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O Desporto Universitário nos Estados Unidos – como funciona?










 

A caminho de Indianapollis e da Final Four da National Collegiate Athletics Association – NCAA deste ano, mais 660mil adeptos compraram bilhetes para os 64 jogos que conduziram até à final entre a University of Florida e a UCLA. Foram estimados em cerca de 120milhoes de fãs que acompanharam durante 3 semanas o desenrolar do drama desportivo.

 

No basquetebol feminino, o jogo final para atribuição do título em Bóston em Março, teve lotação esgotada – a 14ª vez consecutiva que o evento esgotou. E a ESPN cobriu o torneio de início ao fim com milhões a televisionar a University of Maryland a vencer a Duke University numa emocionante vitória no prolongamento.

 

No Outono passado, cerca de 32milhoes de fãs e alunos compraram bilhetes para ver as 117 equipas na NCAA divisão I de futebol [americano] e nais de 1.3billiões assistiram aos jogos na telivisão. Duas estações de TV cabo dedicam-se full time a cobrir o desporto universitário – CSTV e ESPNU. A Mountain West Conference vai iniciar uma rede regional em afiliação com a Fox Television para cobrir os eventos dessa liga neste Outono, e a Big Ten Conference anunciou recentemente que vai lançar uma cadeia 24h cobrindo toda a nação – a Big Ten Network – que em 2007, adicionalmente ao desporto, cobrirá por satélite mais de 600 horas não desportivas por ano para as suas instituições membro.

 

Não há nenhum número fiável sobre o número de adeptos internacionais que anualmente visionam desporto universitário, mas é um mercado em crescimento.

 

No total, cerca de 375 mil estudantes-atletas, incluindo mais de 8500 estudantes internacionais, participam no desporto universitário na NCAA anualmente. Cada ano há 88 campeonatos em 23 desportos sobre a égide da NCAA para atletas masculinos e femininos, com mais de 45mil estudantes-atletas a competir para o título de National Collegiate Champion ? campeão nacional universitário. Aproximadamente 6 biliões US$ são gastos anualmente no desporto universitário pelas mais de mil universidades e IES que pertencem à NCAA. Por quase qualquer medida, o desporto universitário Americano é um sucesso tremendo.

 


 

Mas a organização tem também os seus críticos. Há preocupação com o sucesso académico dos que participam, acerca da quantidade de dinheiro que tem sido gasto no desporto universitário, acerca de escândalos de recrutamento, salários de treinadores, acerca do nível de comercialismo envolvido no desporto universitário e ainda se o desporto universitário desvia da verdadeira missão da academia académica e mancha a reputação do ensino superior. Já em 1915, William T. Foster escreveu na revista americana The Atlantic Monthly, que “desporto universitário providencia um regime custoso, injurioso e excessivo de treino físico para alguns poucos estudantes, especialmente os que menos o necessitam, em vez de exercício moderado, saudável e gratuito para todos os estudantes, especialmente os que mais o necessitam.” Recentemente, um grupo hiper cínico conhecido como The Drake Group pediu ao Congresso dos Estados Unidos para intervir, afirmando que o governo deveria “dar forte nos presidentes cobardes de universidades, chanceleres e directores desportivos cuja liderança era conduzida pela gula, e não integridade institucional e bem-estar do estudante.”

 






 

Como é que isto funciona então? Como é que o desporto universitário americano continua a ser parte dominante da cultura americana? Porque é que de ente todos os países no mundo, está a participação desportiva americana tão intrinsecamente ligada à educação – e especialmente ao ensino superior? E como tem a NCAA emergido do seus primeiros 100 anos como líder mundial em gestão desporto mundial?

 

Acredita que as duas respostas a estas questões sejam características da America como uma nação – o nosso fascínio pela competição, alguns podem dizer, ao nível da obcessão, e a nossa dedicação ao valor da educação.

 

Nós americanos adoramos competir e acreditamos nos seus benefícios. Competimos economicamente. Chama-mo-lo capitalismo. Competimos politicamente. Chama-mo-lo democracia. E não se enganem, competimos no ensino superior também – no desporto e na academia.


