Publicado em Deixe um comentário

“Vivemos tempos que uns dizem difíceis, mas todos concordarão no mínimo que são desafiantes”





 


O Instituto de Educação (IE) possui uma oferta formativa alargada visando a formação de professores e profissionais da educação para diversos contextos educativos, escolares e não escolares. Ao nível da graduação inclui duas licenciaturas: em educação e em educação básica. Ao nível da pós-graduação oferece um leque diversificado de mestrados e doutoramentos.


 


Como caracteriza a sua função de Presidente da Escola?


Diria que um misto de mobilizador e timoneiro. Estando a presidir a um Instituto novo e quando os constrangimentos são vários, há que mobilizar docentes e funcionários não docentes para a construção da sua Escola. Todos são necessários e todos têm algo a dar, e tê-lo-á que dar para o sucesso da Escola e do seu futuro. Por outro lado tenho que ser um timoneiro. Concorremos a presidente na base de um programa de acção. É lógico que não se está sozinho. As Escolas têm hoje vários órgãos e importa mobilizá-los para os desafios até porque as suas competências em várias áreas se sobrepõem às do presidente.


 


É um desafio ser Presidente do Instituto de Educação (IE)?


Vivemos tempos que uns dizem difíceis, mas todos concordarão no mínimo que são desafiantes. Nestas circunstâncias ser-se presidente de uma Escola é um desafio. No caso do IE falamos de uma escola muito jovem, nascida de duas escolas que tinham os seus projectos, recursos e culturas consolidadas que hoje estamos a interpenetrar. Foram escolas que co-existiram de forma autónoma sem grande interacção ainda que reportadas à educação e formação de professores. Por outro lado, como as demais escolas da UM estamos a atravessar tempos exigentes de planeamento, com muitas solicitações paralelas e todas elas urgentes, ou seja, com pouco tempo para a reflexão e pensamento estratégico. Também com concursos fechados e com cortes salariais não é fácil mobilizar docentes e trabalhadores não docentes. Motivá-los para mais tarefas e responsabilidades é desafio para qualquer presidente.


 


Quais são as maiores dificuldades que sente no cumprimento da sua função?


Conseguir mobilizar docentes e trabalhadores não docentes nas actuais circunstâncias para um IE com futuro. Este desafio tem que ser assumido por todos e ninguém pode esperar que isso aconteça apenas com o esforço dos outros. A nível mais pessoal, sinto que nos últimos anos me fui afastando de colegas, fui perdendo parcerias no país e no estrangeiro, acabando por não acompanhar grupos que eu ajudei a criar.


 


Quais são na sua opinião os pontos fortes do IE?


Desde logo é uma Escola nem pequena nem grande, me parece adequada para a dimensão das suas áreas de intervenção. Depois temos quase 100% dos docentes doutorados o que nos permite avançar com projectos nacionais e internacionais competitivos. Este corpo docente tem ainda uma forte afinidade com a intervenção educativa com ganhos para a sua docência e investigação. Por exemplo, a disponibilidade dos docentes para a cooperação com os países de língua portuguesa, quando estes investem cada vez mais no seu desenvolvimento, acaba por ser um ponto forte do IE. O IE tem um amplo campo de actuação em prol da educação, bem-estar e desenvolvimento da sociedade. Portugal continuará a precisar de educadores de infância, de professores e de outros técnicos de educação, e todos eles de formação contínua para se manterem actualizados.






 


Se tivesse que escolher um destes pontos fortes como o mais importante, aquele que melhor projecta o IE, qual seria?


Partindo de algumas iniciativas recentes, destacaria a disponibilidade dos docentes para a cooperação com países de língua portuguesa, assim como a sua natural apetência para uma investigação-acção junto das comunidades e instituições educativas. Em vários grupos disciplinares e para diversas matérias os docentes do IE são referência nacional. Para quem preside ao IE é uma honra ver esses colegas transportar o nome do Instituto e da Universidade nos serviços relevantes que prestam.


 


E os pontos fracos?


Temos também alguns pontos fracos. Um deles é a investigação. Temos três Centros de Investigação creditados junto da FCT mas nenhum atingiu a classificação de muito bom, o que nos diferencia pela negativa face às outras escolas da UM. É uma fragilidade, sobretudo para um Instituto com duas centenas de alunos de doutoramento, repartidos pelos ramos em Estudos da Criança e em Ciências da Educação. Alguma dissonância existe entre aquilo que a FCT valoriza e aquilo que no IE se vai produzindo, importando diluir essa discrepância para se enfrentar com sucesso a próxima avaliação no final de 2011. Alguns passos estão a ser dados, havendo a possibilidade de a breve prazo dois dos nossos Centros convergirem para um tendo o pedido seguido para a FCT. Por outro lado, estamos a reflectir o âmbito, objectivos e grupos de investigação dos Centros.


