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PERCURSOS…

PERCURSOS…

Luís Nuno Bravo nasceu em Moçambique há 52 anos. Desempenha funções nos Serviços de Acção Social (SASUM) há 25 anos, onde integra o Departamento Contabilístico e Financeiro (DCF), uma equipa com cerca de 20 trabalhadores.

Luís Bravo é casado e pai de duas filhas, de 17 e 13 anos. Veio para Portugal com dois anos, em 1974, atualmente reside em Lamaçães. Nesta entrevista, o trabalhador, adstrito ao DCF, fala-nos do seu percurso de vida e experiência profissional, conta como é vivido o dia a dia, expondo que gostava de experimentar fazer algo de diferente.

Como chegou aos SASUM e qual o seu percurso profissional?

Quando viemos de Moçambique, fomos viver um ano para Castelo Branco e depois viemos para Braga. No final da escola obrigatória não quis estudar mais e fui trabalhar com o meu pai, entretanto, tirei o 12.º ano. Depois de uns anos tomei a decisão de querer mudar de trabalho. Por intermédio da mãe de uma colega, soube da oportunidade aqui nos SASUM, uma vaga que tinha surgido no armazém, que na altura estava ainda localizado em S. Tecla. Concorri e fiquei. Entretanto, o armazém passou aqui para o campus de Gualtar, onde estou até hoje.

Há quantos anos está nos Serviços e quais são, atualmente, as suas funções?

Estou nos Serviços desde 2 de novembro de 1999, vai fazer agora 25 anos. Estando afeto à Divisão de Aprovisionamento e Gestão de Stocks do DCF, as minhas funções incluem a distribuição de produtos e correio a todas as unidades dos SASUM no campus de Gualtar, S. Tecla e Congregados. As encomendas/ pedidos chegam ao armazém, processado o pedido, é feita o guia de transporte e faço a entrega no local de destino.

Gosta do que faz?

Gosto. Apesar de tudo, depois de tantos anos, gostava de experimentar fazer algo de diferente. É uma função que me permite não estar fixo num lugar, permite-me alguma dinâmica, ando por vários locais e interajo com muitas pessoas, claro que há dias que tenho de apanhar chuva ou sol, o normal para quem transporta produtos de um lado para o outro. Apesar de gostar, já se torna um pouco repetitivo, desde que entrei para os SASUM faço sempre o mesmo, de longe a longe faço uma ou outra coisa diferente, mas por norma é sempre igual. Ainda recentemente saiu uma colega e passei a fazer algumas das funções dela, neste caso, passei a fazer guias de transporte que me acompanham na distribuição dos produtos. Gosto do que faço, mas gostava e até já tentei mudar de setor/serviço, mas não chegou a acontecer.

O que mais o motiva e quais as maiores dificuldades, no dia a dia, no desenvolvimento do seu trabalho?

Não tenho propriamente dificuldades em fazer o meu trabalho, já estou muito habituado. Apesar disso, o peso de algumas mercadorias é bastante prejudicial para a coluna. Já sugeri que deveriam ser duas pessoas a fazer este serviço, até para bem dos SASUM, que na minha falta teriam sempre alguém que saberia exatamente o que fazer.

Como caracteriza o trabalho feito no Departamento Contabilístico e Financeiro, em particular na sua área, na Divisão de Aprovisionamento e Gestão de Stocks?

A nossa Divisão tem como função a gestão económica e eficiente das mercadorias, sendo o objetivo principal, fornecer às unidades dos SASUM os bens necessários ao seu funcionamento, para que consigam prestar um bom serviço e para que nada falte aos alunos e restante comunidade académica.

É fácil conciliar a vida profissional com a vida familiar?

Sim, nunca tive problemas. Criamos rotinas de forma a que seja fácil conciliar as duas vertentes, é tudo uma questão de organização. A minha estratégia é tentar não levar os problemas profissionais para casa, mas nem sempre consigo!

Quais são as melhores e as piores memórias que tem do seu trajeto nos SASUM?

As melhores memórias, foi o facto de a minha vinda me ter permitido alargar horizontes. O facto de estar num ambiente universitário, de estar sempre a conhecer pessoas novas, travar conhecimentos, é algo que recordo como positivo. A melhor memória de todas, foi o facto de ter conhecido a minha mulher nos jogos de matraquilhos na Residência de S. Tecla, na altura que funcionava lá o armazém. No intervalo para almoço e no final da tarde havia sempre jogos de matraquilhos, os dois gostávamos de participar e foi nessa altura que nos conhecemos… momentos que mudaram a minha vida para sempre.

Como olha para o futuro?

Olho o futuro com bastante otimismo.

Curiosidades 

O que o marcou?

O nascimento das minhas filhas.

Ainda tem um grande sonho?

Fazer uma viagem pelos Estados Unidos da América.

Uma música e/ou um músico?

Gosto de música portuguesa em geral, particularmente sou um grande fã dos Xutos.

O que gosta de fazer nos tempos livres? 

Jogar ténis. Sou sócio do Clube de Ténis de Braga, jogo desde os 5 anos.

Vício?

Colecionar merchandising (pins, fitas, etc.) e carrinhos de coleção (modelismo).

Um lugar?

Esposende e Mira.

A Universidade do Minho?

O meu local de trabalho, uma segunda casa.

 

Texto: Ana Marques

Foto: Nuno Gonçalves

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Entrevista ao presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Domingos Bragança 

Entrevista ao presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Domingos Bragança

Domingos Bragança é presidente da Câmara Municipal de Guimarães desde 2013, completando neste ano de 2024, 11 anos como responsável máximo da autarquia Vimaranense.

A pouco mais de um ano do final do seu último mandato (termina em 2025) e a pretexto da construção da residência universitária a partir das instalações da antiga Escola de Santa Luzia, o UMdicas foi conversar com o presidente da muitas vezes designada como “Cidade Berço”, uma longa entrevista, durante a qual foi feito um balanço do caminho traçado até aqui e do trabalho executado, dos projetos realizados e das dificuldades encontradas, dos sucessos e das coisas menos boas que aconteceram, da UMinho e do futuro da cidade e das suas gentes, entre muitos outros assuntos.

Assumiu funções como Presidente da Câmara Municipal de Guimarães em 2013. Que balanço faz do trabalho que a sua equipa realizou durante estes quase 11 anos de governação distribuídos por três mandatos?  

Quando assumi as funções de Presidente da Câmara Municipal de Guimarães, em 2013, propus um projeto coletivo, sustentado em diferentes temas estruturantes, todos eles importantes. O objetivo foi o de definir um rumo para o futuro que pudesse envolver todos os cidadãos, reforçando a identidade e o espírito vimaranenses, e que considerasse a totalidade do território, ou seja, a cidade e todas as vilas e freguesias. De certa forma, preparei a nossa equipa para poder “Continuar Guimarães”, sem descurar a visão que preconizava, e preconizo, para o desenvolvimento da nossa comunidade. 

Em 2017, renovei esse compromisso, centrando-o nas preocupações das pessoas, para que elas estivessem no centro da governação. Em 2021, propus-me solidificar o desenvolvimento de Guimarães através de três dimensões nucleares (Educação, Cultura e Ciência) e dois objetivos maiores (Coesão Territorial e Sustentabilidade Ambiental).  

Passados estes 11 anos, vejo Guimarães como um território mais criativo, inovador, competitivo, digital e ambientalmente mais sustentável. Um território mais inclusivo, integrador, capacitado, coeso e tolerante. Um território com um tecido económico mais ético, ecológico e com responsabilidade social. Um território educador, cultural e de ciência, que democratiza o conhecimento e que faz emergir o que de melhor existe em cada um de nós. Que promove a aproximação e a participação dos seus cidadãos na construção de uma boa sociedade, na base da ética, do deslumbramento da vida e da melhor compreensão do mundo e da nossa humanidade, e do sentimento de compaixão, do cuidar do outro, que a sabedoria nos inspira. Um território de formação e produção cultural, de Património Cultural da Humanidade e de fatores distintivos como os da investigação tecnológica, inovação e criatividade. 

Quais as marcas que acredita que vai deixar como responsável máximo da autarquia Vimaranense?  

Deixar marcas pessoais em Guimarães não é propriamente um dos meus objetivos, mesmo sabendo que isso é quase inevitável, e que as pessoas acabam por associar um determinado legado a quem se preocupou em construí-lo. Bastar-me-á saber que a nossa cidade e o nosso concelho são reconhecidos como um território onde se vive bem, com qualidade de vida e bem-estar, como um território que se preocupa com os valores ecológicos e com os valores humanistas da solidariedade, e como um território que acredita no potencial dos seus cidadãos para construir uma comunidade que saiba, a todo o momento, desenvolver-se com base no empoderamento proporcionado pelo conhecimento e pela cultura. 

Mas as marcas que mais ouço serem referidas pelos vimaranenses são as do desenvolvimento ambientalmente sustentável, da Ciência e da coesão social do território. 

11 anos, muitos projetos e muitas decisões. Quais os que destacaria como mais emblemáticos? 

Independentemente dos projetos e das decisões tomadas, e da importância de cada um deles, o que eu gostaria de destacar como fundamental dos meus mandatos tem mais a ver com a forma como tentamos alcançar os objetivos. Dou como exemplo o Ecossistema de Governança Guimarães 2030, rumo à sustentabilidade ambiental, que tem permitido a construção de pontes entre a academia, os cidadãos e os decisores políticos. Esta é uma abordagem que pode ser implementada com êxito nas cidades e contribuir para melhorar as políticas locais, reforçando o papel das cidades como aceleradoras de uma transformação liderada pela comunidade através do estabelecimento de processos multidisciplinares e participativos. É esta participação da comunidade que, sempre que possível, privilegiamos. Não por acaso, criámos vários conselhos consultivos, em diversas áreas da vida em sociedade, pois queremos que o futuro de Guimarães seja um processo coletivo, do qual todos possam fazer parte. 

Contudo, permitam-me destacar as candidaturas da zona de Couros a Património Mundial e de Guimarães a Capital Verde Europeia, pela forma como ambas abriram novos horizontes para todos nós e para o nosso território. 

No apartado das obras, não pelo valor do investimento, mas pelo impacto comunitário causado, quero destacar as Bacias de Retenção de Água, o Largo de Donães, o Parque de Camões e a Centralidade da Vila das Taipas, por serem intervenções do espaço público muito discutidas e obviamente muito importantes. 

Do seu ponto de vista, qual foi a decisão mais difícil e qual foi a melhor decisão que tomou no exercício destas funções? 

As decisões mais difíceis foram as tomadas durante a crise pandémica de COVID-19. Essas decisões, que fomos obrigados a tomar, desenharam um quadro de grande isolamento social, num tempo muito difícil e de grande incerteza. 

As melhores decisões relacionam-se com o investimento na Ciência: Teatro Jordão para o Conservatório de Guimarães e para os cursos de Teatro e Artes Visuais da UMinho; Instituto Cidade de Guimarães e Residências para estudantes e investigadores no Avepark; Casa da Quinta do Costeado para a Escola Hotel do IPCA; Fábrica do Arquinho para a licenciatura e mestrado em Engenharia Aeroespacial, da Escola de Engenharia da UMinho, e para a Fibrenamics.   

Em setembro/outubro de 2025 “deixará” a Guimarães que projetou? Que projetos gostaria de ter deixado concretizados e que não conseguiu? 

Gostaria de ter deixado construída a via do Avepark, que, por razões alheias ao querer da Câmara, ainda não avançou. Trata-se de uma obra estratégica para a mobilidade de Guimarães, fundamental para o desenvolvimento do parque de Ciência e Tecnologia, que constituirá uma variante à zona norte do concelho e permitirá ocupar a EN 101, de Fermentões às Taipas, com um tramo dedicado ao MetroBus, para a ligação a Braga e à alta velocidade. 

Outro projeto que poderá ser iniciado ainda no meu mandato, mas que certamente terá frutos mais para o futuro, é o da “Fábrica do Futuro”. Este é um projeto enquadrado na especialização Inteligente da Região Norte, liderado pela Universidade do Minho, e que conta com todo o nosso empenho e participação. 

O novo Campus da Justiça de Guimarães, projeto em que coloquei tanta diligência, mas que se atrasou por diversos motivos, é também algo que ansiava ver concretizado nos meus mandatos. Espero, no próximo ano, ver ser lançado o concurso para a sua construção.

Deixar uma marca ambiental foi uma das “bandeiras” deste executivo. Em que sentido isto foi conseguido e o que espera da nova candidatura de Guimarães a capital verde europeia? 

Quando, por volta de 2014, começámos a delinear um futuro ambientalmente sustentável, tivemos como objetivo a candidatura ao título de Capital Verde Europeia. Sabíamos que sem um objetivo concreto, dificilmente nos balizávamos devidamente para seguir um rumo com critérios científicos. Mas, sempre dissemos que o caminho a percorrer era mais importante do que o título. E esse caminho tem vindo a ser trilhado com sucesso.

