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“É uma das áreas onde a procura excede largamente a oferta”


 

Qual a
sua formação e trajeto académico?

Academicamente
falando, sou totalmente made in Universidade do Minho. O que considero, digo
já, uma mais valia. Fiz todo o meu trajeto académico por aqui, desde
Licenciatura em Engenharia de Sistemas e Informática, Mestrado em Informática (Sistemas
Distribuídos, Comunicações e Arquitetura de computadores) depois e Doutoramento
em Informática, também na área de Comunicações por Computador. Fiz estágio de
licenciatura com o Professor Joaquim Macedo, agora meu colega e amigo. Na
sequência desse estágio publicámos o primeiro artigo juntos. Depois entrei para
a carreira docente e fui orientado no mestrado e doutoramento pelo Professor
Vasco Luís Barbosa de Freitas (já aposentado), o fundador do nosso Grupo de
Comunicações e Redes no Departamento de Informática, que teve um papel pioneiro
decisivo na criação da infraestrutura de rede académica do nosso país e
consequentemente da Internet em Portugal, juntamente com o Professor Alexandre Santos
(nosso atual chefe de grupo).

 

Como caracteriza
a sua função de diretor de curso?

Assim
muito rapidamente? Deveras exigente. É um curso relativamente pequeno, quando
comparado com outros desta casa, e ainda assim exige muito tempo e muita
dedicação. Imagino como serão os outros! O facto de ser um curso com três
Departamento específicos (Eletrónica Industrial, Sistemas de Informação e
Informática) também complica um bocado as coisas porque obriga a um maior
esforço. Mas é também uma enorme mais valia. O curso é talvez neste momento dos
poucos que se mantém fiel ao modelo matricial que desde sempre foi defendido
nesta Universidade. Não um departamento por curso, mas um curso com o melhor
dos vários departamentos. Sem duplicação de recursos. Felizmente tenho mais
dois docentes na comissão diretiva, a Professora Maria João Nicolau (do DSI) e
o Professor José Manuel Cabral (do DEI), que me ajudam muito na articulação
entre departamentos e mesmo nas tarefas de gestão do dia a dia do curso. E que
me emprestam toda a sua experiência como ex-diretores deste curso. Estamos
bastante sintonizados nas decisões que tomamos, o que é ótimo! Seria muito mais
difícil se assim não fosse. Mas tem de se gostar muito do que se faz, para não
desesperar com as burocracias, a papelada, os sistemas de informação que é
preciso alimentar e manter atualizados, etc. E como eles são famintos e
gulosos! Não nos dão descanso. Faz lembrar os tamagotchis, para quem sabe o que
isso era
J. Tenho a sensação que por vezes não consigo
fazer tudo em condições e a tempo e horas e isso gera-me ansiedade. Depois
sobra pouco tempo para efetivamente ouvir os alunos que era onde eu acho que
devíamos gastar mais tempo. Preferia estar muito mais com eles do que com os
sistemas informáticos. Por mais que goste de sistemas informáticos.

 

O que o
motivou a aceitar “comandar” este curso?

Há várias
motivações, de que já vou falar de seguida, mas aquela que eu acho mais
determinante é que eu gosto realmente deste curso. Gosto de pensar que seria a
minha escolha, se pudesse ser novamente caloiro. Salvaguardadas as devidas
distâncias temporais, parece-se aos meus olhos com a LESI dos meus tempos. Claro
que estou a ser faccioso, porque este curso é o que está mais próximo das
minhas áreas preferidas e quiçá do meu percurso académico. Mas há outras
motivações. Vi nascer este curso do zero dentro da Universidade. De parto algo difícil
(há algum que não seja?). Braga ou Guimarães? Telecomunicações ou só
Comunicações? Mais informática ou mais eletrónica? Vi a sua infância como
Licenciatura de Comunicações entre 2002/03 e 2006/07. Vi-o ajustar-se a
Mestrado Integrado com os acordos de Bolonha (2006/07). Vi-o mudar de nome para
Engenharia de Telecomunicações e Informática em 2014/15, reformular-se e
ajustar-se ao futuro. Não tive praticamente papel nenhum em quase nenhuma
dessas etapas e no entanto imagino-me como parte integrante de todas elas.
Depois há a questão, para mim fundamental, de ser um curso com valências em
várias áreas. Um engenheiro de telecomunicações de hoje em dia tem de ter uma
bagagem que não é fácil de conseguir. Interdisciplinar. E, no entanto, estamos
num mundo de hiperespecializados. É mais fácil uma formação vertical bem
estreita que uma de banda larga. Mas será possível ser bom engenheiro, seja em
que área for, sem que se doseie muito bem a abrangência de umas boas bases com
a uma boa especialização?