 


Acrescentaria um outro problema de difícil solução. Para além das obras e espaços que faltam finalizar, por exemplo o Centro Multimedia e alguns espaços pedagógicos do antigo IEC, temos um edifício que suscita reparos em termos de operacionalidade. A par dos corredores estreitos, os gabinetes e as salas têm deficiente isolamento acústico. Este aspecto da sonoridade complica reuniões e actividades lectivas, sobretudo de mestrado e doutoramento, nos laboratórios pedagógicos existentes.


 


Por último, temos um Instituto com carência de trabalhadores não docentes, aguardando-se alternativas para podermos fazer opções e resolver o problema. A gestão pedagógica dos processos e um atendimento individualizado dos alunos de pos-graduação pressupõem recursos humanos que estamos com dificuldade em recrutar e estabilizar. Temos andado com tentativas mitigadas de resolver os problemas de serviços e funcionários, esperando que em 2011 consigamos a eficiência e a estabilidade necessárias.


 


Qual tem sido a evolução do IE no decorrer destes anos? O que na sua opinião mais o tem feito evoluir?


A evolução tem procurado responder às mudanças em matéria de formação de professores e do sistema educativo, assim como noutras instituições de formação e desenvolvimento. Nos últimos anos as necessidades do país em termos de educadores de infância e de professores diminuiram. Alargamos então o âmbito de actuação às áreas da educação e desenvolvimento social e procuraram-se novos públicos. Mais recentemente, conhecendo a importância de reunir um maior número de alunos de 1º Ciclo, o Instituto avançou com o Instituto de Ciências Sociais e outras Escolas da UM para uma formação em Serviço Social. Pela tradição desta formação e dos seus profissionais, trata-se de um projecto que ajuda a UM a tornar-se uma universidade completa. Voltando à pergunta, diria que a evolução social nos tem feito redireccionar os nossos projectos e evoluir.






 


O que a caracteriza relativamente às outras escolas/institutos do país?


A situação em Portugal difere entre universidades até porque na maioria a educação e a psicologia continuam juntas. Na Universidade de Lisboa, como aqui na UM, a Psicologia e a Educação constituíram-se em escolas autónomas. Comparando as instituições da mesma área, o IE é a maior escola de educação do país. Por exemplo, o IE serve a formação inicial de professores, aliás desde os educadores de infância até aos professores do ensino secundário, o que não acontece em escolas similares. Por outro lado, a nossa oferta em termos de mestrados e de doutoramentos é mais diversificada. Nestas áreas temos grupos de docentes reconhecidos, e o nosso esforço dadas as dificuldades de novos recrutamentos e de abertura de concursos é evitar perdermos docentes para outras instituições.


 


Estes elementos diferenciadores serão motivos suficientes para que os alunos escolham o IE da UMinho?


A resposta é difícil. Sabemos que os nossos dois cursos de graduação (Educação e Educação Básica) preenchem todas as suas vagas na 1ª fase de candidatura. Sabemos no entanto que estamos a falar de formação em áreas nem sempre muito valorizadas socialmente. Concordaremos todos que a educação e o desenvolvimento são essenciais às pessoas e ao país, mas é como o ar que respiramos pois só nos damos conta da sua importância quando se torna muito tóxico ou quando não o temos para respirar.


 


O que podem esperar os nossos estudantes do IE, em termos de qualidade de ensino e de inserção no mercado de trabalho?


Pelas interacções com as instituições de estágio sabemos da qualidade da sua formação. Em termos de inserção profissional, e face às dificuldades de uma retracção económica e menor investimento em programas sociais, diria que a formação polivalente assegurada tem facilitado a integração profissional dos nossos diplomados do 1º Ciclo. Eles parecem mais hábeis e disponíveis para uma sociedade em que a identidade e a estabilidade profissional se diluíram. Julgo que com esta formação abrangente e com um pouco de empreendedorismo se tornam profissionais de sucesso na sociedade dos nossos dias.


 


O Instituto, como a própria Universidade tem sofrido alterações a vários níveis nos últimos tempos. Qual a estratégia do IE para os próximos anos?


De imediato, temos que racionalizar a oferta formativa. Como juntamos duas escolas, alguns cursos sobrepõem-se. Esta racionalização deve libertar recursos docentes para outros projectos, nomeadamente a cooperação internacional e projectos financiados externamente. Pelas razões que apontei, era importante avançarmos com a formação em Serviço Social pois seria outra área de desenvolvimento do IE. Também iremos melhorar a avaliação dos Centros de investigação e fortalecer a nossa capacidade de atracção de alunos internacionais para doutoramento.


 

Texto: Ana Coimbra

anac@sas.uminho.pt



Fotografia: Nuno Gonçalves

nunog@sas.uminho.pt





(Pub. Jan/2011)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *