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“Acredito que a Universidade tem de ser completa; assentar a sua afirmação na investigação que produz e no modo como a integra com o ensino que oferece; bem como aberta à sociedade e ao mundo.”



A UMinho fez 42 anos, em poucas palavras como
descreve a história desta Academia e como perspetiva o futuro desta?

Uma
história de grande sucesso, muito marcada pelo desenvolvimento do período democrático
que vivemos desde 1974. Um sucesso na dimensão atingida e nos desempenhos
educacional e científico conseguidos, hoje com grande reconhecimento
internacional. A Universidade tornou-se um exemplo na interação com a
sociedade, nomeadamente com o tecido económico-produtivo, com as cidades que
nos acolhem e outras autarquias da região, bem como na promoção de atividades
culturais e desportivas.

Mais do
que tudo isso, a Universidade do Minho tem sido um fator de esperança e um
grande protagonista da construção de um futuro coletivo, independentemente das
dificuldades com que se foi confrontando ao longo do seu percurso.

 

Nas palavras do Reitor António Cunha, quais
foram os maiores desejos da Academia neste seu 42º aniversário?

A
evolução do ensino superior para um quadro de maior previsibilidade e
responsabilidade, que permita às instituições desenvolverem estratégias
próprias e diferenciadas.

A
normalização da política científica, nomeadamente das práticas e referenciais
de avaliação e financiamento das unidades de investigação por parte da FCT.

 

Como imagina a UMinho daqui a 10 anos?

Uma
Universidade aberta (esta é uma palavra que, cada vez mais, definirá o nosso
posicionamento). Aberta no ensino e no conhecimento que produz,
consubstanciando um espaço multidisciplinar e multicultural cosmopolita e comprometida
com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

Uma Universidade
que seja reconhecia pelas suas marcas identitárias, evidenciadas no perfil dos
seus graduados, em termos de saber, criatividade e ética.

Uma
Universidade que seja reconhecida como um motor do desenvolvimento a partir do
conhecimento.

Enfim? um
polo de atração e criação de talento.

 

Como caracteriza o ano de 2015 para a UMinho?

Um ano
bom para a Universidade.

Apesar
das dificuldades de contexto, a UMinho concluiu um conjunto de importantes
projetos infraestruturais (o Biotério, os edifícios do IB-S em Gualtar e
Azurém, a nova Biblioteca de Azurém, o Arquivo Distrital de Braga e a reabilitação
das fachadas do Largo do Paço) e consolidou o seu processo de
desmaterialização.

As
atividades de ensino, investigação e interação com a sociedade evoluíram
positivamente.

Consumamos
um dos grandes objetivos dos últimos cinco anos – a transformação da
Universidade em fundação pública com regime de direito privado.

 

2015 foi também o ano em que a UMinho viu
alterado o seu estatuto jurídico para Fundação Pública de Direito Privado. O
que espera desta alteração?

Espero a
evolução da Universidade para um quadro de maior autonomia e responsabilização,
o que exigirá uma Instituição mais madura e com processos de decisão estratégica
mais estruturados.

Espero
também uma Universidade com maior flexibilidade operacional na gestão do seu
quotidiano.


Como já se esperava, esta alteração de regime levantou algumas críticas e protestos. O que tem a dizer a estas pessoas?

A pluralidade de opinião é algo intrínseco à Universidade e esta temática pode ser analisada sob diversas perspetivas.

No entanto, muitas das intervenções, que li ou ouvi contra esta transformação parecem resultar de algum desconhecimento do alcance da transição para o novo quadro, de alguma desinformação e de uma natural resistência à mudança. A natureza pública da Universidade e a sua prestação de serviço público não estão em causa. Esta alteração correspondeu à opção por um regime que, na opinião do Conselho Geral e do Reitor, confere à Universidade as melhores condições para o cumprimento da sua missão, no contexto do atual e previsível enquadramento do ensino superior e da investigação em Portugal e no espaço europeu.

Como tenho vindo a dizer, só vejo vantagens nesta evolução, incluindo a existência de um Conselho de Curadores, cuja maioria das suas competências estão, atualmente, no Governo.

 

Face à aprovação deste novo regime, o que já
mudou na Academia e o que vai mudar nos próximos tempos?

Irão
mudar, a muito curto prazo, os processos de contratação de pessoal não docente
e, posteriormente, de pessoal investigador, reduzindo-se significativamente o
nível de precariedade nas respetivas relações de trabalho.

