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Violência doméstica contra crianças e adolescentes
Todos os anos, milhares de crianças e adolescentes, tanto no âmbito intrafamiliar como no quotidiano institucional ou ainda social, têm sido vítimas de violência e discriminação, sendo os seus direitos e cidadania cruelmente desrespeitados. Evidenciamos assim, com grande frequência e gravidade, a presença da violência nos diferentes espaços da sociedade. Falar da violência doméstica contra a criança e contra o adolescente tem sido ao longo da trajectória da humanidade algo árduo e denso na medida que impõe apontar contradições e expectativas pouco satisfatórias para o futuro, crescimento e desenvolvimento desta população. Implica ainda abordar os conflitos familiares, núcleo até então tido como um local de proteção.
A compreensão deste fenómeno representa uma realidade que, cada vez mais, exige um posicionamento dos profissionais que actuam com estes sujeitos. Esta compreensão ainda coloca em pauta a necessidade de nos apropriarmos de um referencial teórico-analítico, capaz de permitir a compreensão desse fenómeno na especificidade que ele tem hoje, levando-se em consideração sua complexidade, as suas diferentes formas de manifestação e finalmente o reconhecimento da articulação existente entre a violência e os aspectos sociais, políticos e culturais de uma determinada sociedade.
Ainda prevalece uma permissividade social ao redor da violência contra crianças e adolescentes. Esta realidade chama-nos a um reordenamento para a construção de uma efectiva proposta de atenção integral à criança e ao adolescente como sujeitos de direitos.
A participação de toda a sociedade neste desafio é a mudança substancial que se apresenta. A actuação frente à violência deixa de estar nas mãos apenas dos serviços de segurança pública, judiciário e assistência social, para se integrar entre os diferentes segmentos da sociedade civil e sectores governamentais, a exemplo da saúde e educação.
O papel dos diferentes sectores, na atenção e na prevenção contra a violência resulta de sua responsabilidade com o público e na urgência em adoptar uma postura pro-activa de cooperação e integração, que seja capaz de gerar uma consciência colectiva e um compromisso frente aos problemas de desigualdade, exclusão e discriminação aos quais muitas crianças e adolescentes estão submetidos, evitando que a violência doméstica se perpetue de geração em geração e promovendo alternativas de organização social e familiar.
Sabemos que todo este processo não ocorre de maneira homogénea, existem avanços e retrocessos, êxitos e obstáculos, requerendo um exercício de perseverança e compromisso social para que as vítimas e suas famílias sejam na realidade os protagonistas deste caminhar.
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