Na primeira candidatura, não conseguimos passar à segunda fase, mas, em contrapartida, ficámos munidos de um conjunto de indicadores ambientais que nos permitiram efetuar um trabalho focado em objetivos bem específicos, embora sabendo que alguns desses défices possuem barreiras que impõem alguma dificuldade. Dou como exemplo dessas dificuldades o facto de Guimarães ser um território predominantemente industrial, o que coloca desafios acrescidos. Impulsionámos a criação de Brigadas Verdes, uma das grandes conquistas deste percurso, envolvendo os cidadãos, incutindo-lhes responsabilidade no processo, e fazendo-lhes ver quão importantes são para o sucesso de um território cada vez mais saudável e ambientalmente sustentável.  

Na segunda candidatura, fomos umas das três cidades finalistas, em Tallin, na Estónia, e, embora não tenhamos ganhado, recebemos vastos elogios do júri, com destaque, precisamente, para o envolvimento da comunidade. A impressão que causámos e a sensação que sentimos de termos estado bem perto de vencer o título de Capital Verde Europeia 2025, fez-me, na própria noite da cerimónia do prémio, comunicar a toda a equipa que avançaríamos para uma nova candidatura no ano seguinte.  

E nesta última candidatura, conseguimos estar novamente nas três cidades finalistas. Temos agora uma grande expectativa, alicerçada na certeza, validada pelos especialistas europeus da Comissão Europeia, de que os passos que estamos a dar vão na direção certa. O Pacto Climático que estabelecemos com um grupo significativo de empresas, que queremos ver crescer, é um exemplo desse comprometimento coletivo para uma Guimarães Mais Verde que, ainda que não seja o mais importante, esperamos nos confira o título de Capital Verde Europeia 2026, mesmo sabendo que não estamos na corrida sozinhos. Em novembro, na cidade espanhola de Valência, saberemos o desfecho deste importante galardão.

A construção da nova academia do V. Guimarãesé um dos projetos que se prevê avançar ainda em 2024. O projeto é, no entender da Câmara Municipal, importante para o desenvolvimento de Guimarães e essencial para o crescimento do clube? Em que vai consistir o projeto e a colaboração com o Vitória? 

O Vitória Sport Clube é uma instituição das mais relevantes de Guimarães, significando muito para as suas gentes. Sendo uma marca da cidade, o seu crescimento é importante não apenas para a visibilidade do território, mas também para dar cumprimento a um conjunto de funções que não podem ser esquecidas, e que estão associadas a um clube desportivo, ainda para mais com a dimensão do Vitória. Falo da função social da formação desportiva e humana, da componente económica que deriva da empregabilidade e da atratividade que gera, da componente identitária e de coesão fortemente associada ao fenómeno desportivo.  

Em relação à nova academia do Vitória, a autarquia tem prevista a disponibilização de terrenos na zona de Silvares/Ardão e Ponte, uma área que totaliza cerca de 15 hectares, que está pendente da resolução de constrangimentos legais e da aprovação do Plano Diretor Municipal. Para acelerar este processo, numa reunião do Executivo Municipal ocorrida em junho, propus a constituição de uma comissão de acompanhamento, com a participação de um vereador a indicar pela coligação Juntos por Guimarães (PSD/CDS), que espero possa vir a traduzir-se no resultado que todos ambicionamos. 

Na mensagem que deixa na página do município aponta o futuro de Guimarães a partir dos pressupostos da educação e da cultura, do conhecimento e da ciência. Qual tem merecido maior preocupação do executivo e por que razão?

Todas nos têm merecido atenção e preocupação, esta última no sentido de um espírito ocupado por uma ideia de constante melhoria e aperfeiçoamento de caminhos que se cruzam. Na verdade, há condições holísticas que nos fazem olhar para a Educação, a Cultura, o Conhecimento e a Ciência não tanto como um rizoma, pois as implicações não estão todas ao mesmo nível, mas como um corpo que se vai movendo e em que cada parte tem impacto nas restantes.  

No primeiro nível, ou no nível zero, se preferirmos, temos a educação formal, que nos fornece as ferramentas cognitivas e nos transmite o conhecimento que, em dado momento, entendemos como basilar. É esta educação que nos desperta, ou pode despertar, para procurarmos novo conhecimento, que pode ser obtido por novas formas, como a educação não formal. E dentro do conhecimento, temos que separar o que é conhecimento científico e o que é conhecimento empírico, muitas vezes transmitido oralmente, de geração em geração. De uma certa forma, é a partir deste nível zero, e da interação social, que se gera o ambiente cultural dentro de um determinado grupo ou comunidade, que, a partir da aprendizagem, da memória, do raciocínio, da perceção define normas, valores e comportamentos. 

Dir-se-ia que a cultura popular nasce deste caldo social que, mais tarde, é enriquecido com outras camadas, que advêm dos estímulos a que cada indivíduo é exposto. Por exemplo, a alta cultura ou a cultura erudita é normalmente uma consequência das interações pessoais em fóruns mais restritos, como a academia ou certos núcleos associativos. A cultura de massas é um fenómeno mais ligado ao modernismo tardio ou ao pós-modernismo, e tem a ver com dinâmicas que se prendem com o fenómeno das indústrias culturais e da globalização.

Apostar na ciência e no conhecimento significa criar as condições de contexto para que as diversas instituições de ensino e investigação possam desenvolver cada vez melhor o seu trabalho, criando mais oferta educativa e mais inovação. Com isso, fomentamos a evolução académica dos nossos cidadãos e impulsionamos o avanço tecnológico para uma economia mais criativa e diferenciadora.  

Em termos políticos, a aposta de Guimarães nestas várias dimensões pretende criar uma sociedade que seja capaz de não se deixar enredar por um relativismo cultural que coloque a verdade ao mesmo nível da mentira, ou a superstição ao mesmo nível da ciência. É conseguir algo que hoje parece tão difícil, como repor algum tipo de hierarquia no pensamento fragmentado contemporâneo. Mas, acima de tudo, colocar as pessoas a falar umas com as outras com espírito crítico, que implica também a autocrítica, um diálogo fundamental para construir uma sociedade vimaranense onde cada um possa ter a capacidade de se colocar no lugar do outro, que possa ter a capacidade, cada vez mais rara, de ser empático. 

Quais têm sido os maiores investimentos deste executivo nestas áreas e quais têm sido os parceiros de maior relevo? 

O maior parceiro é a Universidade do Minho, mas não esqueçamos a relevância das parcerias com o IPCA e com a Universidade das Nações Unidas. 

Em termos de grandes investimentos, destaco o Teatro Jordão, um equipamento destinado aos cursos de Artes Visuais e Teatro da UMinho e ao Conservatório de Música de Guimarães.

Ainda na zona de Couros, é incontornável falar da 2ª fase de reabilitação da antiga Fábrica Freitas & Fernandes, equipamento ocupado pela UNU, e de uma 3ª fase que permitirá a instalação da Cantina do Campus de Couros. Em local próximo de Couros, importa referir a obra em curso na Quinta do Costeado, que permitirá instalar a Escola Hotel e Escola de Desporto do IPCA.

De referência também incontornável, é a requalificação da Fábrica do Arquinho, onde serão instalados a licenciatura e o mestrado em Engenharia Aeroespacial, da Escola de Engenharia da UMinho, o Fibrenamics e o Polo Tecnológico Aeroespacial do CEiiA/EEUM. Como é incontornável falar da aquisição das instalações outrora ocupadas pela Fábrica do Alto, em Pevidém, onde funcionará a Academia de Transformação Digital.

No apartado das residências para estudantes e investigadores, refira-se a construção da residência no Avepark e a cedência, à Universidade do Minho, do edifício da antiga Escola de Santa Luzia, para funcionar como residência de estudantes.

Lembro a importância do novo edifício do Instituto Cidade de Guimarães, da Faculdade de Investigação em Medicina Regenerativa da UMinho, que está instalado no Avepark.

Realço ainda a cedência, em regime de comodato, do palácio Rosa Lima, para a instalação do CINDOR – Centro de Formação Profissional da Indústria de Ourivesaria e Relojoaria. 

A aposta na relação estreita com a Universidade implantada no município tem sido notória e profícua para ambas as partes. Faz, inclusivamente, parte do Conselho Consultivo da Escola de Engenharia da Universidade do Minho (EEUM) e há muitos projetos de colaboração em curso entre as instituições, incluindo parcerias para reabilitação e utilização de estruturas e equipamentos reabilitados. Qual é para si a relevância da proximidade entre a Universidade do Minho e a Câmara Municipal? 

Guimarães é uma cidade inovadora e voltada para o futuro e cada vez mais uma cidade universitária. O facto de cá existir um polo da Universidade do Minho, com importantes escolas como a Escola de Engenharia e a Escola de Arquitetura, Arte e Design, permite-nos criar um ambiente propício ao progresso e à criatividade. Daqui resulta a evidência da necessidade de uma parceria estratégica, que tenha como resultado a construção de um futuro partilhado de conhecimento, de ciência, de inovação, de criatividade, de sabedoria coletiva. 

Não é possível prescindir de um sistema científico robusto e aberto à sociedade, capaz de empoderar os cidadãos e de fortalecer o seu tecido económico.  Este é um futuro que só a Universidade do Minho é capaz de sustentar, emergindo, nesta senda, a sua Escola de Engenharia como um núcleo basilar que, através da formação de engenheiros em diversas especialidades, capacita recursos humanos fundamentais para o robustecimento da estrutura económica e diversificação setorial de que Guimarães está necessitada.  

A zona de Couros, que desde setembro de 2023 é Património da Humanidade, historicamente dedicada à indústria dos curtumes, votada ao abandono da sua primeira função com a desativação das suas fábricas, passa a albergar um projeto de aproximação e abertura da Universidade à cidade, com uma componente fortemente inovadora.  Da recuperação dos edifícios outrora utilizados na indústria da curtimenta, nascem, numa primeira fase, o Instituto de Design, o Centro Avançado de Formação Pós-graduada e o Centro de Ciência Viva. Mais tarde, fruto das políticas culturais, instalam-se, no reabilitado Teatro Jordão, os cursos de Teatro e Artes Visuais da Universidade do Minho, dando forma ao Bairro C, o Bairro da Criação, Criatividade, Conhecimento, Comunidade, Couros. Consolida-se, assim, Guimarães como cidade que produz cultura, e dá-se um passo decisivo para o reforço da componente cultural na educação dos cidadãos do futuro. Com a nova Geração das Artes, e com, mais uma vez, a Universidade do Minho, o Campus de Couros está agora maior, mais diverso e mais enriquecido.  

Como entende que a evolução e crescimento da UMinho em geral e das Escolas de Engenharia e Arquitetura em particular, têm contribuído para o desenvolvimento da região do Minho e do município em particular? 

Como polo que gera atividade em diversas áreas, como a educação, a pesquisa, a inovação e o empreendedorismo, a Universidade do Minho, reconhecida nacional e internacionalmente pela sua excelência académica, tem um papel preponderante na formação e na produção de conhecimento, servindo como âncora na atração de estudantes de diferentes partes do país e do mundo, enriquecendo a diversidade cultural da cidade, promovendo um ambiente académico dinâmico e multicultural, e contribuindo para o rejuvenescimento da população, sendo vital no desenvolvimento socioeconómico e cultural das cidades que serve.   

Na sua mais nobre expressão, a Universidade assume também a responsabilidade de cultivar a mente humana, de maneira igualmente crucial, para a edificação de seres sensíveis, solidários e socialmente comprometidos. É um espaço que proporciona terreno fértil para a compreensão das complexidades interrelacionais que permeiam a sociedade, um farol ético que inspira os seus alunos, professores, investigadores, reconhecendo a importância da partilha e da cooperação como alicerces fundamentais para o florescimento coletivo.   

Ao olhar para o futuro, é evidente que a evolução e o crescimento da Universidade do Minho continuarão a ser decisivos na formação e produção de novo conhecimento, na geração de inovação e no fortalecimento das conexões entre a academia e a comunidade. O seu impacto é duradouro e transcende as fronteiras do campus universitário, deixando uma marca indelével na região que serve. A Universidade do Minho soube adaptar-se aos novos e exigentes tempos que vivemos, desempenhando um papel integral no crescimento e no desenvolvimento sustentável da região do Minho, que dela não pode prescindir.  

Atualmente, uma das parcerias mais relevante será, certamente, a que decorre no âmbito da construção da residência universitária a partir das instalações da antiga Escola de Santa Luzia. Como se concretiza e em que moldes se concretizará, no futuro, esta parceria? Pode falar-nos um pouco sobre as características deste projeto e sobre a fase em que se encontra? 

A parceria realizada entre a Câmara Municipal de Guimarães e a Universidade do Minho, para a construção de uma residência universitária na antiga Escola de Santa Luzia, estabeleceu que, a esta última, fosse emprestada a propriedade, através de um contrato de comodato válido por um período de 50 anos. Este contrato deu origem à transferência das competências para a Universidade do Minho.

Como consequência, o comodatário Universidade do Minho deu início ao processo, bem-sucedido, de uma candidatura, ao abrigo do Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior, a financiamento do PRR, competindo-lhe agora toda a gestão das futuras instalações.

Refira-se ainda que a reabilitação do edificado terá como premissa uma elevada qualidade e a preservação da memória e da autenticidade de um espaço que faz parte de um património social importante de Guimarães. 

Existem outros projetos por parte da Câmara Municipal no sentido de responder à falta de alojamento estudantil em Guimarães? 

Sim. As já referidas residências para estudantes e investigadores no Avepark. 

Existem outros projetos a ser desenvolvidos/estudados em parceria entre as duas instituições que queira assinalar? 

Gostaria de assinalar um dos projetos em que estamos envolvidos com a Universidade do Minho, que é o da criação da Academia de Transformação Digital, a instalar na Fábrica do Alto, em Pevidém. Uma infraestrutura que se dedicará à conversão ou reconversão de competências profissionais, adaptando-as às necessidades do tecido empresarial, para que este possa competir num mundo digital cada vez mais exigente. Trata-se de uma infraestrutura muito importante na formação de recursos humanos, que se querem cada vez mais qualificados, com a vantagem de ser efetuado através de um processo que tem em linha de conta as necessidades da região. Passa-se, desta forma, a proporcionar às empresas um conjunto de competências que elas identificam como prioritárias para o desenvolvimento da sua atividade, tendo sempre em conta uma indústria cada vez mais tecnológica, de valor acrescentado. 

Outro dos projetos de suma importância é o que se destina a enriquecer a Escola de Engenharia com as futuras instalações para o curso de Engenharia Aeroespacial, um passo essencial para lançar o território na corrida da denominada “Nova Economia do Espaço”. O salto qualitativo acontecerá após a reabilitação e refuncionalização da Fábrica do Arquinho, na Caldeiroa, um espaço funcional que será também a nova sede da Associação Fibrenamics, importante centro de investigação aplicada no domínio dos novos materiais, e do Polo Tecnológico Aeroespacial do CEiiA/EEUM. 

Neste momento e no seu entendimento, Guimarães já se afirmou como cidade universitária? Como define a relação entre a UMinho e o Município de Guimarães?  

Sim. Guimarães é uma Cidade Universitária e a visão que temos é de continuarmos a afirmar e a distinguir esta marca como uma das dimensões de maior referência e relevância do território, a par do Património da Humanidade. Muito caminho foi feito, mas muito caminho ainda há para fazer. 

Para definir a relação com a UMinho, bastará referir que ela é vista, por várias pessoas e instituições, como um bom exemplo a nível nacional. 

Que oportunidades oferece a cidade aos jovens que nela estudam após terminarem o Ensino Superior?

A cidade de Guimarães é uma referência a nível nacional e europeia, nomeadamente nas áreas ambiental, cultural, patrimonial, mas também na inclusão e coesão social que faz questão de promover nas suas políticas. É uma cidade que possui um ecossistema empresarial dinâmico e que cada vez mais aposta na ciência e na tecnologia. Não raramente, os jovens saídos da universidade encontram oportunidades de trabalho no tecido empresarial local ou regional, ou mesmo no sistema de spin-offs, start-ups e interfaces que a academia potencia. É também uma cidade de bem-estar e saúde, com boas condições de contexto para que os jovens possam concretizar as suas ambições e aplicar os seus conhecimentos e competências.  

Finalmente, quem é o homem e o profissional Domingos Bragança? 

Não consigo sair da minha simplicidade e proximidade afetiva com as pessoas.

Tenho uma curiosidade imensa, o que me leva a uma procura incessante de conhecimento.

Sou um apaixonado pela natureza, e daí a minha expressão constante de vivermos em “harmonia com a natureza”. Sustento a minha visão do mundo na ciência e na filosofia. 

No meu trabalho profissional, tenho a honestidade e a competência como alicerces. 

Na vida política que abracei, ao serviço de Guimarães, apresentei os desígnios coletivos em que convictamente acredito: os pilares de uma boa sociedade são a educação, cultura e ciência, que robustecem os cidadãos para uma interação social inclusiva, e robustecem a economia, pelas competências que continuamente adquirem, na base da cultura e do desenvolvimento ambientalmente sustentável.  Em síntese, para que possamos construir uma cidade decente e sábia, na qual se possa viver uma vida tranquila, de bem-estar e de felicidade. 

Uma mensagem à academia, em geral, e aos seus estudantes, em particular, que gostasse de deixar?

À academia, gostaria de dizer que considero fundamental a postura que tem vindo a ser adotada, de aproximação entre o conhecimento gerado no seu seio e a sua aplicabilidade no mundo empresarial. Que considero uma universidade de “portas abertas” fundamental para dotar os seus alunos de uma visão mais holística e de um sentido mais pragmático, necessário no seu futuro profissional, e que considero as parcerias com as empresas absolutamente decisivas para um tecido económico de maior valor acrescentado.

Aos estudantes, gostaria de dizer que o maior valor que poderemos ter é o conhecimento. Mais especificamente, na Universidade, o conhecimento científico.  Aprendam as competências específicas da vossa escolha académica, que vos permitirá desenvolver as vossas capacidades profissionais, mas nunca deixem de aprofundar as questões éticas, da filosofia e da necessidade de conhecimento pluridisciplinar, para que desenvolvam a vossa cidadania completa, no sentido da criação de valor económico, mas também de valor social e comunitário. Desejo-vos o melhor para as vossas vidas e desejo que continuem em Guimarães. 

Texto: Ana Marques

Foto: Nuno Gonçalves

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Entrevista ao presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio

Entrevista ao presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio

A pouco mais de um ano do final do seu último mandato (termina em 2025) e a pretexto da requalificação da fábrica Confiança para alojamento de estudantes, o UMdicas foi conversar com o presidente do município mais jovem do país, uma longa entrevista, durante a qual foi feito um balanço do caminho traçado até aqui e do trabalho executado, dos projetos realizados e das dificuldades encontradas, dos sucessos e das coisas menos boas que aconteceram, da UMinho e do futuro da cidade e das suas gentes, entre muitos outros assuntos. 

1- Assumiu funções como Presidente da Câmara Municipal de Braga em 2013. Como descreve o trajeto e que balanço faz do trabalho que os seus executivos camarários realizaram durante estes quase 11 anos de governação distribuídos por três mandatos?

Assumir a presidência da Câmara Municipal de Braga em 2013 foi um desafio e uma responsabilidade que assumi com grande determinação. Este trajeto foi marcado por muitas conquistas e por uma transformação significativa do concelho de Braga, em todas as áreas da governação, sem exceção. Desde o início, tivemos como objetivo modernizar e dinamizar Braga, tornando-a mais competitiva, inovadora e sustentável, assegurando elevados níveis de qualidade de vida para todos os cidadãos. Implementámos diversas políticas que resultaram na revitalização do centro histórico, na melhoria das infraestruturas e na promoção de uma mobilidade mais ecológica e acessível. Trabalhámos intensamente para atrair investimento e fomentar o desenvolvimento económico, criando condições para o crescimento de novas empresas e a geração de emprego. Também investimos na educação, na cultura e no desporto, reforçando a oferta educativa e cultural, e promovendo eventos de grande dimensão que projetaram Braga a nível nacional e internacional. O balanço é claramente positivo porque, desde logo, conseguimos cumprir grande parte dos nossos compromissos e deixar uma marca indelével no desenvolvimento de Braga. E, além dos resultados concretos, instaurámos um novo modelo de governança do território, assente na colaboração institucional, na participação dos cidadãos, no delinear de uma visão estratégica de médio e longo prazo de que resultam ações concretas que podem ser medidas e escrutinadas. Este é um legado que perdurará sempre para lá deste ciclo político, porque ninguém aceitará voltar para trás.

2 – Quais os projetos mais emblemáticos que gostasse de relevar?

Há vários projetos que marcam a nossa gestão na Câmara Municipal de Braga, uns de caráter físico, outros de natureza imaterial. Ao nível dos investimentos, é impossível não referir o Fórum Braga, o Mercado Municipal, o Parque da Rodovia, o Centro da Juventude, o Convento de S. Francisco, a Francisco Sanches, inúmeros equipamentos escolares, o novo Quartel dos Bombeiros Sapadores, a Piscina da Ponte, as Praias fluviais, os diversos Bairros Sociais, diversas infraestruturas viárias, além de múltiplos investimentos nos transportes públicos e nas várias esferas de intervenção da AGERE, ou os muitos milhões de euros de projetos das Freguesias, só para referir os que já estão concretizados. Mas tenho de destacar o poder transformador da criação da InvestBraga (e da Startup Braga) ou a forte dinâmica cultural – que teve o seu expoente na candidatura de Braga a Capital Europeia da Cultura em 2027 e de que resultou a Capital Portuguesa da Cultura 2025 -, e ainda as diversas políticas sociais implementadas (na fiscalidade, na saúde, na educação, na inovação social, …), que nos garantiram o reconhecimento ininterrupto de Autarquia Familiarmente responsável. Implementámos também várias iniciativas para promover a mobilidade sustentável, incluindo a introdução de ciclovias, a melhoria dos transportes públicos e a criação de zonas de baixo tráfego automóvel e estamos a implementar o Bus Rapid Transit (BRT) que vai transformar por completo a mobilidade em Braga. Estes esforços visam reduzir a pegada ecológica da Cidade e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Por fim, investimos na modernização administrativa e na transformação digital da cidade e da autarquia, capacitando os nossos serviços e melhorando as respostas que prestam à população. Estes projetos refletem a nossa visão para uma Braga mais moderna, inclusiva e sustentável, e são apenas alguns exemplos do trabalho que temos vindo a desenvolver ao longo dos últimos anos.

3 – Do seu ponto de vista, qual foi a decisão mais difícil e qual foi a melhor decisão que tomou no exercício destas funções?

Durante estes quase 11 anos de governação, houve várias decisões desafiadoras e que mereceram muita ponderação, momentos que exigiram coragem e a determinação que revelámos desde o primeiro dia (como na reversão da aquisição do edifício adjacente às Convertidas ou do alargamento da zona de parquímetros).

Mas as decisões mais difíceis foram as que tivemos de tomar no contexto da pandemia, lutando por todos os meios ao nosso alcance para salvar vidas e proteger as camadas mais desfavorecidas e expostas da nossa população. A fixação do horário zero para o comércio é, nesse contexto, um exemplo da criatividade a que fomos compelidos durante esse período.

Se medirmos a qualidade das decisões pelo seu impacto, julgo que a melhor decisão foi mesmo a criação da InvestBraga, a primeira agência para a dinamização económica de base local no nosso País. A InvestBraga teve e tem um papel fundamental na atração de investimento, na promoção do empreendedorismo e na internacionalização das empresas locais. Através desta agência, conseguimos criar condições para o crescimento económico sustentável de Braga, gerando emprego e estimulando a inovação. Com a requalificação do Fórum Braga, a InvestBraga passou também a ser crucial na organização de eventos de grande dimensão, que colocaram Braga no mapa dos grandes eventos nacionais e internacionais.

Estas decisões refletem a complexidade e a responsabilidade de gerir uma cidade como Braga, onde cada escolha deve equilibrar o presente com uma visão estratégica para o futuro.

4 – Em setembro/outubro de 2025 “deixará” a Braga que projetou?

Uma cidade como Braga será sempre um projeto inacabado porque se trata de um território com um potencial de crescimento tremendo em várias áreas. Acredito que deixarei uma Braga significativamente transformada e alinhada com a visão que projetámos desde o início da nossa gestão. A Cidade que idealizámos era uma Cidade moderna, inovadora, sustentável e inclusiva, e acredito que fizemos avanços substanciais em todas essas áreas. A Braga do futuro será uma cidade revitalizada, cheia de vida e cultura, que atrai tanto residentes como visitantes. Teremos consolidado a nossa posição como um polo de inovação e tecnologia, atraindo recursos humanos qualificados e fazendo de Braga uma cidade vibrante e cosmopolita. No que diz respeito à mobilidade, Braga será uma cidade mais acessível e amiga do ambiente, com uma rede de transportes públicos eficiente, ciclovias bem integradas e zonas de baixo tráfego automóvel que promovem uma melhor qualidade de vida. A nível ambiental, teremos ampliado os espaços verdes e implementado políticas de sustentabilidade que fazem de Braga uma referência em termos de gestão ecológica. Na área da cultura e do desporto, Braga continuará a ser uma cidade enérgica, com uma oferta cultural diversificada e infraestruturas desportivas modernas que incentivam a prática desportiva e a participação comunitária. Ainda que ciente de que há sempre espaço para melhorias e novos desafios, acredito que deixarei uma Cidade que reflete fielmente a visão de um futuro próspero e sustentável para todos os Bracarenses. Continuaremos a trabalhar até ao final do mandato para assegurar que cada projeto e cada decisão contribua para essa Braga que todos ambicionamos.

