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“A investigação científica define o ponto forte desta escola”



 

A Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho oferece cursos de graduação e de pós-graduação nas áreas das ciências empresariais, económicas e políticas. Ali lecciona uma equipa jovem no auge da sua actividade científica que faz um acompanhamento constante dos alunos, uma preparação com qualidade para que a inserção no mercado de trabalho seja mais fácil e com resultados positivos.

 

Como caracteriza a função do Presidente de Escola?

É uma função difícil de caracterizar. Por um lado a Universidade continua bastante centralizada e nada aponta que se descentralize dado a crise orçamental. Por outro lado a escola tem outros órgãos como o Conselho de Escola que discute, toma decisões. Portanto actualmente o Presidente de Escola é um gestor no sentido de gestor de conflitos, coordenador de interesses, etc. É um papel que terá diferentes perfis dependendo de cada escola, dos seus interesses e peso dentro da Universidade. Tudo isto perfurado por uma possibilidade da Universidade se converter em fundação. Se isto acontecer os presidentes de escola não vão ser eleitos mas nomeados.

 

É um desafio ser Presidente da Escola de Economia e Gestão (EEG)?

É um desafio. Tanto mais que se trata de um início/criação de um design de Presidente de Escola que presumo que quando a Universidade se transformar em fundação vai perdurar para o futuro. Neste perfil e depois das mudanças impostas, a característica mais importante de um Presidente de Escola é a Liderança.

 

Quais são as maiores dificuldades que sente no cumprimento da sua função?

As dificuldades advêm principalmente da crise orçamental. A Universidade vai sofrer cortes muito grandes bem como os docentes, não se sabe como vai ficar a abertura de concursos, por isso adivinho grandes dificuldades.

 

Quais são na sua opinião os pontos fortes da EEG?

Esta Escola é uma escola jovem que tem três áreas de excelência, penso que é a escola que tem mais centros de investigação de excelência, designadamente de AP, Ciência Política, Relações Internacionais e Economia. Quanto às duas primeiras, quer do ponto de vista da licenciatura, quer do ponto de vista dos centros de investigação são as melhores do país, quanto à Economia está muito perto, só é ultrapassada pela Universidade Nova de Lisboa. Quanto às outras áreas, a Gestão é das áreas no pais que tem mais procura, temos sempre um número superior às nossas capacidades em mestrados ou doutoramentos. Deste ponto de vista a Escola não pode crescer mais, contrariamente a outras escolas do país nós temos Ciência Política e isso só se vê em algumas escolas a nível internacional.

 

Se tivesse de escolher um destes pontos fortes como o mais importante, aquele que melhor projecta a EEG, qual seria?

Eu diria que é a investigação. Se comparada com outras escolas do mesmo género, a investigação científica é que define o ponto forte desta escola nas três áreas – Economia, AP e RI.


 

E os pontos fracos?

Há um ponto fraco e difícil de ultrapassar. A escola, sendo predominantemente uma escola de Economia e Gestão tinha de ter outro relacionamento com as empresas, que na verdade não tem. As relações com as empresas são muito ténues, os serviços prestados à comunidade são muito inferiores se comparados com escolas do mesmo tipo. Só na AP é que existe uma ligação aos centros de poder e à formação de quadros mais avançados. Nos outros casos a situação é ténue, só ultimamente temos tido algumas aberturas, designadamente na colaboração com processos e politicas de avaliação com o tribunal de contas a nível da saúde, contas públicas, etc. Mas na verdade para a dimensão da escola, número de docentes e pela importância científica e pedagógica que tem é muito pouco. Estamos a tentar ultrapassar esse problema procurando criar uma espécie de Escola de Negócios cá dentro para formação de quadros e projectos com empresas, e naturalmente com a Administração pública já que esta Escola tem cá dentro essa valência.

 

Na sua opinião, qual a razão porque tem sido descurada a relação com as empresas?

Não se pode ter tudo, quando se trata de um corpo profissional e professoral jovem, acabados de chegar em grande parte de doutoramento, as pessoas ganham o “bichinho” da investigação, a aposta na investigação é o primeiro factor. Em segundo lugar tem havido no contexto nacional uma aposta na investigação ? as Universidades são hoje classificadas pela investigação e não pelo ensino e prestação de serviços. Assumindo-se que é a função mais importante e assumindo-se também que é uma Universidade que tem boa investigação tem naturalmente melhores projectos de ensino, melhores licenciaturas e pós-graduações e por isso terá a prazo mais e melhores projectos de relacionamento com as empresas. O terceiro factor é que estamos inseridos num tecido industrial muito frágil e com uma concorrência muito feroz do Porto, o que não nos ajuda muito. Eles sim têm apostado na prestação de serviços. Estamos num “gueto”, a nossa posição geográfica não nos favorece, e temos um tecido empresarial que acha que não precisa da Universidade. Este é um factor de insucesso da EEG que tem de ser resolvido, não podemos estar a viver à custa do orçamento de estado, temos de tratar da vida ou cavamos o nosso túmulo. Mas as coisas estão a ser feitas. Tem de haver uma gestão eficaz entre investigação, prestação de serviços e ensino, tem que haver uma ponderação de tarefas para que a escola tenha um melhor desempenho em todas as suas funções.

