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Balanço XII FUMP: Um festival único e com futuro

O XII FUMP “Vozes do Mundo” é desde a décima primeira edição um festival diferente. Sem querer ombrear com os festivais de tunas da academia do Minho, ou quebrar com o passado, Miguel Fernandes, diz que “há espaço para todos desde que haja organização e o FUMP pode vir a ser um festival marcante no contexto cultural da cidade de Braga e na Universidade do Minho”. Justifica a sua opinião com o facto de este festival nas últimas duas edições ter apresentado no palco do PEB “uma diversidade cultural que poucos eventos conseguem”. O grande auditório do Parque de Exposições de Braga apresentou praticamente casa cheia no “Vozes do Mund”? e dá razão a Miguel Fernandes quando diz que “o público sentiu-se conquistado na décima primeira edição e foi com naturalidade que este compareceu em força na décima segunda?.

 

Nas duas últimas edições passaram por este festival grupo culturais muito diferentes uns dos outros, desde as danças africanas, à percussão, folclore minhoto, croata e galego, pauliteiros, hip hop, danças e música orientais, sons tribais da capoeira, etc., e ao mesmo tempo introduziu conceitos inovadores, como são os casos da ginástica acrobática de rua ou uma semana cultural, como ocorreu nesta última edição, que encheu o BA de Braga de curiosos e, no fim, satisfeitos com o que viram e ouviram. Fica aqui o essencial de uma entrevista feita a Miguel Fernandes, um dos organizadores do FUMP.

 

UMd ? Ao fim de dozes anos de FUMP que balanço faz?

MF ? Quando entrei na UMinho o FUMP já existia. Comecei acompanhar o festival a partir da sexta edição mas olhando para os cartazes, posso dizer que o FUMP é um festival que sempre trouxe alguns grupos de qualidade, como são os casos de grupos da Turquia, das danças medievais de Oxford e as Sevilhanas da Andaluzia. Entretanto, na minha opinião o FUMP estava-se a tornar numa rotina e deixou-se cair naquilo que é o pior que pode acontecer a um evento deste género, ou seja, fazia o FUMP porque se tinha que fazer. Mas a partir da décima primeira edição, talvez com a irreverência de uns dos grupos que organiza o certame, os Bomboémia, houve um corte radical. Houve uma opção por grupos diferentes mas sem cortar as raízes tradicionais do FUMP.

 

UMd ? Que transformação foi feita?

MF ? Apostou-se numa imagem mais actual da Cultura, ou seja, a imagem do festival foi transformada para uma imagem moderna a cativante. Apostou-se em manter as tradições locais, através do Grupo de Música Popular da UMinho e Grupo Folclórico da UMinho. Com os Bomboémia estava garantido uma imagem mais moderna e isto pegou. Convidaram-se grupos que tinham uma componente forte de percussão. Por exemplo, os Falakadanza e a Orquestra Mandenga aliavam a percussão à dança africana e hoje em dia as pessoas interessam-se mais por raízes com influência afro-americanas. As danças do ventre também foi uma aposta ganha, proporcionam um espectáculo visual sensual de origem em tradições longínquas. A Capoeira também deu uma ajuda, apesar de não actuarem no palco, transformam o átrio do local do espectáculo no segundo palco. Claro que houve pessoas que não gostaram da transformação e a aceitação inicial foi complicada. Mas quando vimos a casa cheia e as pessoas presas do primeiro ao último segundo do espectáculo as “alas” mais conservadoras ficam sem argumentos?

 

UMd- “Alas” conservadoras?

MF ? Isto é uma forma de dizer. Há pessoas que pensam que o FUMP é ranchos, grupos galegos a tocar gaitas de foles e pessoas a cantar músicas pimba. Mas há que esclarecer uma coisa. Rancho, na minha terra é comida, agora grupos folclóricos são outra. Música tradicional portuguesa não é música pimba, porque se não as Tunas eram grupos Pimba. Agora, não podemos manter um espectáculo só com grupos deste género, pois existem outros grupos culturais que se encaixam num festival deste género e música popular o que é? Jazz é música popular, hip-hop também?e quanto maior for amostra cultural do FUMP mais diversificado se torna e captamos diferentes públicos e as pessoas têm que perceber isto.

 

UMd ? No XII FUMP houve mais algumas inovações, como foi o caso da semana cultural, como correu?

MF ? No ano passado já tínhamos inovado o festival, além das coisas que falei atrás, com um desfile étnico. Este desfile é fundamental pois é uma amostra daquilo que as pessoas podem ver no festival, ou seja, o FUMP vai ter com as pessoas da cidade de Braga no centro histórico e as gentes da cidade acaba por retribuir indo ao festival. Este ano tentámos uma aproximação aos estudantes da UMinho. A melhor forma de o fazer, na nossa opinião, era criar uma série de espectáculos no local onde todos vão. O BA de Braga é esse local. Criámos uma agenda diferente durante uma semana, onde tivemos alguns grupos que iam actuar no FUMP e ao mesmo tempo mostrou-se uma imagem contemporânea daquilo que pretendemos que seja o FUMP através de actuações de DJ´s e com a participação de um grupo dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo “picámos” a AAUM, que sempre nos apoiou, a realizar a semana cultural. Aliás este devia ser um exemplo a seguir por todos grupos culturais. No geral a semana correu muito bem, o BA esteve cheio praticamente todos os dias.

 

UMd ? Quando fala de “exemplo a seguir” refere-se a que facto?

MF –  Ao facto dos o grupos não só olharem para a AAUM como um banco onde se vai buscar dinheiro a fundo perdido. Por vezes é fácil de criticar que a AAUM não faz isto ou devia fazer aquilo. Eu também tenho as minhas críticas mas acho que todos, alunos da UMinho inclusive, deviam propor ideias e avançar com propostas culturais. Todos ficam a ganhar.

 

UMd ? É difícil organizar um festival deste género?

MF ? Quando nos rodeamos com as pessoas certas é simples. Claro que há sempre dificuldades. É preciso hospedar pessoas, alimentar mais de 170 indivíduos, fazer divulgação?tudo isto é caro. Temos que encontrar soluções, por exemplo, nós gostávamos de ter mais grupos de fora, mas a verba não chega. Se olharmos para a UMinho com olhos de ver acabamos por encontrar soluções, isto é, o temos um grupo de Hip Hop, Capoeira, Danças de Salão, alunos com bandas de Jazz, dança africana, Ginástica de Rua, Dj´s, Fado, entre outros?porque não traze-los à ribalta e mostrar a recolhas que estes grupos fazem? Estamos a divulgar os grupos da UMinho e ao mesmo tempo, em termos orçamentais, fica mais barato realizar o FUMP. Este ano só trouxemos um grupo do estrangeiro, os Moslavina Ensemble, ficou com dispendioso mas como os restantes grupos, ou maior parte, eram daqui da UMinho, facilitou a organização. Temos a mania de que o que é de fora é que é bom e por vezes mesmo ao lado temos soluções de qualidade.

 

UMd ? Futuro do FUMP?

MF ? Temos um objectivo, provar à Câmara Municipal de Braga que o FUMP tem lugar no Teatro Circo. Tem qualidade, público e um espectáculo multi-cultural, por tal o FUMP deve regressar à casa que o viu nascer. Queremos de ano para ano aumentar a fasquia mas sempre dentro da nossa realidade, pois, por vezes, quanto mais subimos maior é o tombo. Manter o espectáculo gratuito, esta é uma filosofia que queremos ter, pois para pagar já chega os livros e Cd´s de música. Já temos algumas ideias para o ano, mas uma coisa é certa, o FUMP é hoje um festival que marca a cidade de Braga e a vida cultural da Universidade do Minho. É um festival ímpar em Portugal, pois não há mais nenhuma universidade no país a realizar um certame deste género, por isso as responsabilidades são maiores.

 

 

 

Nuno Cerqueira

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