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Olhares vindos de fora



Augusto “Guto” Porto de Moura                                                                                                                Bruno Martini
 
A cultura portuguesa, a língua e a curiosidade pelo desconhecido são os principais motivos que levam os estudantes estrangeiros a procurar Portugal. Estes interesses aliados à aventura de estudar no estrangeiro são motivos mais do que suficientes para que vários jovens optem por terras lusas para iniciar uma experiência única nas suas vidas.
 
O programa de intercâmbio universitário Erasmus permite que todos os anos sejamos visitados por muitos estudantes vindos de todas as partes do mundo e que a nossa academia seja durante algum tempo a nova morada para muitos jovens que se deixam levar pelo sonho de conhecer outros lugares, culturas, de descobrir o desconhecido e trazer novas aventuras à sua vida. Quisemos saber o que pensam os estudantes estrangeiros que estudaram (Guto) e ainda estudam (Bruno) na UMinho acerca do país, dos portugueses, da cidade e do nosso sistema de ensino.
 
As expectativas, os reparos e os encantamentos de quem tem o privilégio de observar de fora vivências, usos e costumes diferentes dos seus. Pessoas distintas, tempos diferentes, vivências singulares escrevem histórias únicas.
 
Augusto e Bruno, são dois Erasmus brasileiros que escolheram terras lusas e a UMinho para a sua primeira experiência longe do seu país.
 
 
Augusto Porto de Moura


 
Augusto Porto de Moura (Guto), de Santa Catarina-Brasil, actualmente com 24 anos, este cá em 2004 a estudar Direito com o objectivo de aprofundar os conhecimentos na sua área. A paixão, o sonho de viajar e conhecer o mundo, a cultura de outros lugares, a facilidade da língua portuguesa e a curiosidade que sempre teve em conhecer Portugal, desde os tempos das aulas de Geografia e História, foram os impulsionadores da escolha por Portugal como destino. A escolha da UMinho deveu-se ao facto de esta ter um estatuto de excelência e boa reputação internacional.
 
Preparado para a aventura e como disse Guto “Não tive dificuldades de adaptação”. Sabendo que poderia encontrar todos os tipos de problemas e que teria que resolvê-los sozinho, o espírito era esse mesmo. Com a sorte de ter viajado com grandes amigos, Guto rapidamente criou laços fortes de amizade o que lhe proporcionou a confiança e segurança que precisava para a sua adaptação.
“Já tinha planos de viajar até Londres para aprimorar o conhecimento da língua inglesa, estudar em Portugal foi uma forma consegui unir o sonho de viajar com a oportunidade de estudar em uma das melhores Universidades da Europa.”
 

Considerando-se “um cidadão do mundo”, este brasileiro disse não ter tido qualquer dificuldade em deixar a família, amigos e namorada “todos me apoiaram muito. Sabiam que seria o melhor para mim e entenderam a minha decisão. É claro que senti muita falta deles, mas a novidade, a nova rotina e a experiência de vida acabaram por me ajudar na adaptação em Portugal”.

Não querendo fazer comparações entre os dois povos, nem tecer grandes apreciações diz “só tenho a agradecer a receptividade e simplicidade do povo português em geral. Em Braga aprendi a viver de outra forma. Caminhadas à fonte, ao Bom Jesus ou ao Sameiro, compras no Feira-Nova ou Carrefour, cinema no Braga Shopping, ou BragaParque, café em qualquer máquina ou na cafetaria da esquina, futebol com amigos na Universidade, no campinho do parque ou até mesmo na Igreja ao lado da residência universitária, guarda-chuvas por todos os lados nos dias de chuva, praxes nunca antes vistas e é claro como não poderia deixar de mencionar um vinhinho do Porto, um ?fininho? ou um choppizinho como chamamos aqui no Brasil, em qualquer lugar e a qualquer hora têm um valor imensurável. Da mesma forma, o elogio se estende a Universidade do Minho, infra-estrutura, biblioteca, apoio aos desportos, cantina e o excelente atendimento das cozinheiras, professores que as vezes até poderiam se colocar num patamar de igualdade com os alunos e, no entanto, não deixam de ter o seu valor”.
 
“o modo de vida português é muito semelhante ao brasileiro, costumes como a religiosidade, os fortes laços familiares, a paixão pelo futebol e por eventos festivos fizeram com que eu me sentisse em casa, ainda mais vivendo em Braga, linda e charmosa”.

