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“Ambiciono deixar um legado que continue”


O que te levou a assumir a presidência da FADU?
A FADU foi em 2010 uma consequência lógica. Depois de um percurso marcadamente associativo estudantil, e de uma passagem pelo Desporto no Ensino Superior de Lisboa, encarei esta oportunidade de presidir a uma estrutura desportiva nacional, não só como uma ferramenta de aprendizagem e aquisição de novas valências, mas principalmente como uma oportunidade de contribuir para a evolução e desenvolvimento do Desporto no Ensino Superior Português.
Como é que encontraste a FADU quando assumiste a presidência?
A FADU encontrava-se num estado complexo em termos de organização. Se é verdade que existiu ao longo dos anos um trabalho notável em termos de recuperação e estabilização financeira, também é verdade que encontrei uma estrutura deficitária em termos de organização formal interna. As ferramentas e os recursos humanos existentes eram, e ainda são em alguns casos, insuficientes.
Qual foi a tua grande meta no primeiro mandato? 
O grande mote do primeiro mandato, que foi um mandato de transição em termos estatutários, assentava principalmente na revisão conceptual do “target” em termos desportivos da FADU. Durante anos estivemos virados exclusivamente para a vertente de competição formal e agora focámo-nos na reflexão e desenvolvimento de conceitos e objetivos que nos permitissem abraçar as vertentes do desporto de recreação/informal, a atividade física e o desporto para todos. Acaba por ser uma alteração de paradigma estruturante pois eleva bem alto os nossos objetivos de colocar os estudantes a praticar qualquer forma de atividade física, mais do que desporto de competição em si. Na sua essência, acaba por ser um paradigma bastante complementar ao trabalho que a FADU desenvolve de há longos anos para cá.
Neste segundo mandato, quais são os principais objetivos e projetos que tens para a FADU?
Os projetos que a equipa que lidero se propôs a realizar são demasiados para referir numa entrevista como esta, pelo que deixo apenas algumas breves referências. Tendo o desporto e atividade física como pano de fundo, queremos ter mais jovens estudantes a praticar alguma forma de atividade física, seja ela desportiva, em ginásios ou por iniciativa própria. Queremos apostar na formação dos dirigentes para que estes consigam dar aos estudantes as atividades que os cativem mais e queremos criar as ferramentas para que mais e mais estudantes conheçam o nosso trabalho. Em suma, queremos colocar o Desporto Universitário na ordem do dia.
 
Pensas continuar ou o ciclo Bruno Barracosa na FADU termina no fim deste mandato?
Fui há pouco tempo reeleito para um 2º mandato como Presidente da FADU. Será o meu último mandato como Presidente. Como qualquer pessoa que mais cedo ou mais tarde estará de saída, claramente ambiciono deixar um legado que continue. 
Quais foram as grandes mudanças/alterações implementadas na FADU durante a tua direção?
Um ano é algo que passa muito rápido, e muitas das alterações que se implementam demoram algum tempo a produzir resultados. No campo operacional obviamente um destaque para a nova imagem, que será uma ferramenta decisiva na nossa estratégia de comunicação futura. No campo desportivo, implementámos o novo modelo de fases finais, bem como trabalhámos na antecipação em geral dos prazos de atribuição de eventos e provas. Apostámos na realização de seminários e no desenvolvimento de parcerias e novas áreas de atuação para a FADU. Na calha temos muitas novidades para serem implementadas ao longo deste mandato.
No teu entender o desporto universitário já tem a visibilidade e o reconhecimento pretendido?
Depende da perspetiva em que analisarmos a questão. A FADU tem uma grande visibilidade e reconhecimento institucional junto das federações parceiras e outros organismos, do governo e das instâncias internacionais nas quais participa. No entanto socialmente não se pode dizer o mesmo. Existe uma baixa cobertura mediática o que dificulta a nossa visibilidade junto do nosso público-alvo, junto da população em geral e principalmente junto de eventuais parceiros e patrocinadores.
O que pretende a FADU com a entrada em organismos, como por exemplo o CNJ?
Tendo como “core business” a organização, promoção e desenvolvimento do desporto no ensino superior, a FADU pode e deve atuar nos fóruns que lhe estejam disponíveis para a promoção dos seus objetivos e agenda. O Conselho Nacional de Juventude é uma Organização não-governamental, representativa da Juventude Portuguesa, onde a FADU pode ter um papel fundamental na definição e promoção do Desporto e da Atividade Física como vetores fundamentais no desenvolvimento e formação integral dos Jovens Portugueses. Sendo a única estrutura estudantil de âmbito desportivo no seio do CNJ terá a FADU certamente uma excelente oportunidade para condicionar e promover uma agenda interessante nesta área. Ainda, existem também outros fóruns onde a FADU ambiciona participar no futuro como por exemplo o Conselho Consultivo de Juventude ou até o Conselho Nacional do Desporto, ambos órgãos consultivos governamentais. Acreditamos que quantos mais forem os Fóruns em que tivermos oportunidade de discutir a temática relacionada com o Desporto e o Desporto no Ensino Superior, mais visibilidade institucional e sensibilidade para o tema será conseguida.
Neste momento a Federação comunica muito mais e de uma forma mais eficiente. O que te levou a apostar tanto na comunicação?
Uma das prioridade que elencámos imediatamente quando iniciámos funções foi a de aumentar a proximidade com os estudantes, com as suas estruturas representativas e com os media. Nesse sentido a aposta na comunicação é fundamental. Embora reconheça que hoje trabalhamos melhor esta área, também acredito que ainda há muito para fazer, especialmente na área das novas tecnologias.
As Universíadas são sempre um dos momentos em que mais se fala da FADU nos media, mas também é um dos momentos, sobretudo na preparação, que costuma ser mais complicado para vocês. Quais são as maiores dificuldades em termos organizativos e financeiros?
Em qualquer projeto de preparação de umas Universíadas mais cedo ou mais tarde somos confrontados com o facto de que é mais um projeto financeiro do que desportivo. Apesar do nível qualitativo que hoje em dia se atinge, e da estreita colaboração com o Comité Olímpico de Portugal e com as Federações das várias modalidades, a verdade é que nem sempre conseguimos levar todos os atletas que teriam mérito e nível para participar. No fundo é um sentimento de oportunidade perdida que fica quando sentimos que mais estudantes mereciam participar do que aqueles que temos capacidade de levar connosco. Afinal de contas, é uma oportunidade única na vida de qualquer atleta-estudante participar no 2º maior evento multidesportivo do mundo.
A Federação ainda está muito dependente da tutela para atingir os seus objetivos de afirmação internacional?
Está, e continuará de certa forma a estar no futuro. Não nos podemos esquecer de que a representação internacional e constituição de seleções nacionais é um poder público que nos é delegado em virtude da utilidade pública desportiva. Não deixa portanto de ser uma responsabilidade parcial do Estado pois estamos a falar da representação externa do nosso País. Devemos obviamente tentar sempre angariar o máximo de apoios que nos permitam, para além do mínimo garantido pelo Estado, fazer uma participação que nos orgulhe a todos.

A AAUMinho este ano vai organizar dois mundiais universitários e as Fases Finais dos CNUs. Como se encontram os preparativos para estas provas?
A AAUMinho é uma instituição com uma comprovada experiência na organização de eventos desportivos universitários. O Campeonato Europeu de Taekwondo realizado em Dezembro de 2011 em menos de 3 meses só veio reforçar ainda mais essa capacidade. Os dois mundiais estão na reta final da sua organização e os CNUs já estão praticamente finalizados. Daqui a 2 semanas vamos receber em Braga e Guimarães os mais de 2500 participantes nas Fases Finais deste ano e vai ser sem dúvida um evento inesquecível para todos aqueles que tiveram a oportunidade de se qualificar.
O futsal continua a ser a modalidade colectiva na qual a FADU marca presença em todos os mundiais. Qual é o motivo desta forte aposta?
O futsal é uma modalidade com uma forte implementação em Portugal, e especialmente junto dos estudantes. Nesse sentido é clara a opção pela aposta no desenvolvimento da modalidade quer a nível nacional, quer a nível internacional.
Em 2014, a UMinho volta a ser palco para mais um mundial universitário, o de andebol. Achas que isto é a prova de que a FISU está atenta e reconhece a qualidade das organizações com a chancela FADU/UMinho?
As instituições internacionais reconhecem de uma forma geral a capacidade de Portugal e da FADU de organizar eventos internacionais de excelência. Isso é algo que é claro nos diversos fóruns internacionais em que participamos. É claro também o reconhecimento internacional da AAUMinho/UMinho tendo em conta o seu já longo palmarés de eventos organizados. Estes fatores contribuíram claramente para a atribuição do Campeonato Mundial Universitário de Andebol em 2014.
No último ranking desportivo da EUSA, Portugal colocou duas academias (Académica e UMinho) em 1º e 2º lugar. Achas que isto pode ser motivador para que cada vez mais as academias nacionais participem nas provas da FADU?
Acredito que mais do que motivador para a participação das instituições no quadro nacional, é uma ferramenta de reconhecimento do investimento e aposta das instituições no Desporto no Ensino Superior. Quem vê Portugal em 2 anos consecutivos colocar-se nos lugares cimeiros poderá pensar que é fácil, mas engana-se! Este resultado é fruto de um empenho e de muito trabalho nesta área, daí ser importante este reconhecimento.
Com a eleição do Prof. Fernando Parente para membro do Comité Executivo da EUSA, o que pensas que vai mudar no panorama do desporto universitário português?
Acima de tudo será mais um fórum de discussão onde Portugal vai assumir um papel de intervenção e influência. O Prof. Fernando Parente, pela sua experiência e empenho, irá certamente contribuir de forma decisiva no desenvolvimento do desporto universitário no panorama Europeu. Esse mesmo trabalho, para além de dignificar a nossa imagem e a de Portugal, trar-nos-á certamente ferramentas e competências adicionais para o nosso trabalho no campo nacional.
Como decorreu o evento “Consumos Académicos”? É para repetir?
Foi um evento bastante interessante que reuniu em torno de um objetivo muito nobre um grande número de estruturas estudantis. Acima de tudo foi uma forma de tornar pública uma preocupação social que afeta os jovens estudantes portugueses e um assumir de responsabilidades no âmbito de uma promoção e sensibilização dos excessos que são por vezes cometidos. O papel da FADU nesta iniciativa acaba por ser o de promotor de estilos de vida saudáveis que acabam por, de certa forma, compensar e combater estes hábitos. As entidades envolvidas assinaram um protocolo de colaboração que prevê uma série de atividades isoladas e conjuntas com o mesmo objetivo: a sensibilização da população estudantil. Este evento foi um início de algo mais, e não um fim. Daqui a 1 ano será altura de avaliarmos o impacto das nossas atividades e decidir em que moldes continuar.
A vertente social é cada vez mais uma preocupação da FADU. Há mais algum projeto na calha que nos possas revelar?
Posso partilhar que a vertente social é uma área que nos preocupa. Embora a nossa atuação na promoção do desporto já tenha em si, no nosso entender, um papel social, acreditamos que se queremos atuar como uma ferramenta complementar na educação dos jovens estudantes portugueses há temas dos quais não podemos fugir: a alimentação e os estilos de vida saudáveis, o consumo de álcool excessivo, as drogas e o doping, a ética e o fair-play, entre outros. Vamos ao longo dos próximos meses trabalhar em iniciativas nestas áreas.
Que mensagem gostarias de deixar aos universitários?
Acima de tudo uma mensagem de apelo à participação no desporto nas suas instituições. Mais do que uma forma de promoção de saúde e bem-estar, o desporto é uma ferramenta de aprendizagem para a vida. Aproveitem!
Texto e Fotografia: Nuno Gonçalves
(Pub. Abr/2012)


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