5 – Durante as três campanhas para as autárquicas foram, naturalmente, várias as promessas que se formularam. De entre esses desígnios, há os que ainda não foi possível cumprir? Porquê?

Ao longo dos três mandatos, conseguimos cumprir a maior parte dos projetos e medidas. A prestação de contas, contínua, clara e exaustiva relativa a cada uma das propostas constantes do nosso programa eleitoral, foi uma prática já adotada de forma pioneira pela Coligação ‘Juntos por Braga’ no mandato 2013-2017, repetida no mandato 2017-2021, e que foi retomada no presente mandato autárquico. No primeiro mandato, terminámos com um grau de concretização de 93%; no segundo mandato, com 85%; e neste ultrapassamos o meio do mandato com mais de metade das “promessas” já concretizadas. Na plataforma ‘Cumprir por Braga’, fazemos um exercício de transparência, de estímulo à cidadania e de responsabilidade política, assumindo uma preocupação com a legibilidade dos dados e o rigor da informação prestada. Naturalmente, alguns desígnios ainda não foram totalmente alcançados. Muitas vezes, deparamo-nos com limitações financeiras, burocráticas e algumas dificuldades imprevistas que surgiram pelo caminho. Apesar destes desafios, continuamos empenhados em trabalhar para cumprir todos os compromissos assumidos, procurando soluções para os obstáculos e ajustando as estratégias conforme necessário. Seja como for, há seguramente muitos projetos que deixarei para o próximo Presidente de Câmara inaugurar, mas isso também tem a ver com o facto de nunca termos feito “obras à medida dos ciclos eleitorais”, como infelizmente aconteceu no passado.

6 – As pessoas, o território, as atividades socioeconómica e cultural e a cooperação são comummente referenciadas como pilares fundamentais da gestão autárquica. Qual tem merecido maior preocupação do executivo e por que razão?

Todos os pilares são fundamentais para a gestão autárquica e têm sido cuidadosamente considerados na nossa atuação. O nosso principal objetivo tem sido garantir o bem-estar e a qualidade de vida dos cidadãos de Braga. Investimos significativamente em serviços de saúde, educação, habitação e segurança, para assegurar que todos os bracarenses têm acesso a condições de vida dignas e oportunidades de desenvolvimento pessoal. Trabalhamos afincadamente para promover a inclusão social, desenvolvendo políticas e programas que apoiam os grupos mais vulneráveis da sociedade. Queremos uma cidade onde todos se sintam incluídos e valorizados, independentemente da sua condição socioeconómica. Incentivamos a participação ativa dos cidadãos nas decisões que afetam a cidade através de vários mecanismos, com destaque para os diversos Orçamentos Participativos e Conselhos Consultivos. Defendo que uma gestão autárquica eficaz deve ser feita em colaboração com os cidadãos, ouvindo as suas necessidades e ideias. Temos um forte compromisso com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), mas isso só será alcançado com a atuação conjunta de toda a sociedade. Quando os cidadãos estão envolvidos, a cidade como um todo, prospera. Investir nas pessoas é investir no futuro de Braga, porque uma cidade é tão forte quanto a sua comunidade. Fortalecer os laços comunitários e garantir que todos se sentem parte integrante da sociedade é crucial para a coesão social e para o desenvolvimento harmonioso de Braga. Embora o foco esteja nas pessoas, reconhecemos que os outros pilares são interdependentes e essenciais para o desenvolvimento integral da cidade. Por exemplo, a gestão sustentável do território e a criação de espaços públicos de qualidade são fundamentais para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. A promoção de atividades económicas e culturais diversificadas cria oportunidades de emprego e enriquece a vida cultural da cidade, beneficiando diretamente os cidadãos. A cooperação com outras entidades e instituições é essencial para implementar projetos que beneficiam a comunidade e para atrair investimentos que impulsionam o desenvolvimento local. Em suma, enquanto todos os pilares são cruciais, a nossa maior preocupação e prioridade tem sido, e continuará a ser, as pessoas. Porque acreditamos que uma cidade que cuida dos seus cidadãos é uma cidade mais justa, próspera e sustentável.

7 – No caso concreto da cooperação, é notório que o executivo camarário tem mantido uma relação muito próxima com a Universidade do Minho a vários níveis. Atualmente, uma das parcerias mais relevante será, certamente, a que decorre no âmbito da construção da residência universitária a partir das instalações da antiga Fábrica Confiança. Como se concretiza e em que moldes se concretizará, no futuro, esta parceria?

A cooperação entre a Câmara Municipal de Braga e a Universidade do Minho tem sido uma das pedras angulares da nossa atuação, pautando-se por uma colaboração estreita e frutífera em diversas áreas. Esta relação tem permitido desenvolver projetos de grande impacto para a Cidade e para a comunidade académica. A parceria específica para a construção da residência universitária nas instalações da antiga Fábrica Confiança é um excelente exemplo dessa cooperação estratégica. Este projeto visa responder a uma necessidade crescente de alojamento para os estudantes da Universidade do Minho e do IPCA, contribuindo para a qualidade de vida académica e para a atratividade da instituição. Este processo envolve a preservação do património histórico do edifício, aliando-o a infraestruturas contemporâneas que garantam conforto e funcionalidade. Uma vez concluída, a residência será naturalmente gerida pela UM, bebendo da experiência dos serviços sociais, mas o equipamento terá também uma forte componente de interação com a comunidade, particularmente orientada para a esfera cultural.

8 – Em termos do projeto propriamente dito, foi anunciada recentemente a adjudicação da obra por 25,5 milhões de euros, financiada na totalidade com fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), tratando-se do maior investimento do plano para alojamento estudantil. Pode falar-nos um pouco sobre as características deste projeto e sobre a fase em que se encontra?

O projeto da residência universitária na antiga Fábrica Confiança é, sem dúvida, um dos mais ambiciosos e significativos para o alojamento estudantil em Braga. Com um investimento de 25,5 milhões de euros, financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), este projeto representa o maior investimento do plano para esta finalidade e é um marco importante na colaboração entre a Câmara Municipal de Braga e a Universidade do Minho. A nova residência universitária terá capacidade para mais de 750 camas, concentradas em larga escala no novo edifício que será construído no terreno adjacente à Fábrica, proporcionando uma solução de alojamento moderna e acessível, com todas as comodidades necessárias para garantir o conforto e bem-estar dos estudantes. O projeto prevê a reabilitação da antiga Fábrica Confiança, preservando elementos históricos e arquitetónicos significativos, enquanto se adapta o espaço às necessidades contemporâneas. Este equilíbrio entre a conservação do património e a modernidade é um dos principais destaques do projeto. Paralelamente, a intervenção vai criar novas dinâmicas de interação com a zona envolvente. Além da residência universitária, o será criado um espaço de uso complementar para fins culturais com uma área de cerca de 1200 m2 e terá espaços museológicos e de venda de produtos da antiga Fábrica Confiança. O concurso público foi concluído, daí resultando a adjudicação a um dos concorrentes, aguardando agora o dirimir de uma ação judicial interposta por outro dos concorrentes para que possa avançar.

9 – Quando se prevê que esta estrutura seja disponibilizada aos estudantes universitários de Braga?

Neste momento, mantemos as previsões de que a sua inauguração ocorrerá no início de 2026, assim cumprindo também com os prazos impostos pelo PRR. Tudo faremos para assegurar que todas as fases do projeto são concluídas dentro dos prazos estipulados. Estamos muito entusiasmados com o avanço deste projeto e comprometidos em garantir que ele seja um sucesso, trazendo benefícios duradouros para a comunidade académica e para a cidade de Braga.

10 – Também no desporto as parcerias têm sido recorrentes e importantes. Que papel tem o desporto para a autarquia e de que forma tem sido potenciado, nomeadamente no que respeita ao desporto universitário através das sinergias criadas com a UMinho/AAUMinho/SASUM?

O desporto é uma área vital para Braga, promovendo saúde, coesão social e desenvolvimento. A nível competitivo, os resultados alcançados, tanto a nível coletivo como individual, demonstram que somos um Concelho cada vez mais eclético do ponto de vista desportivo e possuímos grandes valores em diversas modalidades que poderão ser muito importantes não apenas no panorama desportivo local, mas também nacional e internacional. Desde a primeira hora que temos trabalhado com todos os agentes do território nas suas mais diversas facetas e áreas de atuação. No caso do desporto, a UMinho e as suas associações têm sido um parceiro fundamental para o desenvolvimento da nossa estratégia para Braga. O Município sempre assumiu o papel de parceiro ativo e cooperante e estas parcerias têm fortalecido o desporto universitário, melhorando infraestruturas, organizando eventos e criando programas de apoio. É uma cooperação que beneficia estudantes, a comunidade e impulsiona o prestígio desportivo da cidade. O futuro passa por continuar a fortalecer estas parcerias e a inovar na promoção do desporto. Desta parceria resultou, por exemplo, a atração para Braga da organização de diversas competições universitárias de diferentes modalidades, o que queremos reforçar no futuro. Por sua vez, está em curso o projeto para reabilitação do parque desportivo de Gualtar, numa cooperação positiva entre a UM e o Município, em benefício de toda a população do Concelho.

11 – Existem outros projetos a ser desenvolvidos/estudados em parceria entre as duas instituições que queira assinalar?

Há vários e de diversa natureza. Só para dar também exemplos na esfera formativa, destaco a “School of CEO’s”, que junta a Escola de Economia e Gestão com a StartupBraga; o programa “Qualifica IT” e o Mestrado em Media Arts.

Realce também para o Programa P5, e a disponibilização de cuidados de saúde digitais a toda a população do Concelho, em parceria com a Escola de Medicina.

Mas tenho claramente de enfatizar a extraordinária reabilitação do Convento de S. Francisco, onde ficará instalada a Unidade de Arqueologia da UM, que tem também sido nossa parceira fundamental em projetos como a Reabilitação da Ínsula das Carvalheiras, do edifício na Rua de Santo António das Travessas, do Teatro Romano ou da Santa Marta das Cortiças.

12 – Como define a relação entre a UMinho e o Município de Braga?

É uma relação intensa de colaboração estratégica. Temos trabalhado em conjunto em várias áreas, incluindo educação, investigação, saúde, cultura, desporto e desenvolvimento urbano. Ao longo dos últimos anos a UMinho tem sido um parceiro fundamental de vários organismos públicos e privados, e com forte ligação ao tecido económico da região. A título de exemplo, recordo o projeto de Investigação e Desenvolvimento (I&D), desenvolvido em parceria com Bosch Car Multimédia Portugal que quanto a mim é uma parceria exemplar para o futuro da economia portuguesa, comprovando que existe uma estratégia conjunta a ser delineada entre todos os agentes do território. A UM é também um dos membros da Fundação Bracara Augusta, onde várias atividades de cariz cultural vêm sendo desenhadas, e é nossa parceira em vários projetos na área da sustentabilidade, com destaque para o IBS. Este intercâmbio de conhecimento, recursos e experiências, tem contribuindo para o desenvolvimento da Cidade e da região em diversas áreas-chave.

13 – Que oportunidades oferece a cidade aos jovens que nela estudam após terminarem o Ensino Superior?

Nos últimos anos, Braga assumiu-se como concelho com maior crescimento populacional em valor absoluto, como a única capital de distrito com saldo natural positivo e como um território marcadamente jovem, com quase 40% da sua população abaixo dos 30 anos. Tudo isto só é possível se a cidade conseguir corresponder a todas as dimensões que caracterizam a avaliação da qualidade de vida pelos jovens: o acesso a excelentes oportunidades profissionais, a oferta habitacional em condições competitivas, a diversidade da oferta cultural, os recursos desportivos e naturais, as soluções de mobilidade, a qualidade educativa, os canais de participação cívica. Braga oferece uma variedade de oportunidades para os jovens que estudam na cidade e que desejam permanecer após terminarem o Ensino Superior. Somos uma cidade em crescimento, com uma economia diversificada e dinâmica. Aqui, os jovens encontram oportunidades de emprego em diversos sectores, incluindo tecnologia, saúde, serviços financeiros, educação e turismo, entre outros. A cidade tem um ecossistema empreendedor vibrante, com várias incubadoras, espaços de coworking e programas de apoio ao empreendedorismo. Os jovens que desejam iniciar o seu próprio negócio encontram na Startup Braga apoio e recursos para transformar as suas ideias em realidade. Atualmente, Braga oferece uma vibrante vida cultural e uma vasta gama de atividades de lazer, onde os jovens podem participar em eventos culturais, festivais, concertos, exposições e atividades desportivas, contribuindo para uma experiência de vida dinâmica e enriquecedora. Braga é também conhecida pela sua qualidade de vida elevada, com um custo de vida acessível e um ambiente seguro. Os jovens que optam por ficar em Braga após terminarem os estudos podem desfrutar de uma cidade acolhedora e cosmopolita, com todas as comodidades de uma grande cidade e com uma comunidade acolhedora. Em suma, Braga oferece aos jovens que estudam na cidade uma série de oportunidades para prosperar e crescer, seja no mercado de trabalho, no empreendedorismo, na investigação ou na vida cultural e social. Somos um destino atrativo para os jovens que procuram construir um futuro promissor e gratificante.

14 – Braga será Capital Portuguesa da Cultura em 2025. Que expectativas existem em relação a esta iniciativa e o que está a ser preparado neste âmbito?

As expectativas são naturalmente elevadas, porque “Há sempre um plano B”. Mais do que a candidatura a Capital Europeia da Cultura em 2027, a estratégia cultural de Braga até 2030 identifica a Cultura como um dos pilares de desenvolvimento sustentável de uma Cidade e de toda uma região, e isso reflete-se no dia a dia do território. Através dessa estratégia, fizemos consultas aos Bracarenses, organizámos atividades com o envolvimento da comunidade, conversámos com artistas, agentes culturais, associações, comerciantes, cidadãos anónimos Bracarenses de diversas áreas de intervenção. Tudo para reunirmos as vozes da Cidade e com elas prepararmos uma estratégia cultural para a década de 2020–2030. Porque a nossa missão maior é mudar numa década a face cultural de Braga. Este é um verdadeiro legado porque acredito que Braga é hoje e será sempre Capital de Cultura, uma Cidade palco para o mundo. Em 2025 teremos mais uma oportunidade de mostrar ao país e ao mundo a nossa rica herança cultural, bem como as nossas expressões artísticas contemporâneas. Esta será uma iniciativa promotora da diversidade cultural e do diálogo intercultural que existe na Cidade.

15 – Quem é o homem e o profissional Ricardo Rio?

Sou uma pessoa de fortes convicções que vive de forma apaixonada todas as facetas da minha vida, pessoal e profissional. Tenho uma inesgotável capacidade de trabalho e atributos pessoais que me têm permitido concretizar a maior parte dos meus objetivos.

Procuro sempre ser pragmático e focado em resultados, em busca de soluções inovadoras e eficazes para os desafios que enfrento diariamente, mas nunca deixando de olhar para lá da linha do horizonte.

Vivo intensamente as causas que abraço, a relação com a família, os amigos, até os momentos de lazer que não deixo de preservar.

Dou-me muito bem a ouvir os outros e a construir projetos com terceiros e não prescindo do prazer que nos traz mudar o dia ou mesmo a vida de alguém.

Valorizo muito o diálogo intercultural, mas adoro as minhas raízes e, se pudesse voltar a atrás, voltaria a repetir este percurso de mais de 20 anos de serviço público, só para ter a oportunidade de entregar o melhor de mim, em prol de Braga e dos Bracarenses.

16 – Uma mensagem à academia, em geral, e aos seus estudantes, em particular, que gostasse de deixar?

A vossa passagem pela academia minhota não é apenas um período de formação académica, mas também uma fase de descoberta, crescimento e preparação para o futuro. É um momento de oportunidades e desafios, onde cada experiência vivida contribui para a vossa jornada pessoal e profissional. Aproveitem ao máximo a Cidade de Braga e esta etapa das vossas vidas. Sejam curiosos, questionem, explorem novos horizontes e abracem as oportunidades que surgirem. A vossa formação não se limita às salas de aula, mas estende-se a todas as vivências que a Academia e a Cidade proporcionam: o convívio com os colegas, o envolvimento em projetos e associações, o contacto com a comunidade e a participação em iniciativas culturais e desportivas. Lembrem-se sempre da importância do conhecimento, da ética e da responsabilidade social. Sejam agentes de mudança na sociedade, contribuindo para um mundo mais justo, inclusivo e sustentável. Não tenham medo de enfrentar os desafios que o futuro vos reserva. Com determinação, dedicação e perseverança, alcançarão os vossos objetivos e deixarão a vossa marca no mundo. Por fim, nunca subestimem o poder da educação e do saber. Continuem a aprender, a evoluir e a inspirar aqueles que vos rodeiam. Desejo-vos muito sucesso nesta jornada académica e em todas as vossas futuras conquistas.

Texto: Ana Marques

Foto: CMB

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PERCURSOS…

PERCURSOS…

Dores Rodrigues nasceu em Paranhos, Amares, há 65 anos, vila onde também vive atualmente, depois de já ter vivido em Braga. Desempenhou funções nos SASUM durante 42 anos, onde integrou o Departamento de Alimentar (DA), uma equipa com cerca de 145 trabalhadores.

Dores Rodrigues recebeu a notícia da sua aposentação já depois da realização desta entrevista. Entrou na reforma a 31 de maio.

Mãe de duas filhas e avó de três netas, Dores Rodrigues vive em união de facto. Nesta entrevista, a trabalhadora, adstrita ao DA, fala-nos do seu percurso de vida e experiência profissional, conta como é vivido o dia a dia, assumindo adorar o que faz.

Como chegou aos SASUM e qual o seu percurso profissional?

Entrei para os Serviços de Acção Social da Universidade do Minho (SASUM) a 25 de novembro de 1982, na altura para a única cantina que os Serviços tinham, na Rua D. Pedro V, como auxiliar de alimentação. Entretanto, fui para S. Tecla e depois vim para Gualtar onde estive afeta ao Bar dos Professores 14 anos. Após uma baixa médica devido a um acidente, quando regressei, passei a fazer apenas POS’s (caixa), uma vez que tinha dificuldade em movimentar-me, estive em quase todos os bares dos SASUM em Gualtar. Como me deram uma incapacidade de 4.5, tive de exercer uma função que não me obrigasse a andar muito e voltei para a cantina de Gualtar. Atualmente presto auxílio na cozinha e faço o trabalho de rampa, estou muito bem. Adoro o que faço, vou para a reforma brevemente, mas gosto muito disto!

Gosta do que faz?

Gosto muito de lidar com o público, atualmente, na hora de almoço, das 12h00 às 14h00, estou na zona dos torniquetes a confirmar as senhas, convivo muito com os nossos estudantes e gosto mesmo muito.

O que sempre me disseram é que devemos dar muita atenção às necessidades dos alunos porque “se nós existimos é por causa deles”.

O que mais a motiva e quais as maiores dificuldades, no dia a dia, no desenvolvimento do seu trabalho?

No meu dia a dia trato essencialmente da área de rampa, tanto de um lado como do outro. Tenho de verificar as disponibilidades dos produtos necessários e distribuição de tudo pelas rampas, para que na hora de almoço não falte nada. Na hora da refeição venho para a zona dos torniquetes. Após a refeição, faço a limpeza de toda esta zona e tenho de fazer a gestão de stocks e pedidos para o dia seguinte.

As maiores dificuldades, é mesmo a gestão de tudo o que tenho de fazer e o facto de me poder esquecer de alguma coisa.

O que mais me motiva é o ambiente em si, o relacionamento com os colegas, o convívio e a interação com os estudantes.

Como caracteriza o trabalho que é feito no Departamento Alimentar, em particular na sua área?

Somos uma equipa, cada um tem a sua função, tem as suas tarefas, mas ajudamo-nos muito uns aos outros, há muita entreajuda. Existe um objetivo comum que é servir bem a comunidade académica, e a equipa, no seu conjunto, tudo fazemos para o cumprir, para que o nosso público se sinta satisfeito com o nosso serviço.

É fácil conciliar a vida profissional com a vida familiar?

Sim, não é difícil. Era mais complicado quando tinha as filhas pequenas, mas sempre consegui gerir bem.

Quais são as melhores e as piores memórias que tem do seu trajeto nos SASUM?

As melhores é que sempre tive chefias ótimas. Pessoas muito dedicadas à sua equipa. Qualquer questão, qualquer problema era fácil resolver, estavam sempre cá para ajudar, para acalmar as pessoas e os ânimos.

Não tenho más memórias, sempre fui muito feliz aqui. 

Como olha para o futuro?

Não tenho grandes preocupações, as minhas filhas e as minhas netas estão bem, sou abençoada, não tenho grandes problemas na vida. Preocupa-me um bocadinho a saúde, mas acho que vai tudo correr bem.

No futuro próximo, quando me reformar, vou tentar fazer as coisas que gosto e me fazem feliz, passear mais, mais exercício físico, visitar mais a minha filha e a minha neta em Londres, enfim… continuar a ser feliz.

Curiosidades

O que a marcou?

O nascimento das minhas filhas pela positiva e a morte os meus pais pela negativa.

O que ainda não fez?

Ir ao Brasil.

Ainda tem um grande sonho?

Envelhecer com saúde.

Livro?

Os Filhos da Droga.

Filme?

E Tudo o Vento Levou.

Uma música e/ou um músico?

Tony Carreira.

O que gosta de fazer nos tempos livres? 

Jardinar e cozinhar para os meus.

Vício?

Café.

Um lugar?

Praia, ajuda-me a recarregar energias.

A Universidade do Minho?

A minha segunda casa e onde tenho sido muito feliz.

 

Texto: Ana Marques

Foto: Nuno Gonçalves

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Entrevista com Isabel Soares, professora da EPsi e presidente do ProChild CoLAB

Isabel Soares
  • Isabel Soares

Entrevista com Isabel Soares, professora da EPsi e presidente do ProChild CoLAB

Na Universidade do Minho (UMinho) desde 1993, Isabel Soares é professora catedrática da Escola de Psicologia e presidente da direção do Laboratório Colaborativo ProChild (ProChild CoLAB).

Nascida em S. Mamede de Infesta, distrito do Porto, Isabel Soares é licenciada e doutorada em Psicologia pela Universidade do Porto. Ingressou na UMinho em 1993, onde é professora catedrática, investigadora do Centro de Investigação em Psicologia e membro do Conselho Geral, depois de ter dirigido cursos, departamentos e presidido à Escola de Psicologia. É presidente da direção do laboratório colaborativo ProChild CoLAB, que recebeu o Prémio Direitos Humanos 2023, atribuído pela Assembleia da República. A sua investigação inscreve-se no domínio da vinculação e psicopatologia do desenvolvimento. Tem cerca de 150 publicações em livros e revistas científicas nacionais e internacionais, tendo orientado dezenas de teses de mestrado e doutoramento. É membro do Conselho Nacional de Psicólogos da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP). Em 2023 recebeu o Prémio Ibérico de Psicologia, atribuído pela OPP e pelo Consejo General de Psicologia de Espanha.

Como se deu a sua chegada à UMinho?

Cheguei à UMinho em outubro de 1993, após o meu doutoramento em Psicologia na Universidade do Porto. Tive o privilégio de participar na fase inicial do desenvolvimento da Licenciatura de Psicologia, ao entrar no 3.º ano após a sua criação. Desafiada pelos colegas fundadores do curso (Leandro Almeida e Óscar Gonçalves, que tinham estado comigo na Faculdade de Psicologia da UP, e por Artur Mesquita e José Cruz), os quais desenharam um projeto de formação muito inovador, foi com grande entusiasmo que integrei a equipa docente numa Universidade também a crescer, num campus em construção e numa matriz institucional colaborativa. Tudo estava a emergir com ambição, determinação e entusiasmo. Foi um tempo extraordinário.

A nossa licenciatura ergueu-se ao lado de outros cursos de Psicologia que já existiam nas universidades “clássicas” do Porto, Coimbra e Lisboa. Houve, por isso, sensibilidade e cuidado no estabelecimento de relações interinstitucionais, mas sempre sustentadas na afirmação da nossa autonomia, identidade e inovação. Desde o início foi dada uma atenção maior à qualidade do ensino e da investigação, suportada num corpo docente jovem, bem qualificado para responder às áreas tradicionais da Psicologia, mas também capaz de desbravar áreas emergentes na altura. Além disso, desde multo cedo o ensino e a investigação foram bem articulados e, também, bem sustentados em projetos de interação com a sociedade através da criação do Serviço de Psicologia e do desenvolvimento de parcerias em torno de projetos colaborativos.

