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“É uma espécie de iceberg, as pessoas vêm a ponta do iceberg mas não imaginam o tamanho dele abaixo da linha de água…”


Qual a sua formação e trajeto académico?

Sou formada aqui na Universidade do Minho, licenciatura em Relações Internacionais
em 1999 e mestrado em Estudos Europeus. O doutoramento foi obtido em Sciences
Po, Paris.

 

Como caracteriza a sua função de diretora de curso?

É uma função complexa. É uma espécie de iceberg, as pessoas vêm a ponta
do iceberg mas não imaginam o tamanho dele abaixo da linha de água, e é muito
significativo! Eu diria que é um compromisso muito forte, para com os alunos e
para com a Universidade do Minho. Ser diretor de curso sem um mínimo de paixão,
sem alguma emoção, não me parece que seja possível exercer a função de forma
plena.

 

O que a motivou a aceitar “comandar” este curso?

Estes cargos são um pouco rotativos e sendo a pessoa “júnior” do
departamento, logo a seguir ao doutoramento, naturalmente seria eu a diretora
de curso, e foi o que aconteceu. Agora, o que é menos comum é eu já estar no
segundo mandato, já são quatro anos na direção do curso. No início o motivo é
um pouco imperioso, que depois se transforma numa verdadeira missão.
Acompanha-se os alunos, ajudamo-los a progredir e a concretizar os seus
objetivos. No caso específico das Relações Internacionais (RI) tenho a
felicidade de contar com um núcleo de estudantes muito ativo, o CECRI, que foi
o primeiro núcleo de estudantes da Universidade do Minho, o qual deu o mote
para a criação de todos os outros e que tem sido muito dinâmico na organização
de iniciativas e também na promoção das mais-valias da formação em RI.

 

As experiencias anteriores têm-na ajudado no cumprimento da sua função
de diretora de curso?

Com toda a franqueza, o que mais me marca como diretora é aquilo que eu
fui como aluna. Aquilo que não gostei é aquilo que tento não fazer, e aquilo
que gostei é aquilo que tento repetir. Tento colmatar aquilo que não correu tão
bem comigo quando fui aluna e fazer com que os meus alunos não passem pela
mesma coisa. Além disso, existe um desafio constante de acompanhar gerações
novas de formandos num contexto nacional e internacional complexo e nem sempre
dos mais auspiciosos. Nessa dimensão, as minhas experiências no estrangeiro
ajudam-me a perseguir os padrões de qualidade e de referência.

 

Quais são as maiores dificuldades no cumprimento da sua função?

Eu diria a conjugação de muitas responsabilidades e deveres. Como docente universitária de carreira em Portugal, numa universidade pública, é pedido que sejamos bons professores (temos um sistema de avaliação da qualidade muito funcional e pioneiro em Portugal), bons gestores académicos (não só como diretora da licenciatura, sou diretora do mestrado, diretora adjunta do departamento e sou represente da área científica em várias organizações) e também devemos, e é com isso que progredimos na carreira, ser bons investigadores, ou seja, publicar. São três universos que devemos conciliar e esse é o maior desafio. Depois é tudo uma questão de disponibilidade e organização eficiente de tempo. Há outros desafios mas que se vão resolvendo com a experiência, e com certeza toda a dinâmica administrativa e burocrática: são muitos casos, muitas pessoas que precisam de apoio e de soluções, mas tudo se faz. 

No seu entender, porque é que um futuro universitário deve concorrer à Licenciatura
em Relações Internacionais?

Perante os tempos que Portugal atravessa, de crise, desde 2008 (a qual penso
que atualmente parece estar a ser debelada, já não estamos com o pessimismo que
existia há uns anos atrás) que não é uma conjuntura nacional, mas europeia e global,
julgo que a formação em Relações Internacionais é uma mais-valia. Dificilmente
a perspetiva de estudante universitário, em termos de desenvolvimento
profissional dos nossos licenciados, sejam de RI ou de outros cursos, passa por
uma visão exígua nacional. Os alunos, hoje, têm de ter de facto o cuidado de compilar
experiências e procurar algumas fora do país. Penso que a licenciatura em RI é
uma mais-valia neste contexto e o mesmo se aplica a funções dentro do país pois
a vertente internacional é importante em qualquer setor de atividade.

