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“Apesar das dificuldades do momento atual, a UMinho deve apostar, de forma clara, no seu crescimento…”


  

Iniciou em outubro passado um segundo mandato
à frente dos destinos da UMinho. Como viu esta sua reeleição? Sentiu que o
trabalho realizado afastou uma eventual ?concorrência??

Como já
tive oportunidade de referir, a minha recandidatura surgiu como um processo
natural no âmbito da proposta de desenvolvimento da UMinho com que estou
comprometido, conjuntamente com a minha equipa e muitos membros da nossa
Comunidade Académica. Estamos convictos da qualidade do trabalho realizado,
embora esta seja uma atividade onde nunca nos podemos dar por satisfeitos com
os resultados obtidos. 
Muito
provavelmente, a complexidade e as dificuldades do atual contexto da
Universidade Portuguesa terão desencorajando potenciais candidatos nacionais ou
estrangeiros.

 

A decisão de se recandidatar foi uma decisão
fácil?

Sim, pode-se
dizer que foi fácil porque é uma honra ser Reitor da Universidade do Minho e é
irrecusável servir a construção de um projeto de desenvolvimento em que
acreditamos.

 

Houve algumas mudanças na sua equipa. A que
se deveram?

As
mudanças foram originadas por dois tipos de fatores. As mudanças no
enquadramento do ensino superior em Portugal e na Europa, que levaram à criação
de lugares de Vice-Reitores independentes para o ensino e a investigação, bem como
as questões relacionadas com os percursos profissionais de alguns membros da
anterior equipa que, por esse motivo, solicitaram a saída dos respetivos
cargos. Foi também uma questão desta natureza que motivou o recente pedido de
cessação de funções da Profª Cláudia Viana.

 

No arranque de mais este mandato quais são as
linhas orientadoras dos próximos quatro anos?

Essas
linhas estão bem definidas no programa de candidatura e no subsequente Plano de
Ação para o Quadriénio 2013-17, aprovado pelo Conselho Geral da Universidade. 
De modo
muito resumido, apostam na continuação do crescimento, quantitativo e
qualitativo, da Universidade nos domínios do ensino, da investigação e da
interação com a sociedade. Para o efeito, preconizam uma ainda maior
mobilização da Comunidade Académica e reforço da capacidade de financiamento
fora do Orçamento Geral do Estado, com base numa estratégia dual de reforço da
internacionalização e de compromisso com o desenvolvimento regional. 
O
referido plano, disponível no site da UMinho, envolve mais de cinquenta medidas
dando especial atenção à melhoria das condições de trabalho para toda a nossa
comunidade e da qualidade de vida nos campi.

 

Quais os principais objetivos que pretende
ver cumpridos?

O
aumento da nossa atratividade de estudantes nacionais e estrangeiros, nos
diferentes graus de ensino e a afirmação do projeto de educação integral da
UMinho, reconhecido num perfil diferenciado dos seus graduados. 
O
reforço da capacidade de investigação e do seu reconhecimento pelos mecanismos
internacionais de referência das diferentes áreas científicas em que a UMinho
opera. 
Uma
interação mais efetiva e profícua com o sociedade, capaz de atrair e fixar
talento, científico, criador e empreendedor na Região. 
Deste
modo, pretendemos ser uma das três melhores universidades portuguesas na
generalidade dos indicadores e aquela com maior impacto no desenvolvimento socioeconómico.

 

Qual
será para si o maior desafio da Universidade para os próximos quatro anos?

Para os
objetivos atrás referidos serem cumpridos precisamos de vencer a batalha da autonomia
universitária, fator essencial para o cumprimento de um projeto educativo e de
investigação diferenciado com grande impacto na melhoria do bem-estar da
sociedade que devemos servir. 
Precisamos
de inverter o envelhecimento dos nossos recursos humanos, docentes e não
docentes, talvez a consequência mais grave de crise que vamos atravessando. 
Precisamos
de modernizar e revitalizar o nosso parque de edifícios e as infraestruturas
laboratoriais tornando-os compatíveis com o nível de competitividade
internacional em que queremos atingir.

 

O seu programa tem como lema “Crescer para
ganhar o futuro”. O que está subjacente a isto?

Apesar
das dificuldades do momento atual, a UMinho deve apostar, de forma clara, no
seu crescimento por três tipos de razões: a oportunidade resultante das metas Europa
2020, bem como do aumento da procura de formação superior em economias
emergentes, nomeadamente dos países de língua portuguesa; o compromisso com o
desenvolvimento da Região que exige uma UMinho maior e com uma afirmação
internacional reforçada; e a criação de expetativas de futuro para a nossa
Comunidade Académica.