Desde o início procurámos ancorar o nosso trabalho no nível internacional, profundando e ampliando as ligações já estabelecidas com colegas/equipas de universidades europeias e americanas. Estas ligações foram determinantes para elevar a qualidade da nossa investigação e a inovação. Além disso, a formação dos nossos estudantes de licenciatura, mestrado e doutoramento foi muito enriquecida por este ambiente cosmopolita. Acho que este caminho inicial foi determinante na progressiva afirmação e no sucesso da “Psicologia da UM”, no contexto nacional da oferta educativa nesta área. Foi um tempo inesquecível.

Lidera o Laboratório Colaborativo Pro-Child (ProChild CoLAB), um dos dois CoLABS coordenados pela UMinho. Em que consiste este projeto e o que engloba?

ProChild CoLAB, reconhecido pela FCT como Laboratório Colaborativo em novembro de 2018, tem como missão o combate à pobreza e exclusão social na infância, tendo em vista a sua erradicação, através de uma abordagem científica transdisciplinar, articulando os setores público e privado, contribuindo para políticas públicas de defesa dos direitos das crianças e que assegurem o seu desenvolvimento e bem-estar (www. prochildcolab.pt).

Abordar a complexidade multidimensional da pobreza e da exclusão social na infância requer uma colaboração efetiva, tal como plasmada no ODS 17 “Parcerias para os Objetivos”. Nesta linha, o ProChild CoLAB integra atualmente 17 associados: Universidade do Minho (entidade promotora), Universidade do Porto, Universidade de Aveiro, Universidade de Coimbra, Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, Centro de Computação Gráfica, Câmara Municipal de Guimarães, Câmara Municipal de Cascais, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Grupo DST, Empresa Irmãos Rodrigues, F3M- Information Systems, Fundação Belmiro de Azevedo e Fundação Vasco Vieira de Almeida. Sediado em Guimarães, o ProChild CoLAB integra hoje uma equipa multidisciplinar de 30 colaboradores altamente empenhados e qualificados, cerca de metade com doutoramento.

Ao longo destes anos, o ProChild tem colaborado com cerca de 150 entidades parceiras, numa aliança estreita entre a equipa ProChild, investigadores da academia e profissionais de várias entidades que operam na área da infância. No seio desta rede colaborativa são desenvolvidos, implementados e avaliados projetos transdisciplinares de I&D&I, concebidos como alicerces e alavancas para a mudança social, assentes na articulação estreita entre intervenção social e desenvolvimento tecnológico. Deste modo, vão sendo desenvolvidos e avaliados modelos de intervenção, de formação e supervisão de profissionais, vão sendo criados produtos inovadores validados cientificamente e vai sendo promovida a transferência e disseminação do conhecimento sobre a infância em Portugal. Esta cadeia de produção de conhecimento científico e de práticas efetivas e eficazes procura, desse modo, contribuir para a formulação de políticas públicas, orientadas para o combate àpobreza e exclusão social na infância.

De sublinhar, também, que o Plano de Ação do ProChild CoLAB está fundamentado na Agenda 2030 das Nações Unidas e nos objetivos do desenvolvimento sustentável, no respeito e na defesa intransigente dos princípios da Convenção sobre os Direitos da Criança. Através de uma abordagem científica multinível e multidimensional, o plano de ação do ProChild CoLAB está alinhado com as recomendações internacionais, nomeadamente com a estratégia da União Europeia para os Direitos da Criança e a Garantia Europeia para a Infância, que colocam as crianças no centro das políticas públicas, em linha com as Recomendações a Portugal do Comité dos Direitos da Criança das Nações Unidas. No plano nacional de salientar, também, a convergência com a Estratégia Nacional para os Direitos da Criança, com a Estratégia Nacional de Combate à Pobreza e com o Plano de Ação da Garantia Para a Infância.

Em termos de estrutura organizacional, o ProChild CoLAB integra seis Unidades de Investigação, Desenvolvimento e Inovação (I&D&I), cada uma das quais com projetos específicos:

(1) Saúde e Bem-estar, tendo como principal objetivo o desenvolvimento e implementação de projetos de investigação-ação para promoção da saúde física e mental de crianças e respetivas famílias;

(2) Desenvolvimento e Educação, que visa promover a melhoria da oferta educativa para crianças dos 0-3 anos, assim como valorizar a educação não formal;

(3) Participação Social, Cidadania e Igualdade de Género, visando construir práticas sociais integradas, promover a participação social das crianças e o seu bem-estar, e instigar uma cultura comunitária promotora dos direitos da criança;

(4) Proteção contra a Violência, Exploração, Abuso e Negligência, pretende promover a melhoria da qualidade do sistema de promoção e proteção da criança, através da (re)qualificação e capacitação de instituições, serviços e respostas.

(5) Biologia e Desenvolvimento, procura analisar os mecanismos neurobiológicos e epigenéticos envolvidos nos efeitos de experiências adversas e de experiências positivas nos primeiros anos de vida;

(6) Tecnologia Digital, visa criar ferramentas e dispositivos digitais específicos em resposta às necessidades dos projetos de intervenção social do ProChild CoLAB, assim como desenvolver a Plataforma Digital ProChild de recolha, processamento, integração, interoperabilidade e visualização de dados.

Para além destas seis Unidades, o ProChild CoLAB conta ainda com duas Unidades de Transferência do Conhecimento: (i) a Academia ProChild, que constitui o centro de formação em estreita ligação com os projetos de intervenção desenvolvidos no seio das Unidades de I&D&I e (ii) o Observatório ProChild Data.

Tendo como pano de fundo esta estrutura organizacional, será relevante sublinhar a ligação estabelecida desde o início entre intervenção no terreno social & desenvolvimento tecnológico. Desde a sua conceção, o ProChild apostou na interface da intervenção social e do desenvolvimento tecnológico, assegurando uma aliança estratégica para a concretização da sua missão e objetivos, com o apoio do Centro de Computação Gráfica – CCG. Esta aliança entre intervenção social e desenvolvimento tecnológico constitui um fator diferenciador de atuação do ProChild e é promotor da criação de valor económico e social, decorrente do desenvolvimento de produtos, serviços e soluções digitais para a área social, customizados e de base científica, para além de promover a transformação digital nesta área em Portugal.

Neste âmbito, tem vindo a ser criada a Plataforma Digital ProChild, assente num repositório big data, capaz de recolher, integrar, processar e armazenar dados de diferentes fontes de informação sobre a infância em Portugal, apoiado num modelo de interoperabilidade de dados e de uma ferramenta de visualização e análise de dados. Estes projetos convergem no Observatório ProChild Data, uma estrutura de transferência de conhecimento que pretende contribuir para o desenho de políticas públicas no domínio da infância, para a disseminação do conhecimento sobre a infância e para o desenvolvimento de modelos de intervenção mais eficientes e integrados com crianças e as suas famílias.

De destacar, ainda, que o ProChild CoLAB é parceiro do Consórcio Health From Portugal, que congrega 94 entidades entre empresas e ENESIS e é financiado pelas Agendas Mobilizadoras do PRR. No âmbito deste Consórcio, o ProChild CoLAB está envolvido no PPS4: interpretação, integração e partilha de dados, designadamente para a criação do Framework para o desenvolvimento de dashboards em saúde – associado ao desenvolvimento da Ferramenta de visualização e análise de dados da Plataforma ProChild –, do Servidor de terminologias e ontologias e dos Conectores para ligação a data lakes- associados ao Modelo de interoperabilidade de dados da Plataforma ProChild.

Criado no final de 2018, quais foram os objetivos da criação deste Laboratório Colaborativo?

Todos os Laboratórios colaborativos têm como objetivo criar, direta e indiretamente, emprego altamente qualificado e emprego científico em Portugal, através da implementação de agendas de investigação e de inovação orientadas para a criação de valor económico e social.

O ProChild CoLAB tem como objetivo central contribuir para uma mudança social efetiva no país, procurando combater a pobreza na infância tendo em vista a sua erradicação. Nesse sentido, defendemos que é fundamental colocar as necessidades das crianças no centro da investigação, da inovação e da ação política, através da colaboração estreita entre entidades públicas e privadas, vinculando académicos e profissionais no terreno, em torno de modelos e programas de intervenção com base na evidência científica e suportados pela tecnologia, tendo em vista o desenvolvimento e o bem-estar das crianças e a promoção dos seus direitos.

A investigação e intervenção para prevenir e erradicar a pobreza e a exclusão social na infância exigem uma abordagem holística, integrada e multinível. Neste sentido, a agenda do ProChild CoLAB coloca a criança no centro e desdobra-se em múltiplos projetos e programas, desenvolvidos em torno das suas Unidades de I&D&I, com indicadores e métricas de impacto definidas, que visam a efetiva criação de valor. Todos estes projetos visam gerar, aplicar e difundir conhecimento científico numa abordagem multinível e multidimensional, que visa estimular novas formas de interação e uma relação não linear entre as atividades de I&D&I e o tecido económico e social.

Através da aliança entre investigação/ intervenção social & inovação tecnológica apoiada numa abordagem colaborativa transdisciplinar, o ProChild tem como objetivos:

(i) Conceber e desenvolver projetos de investigação científica transdisciplinar e de inovação tecnológica na área da pobreza e exclusão social na infância;

(ii) Implementar, avaliar e validar programas e modelos de intervenção baseados em evidência científica, que visem quebrar ciclos de pobreza e promover o desenvolvimento, o bem-estar e os direitos das crianças;

(iii) Capacitar profissionais e equipas na área da infância através de ações de formação e supervisão com base em evidência científica;

(iv) Criar produtos, serviços e soluções inovadoras centradas no desenvolvimento, bem-estar e direitos das crianças, validadas cientificamente, na interface da intervenção social e transformação digital;

(v) Promover agendas de ESG – Environment Social Governance – na área da infância:

(vi) Disseminar o conhecimento sobre a infância em Portugal.

(vii) Contribuir para a formulação de políticas públicas e para a ação política orientadas para o combate à pobreza e exclusão social, baseadas no conhecimento científico.

De que forma o ProChildCoLAB tem gerado valor económico e social?

A criação efetiva de valor social, tecnológico, económico e político na área dos direitos das crianças e na promoção do seu bem-estar decorre pela implementação da agenda de I&D&I do ProChild CoLAB, e que se concretiza em 35 projetos de investigação científica transdisciplinar ativos assentes em múltiplas parcerias. Ao longo destes anos, o ProChild tem vindo a colaborar com mais de 150 entidades parceiras, incluindo instituições académicas (29), centros de I&D+i (24), organizações sociais, educativas e saúde (68), municípios (3) e empresas (30), envolvendo cerca de 20 000 crianças e famílias beneficiárias, 2300 profissionais e 340 entidades beneficiárias.

No âmbito dos 35 projetos ativos, a título de exemplo e muito sumariamente, poderia referir quatro projetos em curso.

Começando pela área da promoção e proteção e olhando para a realidade portuguesa retratada no relatório CASA, vemos que em 2022 havia 6347 crianças e jovens com medida de colocação, dos quais 14% (876) entre 0 e 5 anos. De sublinhar que das 6347 crianças e jovens, 84.9% estavam em casas de acolhimento e apenas 7.9% em famílias de acolhimento. Estes números mostram bem como o direito da criança a uma família está a ser violado e a necessidade urgente de respostas qualificadas centradas nas famílias. Neste sentido, desde o início, o ProChild tem estado envolvido ativamente no desenvolvimento, implementação e avaliação do Modelo Integrado de Acolhimento Familiar (MIAF), em coautoria com a SCML. Procurando contribuir para um acolhimento familiar de qualidade, centrado na criança, suportado na evidência científica, o MIAF integra os protagonistas principais – a criança, a sua família de origem, a família de acolhimento e, quando necessário, a família adotiva – e procura assegurar 2 pilares fundamentais: (i)articulação intra e intersectorial nas áreas da saúde, educação, apoio social e promoção e proteção, e (ii) monitorização e avaliação do processo e dos resultados. Nesta linha, está em curso a validação científica da implementação do MIAF, levado a cabo em diferentes Instituições de Enquadramento de acolhimento familiar ao nível nacional, através da avaliação do processo e dos resultados no âmbito do projeto All4Children, financiado pela FCT (2022.03592.PTDC) tendo como PI a Doutora Joana Baptista do ISCTE.

Outro projeto do ProChild está focado na educação dos 0-3 anos, designado Desenvolvimento e Educação em Creche (DEC) e financiado pela Fundação Belmiro de Azevedo. O DEC tem como objetivo conceber, implementar e validar um modelo de desenvolvimento profissional, baseado na evidência científica, de forma a promover o desenvolvimento e bem-estar de crianças entre os 0 e 3 anos, atuando diretamente junto da creche e dos seus profissionais, no sentido de aumentar a qualidade das práticas pedagógicas.