 

Quais são na sua opinião os pontos fortes deste curso? E os pontos
fracos?

Decorrente da minha experiencia como diretora de curso, e como docente
desta casa desde 2001, penso que existe a seguinte particularidade, que não é
um ponto fraco em si. É um curso que é considerado um curso de banda larga, que
dá uma formação transversal. Na verdade, com uma pós graduação ou mestrado, um
aluno de RI pode aprofundar o seu ramo ou redirecionar-se para outras áreas. É
bom nesse sentido pois dá uma flexibilidade. Por outro lado, não é qualquer
indivíduo que joga bem com essa banda larga, por isso, os pontos fracos serão talvez
alguma dificuldade de alguns dos nossos licenciados em apoderarem-se dessa
flexibilidade. Como pontos fortes, posso dizer que é um perfil único, um licenciado em
RI é uma pessoa muito versátil, com uma boa capacidade de encaixe, lida muito
bem com as várias dimensões do poder.

 

O que caracteriza este curso da UMinho relativamente aos cursos de Relações
Internacionais de outras universidades?

É o melhor do país. Não por eu o dizer mas porque é reconhecido pelas
avaliações externas É a área fundadora das RI do país (os outros foram todos
criados posteriormente). É um curso que tem muitos pergaminhos e tem vindo a
confirmá-los por todas as avaliações externas que têm vindo a ser feitas e que
colocam este curso no topo nacional. A procura elevada do curso pelos jovens e
os desígnios profissionais dos nossos licenciados atestam da sua vitalidade e
adaptação ao mundo em que vivemos.

 

Existem hoje em dia excesso de profissionais em determinadas áreas. O que podem esperar os alunos da Licenciatura em Relações Internacionais quanto ao mercado de trabalho?

Penso que os alunos licenciados deste curso e de outros cursos esperam um contexto equivalente, com raras exceções. Os dados da empregabilidade são públicos e a formação em RI apresenta taxas de desemprego na média da maioria dos cursos da UMinho. Note-se a que taxa de desemprego dos licenciados em RI da UMinho tem sido inferior à média nacional dos licenciados da mesma área. Não diria que na área de RI há um excesso de licenciados, apena que existe dificuldade de absorção da parte do mercado de trabalho. No entanto, existe um empenho da instituição em melhorar este panorama, nomeadamente com um reforço das oportunidades de estágios.

Quais são os maiores desafios de um recém-formado da Licenciatura em
Relações Internacionais?

A maior parte dos licenciados em RI, quando acabam o curso e porque a
maior parte são pró-ativos, o maior desafio é escolher a formação seguinte, uma
vez que a licenciatura é uma formação de três anos. Sentem necessidade de se
especializarem e ficam na dúvida se ficam na área ou se vão para outras áreas,
geralmente da EEG. Outro desafio, penso eu, é tentarem uma experiência, um
estágio profissionalizante rapidamente pois é algo muito importante para
acrescentar ao curriculum de um recém-licenciado. Mas penso que nesta questão a
EEG tem sido muito pró-ativa com um programa de estágios e com a possibilidade
de criar protocolos internacionais que faz com que os alunos possam de facto
ter uma experiência de 3 ou 6 meses.

 

Quais são as prioridades para o curso nos próximos tempos?

A prioridade do curso da licenciatura e do mestrado em RI são muito
claras: advêm de dois elementos. O primeiro elemento é o relatório da avaliação
A3ES que foi concluída há cerca de um ano. Um relatório muito positivo e que
tem recomendações que esperamos aplicar numa perspetiva de 5 anos, é o nosso
guião. Não menos importante é o facto do nosso centro de investigação ser
considerado o melhor do país na área, com a avaliação mais alta – o Centro de
Investigação em Ciência Política (CICP). Aqui a ideia é criar sinergias de
forma a que a licenciatura beneficie de toda a investigação, de todas as
dinâmicas que advêm do funcionamento do núcleo. 

 

Quais os principais desafios desta licenciatura?

É com certeza melhorar a profissionalização dos nossos licenciados, a
sua colocação no mercado e continuar o excelente trabalho que tem sido feito.

Texto: Ana Coimbra

Fotografia: Nuno Gonçalves

(Pub. Fev/2016)

 

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