 

De que formas espera ver cumprida esta
premissa?

O
crescimento no ensino basear-se-á na atração de estudantes estrangeiros, na
consolidação dos programas de pós-graduação e na oferta de novos modelos de
formação. Na investigação, teremos de ser mais eficazes nas candidaturas a
programas europeus e nacionais, bem como na construção de projetos
multidisciplinares. Na interação com a sociedade, deveremos aumentar o nosso
impacto na geração de riqueza.

 

Um dos principais objetivos do plano
estratégico para 2020 é alcançar a meta de 25000 alunos. As universidades e
politécnicos perderam só este ano cerca de 6% de alunos e a UMinho deixou
muitas vagas por preencher. Ainda acha que é algo atingível?

Sim,
com um crescimento significativo do número estudantes estrangeiros de formação
inicial, oportunidade aberta pelo novo quadro legal recentemente aprovado em
Conselho de Ministros; pela oferta de novos cursos e novas áreas de formação
(por exemplo, temos a licenciatura em criminologia já aprovada pela A3ES e
estamos a preparar um curso de artes visuais); e o reforço da atração de
estudantes de pós-graduação nacionais e estrangeiros. 
A
percentagem de preenchimento de vagas dos cursos de regime normal da UMinho no
último Concurso Nacional de Acesso foi muito boa, se excetuarmos a situação muito
particular experimentada pela área das engenharias.

 

Houve este ano um decréscimo do nº de alunos
a entrar na Universidade, para além disso há cada vez mais desistências. Isto
preocupa-o?

Não
temos evidências que as desistências sejam mais elevadas que nos anos
anteriores. Os números globais só serão conhecidos em maio e deverão ser
analisados nessa altura. 
Foi um
ano muito difícil. A oferta pós-graduada foi afetada por questões
socioeconómicas, com inegável impacto na procura de formação de 2º ciclo, e
pelo grande decréscimo de bolsas de estudo de doutoramento. Acresce que a
UMinho foi fortemente penalizada no Concurso Nacional de Acesso por um Despacho
de fixação de vagas que, de forma descontextualizada das especificidades
regionais, associou indicadores irrealistas de desemprego a limitações para os numeri
clausi dos diferentes cursos.

 

Qual a estimativa de perdas financeiras pela
UMinho em consequência da desistência de alunos?

Como
referido, não estimamos números de desistências mais significativos que nos
anos anteriores. No entanto, a situação tem especificidades ao nível das
diferentes Unidades Orgânicas, podendo provocar dificuldades adicionais em
algumas delas.

 

Em relação aos cursos em pós-laboral, o
sucesso inicial mantém-se?

A
procura e os consequentes resultados da oferta pós-laboral são diferenciados
consoante a área científica. É inequívoco o seu sucesso nos cursos de Direito e
na oferta da Escola de Economia e Gestão. A procura também é consistente nas
áreas da educação e das ciências sociais. Nas tecnologias, considero muito
positiva a procura no âmbito da informática, curso que funciona em Azurém. 
Esta
realidade resulta das especificidades destas áreas mas também do esforço
diferenciado que as várias Unidades Orgânicas envolvidas colocaram neste
projeto.

 

As universidades invocam autonomia
universitária, mas ao mesmo tempo reclamam um maior investimento do Estado no
ensino superior. No seu entender como deveria funcionar efetivamente esta
dinâmica?

A
concorrência interinstitucional, nos contextos nacional e internacional, tem
sido um dos elementos fundamentais para a modernização e desenvolvimento das
universidades portuguesas. 
A
autonomia deve ser efetivada num quadro de responsabilização e pública
prestação de contas inequívoco. No entanto, também exige total transparência e
definição atempada das ?regras do jogo? ao nível do financiamento público, bem
como outros aspetos regulatórios (p.ex., fixação de números de vagas ou
critérios para abertura de novos cursos).

 

Desde 2005 as universidades já perderam mais
de 250.000.000 euros. O sistema ainda é viável?

