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O fado está a viver o seu maior rejuvenescimento



 


O fado é moldado à medida que o povo quer e, como qualquer objeto cultural, tende a voltar às raízes, mas esse ciclo “não é para já, define o investigador. Espera também que a candidatura do fado a Património Mundial seja aceite pela UNESCO, afirmando ainda mais esta música e o país.


 


“Há claramente uma new wave do fado, este género está a ficar com poucas barreiras e a ser muito explorado”, diz Ricardo Fonseca. Cita a fadista Cristina Branco, que se afirmou nos Países Baixos e canta hoje poemas, traduzidos, do holandês Slauerhoff ou do inglês Shakespeare. Por outro lado, Ana Moura compôs com Prince e os Rolling Stones, Mafalda Arnauth canta Astor Piazzolla ou Carlos Jobim, Mísia inclui Nine Inch Nails e Joy Division no reportório. “Ainda assim”, pondera o investigador da UMinho, “Amália Rodrigues foi a mais radical” e num tempo de ditadura!?. E justifica: “Ela dizia que fazia fado à medida que ia cantando. Iniciou o fado-canção, que hoje se pensa que é o tradicional, com melismas e arco operático. Convidou letristas para músicas suas, cantou Camões (foi um escândalo), posicionou-se à frente dos guitarristas (o que era impensável), interpretou folclore italiano, francês e espanhol…”.


 


A sombra daquela diva, falecida em 1999, a ascensão da categoria world music, na qual o fado foi incluído, e uma fase de fusões e subgéneros musicais coincidiu com o novo fado, graças a grupos como A Naifa, Deolinda, Donna Maria, O’QueStrada ou, num registo pop, Amália Hoje, campeão nacional de vendas em 2009. Lá fora também surgem derivações, nomeadamente pelos Durutti Column (Reino Unido), Clannad (Irlanda) e Judith & Holofernes (EUA). “É um novo fôlego. N’A Naifa há fado como banda e até com letras mordazes de Adília Lopes. Os Deolinda intitulam-se quase-fado e, de facto, mantêm-se à parte”, enumera Ricardo Fonseca. Ressalva porém que “é perigoso pôr no mesmo saco todos os projetos que procuram revitalizar o fado”, os quais provêm sobretudo de “jovens urbanos ansiosos por tratar de uma coisa antiga”.


 


O investigador reconhece que há uma forte necessidade de inovar no fado, mas o regresso às origens chegará. “Estamos muito em cima deste período inovador para adivinhar quando o será. A História prova que a arte tem sempre movimentos opostos”, reflete, para atalhar: “O fado é moldado à medida que o povo quer, o status quo da sociedade dita que cultura seguir. Veja-se que o fado foi mal-amado no pós-25 de Abril, conotado com a ditadura?. Ricardo Fonseca assevera que o fado dito tradicional vai sobreviver muito tempo no estrangeiro. Basta ver nas lojas do Brasil os incontornáveis Amália, Dulce Pontes, Madredeus, Carlos do Carmo. Sobre a candidatura a Património Imaterial da Humanidade, a expetativa é grande: “Se ganharmos dar-nos-á legitimidade acrescida, orgulho e autoestima, será uma lufada para fazer outras coisas. O fado tem inegável qualidade, representa a forma de estar dos portugueses”.


 


Ricardo Fonseca tem 25 anos e é natural de Joane, Famalicão. Licenciou-se em Português e Literaturas Europeias na UMinho, incluindo um semestre de escala na Universidade Metropolitana de Manchester (Reino Unido). Iniciou o doutoramento na Universidade de Santa Barbara, na Califórnia (EUA), mas voltou para fazer o mestrado em Literatura e Cultura Comparadas na UMinho – dentro de dias defende a tese “O novo fado numa perspetiva transcultural”, sendo o último aluno deste curso, que foi extinto.


 


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(Pub. Nov/2011)

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