A
Universidade também se libertará de alguns espartilhos burocráticos associados
a compras públicas e à sua gestão financeira e patrimonial.

 

Acha que a UMinho vai ter a autonomia que pretendia
com a passagem a Fundação?

Vai
evoluir para um quadro de maior autonomia e isso é muito positivo.

Vai
evoluir para um quadro de maior responsabilização e isso é essencial para a sua
afirmação.

 

A UMinho tem conseguido construir uma relação
muito estreita com as cidades que a acolhe e com a sua gestão camarária. Como
descreve esta relação e quais têm sido os aspetos mais positivos e mais
visíveis?

Muito
positiva, com importantes parcerias e interações ao nível de várias das agendas
dessas cidades. São exemplos desse comprometimento e das consequentes
interações, os projetos campus de Couros e AvePark, em Guimarães, ou a recuperação
do convento de S. Francisco, Braga. Projetos que podem exigir um grau de
compromisso muito elevado como são os casos da candidatura de Guimarães a
cidade verde europeia ou do desenvolvimento da Startup-Braga e da estratégia de
desenvolvimento económico de Braga.

Mais
importante do que enunciar uma lista de projetos conjuntos é referir a
existência de um elevado nível de cumplicidade com as duas cidades e um
envolvimento natural no planeamento das respetivas estratégias de
desenvolvimento.

 

O que tem a dizer sobre o atual modelo de
financiamento das universidades?

É
insuficiente, inadequado e iníquo.

É
conhecido que as universidades enfrentam uma realidade de subfinanciamento,
evidenciada por análises comparativas com outros países europeus ou com o
ensino secundário, com dotações financeiras anuais inferiores em, pelo menos,
20% ao que seria razoável.

Esse
financiamento deveria ser atribuído plurianualmente ou, pelo menos, respeitar
referenciais plurianuais. Acresce que, sendo a atividade de investigação
intrínseca ao conceito de Universidade, esse financiamento devia acomodar um
investimento basal em investigação.

Por
último, a repartição da dotação entre as instituições de ensino superior devia
ser baseada em critérios transparentes e justos.

 

Atualmente o Estado premeia a Excelência das
Universidades?

Para além
das debilidades referidas anteriormente, não existem mecanismos para premiar o
desempenho académico ou de gestão das Instituições.

Penso que
tais mecanismos deviam existir. No entanto, considerando que existem diferenças
muito significativas nas envolventes das Universidades portuguesas, seria
desejável que fossem baseados em objetivos específicos acordados como o
Governo.


Como está a funcionar o Consórcio UNorte?

De acordo com o esperado.

Há uma articulação efetiva entre a CCDR-Norte e as três universidades na definição das apostas em investigação para a Região e na sua coordenação com políticas nacionais de ciência e de desenvolvimento.

Há um importante conjunto de projetos estratégicos em preparação, em áreas que correspondem aos vetores da estratégia de especialização inteligente da Região, que a realidade do Consórcio permite que sejam elaborados em estreita colaboração com as autoridades regionais e nacionais.

Já estão em concretização projetos entretanto aprovados, nomeadamente nos domínios da modernização administrativa e ação social.

 

Programa Horizonte 2020. Qual o ponto da
situação da UMinho relativamente às candidaturas a este programa?

Muito
positivo.

A UMinho
tem também tido um sucesso crescente no programa Horizonte 2020, sendo
particularmente competitiva nas áreas seguintes: investigação para as pequenas
e médias empresas; nanociências e nanotecnologias; materiais e novas
tecnologias de produção; tecnologias de informação e comunicação; alimentação,
agricultura e pescas; e biotecnologia; bem como nos projetos de acesso aberto a
publicações e dados científicos.

No Horizonte
2020, a UMinho já viu aprovados 28 projetos que representam até ao momento um
volume de financiamento para a Universidade de cerca de 12 milhões de euros.
Temos 3 Bolsas Avançadas do Conselho Europeu de Investigação ? ERC AdG (uma
delas partilhada com uma Instituição Holandesa) e gerimos 4 projetos de grande
dimensão todos com financiamento, para a UMinho, superior a 2.3 milhões de
euros.

