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Atleta da UMinho lutou pelas cores nacionais

Universíadas de Izmir 2005


 


Esta futura advogada que já foi campeã nacional por 5 vezes, participou num Mundial da especialidade e em dois Europeus (tendo alcançado um 4º lugar no primeiro), deu os primeiros ”pontapés” no Taekwondo com 14 anos.

Esta é sem dúvida a altura ideal para ficar a conhecer um pouco mais esta atleta da Universidade do Minho, que já conseguiu obter sucesso desportivo, ao mesmo tempo que estuda para ser Advogada.

 

UMd- Apesar de esta não ser a primeira vez que participas em competições internacionais, qual foi a sensação nestas Universiadas ao entrares na área de combate e saber que toda a gente está de olhos postos em ti?

 

Carla Machado- Apesar de já ter participado em muito campeonatos internacionais, as Universiadas foram sem dúvida o evento que mais me marcou. Primeiro devido à sua grandeza, que englobava várias modalidades, ao contrário dos Europeus e Mundiais de Taekwondo. Em segundo, e ao contrário do que eu esperava, o nível competitivo estava bastante elevado. No que diz respeito à sensação, ela foi a do costume. Geralmente os combates quando são em grandes competições internacionais nunca decorrem todos ao mesmo tempo, portanto os olhos estão sempre voltados para quem está dentro do ringue, logo a única diferença foi mesmo a grandiosidade do evento em si.

 

UMd- A maneira como tu lidas com a pressão e a ansiedade antes dos combates é algo que tu consegues trabalhar e treinar, ou simplesmente é algo com que apenas lidas na hora de entrar em combate?

 

Carla Machado- A única forma de treinares a ansiedade ou a pressão que surge antes do combate será competindo muito. É claro que por mais competições que faças sentes sempre um nervoso miudinho, uma pressão, mas depende muito da competição, do adversário. O que eu costumo fazer é uma visualização táctica das técnicas que poderei utilizar, ou seja, ataques, contra-ataques, portanto aquilo em que me sinto mais à vontade quando treino é aquilo que vou utilizar em combate, não procuro inventar técnicas novas ou com as quais não me sinto à vontade.

Quando não conheço a adversária é jogar sempre no primeiro round no contra-ataque para ver mais ou menos o que ela faz. A partir dai, no segundo e terceiro round já tento atacar e tomar a iniciativa do combate. Se ela for muito agressiva nos seus ataques, então continuo numa postura de contra, procurando aproveitar os seus erros.

 

UMd- Atendendo a que o nível competitivo nas Universiadas é extremamente elevado, contando mesmo com a presença de alguns dos melhores atletas mundiais, como consideras a tua prestação neste evento?

 

Carla Machado- Eu nunca pensei que fosse tão elevada, isto pelo que eu vejo em Portugal. No nosso país é muito difícil um atleta de alta competição conciliar o desporto de alta competição com a Universidade porque são poucas as modalidades em que são atribuídos os estatutos, e mesmo em termos de estatutos temos que saber conciliar ambos, não basta ter só o estatuto e as regalias.

Há muita coisa que uma pessoa tem que abdicar e eu pensei que todas as pessoas que eu conhecia de mundiais e europeus não estariam presentes ali, não sei porque, talvez também devido há idade, pois há um limite, só que foi ao contrário. Apesar de conhecer a maior parte das atletas do meu peso, não havia nenhuma que eu dissesse que era superior a mim em termos técnicos ou termos tácticos ou até em termos de currículo, exceptuando a atleta russa, que foi vice-campeã do mundo e duas vezes campeã da Europa, e que por azar foi-me logo calhar no primeiro combate. Perdi com ela, mas lá está, gostei da minha prestação, fiz o meu melhor, ela era superior a mim em termos tácticos, tinha muita experiência, muitas mais participações em competições de alto nível. É claro que penso que poderia ter chegado muito mais longe se não me tivesse calhado ela no sorteio.

No Taekwondo não há repescagens, perdendo um combate acaba logo ali, o que é muito ingrato pois, não quer dizer que lhe fosse ganhar, mas estavam em competição atletas, como a turca que ficou em segundo lugar, a quem eu já ganhei em várias competições internacionais. Portanto, se tivesse sido ela a ter-me saído no sorteio em vez da atleta russa!

 

UMd- A tua preparação para esta prova foi semelhante aquela que realizas sempre que entras em outras competições do género, ou achas que com uma preparação mais adequada poderias ter obtido melhores resultados?

 

Carla Machado- Não, a preparação foi adequada. Treinei da mesma forma que treino quando é para um campeonato da Europa ou do Mundo. Em termos técnicos o que tenho de saber, sei, é como um jogador de futebol que sabe como passar e quando chutar a bola. O que uma pessoa pode aperfeiçoar é em termos tácticos, mas isso é dentro do ringue e irá depender muito do nosso adversário, por isso em termos de preparação posso afirmar seguramente que ela foi a mais adequada.

 

UMd- Ao nível do ambiente social construído dentro da comitiva portuguesa que esteve presente na Turquia, como o caracterizarias?

 

Carla Machado- Foi muito bom. Como eu disse anteriormente, foi a primeira vez que participei numa prova em tinham várias modalidades em competição e entre todas as modalidades, e sem excepção, houve um grande espírito de grupo. Só para dar um exemplo, nós não tínhamos provas, então íamos ver as provas uns dos outros e apoiávamo-nos mutuamente. Foi impecável, quer em termos do apoio da direcção e treinadores, quer do relacionamento entre atletas, foi um grupo muito unido. Posso dizer que grande parte das pessoas que lá estiveram ficaram realmente amigos, criam-se laços fortes de amizade nestes eventos pois estamos ali 15 dias em que estamos todos para o mesmo, com um único objectivo e todos sempre lado a lado. É diferente de passar 15 dias na Universidade ou noutro sítio qualquer.

 

UMd- Com a presença em Campeonatos da Europa, nas Universiadas e o titulo de campeã nacional já no teu currículo, quais são as próximas metas desportivas a atingir?

 

Carla Machado- O sonho de qualquer atleta será participar nuns jogos olímpicos, e eu integro o lote de atletas que está no projecto Pequim 2008. Apesar de ter havido uns diferendos entre a Federação Portuguesa de Taekwondo (FPT) e o Comité Olímpico (CO), que resultaram na retirada dos nomes dos atletas de Taekwondo do projecto, a FPT informou-me posteriormente que tornei a ser reintegrada no projecto Pequim 2008.

 

UMd- Para muitos atletas de alta competição torna-se difícil conciliar os estudos com a prática desportiva. Estando tu num curso exigente como Direito, como consegues conciliar os estudos com a competição?

 

Carla Machado- Às vezes é complicado. Em termos de competições nacionais, não nos exige muito, porque como só há 2 provas de apuramento, uma da zona norte e outra da zona sul, só perco um fim-de-semana. O mesmo se passa para o Campeonato Nacional.

As únicas vezes em que passo mais tempo fora, são nos estágios da selecção e em competições internacionais. À parte disso privo-me de sair à noite, pois como treino todos os dias, isso iria afectar o meu rendimento. Só ao fim-de-semana e porque não treino, é que dá para compensar.

Estou no quarto ano e não tenho cadeiras em atraso, no entanto a minha média poderia ser superior. No que diz respeito ao estatuto de alta competição, não me permite fazer melhorias nas épocas especiais e como não sou pessoa de deixar acumular as coisas, procuro fazer logo os exames todos. Neste caso, o estatuto em termos curriculares acaba por não me trazer grandes compensações.

 

A UM iniciou em Portugal um programa pioneiro no que diz respeito ao apoio aos atletas de alta competição, o TUTORUM. O que pensas desta iniciativa e do programa em si?

 

Apesar de não conhecer exaustivamente o programa em si, estou familiarizada com os seus traços gerais. Como já disse atrás, o que me interessava era poder realizar melhorias nessas épocas especiais. Se tal fosse possível, o programa seria excepcional. Claro que para mim é gratificante estar numa Universidade que é pioneira num projecto deste género e que reconhece e sabe o quão difícil é para um atleta conciliar os estudos com o desporto de alta competição. Por mínimo que seja o apoio, é sempre importante e é de louvar este tipo de iniciativas.

 

Agora que se fechou este ciclo e te preparas para entrar em mais um novo ano lectivo, quais são as tuas expectativas em termos pessoais, profissionais e desportivos?

 

Em termos académicos espero que o novo ano me corra tão bem ou melhor que os anos anteriores. Continuar a conseguir conciliar os estudos com o desporto, pois no dia em que não os consiga conciliar, abandono o desporto, nem penso duas vezes, porque infelizmente não dá para viver da minha modalidade em Portugal.

Em termos desportivos, espero continuar a trabalhar para tornar a ser campeã nacional, conquistar o título universitário para a UM e deste modo poder estar presente no campeonato do mundo universitário de 2006.

 

Nuno Gonçalves

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