- Esteve a Carla Machado na competição de Taekwondo, digamos que se preparou e treinou bastante para as universíadas, perdeu no primeiro combate não tendo sucesso desportivo, mas também teve um pouco o azar ao disputar o seu primeiro combate com a vice-campeã do mundo. É uma competição um pouco injusta no sentido da eliminação ser feita no 1º combate e não haver repescagens.

 

Dicas- Qual foi o ambiente vivido em volta das Universíadas?

 

F.P.- O ambiente era fantástico, é provavelmente a competição desportiva internacional onde em termos sociais os atletas mais se identificam mais uns com os outros, porque são todos estudantes universitários e todos gostam de desporto, logo isso contribuiu para que o ambiente seja bom. Em termos da nossa comitiva estava com algum receio por causa do número total dos membros, mas na minha opinião foi provavelmente o melhor ambiente que se criou em termos de comitiva nacional em todas as Universíadas onde estive presente. Penso que as pessoas que fizeram parte da nossa delegação vieram muito recompensados pela participação, em termos sociais acho que o que aconteceu foi muito bom. Criou-se uma atmosfera muito fácil, muito ?friendly? mas houve também uma enorme seriedade desportiva na participação dos atletas, não há nada apontar, os que ganharam, ganharam, os outros apenas foram piores do ponto de vista desportivo. Tudo isto também facilitou o ambiente, só quem não encara isto assim é que pode estragar o ambiente de grupo. Mas a liderança também foi muito boa, carismática, e o grupo reviu-se nela quer nos momentos de concentração, quer nos de descontracção.

 

 

Pedro Dias

Dicas- Pedro Dias qual foi a sua função dentro da organização das Universíadas de Izmir?

 

P.D.- O Comité Executivo da Federação Internacional do Desporto Universitário (FISU) é o órgão responsável pela supervisão da organização do mega evento Universíada. Na qualidade de membro do Comité Executivo, a par dos meus colegas desse comité, mantive um acompanhamento muito estrito de todos os aspectos relacionados com o evento. Além dessas funções, presidi a Comissão Internacional de Controlo, composta por 17 elementos de diferentes nacionalidades, cuja função consiste em autorizar a participação dos estudantes universitários no evento, através da confirmação do seu estatuto de estudante Universitário, da confirmação da nacionalidade dos participantes e da idade permitida para participar no evento (mínimo 17 e máximo 28 anos). Fui também membro do Júri de apelo da competição de Basquetebol.

Dicas- Na sua perspectiva e aos olhos da FISU que análise fazem das Universíadas de Izmir?

 

P.D.- Na globalidade o evento foi positivo. Se considerar as vicissitudes que os Turcos experimentaram ao longo das fases de planeamento e implementação do projecto, como o falecimento do Presidente da Câmara de Izmir a cerca de um ano do evento, aquele que foi o grande impulsionador do projecto, podemos considerar esta Universíada com um bom de letra maiúscula. O legado para a região de Izmir ao nível das Infra-estruturas desportivas, acessibilidades, formação de recursos humanos, reforço das estruturas técnicas existentes nas diversas modalidades é impressionante. Apesar de não me parecer muito relevante, é importante destacar o facto de ter sido batido o record de participantes no evento, participaram 7816 elementos oriundos de 131 países dos 5 continentes, dos quais 5338 eram atletas e 2478 oficiais.

19 records da Universíada foram batidos 83 no atletismo e 16 na natação), um número elevado de atletas medalhados Olímpicos estiveram em Izmir: Marcel Fischer(Esgrima), Peng Bo(Saltos para a água), Anna Bessonova (Ginástica Rítmica), entre outros.

Durante o evento, o número impressionante de 18536 pessoas trabalhou arduamente para o comité organizador, entre estes: 2853 pessoas com cargos de coordenação e direcção,450 técnicos, 1283 árbitros e juizes. 59 Instalações desportivas foram utilizadas e o comité organizador emitiu 38366 cartões de acreditação. Estes dados permitem ter uma ideia genérica sobre a dimensão global deste mega evento desportivo.

 

Dicas- Como membro do Comité Executivo da FISU, gostava de saber como é vista a FADU e o trabalho que tem desenvolvido, visto ser das únicas, senão a única associação composta por estudantes?