Gostaria
de realçar a abrangência de projetos do programa H2020 em que a UMinho está
envolvida. De facto, somos a única universidade portuguesa que coordena
projetos em todas as tipologias do programa Widening; coordenamos 1 TEAMING, 2
TWINNING e 1 ERA-Chairs. A UMinho participa nos dois grandes projetos FET
Flagship (FET Graphene e FET Brain) e tem projetos aprovados no FET ? Future
Emerging Technologies – que financia ideias/projetos disruptivos, tendo
igualmente sucesso na maioria das tipologias de bolsas e redes de treino (ITNs)
das ações Marie Sklodowska-Curie.

 

As candidaturas e estratégias definidas têm
sido apenas conjuntas entre as três universidades do UNorte, ou a UMinho tem
pensadas ou feitas candidaturas independentes?

A
Universidade está empenhada na construção do Consórcio UNorte.pt, mas
continuará a ter uma política autónoma no cumprimento da sua missão e da sua
estratégia. Nesse contexto, tem vindo a apresentar e a preparar diversas
candidaturas a programas regionais, nacionais e europeus.

Certamente
que isso é realizado num quadro de transparência e articulação com os nossos
parceiros.

 

Este novo Governo criou, tal como era proposto
pelas universidades, um ministério autónomo para o ensino superior e a ciência.
Quais as mais-valias destas alterações?

A
existência de um ministério específico para a ciência, a tecnologia e o ensino
superior foi sendo assinalada como essencial pela Universidade do Minho e pelo
Conselho de Reitores.

Esta
realidade confere o necessário peso político a estes importantíssimos setores
da sociedade portuguesa e permite um diálogo mais fácil entre os seus
protagonistas e o Governo.

 

Qual a sua opinião sobre o atual Ministro Manuel
Heitor?

O
Professor Manuel Heitor é um profundo conhecedor da realidade nacional do
ensino superior e da ciência, bem como do seu posicionamento internacional.

 

 Na sua
opinião, as universidades continuam constrangidas no seu trabalho?

Certamente
que sim.

Para além
do subfinanciamento, enfrentam a floresta regulatória da Administração Pública
que não tem em conta a especificidade da instituição universitária, muito
particularmente no que diz respeito à investigação.

As
universidades de regime fundacional têm uma situação mais favorável, mas ainda
com dificuldades.

Importa
evoluir para um quadro de maior autonomia. As universidades estão preparadas
para assumir essa maior autonomia num quadro de total transparência e pública
prestação de contas.

 

Qual o orçamento da UMinho para este ano?

A UMinho
deverá executar em 2016 um orçamento consolidado na ordem dos 135 milhões de
euros, com uma dotação do Estado de 56 milhões de euros, não incluindo o
reforço associado aos aumentos salariais da Administração Pública.

 

O ensino superior continua a ser subfinanciado?
Prevê-se melhorias a este nível para o próximo ano?

Infelizmente,
a dotação para 2016 é a mesma do ano anterior, corrigida dos aumentos de
encargos associados aos salários da Administração Pública.

Esperamos
que, de acordo com o já anunciado pelo Governo, haja um aumento da dotação
financeira para o ensino superior em 2017.

 

A reorganização da rede de instituições de
ensino superior foi algo muito falado. O assunto evoluiu em algum sentido?

Não tem
havido avanços nessa matéria. Acredito na autorregulação e na capacidade que as
instituições terão para encontrar diferentes modelos e geometrias de associação
para responder aos desafios com que estão confrontadas.

Para
isso, é necessário que haja um quadro de referência bem definido, desde logo ao
nível dos objetivos para o sistema de ensino superior, mas também no relativo
ao seu financiamento e exigência de resultados científicos e pedagógicos.

 

A UMinho tem feito vários investimentos a nível
de infraestruturas nos últimos dois anos. Quais foram os mais relevantes e que
outros investimentos estão projetados para a Academia a curto/médio prazo?

Além dos
já referidos, a UMinho está comprometida com a concretização do seu Plano de
Investimentos, que tem vindo a ser elaborado com Conselho Geral e com as
unidades orgânicas, bem como com as autarquias de Braga e Guimarães.

Teremos
importantes investimentos na reabilitação do parque edificado, em novos centros
de investigação, em espaços verdes e infraestruturas sociais, bem como na recuperação
do património histórico adstrito à Universidade.

É um
projeto ambicioso para o qual contamos com a contribuição de fundos
estruturais, parecerias com autarquias e outras entidades, bem como com os
resultados de uma campanha de fundraising que estamos a desenvolver.

 

A UMinho continua a ter alunos a abandonar a
Universidade por falta de condições económicas?