Este modelo de avaliação, intervenção e formação em creche integra as recomendações nacionais e internacionais sobre práticas de elevada qualidade e estratégias de promoção do desenvolvimento da criança, está a ser implementado em oito creches das regiões do Porto, Guimarães, Aveiro e Lisboa, e está a ser avaliado por uma equipa externa da FPCE-UP.

Na área da promoção da saúde mental está em curso o projeto designado Co- Action Against Adversity, que visa promover o bem-estar e a resiliência das crianças entre os 3 e os 10 anos da rede pública escolar da Câmara Municipal de Guimarães, através de um rastreio online universal, avaliação e intervenção psicológica para as que apresentem problemas de saúde mental. Este projeto, que conta com o envolvimento ativo da APsi e de docentes da EPsi, para além de outros membros da academia e entidades não académicas, arrancou em plena pandemia e tem vindo a decorrer regulamente ao longo dos anos, estando já na sua 4.ª Edição. Tendo em conta os resultados positivos, a Fundação Gulbenkian está agora a financiar um novo projeto, que integra também a comunidade do município de Cascais e, neste caso, com um foco particular, nas crianças entre os 4 e os 6 anos.

Um quarto projeto ilustrativo está focado nas políticas públicas em torno do nosso maior desafio: o combate à pobreza tendo em vista a sua erradicação. Com este desígnio o ProChild lançou uma petição pública para O Pacto para a Infância (https://peticaopublica.com/?pi=pacto-para-infancia) e que esperamos que venha a ser alvo da maior atenção nesta legislatura da Assembleia da República.

O Pacto para a Infância procura criar consenso ao nível nacional em torno de 4 pilares de ação política e social.

O 1.º pilar visa a promoção da inclusão social e da luta contra a pobreza. Entre outras ações elencadas no Pacto, destacaria o apoio decisivo àprimeira infância através de respostas articuladas e qualificadas dos vários serviços envolvidos. Se o alargamento da cobertura das creches é chave, é urgente investir na qualificação dos seus profissionais, garantindo que a creche se constitua, efetivamente, como um contexto educativo promotor do desenvolvimento infantil. É nesta linha que o ProChild CoLAB, em colaboração com a Fundação Belmiro de Azevedo, criou um modelo de desenvolvimento em creche, designado DEC, que, como referi, visa o desenvolvimento profissional em contexto de creche e que está a ser implementado e alvo de avaliação em várias creches no norte, no centro e no sul do país.

O 2.º pilar visa a prevenção e proteção contra todas as formas de discriminação e violência contra a criança, nomeadamente pela qualificação dos profissionais e articulação dos serviços. E aqui destacaria, entre outras, a necessidade de investimento na qualificação do acolhimento familiar. Como referi, o ProChild CoLAB com a SCML, têm procurando contribuir para um Acolhimento Familiar de qualidade, através do Modelo Integrado de Acolhimento Familiar – MIAF.

O 3.º pilar visa assegurar a participação da criança em decisões e processos de relevância para a promoção dos seus direitos, nomeadamente nos contextos escolares e institucionais, nas cidades e nas comunidades. O ProChild tem em curso vários projetos que procuram contribuir para uma cultura comunitária promotora dos direitos da criança e da participação social, cidadania e igualdade, através de uma intervenção integrada nas áreas social, educacional, planeamento urbano, proteção e saúde, focada nas crianças e adultos em comunidades socialmente desfavorecidas.

O 4.º pilar, em articulação estreita com os restantes, proclama a necessidade de coordenação das políticas da infância nos vários níveis de governação – local, regional e nacional – o que implica a sua colocação na agenda política ao mais alto nível governamental. A proteção, desenvolvimento e bem-estar das crianças não pode ser a ação exclusiva de um ministério do Estado, mas é um desígnio que envolve e atravessa todas as áreas de governação política: educação, saúde, habitação, ambiente, segurança social, justiça, economia e finanças. Esta transversalidade exige processos de coordenação intergovernamental e uma forte articulação e concertação com o envolvimento ativo dos órgãos de poder regional e local numa perspetiva de descentralização.

Neste âmbito e tendo como objetivos garantir uma reflexão frutífera, promover a mobilização e participação ativa e gerar compromissos ao nível nacional para a concretização da visão do Pacto para a Infância, o ProChild tem levado a cabo várias iniciativas.

Com o apoio do Conselho Superior do ProChild, em torno do Pacto para a Infância, a nossa equipa começou por organizar grupos focais com crianças e grupos de discussão com académicos e profissionais de referência na área, com agentes do poder local e entidades com responsabilidade em matéria de infância e juventude. Os grupos focais sobre cada um dos pilares foram desenvolvidos em Guimarães, com crianças dos 3.º e 4.º anos de escolaridade da EB 1 de Gondar, da EB1 de Selho de São Cristóvão, e da Porta 7, com apoio dos seus professores. Nestes grupos focais, as crianças tiveram a palavra, exprimiram o seu pensamento e experiência sobre o que representa o Pacto para a Infância e o significado e importância que atribuem a cada um dos diferentes pilares. Destes grupos, resultou um vídeo denominado “O Pacto trocado por miúdos”, que está a ser difundido no nosso website e integrado em projetos com crianças em contextos escolares e comunitários.

Procurando dar continuidade e ampliar a discussão pública em torno do Pacto para a Infância, foi realizado o 1.º Encontro Internacional do ProChild CoLAB, em novembro do ano passado, que contou com os contributos de um conjunto de reputados especialistas nacionais e internacionais na área. Foi um evento singular ao reunir mais de 200 participantes, incluindo investigadores, profissionais, representantes de entidades públicas e privadas, bem como decisores políticos, num debate participativo e enriquecedor. Assumindo as crianças como uma prioridade nacional, este evento pretendeu gerar compromissos para a adoção de medidas ativas de políticas públicas e ações concretas orientadas para a concretização da visão plasmada na petição pública do Pacto para a Infância.

Todas estas iniciativas em torno do Pacto Para a Infância têm vindo a criar sinergias, que terão continuidade em ações futuras a serem desenvolvidas pelo ProChild e os seus parceiros.

De que forma tem contribuído para a prossecução da missão da UMinho em geral?

A missão e plano de ação do ProChild CoLAB estão em estreito alinhamento com a missão da UMinho e, por isso, são múltiplas as sinergias entre as duas instituições. Para além de estar representada na Assembleia Geral e na Direção do ProChild CoLAB, a UMinho, através dos seus docentes e investigadores, participa na supervisão e coordenação científica dos vários projetos em curso nas nossas unidades de I&D&I, na Academia ProChild e no Observatório ProChild Data.

Ao longo destes anos, docentes e investigadores da UMinho têm colaborado ativamente na criação e desenvolvimento de projetos com a equipa do ProChild, sendo de destacar a participação inicial dos centros de investigação- CiPsi, CIED, JusGov, NIPE e lab2pt – no lançamento do ProChild.

No âmbito da colaboração com a UMinho (e com outras entidades académicas), o ProChild CoLAB constitui um hub de formação, acolhendo estágios curriculares e profissionais, bolseiros de investigação e estudantes de mestrado e doutoramento, os quais são coorientados por docentes/ investigadores da UMinho e pelos nossos investigadores, proporcionado desse modo um contexto único de formação e aprendizagem in-loco.

Adicionalmente, esta estreita colaboração entre o ProChild CoLAB & UMinho reverte-se na conceção de projetos de I&D&I para candidaturas a financiamento competitivo nacional e internacional, em publicações e comunicações em coautoria e na organização conjunta de eventos científicos.

Em suma, a ação do ProChild CoLAB reforça e complementa os contributos (outputs) dos centros de investigação da UMinho. Além disso, no contexto das parcerias estabelecidas pelo ProChild com outras instituições académicas e não académicas, há uma oportunidade para os centros alargarem as suas redes, criarem novas sinergias para o desenvolvimento e implementação de projetos com impacto efetivo na sociedade, estimulando a criação de emprego altamente qualificado e de emprego científico e a criação de valor económico e social, em particular na área da pobreza e exclusão social na infância.

O ProChildCoLAB recebeu, no final de 2023, o Prémio Direitos Humanos 2023, entregue na Assembleia da República. Como viu este reconhecimento?

O Prémio Direitos Humanos 2023 atribuído ex-aequo ao ProChild CoLAB e à P.A.J.E. – Plataforma de Apoio a Jovens ex-Acolhidos, enche-nos de orgulho e alegria e conduz à reafirmação da nossa responsabilidade e do nosso compromisso na realização plena da missão e objetivos do Laboratório Colaborativo ProChild.

Como já referi, o plano de ação do ProChild CoLAB tem como desígnio o cumprimento efetivo da Convenção sobre os Direitos da Criança. A pobreza e a exclusão social constituem violações dos direitos das crianças, que têm de ser denunciadas, mas também combatidas através de ações efetivas e eficazes. Pretendemos que o ProChild CoLAB se constitua como instituição de referência nacional para o desenvolvimento de soluções integradas e eficazes para quebrar o ciclo da pobreza e promover os direitos e o bem-estar das crianças. Nesse sentido, e tendo como foco privilegiado os primeiros anos da vida fundamentado na evidência científica de que “Um bom início na vida garantirá um futuro sustentável para todos e todas”, o plano de ação do ProChild CoLAB concretiza-se em torno de um conjunto de projetos, elaborados e avaliados cientificamente, que visam quebrar o ciclo intergeracional de pobreza e desigualdade, e prevenir as consequências negativas de crescer em contextos de elevado risco e adversidade biopsicossocial.

O Prémio Direitos Humanos 2023 vem valorizar o trabalho realizado em conjunto, pela equipa do ProChild, membros da academia e de instituições não académicas, na concretização da missão e dos objetivos do nosso Laboratório Colaborativo, ao longo destes cinco anos. É um incentivo poderoso para continuarmos a trabalhar com determinação no combate à pobreza e exclusão social na infância.

Ao fazer cinco anos, como avalia o percurso deste laboratório até ao momento e quais são os planos para os próximos anos?

Encarando o futuro com esperança e determinação, estamos conscientes dos múltiplos desafios que temos pela frente e que se inscrevem num cenário de profunda incerteza e de emergências sociais, económicas e políticas. Neste contexto tão complexo, temos de ser ainda mais ousados(as), inquietos(as) e empreendedores(as). Alicerçados nos recursos e competências que construímos em conjunto, permanecendo otimistas e com foco no nosso objetivo estratégico “Crescer de forma sustentável”, e orientados pelos nossos valores, definimos as seguintes prioridades para os próximos anos:

  • Aumentar a receita proveniente de fontes de financiamento próprio e competitivo, que está dependente de vários fatores, designadamente, da nossa capacidade de reforçar parcerias já existentes e procurar ativamente novos parceiros e clientes estratégicos; da nossa agilidade na apresentação de propostas e desenvolvimento de projetos e respostas inovadoras de elevado valor acrescentado; da medição e avaliação do impacto dos nossos projetos; da capacidade de mantermos uma equipa altamente qualificada com currículos competitivos; e da aptidão para continuarmos a fomentar uma cooperação eficaz e eficiente capaz de aliar a excelência científica à consciência e responsabilidade sociais.
  • Contribuir para a formulação de políticas públicas e outras ações baseadas no conhecimento científico, orientadas para o combate à pobreza e exclusão social na infância, pelo reforço das relações e colaborações com entidades com responsabilidade ao mais alto nível em matéria de infância, assim como com o poder político central e local e com a comunicação social.

O balanço destes 5 anos de atividade evidencia uma trajetória de crescimento e de consolidação que vemos como uma prova de vitalidade e eficácia. Tudo isto só foi possível graças à colaboração extraordinária, solidariedade e generosidade de um conjunto vasto de pessoas e entidades. Assim, gostaria de deixar aqui a manifestação pública da minha profunda gratidão e reconhecimento a todos e a todas que participaram e contribuíram para a criação e desenvolvimento do ProChild, gerando estes resultados. Uma saudação especial de estima e profundo agradecimento a cada membro da nossa equipa pelo empenho, dedicação e contributos únicos para a afirmação do ProChild CoLAB como entidade de referência nacional. A minha manifestação de apreço estende-se, também, aos nossos Associados e Parceiros, membros da direção, membros do Conselho Superior e membros do Conselho de Ética, sempre disponíveis e cuja colaboração e voto de confiança são decisivos para o cumprimento da missão e objetivos do ProChild CoLAB.

Quais são, na sua opinião, os maiores desafios no combate à pobreza e exclusão social na infância e como vê as políticas relativas a esta área no nosso país?

A pobreza constitui uma problemática multidimensional de grande complexidade. No combate à pobreza há um conjunto de frentes de enorme vulnerabilidade, que interagem ampliando os seus efeitos e impedindo a existência humana com dignidade e bem-estar. Estas frentes envolvem barreiras, precariedade e dificuldades maiores no acesso, utilização e qualidade dos serviços de saúde, de educação e de ação social, das condições habitacionais, alimentares, rendimentos, entre outros aspetos. Por isso, consideramos que o combate à pobreza na infância não pode ser ação exclusiva de um serviço ou de um ministério, mas exige respostas integradas de política pública que envolvam de modo articulado todas as áreas de ação e governação política: educação, saúde, habitação, ambiente, segurança social, justiça, economia e finanças.