 

Qual tem sido a evolução da EEG no decorrer deste anos? O que na sua opinião mais a tem feito evoluir?

A maior evolução nos últimos anos tem sido na área da investigação. A Escola transformou-se numa escola de referência na área da investigação. A escola está a trabalhar bem, o que produz é importante para as políticas públicas. De outro ponto de vista nós temos aumentado muito a nossa oferta educativa, no ano passado aumentamos em 50% no que respeita às licenciaturas com mais três cursos (marketing, contabilidade e Ciência Politica), quadruplicamos desde há quatro anos o número de alunos de mestrado.

 

O que a caracteriza relativamente às outras escolas/institutos do país?

Relativamente à Universidade eu diria que a EEG tem uma cultura completamente diferente, nós não temos a forma de pensar das outras escolas, isto tem a ver com a formação da maior parte dos nossos doutorados que foi tirada nos países anglo-saxónicos, tendo assim uma certa abordagem racional aos problemas e portanto é uma escola que tem um perfil e uma cultura completamente diferente. Relativamente às outras escolas do pais, há uma componente que é a Ciência Politica que não é normal nas outras escolas. Esta característica no meu entender é uma mais-valia para a nossa escola. Outro factor importante é o objectivo claro da escola no que respeita à investigação, o qual não é nas outras escola (excepto na Nova), mas isto está a mudar pois a investigação é cada vez mais importante.

 

Estes elementos diferenciadores serão motivos suficientes para que os alunos escolham a EEG da UMinho?

Penso que sim. Nos não estamos no centro do pais e isso é um inconveniente, mas por exemplo temos a licenciatura de Economia que está em segundo a nível do país, a de AP e RI estão em primeiro, portanto se o aluno quer um desses cursos só pode escolher esta escola. Os alunos que têm saído daqui têm tido grande sucesso a nível do mercado de trabalho, o que significa que a nossa formação é tão boa ou melhor do que nas outras universidades. Relativamente ao mercado de trabalho temos um centro criado – GAPET que está a começar a ser operacionalizado, vamos tentar que ele nos dê uma ideia da situação dos alunos no mercado de trabalho e se consiga difundir as ofertas de trabalho junto dos alunos e mesmo que nos permita averiguar o que é ou não importante em termos de oferta educativa.

 

O que podem esperar os nossos estudantes da EEG, em termos de qualidade de ensino e inserção no mercado de trabalho?

Estamos a trabalhar nisso. Temos dois objectivos imediatos. Um consiste em alargar a prestação de serviços, aumentar as receitas próprias e promover o relacionamento com as empresas, em ganharmos influência política. O nome, a imagem, a marca é das coisas mais importantes que se tem. Se não tivermos projectos de relacionamento com as empresas e com as instituições públicas também não colocamos bem os nossos alunos, mesmo que o curso seja o melhor. As empresas e as instituições públicas têm de conhecer a qualidade do nosso ensino. Por outro lado temos de ter um serviço onde os nossos alunos se possam informar e recebam informação via e-mail, é uma função social da Universidade.

 

A Escola, como a própria Universidade tem sofrido alterações a vários níveis nos últimos tempos. Qual a Estratégia da EEG para os próximos anos?

O ponto fraco desta escola é a prestação de serviços. É aí que se deve apostar, sem pôr de lado é claro a componente da investigação. Considero que a investigação é o segredo de grandes projectos e repercute-se também no tipo de ensino. Os professores têm que ser bons, têm de transmitir conhecimentos actuais e modernos, isto obriga a um certo bom senso, uma ponderação no dia-a-dia destas duas componentes. Mas para isso a avaliação e subida nas carreiras tem que reflectir essas duas vertentes. Finalmente, a Escola aposta na sua internacionalização. Nesse sentido estabeleceu acordos com o Brasil, Cabo Verde e Angola. Esperamos alargar esta colaboração a outros países, quer na área do ensino, quer na área dos projectos de investigação.

 

Números de docentes da Escola a trabalhar a tempo integral?

A escola tem 86 docentes de carreira, dos quais 70 são doutorados, e 35 docentes convidados dos quais 4 são doutorados. Mas estamos a tentar ter predominantemente doutorados.

Texto: Ana Coimbra


Fotografia: Nuno Gonçalves

(Pub. Jan/2011) 

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