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“Este curso é altamente multidisciplinar…”



Qual a
sua formação e trajeto académico?

Sou
graduada desde 1994 na licenciatura em Engenharia Electrónica Industrial, terminei
o mestrado em Engenharia Electrónica Industrial ramo de Automação, Controlo e
robótica em 1996 e o doutoramento em Electrónica Industrial especialidade
Controlo, Automação e robótica conjuntamente com o CNRS/CNRC em Marselha França
em 2003.

 

Como caracteriza
a sua função de diretora de curso?

Uma diretora
de curso deve garantir que todos os assuntos estão bem coordenados no curso e
que toda a informação relevante é disponibilizada e enviada aos alunos. A minha
função consiste em me informar para depois poder corretamente atuar nas devidas
situações. Assim, devo atuar como um elemento unificador e globalizador do
curso, assegurando que o curso se realize como uma unidade orgânica de alunos e
docentes; garantindo a unidade dos objetivos de aprendizagem e dos conteúdos;
promovendo a integração das diferentes dimensões sociocultural, científica e
tecnológica; e providenciar uma interface permanente entre o curso e o mundo do
trabalho.

 

O que a
motivou a aceitar “comandar” este curso?

Sempre me
interessei muito pelos assuntos académicos e cativa-me muito a possibilidade de
poder liderar um curso onde existe tão boa vontade e interesse da parte dos
alunos. Assim, face a este convite nem hesitei e estou muito satisfeita com
esta experiência.

 

As experiencias
anteriores têm-na ajudado no cumprimento da sua função de diretora de curso?

A maior
dificuldade foi exatamente a falta de experiências anteriores a nível de
gestão. Certamente que numa próxima oportunidade estarei muito mais preparada.

 

Quais são
as maiores dificuldades no cumprimento da sua função?

As
maiores dificuldades prendem-se com a falta de tempo. Os directores de curso
têm a sua atividade pedagógica e de investigação e por vezes é quase impossível
compatibilizar tudo. Especialmente se não tiverem apoio administrativo, como
secretariado. Contudo, temos o apoio dos delegados e dos coordenadores que são incansáveis,
o que faz com que tudo corra da melhor forma.

 

No seu
entender, porque é que um futuro universitário deve concorrer ao Mestrado
Integrado em Engenharia Biomédica?

Ao Mestrado
Integrado em Engenharia Biomédica deve concorrer um futuro universitário que
goste das áreas de engenharia e de medicina. Mais tarde poderá ainda refinar a
sua especialização dependendo das áreas com as quais melhor se identifique. O
curso potencia a interligação entre a medicina e a engenharia, possibilitando a
aprendizagem e desenvolvimento de ferramentas para apoio à medicina. A medicina
hoje apresenta-se também uma encruzilhada de tecnologias, e é necessário uma
interligação entre as diferentes escolas, nomeadamente as médicas e as de engenharia.
Assim, são necessários profissionais não médicos de competências variadas. E é nesta
comunidade que se insere este curso.

 

Quais são,
na sua opinião os pontos fortes deste curso? E os pontos fracos?

Este
curso é altamente multidisciplinar e os três primeiros anos são transversais e
varrem uma série de disciplinas com o mesmo nível de profundidade. Esta
multidisciplinaridade é, na minha perspetiva, um dos pontos mais fortes do
curso. Estes profissionais quando terminam o seu curso exibem conhecimentos em
muitas áreas e como tal podem encontrar emprego numa grande diversidade de
áreas. Muitas vezes esta multidisciplinaridade é apontada pelos alunos como um ponto
fraco. Sentem que sabem muito de muita coisa, mas em profundidade não dominam
nenhuma área. Contudo, um engenheiro biomédico deverá ser capaz de aplicar princípios
de diversas engenharias (tais como elétrica, mecânica, química, ótica, etc.)
para diferentes funções. Portanto, esta multidisciplinaridade é necessária para
que possam executar correctamente a sua função. Mais tarde, eles apercebem-se
dessa mais valia.

Um outro
ponto forte é que estes engenheiros biomédicos são formados com elevada
versatilidade e sólida experiência científica. Se os três primeiros anos são
altamente multidisciplinares e transversais, nos dois últimos anos os alunos
especializam-se numa determinada área dentro da Engenharia biomédica. Para tal,
os alunos no final do 3º ano necessitam escolher um perfil vocacional entre
quatro ramos disponíveis. A Engenharia Clínica aprofunda tópicos como o
desenvolvimento de boas práticas e procedimentos para controlo das infecções nosocomiais,
as tecnologias de tratamentos de efluentes e a gestão dos serviços. Também a
gestão hospitalar é endereçada neste ramo. A Eletrónica Médica dedica-se à
formação de engenheiros destinados ao estudo e investigação em robótica e instrumentação
médica, direcionada ao projeto e aplicação prática de equipamentos e sistemas
biomédicos. A qualidade dos cuidados de saúde desenvolve-se numa relação
directa com a qualidade dos sistemas de gestão da informação, o tema do ramo Informática
Médica. Os Biomateriais, Reabilitação e Biomecânica visam o estudo da
biomecânica, a estrutura e as propriedades dos tecidos e fluidos no sentido de
projectar equipamentos e dispositivos médicos.

 

O que
caracteriza este curso da UMinho, relativamente aos cursos do Mestrado
Integrado em Engenharia Biomédica de outras universidades?

