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“(…) em vez de aprenderem estudando, aprendam fazendo (…)”



Qual a sua formação e trajeto académico?

Sou
arquiteto. Fiz o curso de arquitetura na Escola de Belas Artes do Porto,
tendo-o concluído já na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto
(FAUP). Posteriormente ingressei na Universidade do Minho, como assistente
estagiário. Em 2005 fiz cá as provas de aptidão pedagógica e capacidade
científica, e em  2013,  o doutoramento.

 

Como caracteriza a sua função de diretor de
curso?

A
função de diretor de curso acaba por ser um trabalho mais executivo, em que
temos de representar as comissões de curso, coordenar reuniões, organizar
as provas de mestrado, despachar trabalho administrativo, bem como outras
tarefas que nos são confiadas  pela Presidência e pelo  Conselho Pedagógico.

 

O que o motivou a aceitar “comandar” este
curso?

Não foi
bem uma questão de motivação, mas sim uma obrigatoriedade. É algo que alguém
tem de fazer, e desta vez coube-me a mim.

 

As experiencias anteriores têm-no ajudado no
cumprimento da sua função de diretor de curso?

Penso
que sim. O trabalho de um diretor de curso é um trabalho que envolve a
coordenação de várias pessoas, somos interlocutores entre várias áreas,
somos mediadores. Na minha vida profissional como arquiteto tive de coordenar
várias áreas, de fazer sínteses  entre vários especialistas.  Essa
formação tem sido muito útil para um melhor desenvolvimento do meu trabalho
como diretor de curso, que no fundo consiste em  articular o trabalho
de  várias pessoas para que o curso funcione e tenha a melhor
qualidade possível.

 

Quais são as maiores dificuldades no
cumprimento da sua função?

Fundamentalmente
é a falta de tempo. Estamos sempre a correr entre as várias atividades que
fazemos. Como diretor de curso exerço  um cargo de gestão,  mas
simultaneamente continuo a lecionar e a fazer investigação (atividades que  faço
com maior gosto), uma multiplicidade de atividades que concorrem com o cargo de
diretor de curso.

 

No seu entender, porque é que um futuro
universitário deve concorrer ao Mestrado Integrado em Arquitetura?

Penso
que há neste curso uma componente de expressão artística mas também tecnológica
e cultural que é importante para um aluno que queira praticar uma profissão que
combine um pouco de vários mundos e estabeleça sínteses entre várias áreas do
saber,  e arquitetura é um pouco isso, situa-se no meio de muitas
coisas.

 

Quais são na sua opinião os pontos fortes
deste curso? E os pontos fracos?

O ponto
mais forte reside na sua componente  eminentemente prática. Aos
alunos que estão no curso são-lhes propostas situações de trabalho  que
simulam a realidade, como se estivessem num atelier profissional,  o
que lhes permite que, em vez de aprenderem estudando, aprendam  fazendo –  isto
nas cadeiras de projeto, claro. Ou seja, os alunos saem  da Escola
com um método de trabalho, um método de projeto que é extremamente sólido, que
é reconhecido em termos internacionais como um bom método de trabalho, que lhes
permite projetar o que quer que seja.  Saem de cá com competências
generalistas que lhes permitem resolver  várias áreas e escalas de
projeto.

O ponto
fraco na minha opinião  (uma vez que acompanhei a fase pré-Bolonha e
pós-Bolonha)  resulta da adaptação da estrutura do curso antes de
Bolonha aos requisitos pós-Bolonha, o que levou a uma transformação curricular
muito grande, que  compactou excessivamente os primeiros 3 anos do
curso, sobrepondo-lhe depois um mestrado de dois anos.

 

O que caracteriza este curso da UMinho
relativamente aos cursos de Arquitetura de outras universidades?

A minha
comparação é principalmente com os cursos que conheço melhor, e falo do curso
da FAUP – Faculdade de Arquitetura da
Universidade do Porto
 e o da Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra. Estes três cursos têm coisas em comum, têm métodos
comuns de ensino. Ambos, Coimbra e Guimarães, saíram do curso do Porto, são
spin-offs do curso do Porto, depois, cada um deles foi seguindo o seu caminho.
No entanto têm semelhantes metodologias de ensino,  do aprender
fazendo, do desenho como método de pensamento.  No entanto, na UMinho
o curso estabelece mais pontes com as questões de natureza tecnológica. Este
curso foi criado  por docentes da FAUP em conjunto com docentes da
Escola de Engenharia  da Universidade do Minho, o que   reforça
a componente tecnológica  do ensino. O curso da UMinho está, a pouco
e pouco a construir a sua própria identidade dentro deste conjunto  de
três escolas de arquitetura.

 

Existem hoje em dia excesso de profissionais
em determinadas áreas. O que podem esperar os alunos do Mestrado Integrado
em Arquitetura quanto ao mercado de trabalho?

Infelizmente,  com
a crise que se abateu sobre o país e com a  paralisação das obras
públicas, da engenharia e da construção civil,  grande parte dos
escritórios de arquitetura fecharam ou sobrevivem sem contratar novos
licenciados. Espero que seja uma situação temporária,  até porque já
há alguns sinais de retoma.  Os arquitetos portugueses são muito
conceituados em termos internacionais, e há um património do conhecimento
baseado na experiência, no trabalho de escritório, que se não continuar a
existir vai desaparecer.

 

Quais são os maiores desafios de um
recém-formado no Mestrado Integrado em Arquitetura?

O
primeiro desafio é conseguir fazer um estágio profissional, os arquitetos
portugueses têm de fazer um estágio de 9 meses (um estágio à  Ordem),
o que obriga os nossos recém-licenciados, antes de serem arquitetos, a terem de
trabalhar 9 meses num gabinete de arquitetura.  Quando saem do curso
a primeira coisa que fazem é inscreverem-se no centro de emprego (por isso a
taxa de desemprego é tão alta) para poderem arranjar estágio, só após o qual
são reconhecidos pela Ordem como arquitetos.

 

Quais são as prioridades para o curso nos
próximos tempos?

Resolver
esta articulação entre o 1º e o 2º ciclo, entre o curso antigo e o curso novo,
que me parecem continuar pouco  articulados entre si. Criar uma
continuidade, conquistar horas de trabalho prático, horas de projeto, tentar
simplificar um pouco esta estrutura extremamente complexa que foi criada com a
reforma de Bolonha.

 

Quais os principais desafios desta
licenciatura?

É difícil
responder a isto, mas penso que um dos grandes desafios  seria
facilitar a transição dos recém-formados para o mercado de trabalho. Isto
poderia passar por o próprio curso criar mais estágios para os seus alunos,
criar condições para termos mais centros de investigação, para recebermos mais
bolseiros, por equacionarmos uma maior relação de proximidade entre a
Academia e o mercado de trabalho, por estabelecermos pontes  com a
sociedade civil, com as empresas do tecido económico da região Norte.


Texto: Ana Coimbra

Fotografia: Nuno Gonçalves


(Pub. Jan/2016)

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