As
universidades portuguesas, e a UMinho em particular, têm tido uma capacidade
notável de se acomodarem ao contexto com que têm vindo a ser confrontadas. No
caso da UMinho, o aumento do número de estudantes nos últimos quatro anos, a
redução de custos operacionais e o aumento da captação de receitas em projetos
de investigação, foram os fatores decisivos nessa adaptação. 
No
entanto, existem dois motivos de grande preocupação na universidade portuguesa que,
se a situação não for invertida, terão graves consequências no futuro próximo:
o já referido envelhecimento do pessoal docente e não docente, bem como a
insuficiente manutenção de infraestruturas físicas e laboratoriais. 
Acresce
a tudo isto a dificuldades de natureza burocrático-administrativa que
aumentaram significativamente nos últimos dois anos e cujo propósito não é
inteligível face à realidade universitária.

 

Qual é a realidade financeira da UMinho e o
que é que está a ser posto em causa com os sucessivos cortes? Já se atingiu o
limite?

Como
referido, a situação tem motivos de preocupação, mas temos sido capazes de
manter uma situação financeira equilibrada com aumento de receitas (de propinas
e de projetos) e redução de despesa (de pessoal e de funcionamento). 
No
entanto, estamos confrontados com uma situação paradoxal. Estamos numa das
regiões do país com níveis de rendimento socioeconómico mais baixas e onde
dotação do Estado por estudante, do ensino superior, também é mais baixa.

 

Quais as iniciativas/ideias para se conseguir
receitas próprias?

Continuaremos
a trabalhar com base numa estratégia multifacetada que inclui: atração de
estudantes estrangeiros, aumento do número de projetos de I&D nacionais e
estrangeiros, parcerias com empresas e outras instituições e o desenvolvimento
de um programa de fundraising.

 

Concorda com o pedido do ministro Nuno Crato,
aquando da tomada de posse do Reitor da UMinho, de que “As universidades devem
trabalhar mais e melhor”?

Penso
que foi uma expressão utilizada num determinado contexto, com uma carga
retórica associada ao momento em causa. 
Sendo
certo que as Universidades, por definição e posicionamento, nunca devem estar
conformadas com os seus resultados, parece-me que o esforço, o grande esforço, destas
instituições no contexto da crise atual não tem sido adequadamente reconhecido
pelo Governo.

 

Face à situação, será difícil às
universidades portuguesas continuarem a ser competitivas? Há a possibilidade da
UMinho e outras universidades começarem a cair nos rankings?

Sim, a
manutenção nos rankings é extremamente difícil. Continuaremos a assistir à
emergência de um grande número de universidades asiáticas nos diferentes rankings
internacionais, em resultado do grande investimento que países como a China,
Singapura ou Coreia do Sul estão a fazer no ensino superior e na investigação. 
Por
isso, uma pequena melhoria dos nossos indicadores pode não ser suficiente para manter
a nossa posição.

 

O Governo tem exigido uma reorganização da
rede do ensino superior. Já está a ser feita alguma coisa. Como é que esta
deverá ser executada na sua opinião?

Infelizmente
é mais um processo que não está a correr bem. 
Devia
partir da definição de objetivos globais claros para o sistema. 
Devia
ser baseado numa clara e atempada definição das regras de financiamento,
independentemente dos valores envolvidos, bem como dos mecanismos de
recrutamento de estudantes. 
Devia
ser suportado numa interação efetiva entre a tutela e as instituições de ensino
superior.

 

Concorda com a implementação de cursos de
dois anos no ensino superior? Como deverá ser feito e quais os objetivos?

Certamente
que é um nível de formação necessária e importante. No entanto, é uma a tipologia
de cursos que foi desenhada para o sistema politécnico e que os Institutos
Politécnicos recusam. Espero que não seja mais uma oportunidade perdida.

 

A UMinho
tem cursos a mais ou alunos a menos?

A
UMinho pode acolher mais alunos no portfólio de cursos que tem, No entanto e, como
referido, estamos a trabalhar em novos cursos para complementar a nossa oferta
formativa. 
A UMinho
monitoriza os seus cursos em contínuo, preservando áreas científicas
fundamentais, mas fazendo adaptações em resultado das dinâmicas da procura. Esses
ajustes podem incluir reestruturações, extinções ou criação de projetos de
ensino. 
Temos
uma estratégia de aumento da nossa eficiência que tem vindo a assentar, entre
outros fatores, na eliminação de unidades curriculares com número reduzido de
estudantes.

 

Há uns meses as universidades cortaram
relações com a tutela do ensino superior. Qual a relação existente atualmente?

Certamente
que podiam e deviam ser melhores, sobretudo, deviam ser mais efetivas.

 

O que espera por parte da tutela para que a
situação atual do ensino superior melhore?