 

A competição desportiva providencia-nos com as metáforas para a vida. Quando sabemos que temos um desafio diante de nós, colocamos a nossa “cara de jogo”. Sabemos que fasemos melhor se tivermos um “plano de jogo”. Trazemos o desafio a proporções reais ao nos recordarmos uqe a competição, tal como nós, “veste as calças uma perna de cava vez”. E se sacrifícios tem que ser feitos, somo voluntários ou designamos alguém para “levar uma pela equipa”. O desporto tem a sua própria secção no jornal escrito e televisionado. Tem canais dedidcados – as várias plataformas da ESPN incluíndo a ESPNU; a Fox  Regional Sports; Golf Channel e a College Sports Television Network (CSTV) recentemente adquirida pela gigante CBS indicando o seu valor. De Segunda a Domingo presenciamos, escutamosou procuramos os resultados dos eventos desportivos do secundário ao universitário ao profissional.

 

Elevamos quem participa ou treina com excelência a um estatudo de clebridade. E desenvolviemntos infraesturutras desportivas de apoio elaboradas e frequentemente caras.

 

É portante um pequeno milagre que as Universidades e colégios da América – instituições que reflectem e avançam a nossa cultura – abraçaram o desporto à mais de um século. De facto, o desporto universitário desenvolveu uma posição firme na nossa cultura. O desporto é uma parte significvativa do que faz os Americanos. O modelo de desporto universitário Americano é único no mundo e é unicamente americado.

 

Faço estes pontos sobre competição porque quero tê-los em mente enqunto explocarmos o modelo de desporto universitário e a NCAA. Enquanto organização. A competição é frequentemente a Rosetta Stone para compreender porque é que as coisas são como são ou porque as coisas acontecem como acontemcem no desporto universitário.

 

O desporto universitário é muito mais velho que a NCAA, claro, e o desporto em si é ainda mais antigo. É aquela coisa da competição. A necessidade de nos testarmos uns contra os outros antecede provavelmente o fogo.

 

Mas a competição entre equipas universitárias foi parte significativa do porquê da fundação da NCAA em 1906. Até então, o desporto universitário era uma componente da vida no campus, gerada e liderada pelos estudantes. As equipas era frequentemente pouco associadas ao ensino superior. Era comun a ditos “estudantes” mudarem a sua afiliação e matrícula de época para época e ocasionalmente de jogo para jogo.

 






 

Em 1905, a competição universitária de futebol americano levou a 18 mortes e 129 lesões graves. Uma mão cheia de presidentes universitários foram chamados pelo Presidente americano Theodore Roosevelt – ele próprio um advogado do exercício físico – para limparem o jogo ou ele deixar simplesmente de existir. O resultado foi a criação no ano seguinte da NCAA. Cem anos mais tarde, a NCAA está a celebrar o seu centenário e ainda a advocar para o que o seu Presidente Myles Brand chama de “modelo universitário de desporto”, e a confrontar os assuntos que são importantes ao continuado sucesso do desporto universitário.

 

Portanto, perceber o papel que a competição tem na mente americada é critico para pereber porque é que o desporto universitário se tem tornado numa parte integral da cultura americana. Mas ainda mais importante é perceber a relação entre desporto e a educação na América. Isto é o que realmente separa o modelo de desporto universitário do modelo profissional na América.


 

Permitam-me justapor estas duas aproximações ao desporto. O modelo unviersitário é baseado a educação. O modelo profissional é baseado no lucro. O modelo universitário na sua forma purista vê os participantes – os atletas – como estudantes em busca de uma educação. O modelo profissional vê os seus participantes como uma força de trabalho – como um bem para ser adquirido ou trocado. O modelo de desporto universitário é uma extensão da academia, alinhada com a sua missão, visão e valores. O modelo profissional é uma empresa com pouca afiliação para além do seu último fim.

 

Há dois princípios ou características que têm que estar presentes se o desporto universitário quer continuar a gozar da sua posição no meio universitário. Mantes estas duas características e o desporto universitário traz enorme valor à experiência Educativa. Retirar qualquer uma destas características e torna-se difícil, senão mesmo impossível, contruír um caso para porque é que o desporto universitário deve ser abraçado pela comunicade universitária.

 

O primeiro princípio é de que quem participe seja estudante. Eles são membros do corpo estudantil. O seu objectivo primário é o de obter uma educação.  E eles tem sucesso nesse empreendimento. Estudantes-atletas da Divisão 1, em média, formam-se com médias mais elevadas que o resto dos estudantes – 62% de estudantes-atletas comparado com 60% para os restantes. O futebol americano é ligeiramente inferior a essa média; baseball e basquetebol masculino estão ainda mais abaixo.

 

Mas esforços recentes ao nível das reformas académicas decerto que elevarão as taxas de sucesso para estudantes-atletas em todos os desportos acima das para a população estudantil geral.

 

Segundo princípio: o desporto universitário é totalmente integrado na universidade. Isto é o pilar base do modelo universitário. Enquanto parte da universidade, o desporto universitário herda os seus valores dos da universidade. O objectivo da educação superior é o de educar estudantes. Esse deve ser o mesmo objectivo do desporto universitário.

 






 

Mas a perspectiva geral do desporto universitário pode levar à confusão. Quando 110mil adeptos lotam por completo o Estádio Beaver na Penn State, seis vezes cada Outono para ver os Nittany Lions jogar futebol americano, ou quando 20mil adeptos de basquetebol enchem o Smith Center para ver o basquetebol da Carolina do Norte – com cobertura televisiva, imprensa escrita, vendedores ambulantes e tradição – parece mais deporto de entretenimento do que uma extensão da academia.

 

Mas não é. Certamente que é entretenimento. Mas não é entretenimento desportivo como nós entendemos o termo. Deixe-me explicar. A experiência do ensino superior é muito mais do que acontece na sala de aula ou na biblioteca. As universidades são onde – como um antigo presidente que eu conheço bem gosta de dizer – pegamos em teenagers e transformamo-los em pessoas. A Universidade é onde estudantes aprendem de mestres – para ser correcto.

 

Mas é igualmente onde a vida é vivida e experimentada, onde as perspectivas são alargadas, skills de liderança e tutoria são adquiridos, onde se desenvolve carácter e onde os hábitos de vida são estabelecidos. E nem tudo isto acontece numa sala de aula.

 

Para 375 mil estudantes-atletas na America, o desporto é parte dessa experiencia educativa. Aqueles homens e mulheres estao a apresnder sobre trabalho em euqipa e trabalho duro, acerca de auto-disiciplina, auto-sacrifício, sobre persistência e resistência, e acerca da procura da excelência.

 

Eles aprendem que a vitória é transitória e que a derrota é um momento de aprendizagem. Não apenas aprendem estas caraterísticas mas mostram-nas a outros estudantes que podem apenas observar. Há valor educacional na experiencia desportiva para ambos, o estudante-atleta e os outros.

 

Portanto o objectivo da universidade – educar estudantes – é partilhado pelo desporto universitário e queremos fazer isso para o maior universo possivel de indivíduos – para tantos quantos tivermos orçamento.

 

Na América, acreditamos no valor educacional da participação no desporto – esta é a conecção intrinsica entre desporto universitário e a experiência universitária. Esse é o modelo universitário.

 


 

Permitam-me dizer um pouco sobre o conceito de “amadorismo” e o modelo universitário. Ajuda fazê-lo poruqe existe confusão compreensível. Recordem-se que afirmei que um dos pilares do modelo universitário é de que quem participe seja estudante. Por isso é que estudantes-atletas não são remunderados. Eles são estudantes, não são funcionários. Fazer desporto é parte da sua experiência educacional. Isto não é o seu emprego; eles são amadores. O conceito de amadorismo Americano tem sido apanhado na romantização do desporto universitário. Sejamos honestos. Hoje, quando os media e outros lamentam a perda do amadorismo no DU, eles estão realmente a falar do crescente custo das infraestruturas ou receitas geradas de contratos media. De algum modo, não é desporto amador se 110mil adeptos enchem um estádio e mais uns milhões seguem pela televisão. Certamente, não pode ser desporto amador se canais TV pagam valores avultados para televisionar um torneio de basket universitário e 87 outros campeonatos, e treinadores tem contracto vitalícios ou clausulas de rescisão de 7 dígitos.

 

“O estudante-atleta”, grita o cínico “é o único amador que resta no jogo universitário”. O estudante-atleta sempre foi o único amador no desporto universitário. O resto é o preço de apoiar o modelo universitário.

 

Podemos nunca nos livrar do termo “amadorismo” mas devemos melhor entender como s aplica ao desporto universitário. Apenas o modelo profissional inclui pagamento por participação desportiva. O modelo universitário é distintivamente diferente.

 

Amadorismo descreve o participante, não a empresa. Primeiro princípio, eles são estudantes-atletas.