Este
curso visa desde o início a formação de Engenheiros Biomédicos com elevada versatilidade
e sólida experiência científica. É de salientar a elevada relação entre o curso
e o tecido empresarial, assim como com as diversas parcerias internacionais que
o curso beneficia: no âmbito do programa Erasmus, por exemplo com CSIC Madrid, RWTH
Aachen, Katholieke Universiteit Leuven, University of Milano, University of
Twente, University of Groningen, etc; no âmbito de projectos de doutoramento,
por exemplo com o Massachusetts Institute of Technology (e.g. Spectroscopy
Laboratory in the Laser Biomedical Research Center), Center for Biomedical
Imaging at Harvard Medical School and Massachusetts General Hospital, Johns
Hopkins University, Baltimore, USA, ISR Paris; O Instituto Europeu de
Excelência em Engenharia de Tecidos e Medicina Regenerativa, coordenado pelo grupo
de investigação 3B´s, compreende diferentes instituições europeias, e a sua
sede está centrada no AvePark, Taipas, onde alunos do MIEBIOM têm oportunidade
de desenvolver os seus projectos de Dissertação em ambiente internacional.

 

Existem
hoje em dia excesso de profissionais em determinadas áreas. O que podem esperar
os alunos do Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica quanto ao mercado de
trabalho?

O
mestrado Integrado em Engenharia Biomédica assume a missão de contribuir para a
formação de quadros com perfil técnico exigido pelo sistema Nacional de Saúde,
nas suas diversas vertentes de especialidade. Existe, de facto, a necessidade
de técnicos que permitam a implementação de boas práticas, ao nível da gestão, da
qualidade e da introdução de novas tecnologias no setor da saúde. À semelhança
do que se passa noutros países desenvolvidos, os Engenheiros Biomédicos têm um
relevante papel a desempenhar nas unidades de saúde, dotando-as de massa
crítica em áreas de especialidade que extrapolam o perfil vocacional dos
profissionais de saúde. Deste modo, a Universidade do Minho assume a sua missão
de corresponder às necessidades da comunidade formando técnicos com perfil
relevante para o mercado de trabalho.

Outro dos
vetores essenciais da atuação da Universidade do Minho – a Investigação –
encontra no MIEBIOM um impulso significativo. As Dissertações de Mestrado
produzidas, numerosas e de elevada qualidade (cerca de 60 anualmente),
representam um importante contributo para o desenvolvimento do conhecimento na
área, que se traduz em publicações, desenvolvimento de novos produtos,
tecnologias e novas empresas. Destas dissertações têm resultados produtos
inovadores e de elevada qualidade em todos os ramos, que têm conseguido marcar
posição e conquistar o seu espaço de trabalho. Estes alunos costumam deixar uma
excelente imagem por todos os lugares que passam.

O
relacionamento com o tecido empresarial e setor público acontece através de
colaborações estabelecidas nomeadamente pelos docentes. Neste âmbito, algumas
das teses de mestrados são elaboradas nestes locais em colaboração com a
universidade. Além disso é de referir também alguns contactos que acontecem
através da ligação dos Engenheiros que frequentaram o Curso e que se encontram
agora a desempenhar funções em diversas empresas. Existe um número
significativo de Hospitais e empresas, bem como outras Universidades, que
participaram ou acolheram alunos do MIEBIOM para o desenvolvimento de tarefas relacionadas
com a UC Dissertação: Hospital de Braga, Centro Hospitalar do Porto, Casa de
Saúde de Guimarães, IBERDATA, INEB, etc. Alguns destes locais são também focos
de visita pelos alunos durante o mestrado (BIAL, Instituto Português do Sangue,
etc.), bem como em algumas palestras que se realizam no âmbito das jornadas em
Engenharia Biomédica, organizadas pelos estudantes.

 

Quais são
os maiores desafios de um recém-formado do Mestrado Integrado em Engenharia
Biomédica?

É
necessário que um recém-formado do Mestrado Integrado em Engenharia Biomédica
consiga endereçar os diferentes desafios com os quais é enfrentado quando
começa a trabalhar. Estes engenheiros necessitam de abrir caminho e continuar a
mostrar o impacto significativo que eles têm no desenvolvimento económico
através das suas atividades científicas e tecnológicas. Nos últimos anos têm-se
verificado algumas dificuldades económicas que dificultam muitas vezes este
percurso.

 

Quais são
as prioridades do curso nos próximos tempos?

Este
curso, dada a elevada inter-relação com a medicina necessita de estar sempre a
acompanhar a evolução tecnológica, que, como sabemos, evolui muito rapidamente.
Assim os docentes envolvidos necessitam de estar sempre atualizados para lecionarem
as matérias relevantes e necessárias para acompanhar esta evolução. Por outro
lado, é necessário manter e estabelecer novos contactos e parcerias com o
tecido empresarial. Este contacto é também estabelecido através dos novos
engenheiros que todos os anos terminam e se empregam nas mais diversificadas
empresas nacionais e internacionais.

 

Quais os
principais desafios do Curso?

Os
principais desafios do curso consistem em manter esta relação com o tecido
empresarial e Hospitais para que se fomente a necessidade e prática destes
engenheiros. Por outro lado, é necessário continuar a atrair bons candidatos,
alunos empenhados e dedicados que consigam continuar a produzir os excelentes
resultados dos seus antecessores e a levar o curso a atingir as metas que nos
propomos. 


Texto: Ana Coimbra

Fotografia: Nuno Gonçalves


(Pub. Jan/2017)


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