O
estabelecimento de um quadro de confiança com as instituições de ensino
superior, baseado na responsabilização mútua. 
O que
se tem vindo a passar com o RJIES é muito mau e com consequências negativas
diversas, nomeadamente para a UMinho que espera, há quase três anos, resposta
ao seu pedido de mudança de regime jurídico. 
O modo
como as Universidades são tratadas no contextos das políticas científicas é
inexplicável. 
Portanto,
resta-nos ter esperança que muita coisa mude.

 

Praxes. Qual a sua opinião em torno do tema e
da problemática atual?

O nosso
quadro de valores é conhecido é está definido nos Estatutos Universidade.
Queremos ser um espaço de liberdade e tolerância onde tenha grande centralidade
o respeito pela dignidade da pessoa humana. 
Por
isso, os estudantes e demais Comunidade Académica deverão observar o estipulado
no Código de Conduta Ética da Universidade e o determinado pela Circular RT-05/2011. 
Estamos
a trabalhar conjuntamente com as Unidades Orgânicas e com a AAUM para garantir
o cumprimento dessas orientações. 
Confesso
que sinto um grande desconforto quando vejo alunos da Universidade do Minho a
olharem para o chão. Seria muito bom que todos os nossos estudantes preparassem
o seu futuro olhando para a frente.

 

Fundo Social de Emergência. Qual a situação
atual?

O FSE
foi criado no ano letivo passado, tendo apoiado cerca de 40 estudantes. É uma
iniciativa ainda à procura de encontrar o seu espaço e modo de funcionamento,
uma vez que está perspetivado para ser complementar à Ação Social Escolar. 
Este
ano, já concedeu os primeiros subsídios, sendo esperado um aumento do número de
estudantes a recorrer ao mesmo. 
Também
estamos apostados em alargar as suas fontes de financiamento. A recente doação
do Lions Club de Braga é um exemplo que gostaríamos de replicar.

 

Há alterações a ser feitas em relação às
normas deste. Quais serão as principais alterações/novidades?

O
regulamento que sofreu algumas alterações ao nível da elegibilidade de
estudantes e tipo de despesas consideradas. Também foi alargado o período de
tempo para apresentação de candidaturas.

 

Este foi um ano de especial sucesso para o
desporto da UMinho. O que nos tem a dizer sobre isto?

Foi o
resultado de uma aposta estratégica e consistente, que faz parte do nosso
projeto educativo. O primeiro lugar no ranking da EUSA é motivo de grande
regozijo para a Universidade, mas atribuo igual importância ao facto de termos ultrapassado
a meta das 10.000 pessoas com pratica regular de desporto na nossa Academia. 
Sim,
foi um ano de especial sucesso em termos desportivos, resultado do trabalho de uma
grande equipa de atletas, técnicos e dirigentes. 
O
resultado de um trabalho muito profícuo entre as estruturas da Universidade,
através dos SASUM, e da AAUM. 
O
resultado do esforço de muitos estudantes que se superam e dão tudo de si
quando envergam a camisola da UMinho, a quem quero prestar o meu
reconhecimento.

 

A aposta é para continuar?

Certamente
que sim.

 

A
UMinho vai receber em agosto o mundial de andebol. Quais as expectativas sobre
o evento?

A
expetativa de que vai ser mais um campeonato mundial universitário
exemplarmente organizado pela Universidade do Minho, contribuindo para
consolidar a nossa posição nos organismos internacionais do setor e para
promover a imagem da Universidade. 
Terá
lugar em Guimarães, cidade que tem infraestruturas ótimas para o efeito, bem
como toda uma oferta cultural e recreativa para todos os que nos vão visitar
durante esse torneio. 
O
andebol é uma modalidade onde os universitários portugueses poderão ter uma
excelente prestação.

 

O que nos falta para podermos crescer ainda
mais nesta vertente?

Neste
domínio, o objetivo é consolidar os resultados obtidos em termos de competição
internacional e continuar a aumentar o número de praticantes regulares.

 

Que mensagem gostaria de deixar à Academia
nesta altura?

Que podemos
ganhar o futuro crescendo. Podemos fazê-lo, se soubermos privilegiar o
interesse do coletivo, continuando a construir uma Universidade diferente. 
De
facto, independentemente das dificuldades com que viermos a ser confrontados, o
futuro da UMinho vai ser aquilo que sua Comunidade Académica quiser e for capaz
de construir.


Texto: Ana Coimbra

Fotografia: Nuno Gonçalves


(Pub. Mar/2014)

 

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