 

As experiencias
anteriores têm-no ajudado no cumprimento da sua função de diretor de curso?

Nunca se
está verdadeiramente preparado para nada. Ter muitos anos de docente e muitos
anos da casa ajuda sempre. Ter estado noutras comissões diretivas, também ajuda
bastante.
 

 

Quais são
as maiores dificuldades no cumprimento da sua função?

A maior
dificuldade é conseguir estar próximo dos alunos. Ouvi-los e motivá-los. Mas se
calhar isso é mesmo utópico. Recebemos os caloiros é certo, e isso é sempre um
momento de orgulho, mas depois mal os conseguimos ver, e muito menos falar com
eles. Estou mais próximo dos últimos anos e do NEECUM (Núcleo de Estudantes de
Engenharia de Telecomunicações e Informática), porque sou docente deles, e
porque há mais interações com o diretor de curso nos últimos anos por causa das
disciplinas opcionais e das dissertações. Claro que podia convocar reuniões ou
ir às salas, mas o curso é exigente, e estamos todos demasiado ocupados para
falarmos. E as conversas também não se fazem com hora marcada. Outra
dificuldade é motivar os docentes a encarar este curso do mesmo modo que encaram
os cursos mais próximos dos seus departamentos! Esta é a parte mais negativa do
modelo matricial. Alguns chegam ao ponto de passar o tempo com comparações. Os
de “Eletrónica/Sistemas de Informação/Informática” 
(riscar conforme o caso) é
que isto, mas vocês aquilo. Isto quando não aconselham mesmo os alunos a mudar
de curso. É um bocado desgastante. E no mínimo inapropriado. A esses o que me
apetecia mesmo era poder compará-los também com os outros docentes que encaram
cada aula e cada turma como se fosse a primeira. E que felizmente ainda são
bastantes. E poder dizer-lhes que fiquem lá onde tanto gostam de estar.

No seu
entender, porque é que um futuro universitário deve concorrer ao Mestrado
Integrado em Engenharia de Telecomunicações e Informática?

Bem,
penso que este é um daqueles cursos que não precisam de grande publicidade. O
nome diz praticamente tudo e desta vez, finalmente, sem espaço para equívocos! Quem
gosta das tecnologias de informação e afins, sabe bem. E quem não gosta também
sabe. Acrescento que tem desemprego zero! É uma das áreas onde a procura excede
largamente a oferta. Sabemos bem como as telecomunicações são indispensáveis hoje
em dia no nosso dia a dia. E há um exército de engenheiros que garantem que
podemos estar sempre conectados, estejamos onde estivermos, com as mais
diversas aplicações. Uma parte considerável deles são Engenheiros de
Telecomunicações e Informática. Que especificam, operam e fazem manutenção de
infraestruturas de telecomunicações. Que desenvolvem e operam serviços sobre
essas infraestruturas. Que gerem as redes de computadores. Que criam e
disponibilizam novos conteúdos e novas aplicações. Que desenvolvem novos
sistemas de comunicações.

 

Quais são,
na sua opinião os pontos fortes deste curso? E os pontos fracos?

Bom aqui
se calhar tenho tanto que dizer que não vou dizer nem metade!
J
Destaco o essencial. É um curso de largo espectro que oferece formação
abrangente integrando os domínios da eletrónica e da informática. Prepara
especialistas multifacetados na área das tecnologias, com suporte específico de
três departamentos, no cruzamento das áreas de eletrónica e informática. É um
curso com uma forte componente laboratorial e que ainda funciona com turmas
relativamente pequenas. Dá bem para aprender coisas quando se quer aprender.
Com desemprego zero. Os pontos fracos são o reverso da medalha dos pontos
fortes. Por ser abrangente tem dificuldade acrescida. Não é fácil para um aluno
gostar ou ser afim a todas as matérias e/ou áreas. Há por isso abandonos e
mudanças de curso. Sobretudo quando não é a primeira escolha. E já era bem
altura de investir em novos equipamentos, novos laboratórios e mesmo nas salas
normais do complexo de Azurém. Cujas carências são tão evidentes que nem
preciso enumerar aqui!

 

O que
caracteriza este curso da UMinho, relativamente aos cursos do Mestrado
Integrado em Engenharia de Telecomunicações e Informática de outras
universidades?

Durante a
última avaliação externa do curso, feita pela entidade A3ES, fizemos um
trabalho mais ou menos exaustivo de análise da oferta em Portugal nesta área. E
fizemos comparações. Claro. Foi-nos recomendado que ajustássemos o nome do
curso e queríamos fazê-lo como deve ser. Há basicamente duas variantes deste
curso no nosso país. Telecomunicações e Informática e Eletrónica e
Telecomunicações. De acordo com o plano curricular e alguma predominância da
informática no currículo, também pelo historial de excelência reconhecido à
Universidade do Minho na área de informática, e porque há dois departamentos na
área de informática e sistemas de informação nos departamentos específicos do
curso, pareceu-nos natural e lógico a primeira designação. Isso não quer dizer
que não tenha eletrónica! Tem sim e em força. Não aparecer no nome não
significa nada. Tem, e é assegurada pelo Departamento de Eletrónica Industrial
que tem também um Mestrado Integrado de Eletrónica de grande prestígio a seu
cargo! E que asseguram também as cadeiras mais nucleares de telecomunicações,
como a Codificação, Transmissão, Sistemas de Telecomunicações, Propagação e
Antenas. Estamos, pois, bastante tranquilos na comparação com o que de melhor
se faz na área em Portugal.

 

Existem
hoje em dia excesso de profissionais em determinadas áreas. O que podem esperar
os alunos do Mestrado Integrado em Engenharia de Telecomunicações e Informática
quanto ao mercado de trabalho?

Aqui a
resposta é fácil. Não aplicável. Not applicable, em estrangeiro
J
Não temos preocupações a esse nível. Um aluno de MIETI pode estar preocupado
com o que realmente quer fazer na vida, se é esta a sua vocação, se era isto
que sonhava, se se imagina a fazer isto ao longo dos muitos anos de vida
profissional, como todos os jovens da mesma idade. Mas nessas preocupações não
entra o mercado de trabalho.

 

Quais são
os maiores desafios de um recém-formado do Mestrado Integrado em Engenharia de
Telecomunicações e Informática?

Distinguir
os empregadores oportunistas que exploram contratos de estágio financiados sem nenhumas
perspetivas de futuro, dos bons empregadores. Identificar as propostas que mais
os desafiem como engenheiros e como pessoas. Encontrar a sua própria área
dentro da área. Manter-se atualizado, sempre, ao longo da vida. Que é muito
difícil.

 

Quais são
as prioridades do curso nos próximos tempos?

A
prioridade nos próximos tempos é essencialmente a estabilidade! Vivemos duas
reformulações nos últimos anos, a última das quais na sequência de uma avaliação
muito positiva da A3ES, precisamos apenas de estabilidade nos próximos tempos.
Deixar amadurecer os novos alinhamentos de conteúdos, melhorar a procura essencialmente
nas primeiras escolhas dos alunos, motivar o corpo docente e discente, envolver
e comprometer mais e de forma mais assertiva todos os departamentos, sobretudo
os três departamentos específicos do curso, mostrar à envolvente o que é o
curso e a sua importância no portfólio de cursos da Escola de Engenharia e da
Universidade do Minho, aumentar o número de publicações resultantes de
trabalhos das dissertações.

 

Quais os
principais desafios do Curso?

Apoiar-se
e rejuvenescer-se em permanência na investigação de qualidade que se faz na
casa. Nunca se deixar cair no esquecimento por parte da instituição que o criou,
ou sequer deixar que se instale a ideia que é apenas mais um a compor o
ramalhete da Escola ou dos Departamentos. É um curso pequeno é certo, mas extremamente
importante para o futuro da região e do país e consequentemente para a
Universidade do Minho.
 


Texto: Ana Coimbra

Fotografia: Nuno Gonçalves


(Pub. Fev/2017)

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