Porque o alojamento é algo com que todos os estudantes se preocupam aquando da decisão de viajar, a Guto coube-lhe em “sorte” o quarto 112 (emergência) da Residência Universitária Lloyd Braga, como eles mesmo chamavam “Penitenciária Lloyd Braga”. Sem reclamar e como ele mesmo referiu “a mim coube a escolha de lá permanecer. No entanto, quando se vive num lugar como este, é coerente que tenhamos que nos submeter as regras preestabelecidas que, por muitas vezes, não condizem com o que estávamos acostumados. Mas só guardo boas recordações, boas amizades e boas risadas”.

“São pessoas que gostam de viajar, de conhecer o novo e o incerto, de trocar conhecimentos, fazer amizades e mantê-las, mesmo que depois nunca mais se encontrem, se darão bem em todos os lugares do mundo”.

O sinal de positivo foi o único encontrado pelo brasileiro para se referir a muitos dos aspectos da sua experiência por terras lusas, “Claro que cada país possui o seu charme e suas peculiaridades, mas Portugal é sim um país que recebe muito bem os estudantes estrangeiros. Acredito que em qualquer lugar deva ser dessa forma, pois, quando acontece a vivência de estudantes estrangeiros e o intercâmbio cultural, não poderia ser de outra forma”.

Quanto ao sistema educativo em Portugal e na UMinho, considera que somos “um país próspero em função do estudo rigoroso, estudantes poliglotas e que só conseguem terminar o curso, após anos de dedicação e muitas noites em claro. Diferente de algumas Universidades no Brasil, onde se consegue se graduar num curso sem nunca ter lido um livro sequer. Nesse aspecto acho que Portugal está muito adiante. No entanto, até mesmo, por ser um sistema muito exigente, os estudantes acabam ficando atrelados e dependentes de seus pais por muito tempo, devido a falta de prática e da própria programação académica que impossibilita os estudantes de praticarem seu conhecimento, na forma de estágio”. 
 
À semelhança da sua experiência (positiva), também é a sua opinião sobre o gabinete que foi a sua porta de entrada na UMinho (Gabinete de Relações Internacionais) “todas as funcionárias são simpáticas, preparadas e dispostas a acompanhar e informar os alunos, em todos os aspectos, da melhor forma possível, no entanto, tive a impressão de ser um “orgão” muito limitado e subordinado ao SASUM”.
“Gostei de tudo. Quando se gosta do novo, não se pode deixar de gostar, até mesmo daquela experiência que possa não ter sido boa. Aprovei tudo, tanto as experiências boas quanto as ruins. No entanto, o que mais gostei, foi ter tido a oportunidade de conhecer muita gente e muitos lugares”.
 

Quando colocada a questão sobre o significado deste intercâmbio, Guto parou, pensou e com um pouco de dificuldade pois foi uma experiência tão vasta diz “difícil de explicar tudo o que significou para mim, mas com certeza, após um ano de intercâmbio, adquiri uma bagagem de experiência de vida que não teria se não o tivesse feito. Morei sozinho, digo longe da família, conheci pessoas especiais, me aventurei por Portugal, Marrocos, Espanha, França, Itália, Grécia, Inglaterra, Estónia, Letónia e Lituânia, dormi em hotel, em hostel, em apartamento, em casa, na rua, na praia, na estação de trem (comboio) e de ônibus (autocarro) e, em cada lugar que estive, pude acompanhar a rotina das pessoas, vivenciar um pouco da cultura além de experimentar a peculiar e deliciosa gastronomia, construí grandes amizades, adquiri maturidade e tudo isso tem me ajudado nas minhas escolhas e nos meus objectivos”.

Tratado bem e mal por ser estrangeiro, sente-se feliz porque na maioria das vezes fui tratado muito bem por ser estrangeiro e acima de tudo brasileiro. “No início, quando se vive em outro lugar, acabamos por conviver mais com aqueles de nossa nação, até pela questão cultural. No entanto, quando comecei a conhecer melhor e a ganhar confiança fui muito bem recebido. Sempre dispostos a ajudar, o povo português superou as minhas expectativas. Da mesma forma na UMinho, funcionários tentando tratar da melhor forma os estrangeiros. Ressalto ainda, o acolhimento que tive pela equipe de Judo em que fiz parte. Encontrei grandes amigos que me deram a oportunidade de viajar a Coimbra e a Sheffield (Inglaterra) representando a UM e a equipe “cock team” sob a coordenação do Professor André, do Coach, do Pit, do Pretty e do Zé Pequeno. Foi espectacular”.
 
“Diria que uma experiência desta, “abre a mente”, amplia os horizontes, fazendo com que modifiquemos esse “universo” quando voltamos para ele”.

