Publicado em Deixe um comentário

Exposição “Campos de Visão” por Paula Benito

Paula Benito


Nasceu em Lisboa, em 1961, e é licenciada em Línguas e Literatura Modernas. Realizou várias exposições fotográficas, entre as quais: Um Olhar sobre o Passado, no Museu da Cidade (CML), em Abril de 2005; Um Princípio, no Convento das Bernardas, CML/ EGEAC, Lisboa, em Junho/Julho de 2005; Superheróis, fotografias em caixas de luz, no Teatro A Comuna, Setembro/Outubro de 2005; Mares, foto-instalação, Casa dos Dias de Água, Lisboa, em Outubro de 2005. Em Setembro do mesmo ano teve a seu cargo a foto-instalação de palco para a cenografia da peça Marcas de Sangue, pelo Teatro A Comuna, com encenação de Isabel Medina e cenografia de Ana Vaz. Foi responsável pelas fotografias de capa de três livros da editora Aura. Esceveu o livro Meritolândia ou o autismo da escola, Aura, 2004 (ensaio) e De Grau em Degrau, Lisboa, Aura, 2004 (poesia). Em Março de 2006 expôs fotografia de retrato como 1º volet do ciclo Identidades (Casa dos Dias de Água, Lisboa). Fotografou oficialmente para a Fundação Oriente o Convento da Arrábida. Autora das fotografias do álbum-monografia Convento da Arrábida: a porta do céu (texto: Paulo Pereira, Fundação Oriente, no prelo; publicação prevista em Outubro de 2006). Prepara a edição de ensaio fotográfico Convento da Arrábida (ed. Esmirp, 2007) e do álbum fotográfico, em colaboração, Megalitismos (ed. Esmirp, 2007).


Campos de Visão


Por Paulo Pereira


Historiador de Arte


Quando a fotografia se emancipou, tornou-se na própria essência da natureza-morta, da paisagem e do retrato. Porém, a fotografia, hoje, coloca ainda problemas devido à mutação da sua técnica. As imagens, passaram já a era da reprodutibilidade técnica, para se situarem no mundo, como o próprio mundo no seu fazer.


Toda a gente tira fotografias. O mundo está cheio de fotografias. As nossas casas estão cheias de fotografias. Por sua vez, especialmente durante os anos 70-80 do século XX, e dentro dos projectos da “fotografia objectiva” e da “escola de Duseldorf”, a própria fotografia parece não ter limites. Operou-se, de uma forma avassaladora, aquilo a que costumo chamar a “monumentalização do insólito” ou a “sublimação do vulgar”.


Conclua-se que o próprio mundo, tal como está, é ele próprio um objecto. As coisas-no-mundo são objectos e, ao mesmo tempo, sujeitos. As coisas que nos rodeiam, na rua ou em casa, todas elas, na sua pachorrenta normalidade ou na sua irritante anormalidade, são objecto e sujeito. A fotografia, dispõe-se a captar aquilo que  apetecer ao portador do (cada vez mais infinitamente rápido e versátil) objecto técnico/máquina.


De facto, nesta série de Paula Benito, a maior parte das imagens parecem-nos desfocadas ou manchas indistintas de uma cor. No entanto, porque tais indícios são-nos dados por outras fotografias da mesma série, percebemos que por detrás da mancha cromática, pode ou existe de certeza, um objecto, um referente, uma evidência material. Assim acontece, por exemplo, com os entrançados, com a casinha “portuguesa” (uma vivenda em estilo “português suave”), com a rede que em primeiro plano esquadria um tufo de vegetação, com as cortinas brancas que deixam passar a luz entre as suas dobras.


A revelação – no sentido “fotográfico” do termo e no seu sentido simbólico – parece incompleta. A nitidez remete-se para um plano secundário, e o efeito de “blur” sobrepõe-se. As imagens são captadas com essa estranha distância que as tornam, intencionalmente, desfocadas.


Naturalmente que a desfocagem tem os seus cultores na história da fotografia e compreende diversas atitudes formais características do médium. No entanto, Paula Benito apresenta esse desfoque, esses objectos desfocados, como manifestação de pura visualidade.


Trata-se de dar a ver o que habitualmente não vemos. E o que é que não vemos ou nunca vemos apesar do nosso olhar? Tudo aquilo que sai do motivo principal do nosso campo central de visão. Não o notamos porque seleccionamos instantaneamente esse motivo. Excluída fica a visão periférica, que não é tanto desfocada, mas despercebida. Desfocada da atenção. Mas essa parte do nosso processamento informativo é visão, e concorre para a nossa percepção tridimensional, para os jogos de atenção e desatenção que praticamos e dos quais dependemos para nos situarmos no espaço e no tempo.


A visão “foveal”, se nos ativermos aos ensaios de E.H. Gombrich, acaba por constituir uma parte integrante do nosso sistema de referências, mesmo que distraidamente. Colocar no centro da nossa atenção o efeito incerto, desfazado e impreciso dessa margem da nossa visualidade, eis o que nos propõe Paula Benito neste trabalho, aliás na esteira de uma das suas inspiradoras, a alemã Uta Barth.


Porém, Paula Benito não está interessada no efeito “pictural” das fotografias, no sentido de “imitação da pintura”, de “recriação da pintura”, nem pelo seu lado textural, nem pelo seu lado estritamente cromático. Daí, também, o retorno ao efeito “janela” que se observa nas fotografias, mas especialmente na forma de instalação das mesmas. Trata-se, não do regresso à janela perspética do renascimento, mas antes da apresentação de fragmentos da nossa visão, arranjados de modo a poderem ser vistos de frente, enunciando vagamente o que contêm, e solicitando a decifração.


Mais informações em: http://www.mns.uminho.pt


 


Contactos:


Museu Nogueira da Silva/Universidade do Minho Av. Central, nº.61


4710-228 BRAGA


Telef. 253 601275


Telefax 253 264036


sec@mns.uminho.pt

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *