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“A licenciatura em Sociologia oferece uma formação ‘de banda larga’…”



Qual a sua formação e
trajeto académico?

Sou licenciada em Sociologia pela Universidade
do Porto, mestre em Políticas e Gestão de Recursos Humanos pelo ISCTE e doutorada
em Sociologia pela Universidade do Minho. Iniciei a minha atividade como
docente do ensino superior no sector privado e cooperativo há cerca de 22 anos
e transitei para o ensino superior público há cerca de 15 anos.

 

Como
caracteriza a sua função de diretor de curso?

É uma função que, na
minha opinião, infelizmente, se tem vindo a burocratizar excessivamente nos
últimos anos na medida em que os diretores de curso têm sido chamados a
executar cada vez mais tarefas de ordem burocrática. Para além das tarefas
administrativas propriamente ditas, os diretores de curso têm sido chamados a
assegurar atividades voltadas para a atração de novos estudantes e de
divulgação do curso, por exemplo, o que implica, evidentemente, uma perda de
disponibilidade para aquilo que deveria ser a sua tarefa principal: a
coordenação pedagógica e científica do curso. Por outro lado, penso que existe
ainda pouca sensibilidade dos docentes para a importância do trabalho de
direção de curso e o diretor de curso não possui o poder formal de impor o
cumprimento de certas regras ou ações às equipas docentes. Mas é também preciso
acrescentar a este quadro o facto de os próprios docentes terem vindo a ser
confrontados com uma multiplicidade de exigências diversas à qual se torna,
muitas vezes, difícil responder adequadamente em tempo útil. Tudo isto faz com
que se torne, por vezes, muito difícil garantir uma gestão do curso que combine
a satisfação do corpo docente com a satisfação das exigências e expetativas dos
estudantes.

 

O que o motivou a
aceitar “comandar” este curso?

Além de se prever que
os professores do ensino superior assegurem atividades de gestão das suas
instituições, para mim, trata-se também de uma obrigação moral. É, além disso,
uma experiência importante para se perceber certas dinâmicas do ensino superior
e também uma forma de enriquecimento profissional e pessoal.

 

As
experiencias anteriores têm-no ajudado no cumprimento da sua função de diretor
de curso?

Evidentemente, o facto de ter assumido sempre, ao longo do meu percurso
profissional, atividades diversas ligadas a atividades de coordenação e gestão
de equipas e projetos, assim como o facto de ter exercido a minha atividade em diferentes
escolas e sectores de ensino constituem mais-valias para a função. Por um lado,
porque a diversidade de experiências nos faculta uma dimensão comparativa
fundamental que ajuda a relativizar certos problemas que tendemos a considerar
exclusivamente nossos quando apenas conhecemos um caso particular; por outro
lado, porque nos torna mais adaptáveis às situações e mais críticos (no sentido
analítico do termo) face a elas.

 

Quais
são as maiores dificuldades no cumprimento da sua função?

Como referi
anteriormente, a maior dificuldade é, atualmente, o excesso de exigências de
ordem administrativa e burocrática.

 

No seu
entender, porque é que um futuro universitário deve concorrer à Licenciatura em
Sociologia
?

Deve concorrer à
licenciatura em Sociologia quem se interessa por compreender a forma como a
nossa vida em sociedade se reflete naquilo que somos, naquilo que fazemos e
naquilo que sentimos. Essa é a primeira condição – a curiosidade por, e o
interesse em explicar os fenómenos sociais. Depois, a licenciatura em
Sociologia oferece uma formação “de banda larga”, o que significa que são
facultados aos estudantes instrumentos concetuais e metodológicos suscetíveis
de ser aplicados numa grande diversidade de situações, contextos e atividades
profissionais. Neste sentido, ela oferece maior capacidade de adaptação ao
mercado de trabalho do que licenciaturas claramente dirigidas para um sector, uma
atividade ou o preenchimento de uma necessidade específicos.

 

Quais
são na sua opinião os pontos fortes deste curso? E os pontos fracos?

A licenciatura em
Sociologia da UMinho partilha com as restantes licenciaturas em Sociologia do
Ensino Superior Público Português, o facto de constituir uma formação “de banda
larga”, com as vantagens que acabei de referir. Destacaria, todavia, como
elementos distintivos da licenciatura da UMinho: a forte aposta nas
metodologias de investigação social e no treino efetivo de competências de
investigação ao longo dos três anos de formação; um plano de estudos com
unidades curriculares opcionais em domínios atuais da Sociologia que permitem
ao estudante adaptar o seu percurso formativo aos seus interesses particulares;
e a oferta de uma experiência de estágio no último semestre que proporciona um
primeiro e importante contacto com o mercado de trabalho. Quanto aos pontos
fracos, temos feito um grande esforço no sentido de os eliminar e o elevado
grau de satisfação dos nossos estudantes nos inquéritos de satisfação levados a
cabo pela Universidade mostram que temos sido bem sucedidos.

 

Existem hoje em dia
excesso de profissionais em determinadas áreas.
O que
podem esperar os alunos da Licenciatura em Sociologia quanto ao mercado de
trabalho?

Não sei se existe
excesso de profissionais em determinadas áreas ou se é o nosso tecido produtivo
que se tem revelado incapaz de absorver esses profissionais. Dito isto, existe,
evidentemente, neste momento, um contexto pouco favorável à criação de emprego
que afeta todas as formações, ainda que de modos distintos. Neste sentido, os
licenciados em Sociologia podem esperar encontrar, na transição para o mercado
de trabalho, dificuldades na obtenção de emprego, instabilidade profissional, situações
de maior precariedade. Em períodos de expansão económica, esta situação é,
geralmente, transitória. Atualmente, é difícil prever em que medida se trata de
um período de transição ou, inversamente, tende a tornar-se mais na regra do
que na exceção? No entanto, como referi antes, o tipo de formação oferecido
pela licenciatura pode constituir uma mais-valia pela sua adaptabilidade,
porque abre múltiplas vias de profissionalização ou, mesmo, de criação do
próprio emprego. Mas isto não chega, evidentemente. É preciso, igualmente, que
haja, da parte dos estudantes, empenho, iniciativa, capacidade de adaptação a
novas situações e, sobretudo, uma consolidação adequada dos conhecimentos
adquiridos ao longo do curso. Gostemos, ou não disso, o facto é que, hoje, um
recém-licenciado tem que ser capaz de mostrar em que é que a sua formação
constitui uma mais-valia para o empregador. Ter um projeto e ser capaz de o
defender são, frequentemente, os factores que fazem a diferença na altura de
conseguir um emprego

.

Acompanhou o período
das reformas de Bolonha, marcado por uma profunda alteração do modelo de
ensino. Como o avalia?

Infelizmente, penso
que Bolonha tem sido uma oportunidade perdida – isto, assumindo que a
consideramos, de facto, uma oportunidade, o que não é líquido… Por razões
várias sobre as quais não irei agora discorrer, as instituições de ensino
superior adotaram uma atitude essencialmente defensiva e limitaram-se, em boa
parte dos casos, a “encolher” para 3 anos formações de 4 ou 5. O resultado nem
sempre tem sido feliz, sobretudo considerando a profunda modificação do perfil
dos estudantes que nos procuram e ao qual ainda estamos a tentar ajustar-nos,
tanto em termos pedagógicos, como científicos. Por outras palavras, creio que
continuamos centrados no modelo de ensino pré-Bolonha, tentando fazer com que
ele resulte no “pós-Bolonha”. Creio que haveria necessidade de refletir
seriamente sobre isto, mas não me parece que isso aconteça nos próximos tempos,
sobretudo considerando as fortes pressões “financeiras, mas não só”  de que as
instituições de ensino superior têm sido alvo.

 

Quais são as suas
prioridades para o curso nos próximos tempos?

Essencialmente,
garantir a aplicação dos planos de melhoria que foram definidos na última
avaliação interna. A melhor publicidade a um curso é o exemplo dos seus antigos
estudantes e a divulgação que estes fazem dele, pelo que acredito que uma das
apostas deve ser essa. Isto, é claro, exige também a dedicação e o
fortalecimento do espírito de corpo da equipa docente e a sua mobilização em
torno de um projeto comum. E esta é outra prioridade.

 

Quais são para si os
principais desafios?

De algum modo, estão
definidos nas prioridades que apontei: aumentar a qualidade e a notoriedade do
curso a nível nacional e garantir o compromisso da equipa docente com esses
objetivos.

 

Texto:
Ana Coimbra

 

(Pub. Fev/2014) 

 

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