Portanto, a NCAA está a iniciar o seu segundo século. É irresistível tentar advinhar o que será o seu futuro. Como será conduzido o desporto universitário na segunda metade do século 21? Qual será o papel da NCAA? Continuará sequer a exisitir?

 

Se a NCAA começou de forma modesta como um organismo que fazia e distribuia regras de jogo, tem crescido para um organismo reconhecido a nível mundial por duas coisas – pelos campeonatos que realiza, incluíndo os Final Four em basquetebol masculino e feminino, e pela sua gestão do desporto universitário. Vive simultaneamente em dois mundos – o enfoque mediático de eventos desportivos de nível mundial e o sempre confuso, frequentemente oculto, mundo do cumprimento e imposição de regras e do auto-governo.

 

Curiosamente, não desempenhou nenhuma destas funções durante os primeiros 15 anos de existência. A NCAA só organizou o seu primeiro campeonato em 1921, e só se tornou o organismo político de gestão nacional do desporto universitário nesse mesmo ano. Desde então, tem sido profícuo em ambas as funções.

 

Mesmo os críticos da NCAA por outras razões, reconhecem que a Associação está entre as melhores a organizar campeonatos nacionais. E sobre as últimas duas décadas e meia, o número de campeonatos mais do que duplicou.

 

Ao mesmo tempo, a NCAA tem servido cada vez mais como uma plataforma de consideração e votação de propostas que estabelecem regras nacionais de conduta do desporto universitário. E à medida que mais e mais atletas internacionais participam no desporto universitário na América, o impacto das decisões da Associação é sentido pelo mundo fora.

 

Apesar das instituições de ensino superior americanas serem consideradas conservadoras e privadas por reputação, na prática elas estão entre as organizações mundiais mais competitivas. Competem para ter os melhores estudantes, os melhores professores, pelas bolsas de investigação e pelo reconhecimento.

 

Mais de mil instituições pertencem à NCAA, cada qual vendo-se como a estela mais brilhante nos céus académicos. Estas instituições de ensino superior operam com uma independência feroz, não cedendo o controlo dos seus programas a nenhuma autoriadade externa – excepto para o desporto. Somente aqui, o ensino superior permitiu controlo estreito a uma associação dos seus pares com o propóstio de estabelecer parâmetros de competição.

 

Dado este nível paroquial de auto-interesse institucional, é espantoso que a NCAA funcione como uma organização sequer. A Associação é criticada de dentro e de fora por ir longe demais e por não ir suficientemente longe; por ser demasiado rígido e não ser suficientemente rigoroso; e por ter demasiado sucesso, fazer demasiado dinheiro e moder o desporto universitário amador demasiado próximo do modelo profissional.

 

No entanto, como a maioria dos observadores tem estado de acordo ao longo dos anos, se a NCAA fosse extinta de manhã, seria re-inventada à tarde porque duas equipas vão competir uma com a outra amanhã à noite.

 

Mas na raíz disto tudo está a noção de competição. North Carolina quer ter a certeza que Duke está a recrutar em moldes similares aos seus; a oferecer uma bolsa que paga as mesmas coisas; tem os mesmo limites sobre outros benefícios… tudo definido pelas regras e regulamentos da NCAA. Se vamos competir um com o outro, insistimos num conjunto elaborado de regras e regulamentos que torne todos responsabilizáveis.

 

Mas mais importante, a NCAA e o desporto universitário americano funcionam porque a primazia do estudante-atleta é essencial. A vasta maioria dos 375mil estudantes-atletas a praticar desporto universitário hoje estão a fazer o que os outros estudantes fazem. Vão às aulas, escrevem relatórios, fazem exames, lêem grandes obras, descobrem-se a si próprios e fazem desporto de forma espectacularmente bem.

 

Transcendem o nornal. Muitos tornar-se-ão líders na política, nos negócios, nas suas comunidades. Tem uma experiência que um a seguir ao outro nos vos dirão que não trocariam por nada. E todos os restantes de nós na América e noutros lados podemos observar isso.

 

O tema para o centenário da NCAA é “Celebrar o Estudante-Atleta”. Mas é mais do que um tema. No final do dia, é a nssa missão e é a razão pela qual o desporto universitário tem sido uma parte integral do ensino superior americano à mais de cem anos.

 

Celebrar o estudante-atleta na busca da excelência no desporto e na sala de aula é porque é que o desporto universitário americano é único e unicamente Americano.

 

Texto: Tom Jernstedt

 

Tradução: Paulo Ferreira


 

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