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“O importante será sabermos, nos diferentes níveis da Instituição, para onde queremos ir e para onde resistiremos a sermos empurrados.”




 

A UMinho faz agora o seu 38º aniversário. Que balanço se pode fazer destes 38 anos de vida da Instituição?

Um balanço extremamente positivo. A Universidade cresceu e afirmou-se, ganhando reconhecimento internacional e um lugar entre as principais universidades portuguesas. É uma instituição de referência, estatuto que conseguiu pela qualidade da formação, graduada e pós-graduada, que assegurou a muitos milhares de estudantes, pela excelência da sua actividade no domínio da produção científica e pela capacidade de induzir mudanças expressivas nos contextos social, económico e cultural. Além disso, tem contribuído decisivamente para os percursos de desenvolvimento das cidades de Braga e Guimarães. Acresce que esse impacto positivo, conseguido à custa da atração de muitos recursos humanos para região, foi consumado de forma harmoniosa.

 

Desde 2009 à frente dos destinos da UMinho que balanço faz do seu papel como Reitor da UMinho?

Penso que ainda é cedo para esse tipo de balanços. No entanto, o programa de ação que esta equipa reitoral se propôs tem vindo a ser cumprido na sua generalidade. Neste contexto, importa assinalar o que considero mais importante: a UMinho está a crescer significativamente em número de estudantes, em todos os ciclos de estudos. Atualmente, temos um total 18.490 alunos, o que significa um aumento de 2000 alunos nos últimos dois anos.

 

Tem sido fácil dirigir a Academia? Em alguma altura se arrependeu de ter assumido este papel?

Uma Academia como a nossa é muito diversa e complexa, devido à sua dimensão e ao largo espectro de atividades que desenvolve, bem como aos recursos humanos e materiais de que necessita. A envolvente externa tem dinâmicas multifacetadas e difíceis de antecipar.

No entanto, para além de ser uma honra dirigir a Universidade do Minho, acho que nunca nos arrependemos do que assumimos com espírito de missão.

Neste contexto, importa assinalar que os desafios referidos são enfrentados por uma equipa reitoral de grande qualidade, coesa e empenhada.

 

Quais têm sido as maiores dificuldades com que se tem deparado?

A degradação da situação sócio-económica do país com os consequentes impactos negativos na dotação do Estado para as Universidades e o progressivo abaixamento do nível de rendimento das famílias. Esta situação afeta negativamente os níveis de motivação, sobretudo de docentes e funcionários, exigindo de todos um reforçado espírito de missão.

É igualmente difícil navegar na teia burocrático-administrativa que obriga, diariamente, ao dispêndio de energia adicional para resolver grandes e pequenos problemas.

 

 


Qual o balanço do último ano letivo?

O ano letivo 2010/11 foi muito positivo nas dimensões do ensino, da investigação e da interação com a sociedade.

Crescemos em número de alunos, consolidámos a oferta pós-laboral, implementámos a reforma curricular.

Obtivemos dois mais importantes prémios científicos nacionais (Gulbenkian e IBM), reforçámos a nossa presença em Laboratórios Associados, melhorámos os indicadores de produção científica.

O nosso ecossistema de inovação continuou com a sua dinâmica de crescimento, com vários resultados de referência, incluindo os prémios BES Inovação.

Foi também um ano com muita atividade e bons resultado nos domínios cultural e desportivo.

 

Com mandato até 2013. Quais os próximos grandes projetos da instituição?

Os principais projetos em que Universidade estará empenhada no curto prazo estão explicitados no nosso Plano de Atividades para 2012 e incluem, na dimensão do ensino, a conclusão da reforma curricular, com redução do número de unidades curriculares e criação de disciplinas transversais a todas as áreas científicas; o lançamento de novos cursos de licenciatura em Teatro, Design; e o desenvolvimento de um projeto de formação em artes visuais. No domínio da investigação, o reforço do nosso desempenho científico, promovendo projetos interdisciplinares (caso do IB-S, Instituto para a Bio-sustentabilidade) e parcerias, nacionais ou internacionais, estratégicas (caso do Centro Clínico Académico). No domínio da interação com a sociedade, a a consolidação do ecossistema de inovação, reforçando a nossa capacidade de incubação e alargando os mecanismos de apoio ao empreendedorismo académico.

 

Ao nível da gestão, continuaremos focados na implementação do sistema de garantia da qualidade. O sistema de informação generalizar-se-á como uma ferramenta integrada de suporte a todas as atividades da Universidade, libertando a comunidade académica de muitas tarefas burocráticas e repetitivas, dotando os diferentes níveis de gestão da Universidade de informação estruturada e atualizada, desmaterializando processos e reduzindo significativamente as quantidade de papel utilizado.