Não tenho
conhecimento da existência de estudantes, com aproveitamento, que tenham
abandonado a Universidade do Minho por falta de condições financeiras.

Certamente
que existem grupos de pessoas com dificuldades, situação a que a Universidade
procura estar atenta e encontrar respostas.

 

A investigação tem sido uma das grandes apostas
da UMinho, mas ultimamente têm-se ouvido alguns protestos da parte dos
investigadores. O que se passa e quais têm sido os problemas nesta área?

Os
investigadores e as unidades de investigação têm vivido tempos de grandes
mudanças a diversos níveis. Para além de toda a entropia causada pelo processo
de avaliação das unidades de investigação FCT, verificaram-se mudanças nas
regras de acesso e elegibilidade da grande maioria dos programas nacionais
europeus.

Se, em
termos globais, a Universidade tem vindo a aumentar significativamente o
financiamento conseguido, também é verdade que os respetivos montantes têm
beneficiado um número mais reduzido de unidades.

Por isso,
várias unidades e investigadores estão confrontados com a necessidade de
encontrarem novas alternativas de financiamento.

 

Quais os números atuais da UMinho no que se
refere aos seus alunos?

A UMinho
tem, atualmente, 18 300 alunos inscritos em cursos dos três ciclos de estudos
do ensino superior, ao que acrescem 1 000 do ensino a distância e cerca de 500 em
cursos não conferentes de grau. Trabalhamos, pois, num universo de cerca de 20 000
estudantes.

 

A UMinho tem apostado na captação de alunos em
várias frentes. Quando preveem chegar aos 20000 alunos?

Praticamente,
já lá estamos. Foi o número que o nosso primeiro Reitor, o Prof Carlos Lloyd
Braga, previu em 1975.

Podemos ser
mais ambiciosos. A meta dos 25 000 estudantes parece-me possível.

 

O ensino à distância tem sido uma das últimas
apostas. Como tem corrido? Qual a situação atual?

Tem
corrido muito bem.

Estamos a
ganhar a aposta nesta nova dimensão da nossa oferta educativa. Estes cursos pretendem
responder à necessidade de atualização de conhecimentos. São objeto de
certificação, tendo como referência o European Credits Transfer System (ECTS), possibilitando,
aos alunos destes cursos, a creditação da formação após admissão a ciclos de
estudos oferecidos pela UMinho.

Estamos a
chegar aos 1 000 estudantes e esperamos um crescimento muito significativo no
futuro próximo.

 

A sustentabilidade foi o tema escolhido na
celebração deste 42º aniversário. Assumida como um compromisso o que tem feito
a Academia neste sentido e que espera realizar no futuro?

A escolha
desta temática resulta do enunciado estratégico da Universidade, bem como de desenvolvimentos
da agenda da ONU neste domínio, nomeadamente a recente Conferência de Paris.

O nosso
compromisso é claro. Desde 2010 que produzimos o relatório institucional de
sustentabilidade, seguindo as recomendações da Global Repport Initiative;
estamos fortemente envolvidos com a Câmara Municipal de Guimarães na candidatura
a Capital Verde Europeia; temos vindo a alargar a nossa oferta de ensino, de
licenciatura, pós-graduação e à distância, em ciências e tecnologias do
ambiente; e fizemos importantes investimentos para reforçar a investigação
neste domínio, nomeadamente com as infraestruturas do Instituto para a Bio-Sustentabilidade
em Gualtar e Azurém.

Acresce
que estamos a iniciar um exercício de redefinição de conceitos e planeamento do
desenvolvimento futuro dos nossos campi e tal será estruturado a partir de um
racional de sustentabilidade, nomeadamente dos Objetivos para o Desenvolvimento
Sustentável das Nações Unidas.

 

Que mensagem gostaria de deixar à Academia?

Uma
mensagem de esperança e de crença no futuro.

Estou convicto
da capacidade da nossa comunidade académica bem como das virtualidades do
modelo de Universidade que consubstancia os nossos documentos estratégicos.

Acredito
que a Universidade tem de ser completa; assentar a sua afirmação na
investigação que produz e no modo como a integra com o ensino que oferece; bem
como aberta à sociedade e ao mundo.

Este é o
projeto que continuaremos a construir com a contribuição de todos.

 

Texto: Ana Coimbra

Fotografia: Nuno Gonçalves

(Pub. Mar/2016)

 

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