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Com que idade iniciaste a prática competitiva do Taekwondo e onde?
Entrei com 13 anos, mas só passado cerca de 2 anos é que comecei a competir. O local onde conheci e comecei a praticar Taekwondo foi o ginásio Koryo, em Guimarães que ficava a mais ou menos 5 minutos a pé de minha casa, o que facilitou imenso a iniciação porque podia ir sozinho e não tinha de apanhar nenhum transporte.
Achas que o taekwondo ajudou no teu desenvolvimento enquanto indivíduo?
Eu acho que sim. E posso dizer com quase toda a certeza que é por causa dele que estou em Medicina, porque me ?obrigou? a organizar a minha vida, e a ser mais aplicado/organizar melhor os meus estudos, já que se não tivesse relativamente boas notas, os meus pais não me iriam apoiar tanto, nem permitir que eu despendesse tanto tempo com os treinos. Além disso, o Taekwondo ajudou também na minha formação como pessoa, pelos sacrifícios que exige, por todas as pessoas com quem convivo e que já conheci através dele, e pelo controlo emocional que é necessário ter quando se está a treinar e a combater.
Qual foi o papel da tua família no teu percurso enquanto atleta de alta competição?
Sendo que foram eles que me puseram no Taekwondo quando eu nem sabia que ele existia, foi muito importante. E mesmo depois de me terem “posto” lá, sempre me apoiaram bastante e fizeram tudo o que estava ao alcance deles para que eu não faltasse a treinos ou competições (o que nem sempre foi fácil) e para que estivesse nas melhores condições possíveis, tanto emocional como fisicamente.
Quantas vezes treinas por semana, e quanto tempo?
Treino 11 vezes por semana, cerca de duas horas por treino, e ao domingo é dia de descanso.
Algumas pessoas associam as artes marciais a comportamentos violentos. O que tens a dizer a essas pessoas?
Que se estão a seguir por um estereótipo criado à bastante tempo com base numa percentagem muito pequena, que é a que sai nas noticias e nos filmes. Porque passa-se precisamente o contrário, a maior parte das pessoas que pratica artes marciais controla-se mais, tentando nunca levar as coisas para a violência.
A maneira como tu lidas com a pressão e a ansiedade antes dos combates é algo que tu consegues trabalhar e treinar, ou simplesmente é algo com que apenas lidas na hora em que entras no tatami?
É algo que se consegue trabalhar e treinar, embora seja um bocado difícil. Mas a experiência que se ganha com cada competição e com cada combate ajuda bastante, principalmente a lidar com a ansiedade.
No último Campeonato Nacional Universitário, apesar de ainda não estares na UMinho, acompanhaste a equipa e chegaste mesmo a fazer um combate treino. Qual é para ti a grande diferença entre a competição federada e a competição universitária?
Eu penso que a grande diferença entre a competição federada e a competição universitária no taekwondo português é as pessoas ainda não a levarem tão a sério quanto a competição federada, embora isso tenha vindo a mudar com os resultados obtidos nas competições internacionais nas quais a selecção universitária participou.
Recentemente participaste no Campeonato da Europa de Sub-21 que se realizou na cidade espanhola de Vigo. Que balanço fazes da tua performance nesta prova?
Sinto que poderia ter estado melhor, e que ainda tenho muito para aprender, mas ainda assim foi uma boa prestação, quanto mais não seja porque tentei virar o resultado a meu favor até ao último segundo. E também, porque deu para perceber o que tenho de treinar para estar melhor da próxima vez, ou pelo menos para não voltar a cometer os mesmos erros.
O Europeu Universitário de Taekwondo está ai à porta. Como está a decorrer a tua preparação?
Está a correr bem. Agora que os treinos e as aulas estão quase em perfeita harmonia dá para me concentrar melhor tanto nos estudos como nos treinos. E as condições que a Universidade do Minho me tem dado são sem duvida uma grande ajuda.
Os jogos Olímpicos de 2012 em Londres são um sonho ou uma meta?
Um sonho, quanto mais não seja pela sua magnitude, mas também é uma meta. Ainda falta algum tempo, mas treino para conseguir lá chegar.
O facto de competires pelo teu actual clube condicionou a tua escolha de Universidades quando concorreste? Porque?
Condicionou bastante porque é cá que está o grupo com que sempre treinei, que por sinal é um grupo bastante bom (um grupo onde são todos campeões nacionais mais do que uma vez, onde se pode encontrar um atleta olímpico, um campeão europeu universitário entre outros). Além disso em nenhum outro clube em Portugal eu teria condições para treinar desta maneira.
Para muitos atletas de alta competição torna-se difícil conciliar os estudos com a prática desportiva. Como é que tu consegues gerir esta nem sempre fácil “relação”?
Com muita organização. De outra forma seria impossível conciliar tudo, já que ambas ocupam bastante tempo e têm uma exigência tão grande. E como estudar à noite, depois de um dia sem parar com aulas e treinos é muito complicado, é preciso também ter muita força de vontade e acima de tudo, gostar do que se faz.
A UMinho iniciou em Portugal um programa pioneiro no que diz respeito ao apoio aos atletas de alta competição, o TUTORUM. O que pensas desta iniciativa e do programa em si?
É uma iniciativa muito boa porque vem ajudar bastante a conciliação entre vida académica e vida desportiva. Com este programa temos a possibilidade de ajustar o horário escolar aos treinos, um tutor que nos pode ajudar na comunicação entre o aluno e professor, entre outras coisas o que traz muitas vantagens, principalmente a parte de poder ajustar (em certa medida) os horários das aulas, pois mesmo o Taekwondo sendo um desporto individual, nós treinamos numa equipa o que torna impossível fazer um horário de treinos perfeito para todos.
Em áreas já recebeste apoio através do Tutorum?
Como já tive exames a coincidir com competições, através do TUTORUM e da nova legislação, pude faltar aos exames e fazê-los noutra altura. Além disso como os treinos da tarde várias vezes coincidem com aulas, posso sair das aulas mais cedo.
Os teus objectivos pessoais passam por uma carreira profissional no taekwondo ou os estudos vêm em primeiro lugar?
Os meus objectivos passam por uma carreira profissional no Taekwondo, mas é claro que os estudos também são importantes pois não dá para competir até aos 60 anos, nem nada que se pareça infelizmente, e é sempre bom ter um plano de recurso caso alguma coisa dê para o torto. E como dá para conciliar tudo, porque não fazer as duas coisas?
Texto e Fotografia: Nuno Gonçalves
(Pub. Dez./2009)
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