 

Relativamente a infraestruturas, para além das intervenções nos arranjos exteriores dos campi e de pequenas intervenções em diversas unidades orgânicas e serviços, estaremos envolvidos na preparação e desenvolvimento de ações a ter lugar nos  edifícios associados ao projeto Campurbis (nomeadamente o Instituto de Design e Centro de Formação Pós-Graduada), no arranque da construção dos edifícios de IB-S em Gualtar e Azurém, bem como no lançamento dos projetos de requalificação do Edifício do Largo do Paço. Estamos ainda em outros processos que envolvem parcerias com entidades externas, mas que só poderão ser anunciados quando estiver totalmente clarificado o seu quadro de desenvolvimento.

 

Um dos grandes projectos da Instituição é o Instituto de Ciência e Inovação para a Bio-Sustentabilidade (IB-S). Em que situação se encontra?

Na recente sessão comemorativa do 17 de fevereiro, assinámos com a CCR-Norte, no âmbito do Programa ON2, o contrato de financiamento deste projeto, que tem um orçamento total de quase 7 milhões de euros. Os concursos para a construção dos respetivos edifícios, em Gualtar e Azurém, serão lançados proximamente e deverão estar concluídos antes do fim do ano. A construção deverá durar cerca de 12 meses.

 



Que projectos estão a ser desenvolvidos no âmbito da Capital Europeia da Cultura e como tem sido o seu progresso?

É uma parceria bem sucedida com vários processos em curso. Como resultado desta dinâmica colaborativa, a Universidade terá uma importante presença no coração da cidade, com várias infraestruturas na Zona de Couros, nomeadamente o Centro de Formação Pós-Graduada, o Instituto de Design e o Teatro Jordão, onde será sediado o novo curso de Licenciatura em Teatro. O Centro Ciência Viva, em fase de conclusão na antiga fábrica Âncora, terá um papel complementar, assegurando a função de divulgação científica. Couros será um espaço muito particular de encontro entre a história, o conhecimento científico, a criatividade e novos modelos de geração de riqueza.

 

A Casa da Memória, projeto desenvolvido em colaboração com a Fundação Martins Sarmento, cumprirá uma importante função pedagógica e de promoção da memória identitária da cidade e da sua envolvente junto dos seus habitantes e visitantes nacionais e internacionais, potenciando a sua atratividade e desenvolvimento económico. Acresce que diversos grupos de investigação e culturais da Universidade estão diretamente envolvidos em atividades da programação da CEC2012 ou na sua avaliação.

 

A Profª Maria Manuel Oliveira da Escola de Arquitetura foi responsável pelo projeto de requalificação do Toural e da Alameda de S. Dâmaso.

 

A Universidade é ainda veículo de atração de visitantes para Guimarães e para a CEC2012 através de muitos congressos nacionais e internacionais e de provas desportivas, como é o caso do Campeonato Mundial Universitário de Xadrez, que terá lugar em agosto.

 

No entanto, muito mais importante do que esta listagem de atividades é o comprometimento da comunidade académica com a CEC2012. Os estudantes e os restantes membros da academia fazem parte deste projeto, fazendo com que um dos intangíveis desta Capital Europeia seja o aprofundamento da sua integração com a comunidade vimaranense, num processo em que o projeto Campurbis e o espaço da Zona de Couros são elementos simbólicos dessa simbiose.

 

Nesta conjuntura de crise, quais têm sido as principais mudanças a que a UMinho se viu obrigada a implementar?

Estamos a implementar um conjunto de medidas que já foram publicitadas e fazem parte do programa de atividades aprovado pelo Conselho Geral. Incluem a redução de 2% dos nossos ativos em recursos humanos, o que corresponde à não substituição de pessoas que passem à situação de reformados. Reduziremos também a dotação de docentes convidados, processo que foi acordado com as Unidades Orgânicas em setembro do ano passado e que está consumado.

 

A nova aplicação de horários permitir-nos-á racionalizar a utilização de espaços, reduzindo as horas de abertura (ao sábado e em horários noturnos) de alguns complexos. Continuaremos o esforço de redução da fatura energética e dos custos operacionais da Universidade, o que se conseguirá também através de dois períodos de paragem (em agosto e dezembro) em 2012.

 

Quais têm sido os avanços na sustentabilidade energética da instituição?

A agência da Universidade para a utilização racional de energia, AUMEA, tem vindo a atuar em diversos níveis: campanhas de sensibilização junto da comunidade académica, iniciativas que têm tido o envolvimento da Associação Académica; auditorias energéticas e monitorização de consumos, criando uma base de dados sobre a infraestrutura física e perfis temporais das faturas de energia associadas. Este processo tem vindo a permitir a identificação de situação anómalas, bem como a suportar estratégias de atuação que incluem intervenções diretas em edifícios, substituição de equipamentos ou alteração de regimes de funcionamento.

O resultado, em 2011, foi uma redução da fatura em cerca de 140 k€



 

A Academia é muito importante no contexto geográfico em que se insere, vista como um ?motor? da região. Quais têm sido as mais-valias desta em prol da região nortenha?

O impacto da Universidade é grande, diversificado e, embora consolidado, tem tendência para aumentar. Esse impacto verifica-se desde logo pelo peso que a comunidade académica, de cerca de 22.000 pessoas, tem na economia local. Os mais de 3.000 graduados que a Universidade forma por ano são uma enorme mais-valia e potenciam um novo modelo de desenvolvimento. A investigação que é desenvolvida na Universidade coloca Braga e Guimarães no mapa e atrai pessoas à região, nomeadamente através das dezenas de congressos e seminários que são organizados anualmente. Cada vez mais importante é o impacto direto no tecido económico, através do empreendedorismo académico, seja o resultante dos processos de incubação ou da proatividade de docentes, investigadores e estudantes. Por fim, quero ainda assinalar o papel que a Universidade tem como agente de divulgação cultural e promotor da atividade desportiva.

 

Quais os principais apoios ou ideias da UMinho para ajudar a região a ultrapassar uma conjuntura tão difícil?

A Universidade poderá ajudar a região a mudar o seu perfil de especialização económica, com base em empresas de maior incorporação de conhecimento e/ou criatividade. 

Poderá fazê-lo através do envolvimento com o tecido produtivo existente ou através da incubação de novas empresas.


Neste ano lectivo foram realizados mais uma vez os Fóruns UMinho. Num deles, o encontro com os alunos não se realizou por falta de comparência destes. Que inferências retira destes encontros?

Considero a experiência positiva e estimulante. Os níveis de participação foram razoáveis com docentes e investigadores, estudantes e trabalhadores não docentes. Tenho dificuldade em perceber a falta de participação dos estudantes de primeiro ciclo.

A experiência será para continuar, até porque há sempre espaço para melhorar na divulgação desta iniciativa.

 

A UMinho pretende atingir, no próximo ano lectivo um total de 19000 alunos. De que forma pretendem atingir esses números?

Esse crescimento resultará da evolução natural dos projetos em curso, nomeadamente da entrada em funcionamento do terceiro ano da oferta pós-laboral

 

Quais vão ser as alterações a nível da oferta formativa para o novo ano lectivo em termos de horários diurnos, pós-laborais e pós-graduações?

A Universidade continuará a sua aposta na oferta educativa em regime pós-laboral, dando por esta via um assinalável contributo para a qualificação da nossa população, possibilitando o aprofundamento das suas competências a pessoas que de outra forma o não poderiam fazer. A pós-graduação continuará a ser uma das áreas chave de intervenção da Universidade, exigida não só pela demanda de qualificação especializada por cada vez mais vastos sectores da população, mas também pela sua intrínseca associação ao desenvolvimento do conhecimento científico, componente essencial da missão da Universidade.


A aposta no pós-laboral tem sido enorme da parte da UMinho. Como tem sido a resposta da comunidade?

Muito boa, sobretudo nos cursos em ciências empresariais, ciências sociais e humanidades. Os resultados não têm sido tão bons em cursos de ciência ou tecnologias. No entanto, estamos conscientes que estes cursos são frequentados por um público com necessidades diferentes, às quais a Universidade ainda não responde integralmente.


 

Tem vindo a ser feita uma reforma curricular dos vários cursos da UMinho. O processo está terminado? Quais foram os principais objetivos?

Este processo visa aumentar a qualidade do nosso processo de ensino-aprendizagem e, simultaneamente, reduzir a carga letiva do nosso corpo docente.

Isso será conseguido reduzindo o número de unidades curriculares em cerca de 20% (a UMinho tinha em 2010/11 mais de 3500 unidades curriculares), aumentando o número médio de aluno por disciplina, baixando os custos operacionais e garantindo melhores níveis de qualidade, uma vez que a atividade docente com números muito reduzidos de estudante tende a tornar-se problemática.

 

A reforma curricular visa também introduzir disciplinas transversais que serão muito importantes para promover uma maior integração ente cursos e unidades orgânicas e decisivas para desenvolver nos nossos estudantes as marcas identitárias da ética, da criatividade e do empreendedorismo.


Em que situação se encontra o Plano Estratégico da UMinho?

 

O processo está em curso e espero que esse documento venha ser aprovado pelo Conselho Geral em outubro. Até lá, haverá um intenso processo de articulação interna entre a reitoria e as unidades orgânicas, em paralelo com debates a ter lugar no Conselho Geral.

 

Como tem sido a convivência com a actual tutela do ensino superior?

É uma relação boa e leal, num contexto muito difícil.

 

Qual o futuro que adivinha para o ensino superior em Portugal?

A competitividade do país jogar-se-á, também, nos níveis educacionais da nossa população. Por isso, espero que os nossos governantes encontrem critérios de seletividade adequados a garantir uma discriminação positiva do ensino superior, no contexto do processo de ajustamento em curso.

Os níveis de desempenho do sistema universitário público têm evoluído positivamente. Precisamos de continuar esse processo e aumentar o número de pessoas a quem é proporcionada formação superior.

As metas europeias para 2020 colocam o enorme desafio de se atingir 40% da população com formação superior no escalão etário dos 30 aos 34 anos. Este cenário abre expetativas positivas.

 

O que está mal, e no seu entender quais as mudanças necessárias para um melhoramento nesta área?

Importa que o sistema seja enquadrado por regras transparentes e que os critérios de financiamento sejam ajustados à realidade pós-Bolonha. A Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) deverá aprofundar o seu trabalho, aumentando os níveis de qualidade e exigência. Deste modo será criado um quadro de competitividade saudável que potenciará a melhoria contínua do sistema, desde que sejam garantidos os níveis de autonomia adequados ao desenvolvimento de projetos educativos e institucionais diferenciados.

Em que situação se encontra o sistema de garantia de qualidade?

Está muito avançado e será muito importante na atividade diária da Universidade. Fomos selecionados pela A3ES para o programa piloto neste domínio. Esperamos ser certificados a curto prazo, devendo as respetivas auditorias ter lugar durante o primeiro semestre deste ano.

 

Estava-se à espera da aprovação da lei sobre as fundações para ser discutido com o Governo a passagem da UMinho a Fundação. Como está este processo?

A nova proposta de Lei relativa ao enquadramento das instituições de regime fundacional já foi aprovada pelo Governo e aguarda discussão na Assembleia da República, sendo o seu enunciado conhecido. Esse enunciado explicita que as universidades-fundação previstas nos RJIES não são abrangidas por esse diploma legal.

Neste contexto, espero que seja iniciado proximamente o processo negocial com o Governo.

 

A ação social escolar tem sido motivo de protestos a nível nacional, principalmente sobre a questão da atribuição das bolsas de estudo. Segundo números dos SASUM já muitos dos nossos estudantes desistiram da Universidade por dificuldades económicas. O que nos tem a dizer sobre isto?

Os números de desistências não são muito diferentes do ano passado, havendo diferentes causas para que as mesmas acontecem. No entanto, é inequívoco que temos uma redução de mais de 10% no número de bolseiros, o que merece a nossa atenção e preocupação. Estamos a procurar encontrar soluções que aumentam a nossa capacidade de reação institucional neste domínio, nomeadamente face a situações de emergência social que, infelizmente, são cada vez mais frequentes.

 

Este ano de 2012 vamos receber dois eventos desportivos internacionais ? os Campeonatos Mundiais Universitários de Xadrez (Guimarães) e Futsal (Braga). O que espera destes eventos?

O reforço da afirmação internacional da UMinho enquanto instituição com capacidade organizativa e competitiva nestas modalidades. Os eventos serão igualmente muito importantes para a região, nomeadamente para Braga – Capital Europeia da Juventude e Guimarães – Capital Europeia da Cultura.

 

A UMinho é a Universidade a nível nacional que mais eventos desportivos internacionais tem recebido/organizado. A aposta no desporto é para continuar?

Certamente que sim. Essa aposta tem resultados muito importantes na visibilidade da Universidade, bem como no complemento da formação dos nossos estudantes e no desenvolvimento de dinâmicas de grupo e capacidades de liderança. Felizmente temos muitos estudantes que conseguem aliar o mérito desportivo ao mérito académico.

 

Que mensagem gostaria de deixar à Academia nesta altura?

Gostaria de reiterar uma das mensagens do meu recente discurso na sessão do 17 de Fevereiro, a propósito dos constrangimentos que vamos experimentar.

O importante será sabermos, nos diferentes níveis da Instituição, para onde queremos ir e para onde resistiremos a sermos empurrados.

Importante, será que o nosso espírito de missão, o espírito que tem de acompanhar todos os que têm o privilégio de trabalhar e construir uma Universidade, terá de ser mais forte que esses constrangimentos, terá que ser suficiente para exigir de nós próprios e da nossa organização a melhoria permanente do nosso desempenho individual e organizacional.

 

 

Texto: Ana Marques



(Pub. Fev/2012)

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