Para Guto a distância e o tempo fazem ver melhor as coisas, “quando se fica um tempo distante do universo em que vivemos e que estamos habituados, conseguimos “enxergar” pontos positivos e negativos dessa vivência, pelo fato de não fazermos mais parte dela. No meu caso, me graduarei em Direito, já consegui trabalho num excelente escritório de advocacia da minha cidade (Gottardi Advogados). Tenho planos e objectivos que não tinha antes da viagem e que acabei por adquiri-los nesse intercâmbio em Portugal”. Ao voltar ao seu país sentiu-se voltar ao passado “Senti como se tivesse ido para o futuro e depois voltado ao passado, sem não tivesse ido agora não enxergaria da mesma forma os erros e as oportunidades que me aparecem. Mas é muito bom rever a todos que gostamos, não tem explicação é simplesmente um sentimento muito bom”.

“Voltar? Talvez. Até pelo vinho do porto!!!”
 
“Se eu pudesse voltaria e faria tudo novamente, é claro que desta vez acertando alguns erros, que também não deixaram de fazer parte da experiência. Tenho planos de voltar a Portugal e Europa, a fim de fazer uma pós graduação ou quem sabe apenas para desfrutar um bom vinho do Porto e rever os amigos que ficaram”.
 
 
Bruno Martini



 
Bruno Martini de 25 anos, natural de Florianópolis a estudar na Universidade Federal de Santa Catarina está agora a vivenciar a experiência. A estudar Relações Internacionais, intitula-se como um “passeador”. “Adoro conhecer outras culturas, tento absorver o que elas têm de bom, é um meio de busca de informação”. Decidido a conhecer a Europa, esta foi uma boa oportunidade.
 
Decidido a conhecer a Europa, vir estudar para cá foi a forma encontrada para começar a realizar o seu sonho, “fui procurar informações em minha universidade no Brasil (Universidade Federal de Santa Catarina) me indicaram a UM por já haver um acordo de cooperação bem estabelecido, o que influenciou na escolha. Portugal pela facilidade de poder falar a mesma língua”. Já há alguns meses na nossa academia, a adaptação foi ultrapassada sem dificuldades.
“A comunidade Erasmus é muito amiga, festeira e unida, o que está ajudar na socialização. Os portugueses, que a princípio se mostram muito fechados, depois do contacto inicial também são muito simpáticos e cordiais no geral, como todos os lugares”.
 

Com a ambição de viajar um pouco pelo país e Europa, este universitário deparou-se com um custo de vida algo mais alto que o seu, para conseguir realizar o seu sonho a forma encontrada foi trabalhar em part-time e juntar algum para depois se pôr a caminho.

Já com algumas saudades do Brasil, “não estou gostando da chuva constante e da vida nocturna” para este jovem brasileiro Braga é uma cidade muito tranquila, “estou gostando da arquitectura, da história estampada nas ruas do centro de Braga”. A UMinho surpreendeu-o de forma positiva, “é uma universidade com uma estrutura muito boa, com um potencial para continuar crescendo, o sistema de ensino é bem diferente do Brasil e menos exigente também, aqui ao que parece o aluno é que decide se vai estudar ou não, no Brasil na minha universidade esta opção é muito reduzida”.
“Este intercâmbio significa para mim POSSIBILIDADES. Ganhar!!! Mais amigos, mais cultura, mais informação, melhores possibilidades de emprego, etc.

Actualmente a viver com amigos num T3, inicialmente ficou alojado na residência universitária como a maioria dos estudantes estrangeiros “sai da residência por questões e opiniões pessoais, porém continuo comprometido com o aluguer do mesmo por haver contrato de um semestre”.

Quando inquirido sobre a recepção que teve e sobre o gabinete que coordenou aqui a sua vinda (GRI) o feedback não poderia ser melhor “Já no Brasil percebi que sempre estão a tentar dar a melhor assistência aos alunos estrangeiros, eu e alguns amigos, em especifico tivemos algumas divergências de opinião com o GRI em relação ao alojamento e aos procedimentos para poder sair da residência universitária, mas o que importa é que já está tudo resolvido”.
“As funcionárias do GRI foram muito pacientes connosco em todo este processo e divergências de opinião são normais quando se lida com inúmeras culturas diferentes”.
 

“Um dia penso cá voltar, mas aproveito para convidar os meus amigos portugueses a visitar o Brasil, minha casa é bem grande”.

 

 
 


Ana Marques
anac@sas.uminho.pt
 

                

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