 

P.D.- A FADU é uma instituição respeitada no seio da denominada família da FISU. A dinâmica imposta pelos estudantes desde a fundação (1990) da FADU, tem tido o reconhecimento da comunidade Internacional Universitária. A FADU tem realizado um esforço assinalável para ser um membro activo da FISU, participando e organizando eventos com uma regularidade impressionante. Os estudantes têm estado á altura do desafio, apesar das grandes dificuldades que a FADU tem encontrado, nomeadamente pelo facto da estrutura dirigente ser composta por jovens voluntários, e de não possuir um corpo técnico qualificado devidamente dimensionado à responsabilidade que lhe é cometida pelo Estado, através da atribuição da utilidade pública desportiva. O número de estruturas federativas com estrutura similar à FADU tem reduzido ao longo dos últimos 20 anos, a realidade actual é muito diferente da existente no final da década de 80 quando a FADU foi criada. A FADU e as federações de alguns países nórdicos são casos únicos no Mundo.

 

Dicas- Pedro Dias, como perspectiva o futuro do desporto universitário e que mudanças são necessárias operacionalizar para que fosse realmente levado a sério pelos nossos governantes?

 

P.D.- O Desporto Escolar, onde o desporto no Ensino Superior está inserido, é um subsistema do sistema desportivo, não pode nem deve ser um espaço fechado, independente. Existe desporto, sendo este praticado por diversos estratos da população e em ambientes diferentes, pelo que o mais importante é conseguir aproveitar as oportunidades e potencialidades da prática desportiva em cada um desses espaços. O desporto em Portugal necessita de uma coordenação estratégico/política única e de uma orientação estratégica traçada a longuíssimo termo, com objectivos bem definidos, onde todos os intervenientes estejam conscientes sobre o que se pretende e qual o percurso do desporto no nosso país. O desporto escolar e no Ensino Superior ?encaixam? perfeitamente nesse ambiente, temos consciência de que estes locais são espaços de eleição para o fomento e desenvolvimento da prática desportiva, nomeadamente na criação de bons hábitos e de boas práticas.

Concluindo, compete aos responsáveis pela definição das políticas do nosso país assumir a responsabilidade, traçar as orientações necessárias e definir os objectivos para o desporto em Portugal. Se isso for feito, não tenho a menor dúvida de que os tão badalados índices e taxas de prática desportiva irão melhorar, bem como, os resultados desportivos no alto rendimento.

 

Carlos Santos

 

Dicas- Qual o papel da FADU na organização e coordenação destes eventos?

 

C.S- A FADU é a federação que tem a responsabilidade de representar o país internacionalmente a nível universitário, neste sentido a nível das Universíadas a FADU quando inicia o processo democrático da organização convida um chefe de missão, sendo que nestas Universíadas convidamos o Prof. Manuel Janeira, pelo facto de já ter participado como atleta, por ser responsável pela dinamização do desporto numa universidade portuguesa, ser uma das pessoas que pretendemos que atinja  do ponto de vista político um lugar de decisão ao mais alto nível, uma pessoa com notoriedade e a força que nós precisávamos na fase da negociação. O projecto Universíadas começou em Setembro de 2004 e passou por vários momentos, muito trabalho e várias experiências, umas positivas outras negativas, mas que eu como Pres. da FADU e toda a equipa que me acompanhou soubemos ultrapassar da melhor maneira.

 

 

Dicas- Muita gente desconhecerá o que são umas Universíadas, qual a definição que nos pode dar?

 

C.S.- Evento excelente! Todo o fenómeno do desporto universitário é algo que é uma potencialidade que pode crescer, na nossa óptica, apesar de em muitos países as universíadas serem vistas como algo muito importante, aqui isso ainda não acontece. Por isso penso que esse é um trabalho que deve ser feito internamente nas universidades, associações académicas, no fenómeno desportivo nacional e no próprio Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

Umas universíadas posso defini-las como uma experiência a todos os níveis, algo que designa o que o próprio desporto universitário é, uma experiência a vários níveis que deve ser enquadrado pelas várias instituições (Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, universidades, no fenómeno desportivo nacional e internacional) é aí que a FADU pretende trabalhar, enquadrando as universidades como um momento estratégico no desenvolvimento desportivo nacional, num balão de experiências, uma forma de maturação do percurso dos atletas portugueses.

As universíadas podem ser vistas como uma experiência que muitas federações precisam fazer no alto rendimento, que as universidades podem desenvolver nos seus laboratórios, para mim as universíadas podem ser o momento potencializador de um melhor futuro, com melhores atletas, melhores dirigentes, com mais cidadania e participação no fenómeno desportivo nacional.

 

Dicas- Contaram com os apoios das federações e ministérios?

 

C.S.- Tivemos o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e Secretaria de Estado do Desporto que foram os responsáveis pelo financiamento. Podíamos ter ido um pouco mais longe numa ou noutra questão, mas foi o financiamento possível. Apesar de tudo acho que conseguimos passar a mensagem às federações e ministério, era obviamente estratégico potenciarmos novos caminhos, visualizarmos novas metas, horizontes e desafios. Nesse sentido conseguimos elucidar na medida do possível o governo português da necessidade da representação nas Universíadas, sem as federações desportivas era claramente impossível, apesar do esforço financeiro da participação ser inteiramente da FADU, as federações contribuíram apenas com apoio técnico e disponibilizaram os equipamentos desportivos de competição, tudo o resto foi responsabilidade da FADU. Houveram também outros apoios, nomeadamente do Comité Olímpico que ofereceu os trajes oficiais de passeio para o desfile de honra, mas também a Universidade do Minho que durante dois meses foi a sede para a organização das Universíadas e ainda a Academia Militar que nos deu a possibilidade de reunir toda a delegação em Lisboa no dia antes da partida. Todos estes apoios foram um contributo essencial para a participação de Portugal.

 

 

Dicas- Carlos Santos, o que seria necessário mudar no desporto universitário para que nas próximas universíadas os resultados melhorassem?

 

C.S.- O desporto universitário da forma como está organizado em Portugal não tem intenções de trabalho no alto rendimento, no entanto a FADU surge como uma federação estratégia para o alto rendimento. As Universíadas abarcam competições com atletas entre os 17 e 28 anos, do ponto de vista da participação de atletas poderemos proporcionar um momento chave de desenvolvimento do atleta. A missão nacional da FADU é proporcionar a prática desportiva ao estudante do ensino superior e não ao atleta de alto rendimento, mas paralelamente temos uma plataforma que potencializa experiências importantes naquilo que é o processo de maturação de um atleta, (pois somos membros da FISU e da EUSA), quando a federações conseguirem perceber isso, quando as universidades perceberem que têm de dar um apoio especial ao atleta de alto rendimento, que não deve ser desprezado por não vir às aulas, mas sim apoiado para que possa ter sucesso desportivo e académico, quando percebermos que todo o sistema universitário pode ser um balão de experiências que pode optimizar não só atletas, mas também dirigentes e experiências desportivas. Aquilo que estamos a tentar fazer é desenvolver projectos desportivos através de experiências, o que fizemos com as modalidades colectivas nestas universíadas. Quando isto for percebido pelo estado, pelas federações desportivas, pelas universidades e pelas próprias associações académicas, penso que estaremos em condições de optimizar os esforços que fazemos neste momento.

 

Dicas- Carlos Santos, que mudanças estão previstas serem implementadas no desporto universitário?

 

C.S.- As mudanças vão ser essencialmente algumas alterações ao modelo do campeonato nacional de forma a aumentar os valores efectivos de atletas no ensino superior, objectivo que queremos afirmar já no próximo ano, como também o consolidar dos caminhos que optamos e das parcerias que começamos a estabelecer, das quais as Universíadas foram um momento estratégico para afirmação e apresentação de uma nova FADU, de novos objectivos e novos interesses a nível do panorama nacional desportivo.

 

 

 

Dicas- Como presidente da FADU será que nos pode abrir um pouco sobre o futuro do desporto universitário e da sua continuação à frente da FADU?

 

C.S.- A nível do futuro do desporto universitário penso que nestes dois últimos anos conseguimos demonstrar no terreno através de resultados o nosso verdadeiro valor, apesar das dificuldades é prova firme que as coisas podem mudar, mesmo tendo partido em situações difíceis conseguimos realizar todos os projectos que estavam planeados, pois era extremamente importante do ponto de vista estratégico esta demonstração de resultados, razões pelas quais temos de apostar neste subsistema. O trabalho é exactamente este, demonstração de que as coisas podem acontecer e melhor ainda se conseguirmos reunir à volta do fenómeno do desporto universitário, Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, universidades, federações desportivas, etc, se estes intervenientes estiverem em consonância relativamente a várias questões penso que poderemos mudar definitivamente o futuro do desporto universitário.

Quanto à minha continuação na FADU, as eleições para a FADU serão a 12 de Outubro, neste momento posso dizer que haverá uma continuidade pois existe uma lista única, o que demonstra também o consenso acerca dos resultados que conseguimos obter durante estes dois anos, por isso os associados da FADU querem a consolidação deste projecto e a continuidade do seu presidente que ao longo destes dois anos definiu um novo posicionamento, enquadrando uma nona forma de estar completamente diferente, pois passa pelo enquadramento da FADU no panorama desportivo nacional como parte estratégica de desenvolvimento e não como algo isolado que aparecia de dois em dois anos para organizar qualquer coisa.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *