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“Estou a trabalhar com a ambição de ser ‘Manager’ da equipa de engenheiros”



O que te levou à UMinho e ao curso de Engenharia de Gestão Industrial?

Ao contrário de algumas pessoas, nunca tive uma profissão que me aliciasse desde miúdo portanto, na altura de escolher o curso, optei por um que me oferecesse um leque alargado de competências. Dessa forma, estaria melhor preparado para encarar as exigências do mercado de trabalho. A escolha da universidade foi bastante fácil. A Universidade do Minho é uma universidade de referência nacional e dessa forma consegui conciliar a minha vida académica com a prática de Taekwondo.

 

De que forma é que a tua escolha moldou o teu futuro profissional?

Não existe qualquer dúvida de que a minha escolha moldou o meu futuro profissional. Até à data, todas as minhas experiências profissionais estiveram relacionadas com a minha área de formação. Embora o que se aprende na universidade não seja suficiente para enfrentar os desafios profissionais, posso afirmar que a UMinho foi indiscutivelmente uma boa escola.

 

Como é que foram esses anos na academia minhota?

Como seria de esperar, foram anos com muitas dores de cabeça a estudar para testes, muitas horas de sono em atraso para garantir que os trabalhos eram entregues a tempo mas também foram anos de muita festa com grandes amigos. Eu sei que pareço um velhote a falar mas não posso deixar de olhar para trás e sorrir.

 

Como é que se deu a tua entrada para o desporto na UMinho?

Na altura, vários colegas de treino já se encontravam na universidade. Sempre segui com interesse as suas provas a nível universitário. Soube desde então que não deveria deixar de aproveitar essas oportunidades mal me tornasse caloiro da UMinho.


O que te levou a escolher o Taekwondo?  

Desde 1998 que pratico Taekwondo. Como referi atrás, estudar na Universidade do Minho permitiu-me continuar com a prática de Taekwondo com a mesma equipa técnica e os mesmos colegas de treino. Nunca me passou pela cabeça abdicar do desporto de qual gosto, muito menos deixar a minha família do Taekwondo.


Que recordações guardas do desporto universitário, das
atividades desenvolvidas na Universidade e pela Universidade?

Foi com bastante motivação
que vi a qualidade das competições universitárias aumentar de ano para ano, não
só a nível competitivo mas também a nível organizacional. Apesar da seriedade
das competições, as provas universitárias primam por um espírito completamente
diferente fora da competição. O ambiente é muito mais descontraído e há uma maior
interação entre as equipas participantes.

 

Qual foi o momento mais marcante que tiveste enquanto
atleta da UMinho?
 

Alcançar o 3º lugar no Campeonato do Mundo
Universitário em 2010 e ser o primeiro Português a alcançar uma medalha num
mundial universitário na vertente de combates foi algo inesquecível. Outros
momentos que também não ficam atrás são as medalhas de bronze obtidas nos
Campeonatos Europeus Universitários de 2009 e 2011 em Braga. Ter a
possibilidade de disputar um campeonato deste nível em casa foi um
espetáculo. 

 

Achas que foi importante (o desporto) no teu
desenvolvimento enquanto indivíduo?
 

Concordo plenamente com isso. O Taekwondo prima, entre
outros, pela disciplina e resiliência. A vertente competitiva do Taekwondo
também cultiva a ambição em ser sempre melhor. Estes são talvez os três
predicados que melhor me definem e o Taekwondo teve um papel fundamental no
desenvolvimento destas características em mim.

 

A entrada no mundo profissional, como é que aconteceu?

A estrutura do Mestrado Integrado em Engenharia e
Gestão Industrial permite a realização da dissertação de mestrado em ambiente
empresarial. Como tal, candidatei-me a várias empresas para que pudesse ter a
oportunidade de realizar um estágio curricular e finalizar a minha etapa final
no mundo académico. Fui aceite pela Bosch Car Multimedia Portugal S.A. em
Fevereiro de 2012, onde fui recrutado para ajudar na gestão de um projeto de
implementação de uma estrutura de melhoria contínua no departamento de
Logística.


Foi difícil essa passagem do mundo académico para a
realidade do mundo do trabalho?
   

Não posso dizer que tenha sido difícil. A ligação
entre a Bosch e a Universidade do Minho já tem uma longa história e a
organização dos estágios curriculares é bastante boa. Além do mais, a equipa
com a qual trabalhei acolheu-me muito bem e nunca, de forma alguma, me fez
sentir desamparado.

 

Em que área estás a trabalhar e quais são as tuas
funções?
 

Neste momento estou a desempenhar as funções de
engenheiro de produção na empresa Rolls-Royce em Derby, Inglaterra. Como
engenheiro de produção, sou responsável por fornecer apoio técnico na produção
dos motores que integram os aviões Airbus A330, Airbus A380, Airbus A350 e
Boeing 787, servindo também como principal ponto de contacto em questões
relacionadas com engenharia.

 

Já deste umas voltas de Rolls Royce?

Esta é uma pergunta
engraçada. Embora a marca seja associada aos automóveis, a Rolls-Royce enquanto
empresa já não é responsável pela produção de carros. Neste momento, a
Rolls-Royce atua nos setores da aviação, marítimo e energético, sendo os
produtos mais importantes os motores de aviões, as turbinas para embarcações e
os reatores nucleares para submarinos.

 

Como é que surgiu a oportunidade de trabalhar para
Inglaterra?

O meu estágio curricular na
Bosch terminou em Janeiro de 2013. Dada a situação económica da empresa, a
contratação de novos colaboradores estava bastante condicionada.
Como tal, tomei uma atitude pró-ativa e comecei a procurar novas oportunidades,
não só em Portugal mas também no estrangeiro. Depois de uma entrevista
telefónica e de uma entrevista presencial em Derby, fui convidado a fazer parte
da equipa da Rolls-Royce para realizar um estágio com a duração de 10 meses. Em
Dezembro do ano passado ofereceram-me um novo contrato, desta feita como
colaborador permanente da empresa.

 

Como é o dia-a-dia do Eduardo Rodrigues?

Não posso dizer que a minha
vida tenha alterado muito, excetuando o facto que não tenho ajuda da ?mamã? nas
lides domésticas. O despertador toca às 6:12 (eu sei, hora estranha) e depois
de um pequeno-almoço de campeão (leite com cereais) apanho o autocarro para o
trabalho. Normalmente trabalho das 8h até às 17h, hora a que apanho o autocarro
de volta para casa. A caminho de casa vou ao ginásio para exercitar um bocado o
corpo. Por volta das 20h chego a casa, cozinho um petisco qualquer que tenha
visto na internet e depois estou pronto para uma sessão de Skype/Facebook com a
família e amigos.

 

Na tua área de conhecimento, como é que está o mercado
de trabalho?

Quando estava à procura de
novas oportunidades profissionais, deparei-me com várias ofertas de emprego na
minha área, tanto a nível nacional como internacional. No entanto, tenho de
concordar que grande parte das oportunidades internacionais é mais aliciante
que as disponíveis em Portugal, não só a nível de remuneração mas também no que
diz respeito a perspetivas de progressão na carreira.

 

Onde é que te vês daqui a 10 anos?

A Rolls-Royce tem uma
estrutura de desenvolvimento pessoal bem definida e aliciante. Estou a
trabalhar com a ambição de ser ?Manager? da equipa de engenheiros de produção
daqui a 10 anos. Além do mais, tenciono aprimorar ainda mais os meus dotes
culinários para invejar a minha família em Portugal.

 

Achas que Portugal está a produzir mão-de-obra
qualificada a mais ou os jovens licenciados estão apenas a pagar a fatura de
uma crise que levou muitas empresas à falência?

Neste momento não existem
oportunidades suficientes para os jovens portugueses. O número de inscritos nas
universidades portuguesas tem vindo a diminuir nos últimos anos mas ainda
assim, o número de recém-licenciados sem emprego é elevado.

 

Acreditas que o Empreendedorismo é uma solução para
alguns dos actuais problemas dos jovens licenciados? 

Embora existam projetos
bastante interessantes, não acredito que o empreendedorismo seja uma solução
que se aplique a toda a gente. No entanto, não desaconselho ninguém com uma boa
ideia a seguir em frente com ela. Saliento apenas a necessidade de ter um plano
de negócio bem estruturado de modo a garantir a sustentabilidade das novas organizações.

 

É mais fácil ser reconhecido pela nossa qualidade
profissional cá dentro ou achas que ainda existe a mentalidade de que quem vem
de fora é melhor?

Creio que ainda
existe essa mentalidade de que quem vem de fora é melhor. Não acredito, no
entanto, que esse seja sempre o caso. Portugal tem profissionais de excelência
e não é raro descobrir portugueses em cargos de topo em empresas estrangeiras
de referência. Contudo, Portugal não oferece neste momento as mesmas oportunidades
que outros países. O nível competitivo da maior parte das empresas portuguesas
ainda esta algo aquém, o que faz com que seja aliciante a contratação de
profissionais estrangeiros que tenham uma experiencia diferente da que Portugal
nos oferece.

 

Notas grandes diferenças nos métodos e ritmos de
trabalho entre Portugal e Inglaterra?

Tenho de admitir que
existe uma certa diferença principalmente no que diz respeito à maneira como o
trabalho é encarado. Um exemplo curioso tem a ver com o trabalho de horas
adicionais. Enquanto em Portugal se dá valor a quem fica no trabalho até tarde,
em Inglaterra interessam-se mais se os colaboradores estão a apresentar os
resultados esperados, independentemente das horas trabalhadas.

 

Qual é a tua visão do estado atual de Portugal?

Este é um tema já bastante discutido. Toda a gente
concorda que a situação atual do país não é risonha. Neste momento temos apenas
duas opções: ou nos ficamos a lamentar, esperando que alguém resolva a situação
por nós, ou então adotamos uma atitude pró-ativa e trabalhamos para aquilo que
pretendemos. Como diz o meu avô, as oportunidades estão aí para quem é bom, por
isso há que lutar por elas.

 

Que conselho deixas aos milhares de estudantes da
UMinho que procuram um futuro mais risonho através de um curso superior?

Nos dias que correm,
ter um curso superior não e sinónimo de oportunidades profissionais. Assim
sendo, o meu conselho vai no sentido de encorajar os jovens universitários,
desde caloiros a finalistas, a procurarem experiências de trabalho na sua área
de formação ao longo do curso. Quer sejam experiências de curta ou longa
duração, remuneradas ou a título voluntário, o que é certo é que não há nota
alguma na universidade que seja mais valiosa que esses momentos passados em
ambiente de trabalho.


Texto e Fotografia: Nuno Gonçalves


(Pub. Jan/2014)

 

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