Neste âmbito, é imprescindível o alinhamento e articulação das políticas, com monitorização e avaliação do seu impacto, eficiência e eficácia. Para ganharmos este combate, é crucial e urgente colocar a criança no centro da agenda política. Mas esta centralidade só será efetiva e eficaz através de medidas ativas de política pública, de ações concretas que contribuam de forma decisiva para o desenvolvimento e bem-estar das crianças e as suas famílias.

Nesta linha, destacaria algumas das respostas psicossociais sobre as quais a investigação tem evidenciado serem promissoras quer para a prevenção, quer para a reparação de danos da exposição a elevada adversidade, e com impacto positivo na infância.

Programas de visita domiciliar constituem respostas de proximidade às famílias em elevado risco psicossocial e envolvem visitas regulares por profissionais altamente qualificados, que, de acordo com as necessidades da família e numa abordagem colaborativa, podem ter como objetivos, entre outros, proporcionar suporte emocional, apoio à organização da vida diária, orientação parental em várias áreas, nomeadamente através da literacia em educação, em saúde, em finanças e informação sobre os serviços comunitários.

Programas educativos de elevada qualidade que promovam efetivamente o desenvolvimento integral das crianças num ambiente relacional seguro e enriquecedor. Está aqui em causa a importância da qualidade educativa das creches e dos jardins de infância, contextos-chave de desenvolvimento particularmente relevantes para as crianças em situação de maior vulnerabilidade. Os estudos de James Heckman, prémio Nobel da Economia, demonstram de forma notável o poder transformador da educação de qualidade nos 1ºs anos de vida, que pode quebrar ciclos intergeracionais de pobreza. A pobreza não é inevitabilidade. É possível quebrar o ciclo intergeracional de pobreza e sabemos que esta é uma via impactante: quanto mais cedo o investimento em experiências educativas de qualidade, maior o retorno do investimento, não apenas ao nível da educação, mas também da saúde, da produtividade e da economia. Como defende Heckmann isto envolve 3 compromissos: Investir, Desenvolver e Sustentar para produzir ganhos: investir em recursos de qualidade promotores do desenvolvimento para crianças em risco; desenvolver as habilidades cognitivas e sócio-emocionais desde o nascimento e ao longo da infância; sustentar os ganhos no desenvolvimento inicial com uma educação eficaz até à idade adulta.

Não sendo possível sumariar os resultados de um vasto corpo de investigação que suporta estas suas asserções, sugiro visitar o site designado “Heckman Equation”, no qual encontra toda a evidência que justifica uma aposta determinante no investimento da educação de qualidade em creche e no jardim de infância.

Em ligação estreita com a educação infantil de qualidade, a investigação tem evidenciado a importância de intervenções parentais e familiares. Há um conjunto de programas validados cientificamente, individuais ou em grupo, que procuram fortalecer competências parentais, promover a coesão familiar, contribuir para o estabelecimento de redes de suporte social e promover a inclusão social. Quando estes tipos de programas são implementados por equipas de profissionais qualificados em articulação com os programas educativos em creche e no jardim de infância e com outros serviços na comunidade, verifica-se um aumento significativo dos ganhos, do seu impacto positivo no desenvolvimento das crianças e no bem-estar das suas famílias. Esta articulação das respostas de qualidade é fundamental.

Além disso, estas respostas de natureza psicossocial e educacional devem ser complementadas e articuladas com apoios de natureza laboral e financeira em famílias em situação de pobreza. Esta ação envolve políticas e programas que apoiam os rendimentos económicos e proporcionam apoio psicossocial e educacional, permitindo desse modo reduzir a ativação crónica dos sistemas de stresse em adultos e crianças e aumentar a capacidade de o/a adulto/a para fornecer cuidados sensíveis e responsivos, que promovem o desenvolvimento saudável da criança. A investigação tem demonstrado efeitos positivos do aumento dos rendimentos familiares – através de salários e prestações sociais – no desenvolvimento das crianças, em especial no seu nível cognitivo e desempenho académico. Como evidencia um dos estudos relevantes nesta área, Money matters nas famílias em situação de pobreza. São, por isso, necessárias políticas que assegurem uma justa redistribuição de rendimentos, permitindo melhores apoios sociais e económicos, e emprego digno.

Por último, a gravidade dos danos causados por experiências de stress tóxico pode exigir intervenções especializadas, nomeadamente de natureza psicoterapêutica. Para crianças, jovens e pais que manifestam psicopatologia grave, será necessário o recurso a respostas especializadas, de natureza psicoterapêutica dirigidas aos efeitos do trauma, com base na evidência científica.

Em síntese, hoje é claro que, para garantir uma maior eficácia e eficiência das respostas à complexidade da problemática de natureza biopsicossocial da pobreza, é necessário assegurar uma abordagem transdisciplinar, de natureza colaborativa e intersetorial, que articule as várias respostas na comunidade envolvendo serviços de saúde, de educação, de promoção e proteção e de ação social. Se é imprescindível a elevada qualificação dos profissionais, a sua integração em equipas competentes com supervisão adequada, bem como a articulação dos vários serviços para garantir a eficácia e eficiência das respostas, é chave a implementação de políticas públicas que, informadas pelo conhecimento científico, sejam capazes de responder às causas subjacentes a muitas das experiências adversas na infância, como a pobreza, a exclusão social, as desigualdades. Também aqui é fundamental a articulação das políticas, ao nível local, regional e central, que coloquem a criança no centro e que contribuam de forma decisiva para o seu desenvolvimento e bem-estar e das suas famílias, garantindo desse modo o respeito absoluto pelos seus direitos e contribuindo para uma infância feliz numa sociedade mais coesa e harmoniosa.

Venceu em 2023, o Prémio Ibérico de Psicologia, entregue pela Ordem dos Psicólogos Portugueses e pelo Conselho Geral de Psicologia de Espanha, e em 2024 venceu o Prémio de Mérito Científico pela UMinho. O que significaram estes prémios?

A minha carreira ao longo de mais de 40 anos, e que estes prémios reconhecem, só foi possível graças ao privilégio de ter encontrado e trabalhado com pessoas verdadeiramente únicas que me inspiraram: estudantes e colegas na academia, pacientes na minha atividade clínica, crianças e famílias em situação de vulnerabilidade psicossocial, que participaram nos nossos projetos de investigação, e que contribuíram para o meu sentido de responsabilidade social e compromisso no combate à pobreza e exclusão social, na defesa intransigente dos direitos humanos. Estas pessoas foram pilares fundamentais da minha aprendizagem e do meu desenvolvimento pessoal e profissional. O meu sentido de reconhecimento e de profunda gratidão estende-se à minha família, pelo enorme apoio e incentivo que sempre me deu, proporcionando-me, sempre, as melhores condições para poder investir na carreira profissional. A minha família foi e continua a ser decisiva no que eu sou e no que eu tenho vindo a realizar ao longo da minha carreira.

Estes prémios levam-me, naturalmente, a rever todo o caminho percorrido ao longo destes 40 anos. E, de facto, considero que tive oportunidades muito relevantes para o meu desenvolvimento pessoal e carreira profissional.

Em 1980, integrei o primeiro contingente de licenciados, formado nas recém-criadas Faculdades de Psicologia (Porto, Coimbra e Lisboa), tendo tido a oportunidade de começar a desbravar o território emergente da Psicologia em Portugal. Tive o privilégio de participar no início de quase tudo nesta área, no lançamento de múltiplos projetos de intervenção psicológica em contextos de saúde, de educação e em centros comunitários, em estreita articulação com o início da minha carreira académica como assistente na Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto. Esta transversalidade de experiências e de saberes, esta ligação estreita entre ciência e profissão formatou a minha identidade como docente-investigadora-psicóloga.

Ao nível da investigação, tive o privilégio de ter tido o apoio científico de Klaus Grossmann e Karin Grossmann da Universidade de Regensburg, Alemanha na realização da minha tese de doutoramento. Com o seu apoio, entrei na comunidade académica internacional da investigação no domínio da vinculação, o que marcou para sempre o meu domínio de pesquisa. Além disso, com ambos aprendi um modelo de trabalho em equipa verdadeiramente colaborativo, o qual veio a constituir verdadeiramente a minha matriz de trabalho, para sempre.

É muito gratificante manter relações de trabalho ao longo de mais de 30 anos, atravessando gerações. É emocionante acompanhar de perto o crescimento profissional de antigos/antigas estudantes de doutoramento, com carreiras promissoras, ter o privilégio de aprender com eles/elas, partilhar novos projetos onde vão sendo formados novos/novas estudantes. A minha carreira sempre assentou numa rede colaborativa, com colegas e estudantes (inter)nacionais da Psicologia e de área afins, o que permite novas sinergias e um sentido de complementaridade nos nossos projetos tecidos em conjunto.

Como referi, em 1993, após o meu doutoramento na Universidade do Porto, vim para a Universidade do Minho, tendo sido um tempo de grande crescimento profissional e pessoal ao participar nas fundações e desenvolvimento de um projeto de formação muito inovador, que se foi consolidando e ampliando ao longo dos anos. Ao longo dos anos, fui tendo a oportunidade de participar em vários órgãos de gestão a diferentes níveis, desde comissões e conselhos de cursos, direção de departamento, presidência da escola, senado académico e conselho geral, que me proporcionam um conhecimento maior e uma visão mais aprofundada da nossa instituição e do ensino superior em Portugal. Nesta linha, destaco, também, a minha experiência na Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior – A3ES, com a qual tenho colaborado desde 2010 no painel de Psicologia. Tem sido um privilégio trabalhar neste painel procurando contribuir para garantir a qualidade das IES, em particular, na área da Psicologia.

Enquanto presidente da Escola de Psicologia, entre 2013 e 2016, tive a oportunidade de colaborar no lançamento da Associação de Psicologia da Universidade do Minho – APsi, uma estrutura inovadora de prestação de serviços à comunidade que se foi erguendo, constituindo hoje uma plataforma muito relevante para a formação académica e profissional em Psicologia, bem suportada na evidência científica e na interação com várias entidades numa ampla comunidade. Revendo estes 30 anos, nesta casa que sempre me acolheu muito bem e na qual me sinto muito feliz, tem sido um tempo extraordinário.

Em 2017, com um grupo de colegas da UMinho e de outras universidades e instituições não académicas, começámos a trabalhar numa candidatura a Laboratório Colaborativo, designado ProChild. Foram quase 2 anos de trabalho árduo, muito desafiante no sentido de construir uma rede colaborativa com diversas entidades, académicas e não académicas, em torno de uma candidatura que visava o combate à pobreza e exclusão social na infância. No final de 2018 vimos esse esforço reconhecido pela FCT: o ProChild foi avaliado por um painel internacional com a classificação máxima e recebeu o título de Laboratório Colaborativo. O trabalho desenvolvido ao longo destes 5 anos tem sido muito exigente, mas muito gratificante. Uma experiência única de aprendizagem profissional e pessoal e absolutamente inesquecível. A atribuição do Prémio Direitos Humanos 2023 pela Assembleia da República vem reconhecer a qualidade do trabalho e a dedicação à realização da missão e objetivos do ProChild de um grupo de pessoas extraordinárias – a nossa equipa ProChild, os nossos associados e os nossos parceiros – em prol do desenvolvimento e bem-estar das crianças e da defesa e promoção dos seus direitos.

Texto: Ana Marques

Foto: Nuno Gonçalves

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PERCURSOS…

Patricia
  • Patricia

PERCURSOS…

Patrícia Pinto nasceu em França, mas vive em Braga há 36 anos. Com 54 anos, é casada e mãe de três filhos. Desempenha funções nos Serviços de Acção Social (SASUM) há 24 anos, onde integra o Departamento de Apoio ao Administrador (DAA), uma equipa com cerca de 23 trabalhadores.

Nesta entrevista, a trabalhadora, adstrita ao Divisão de Recursos Humanos (DRH), fala-nos do seu percurso de vida e experiência profissional, conta como é vivido o dia a dia, assumindo gostar muito do que faz.

Como chegou aos SASUM?

Entrei nos SASUM em 2000, tendo como administrador o Dr. Armando Osório, com um contrato a termo de 5 meses para substituição de uma trabalhadora em licença parental, no Setor das Propinas. A responsável do Setor de Recursos Humanos, Ana Maria Alves, antes de terminar o meu contrato, desafiou-me a vir trabalhar para o Setor e cá fiquei, com um contrato sem termo. 

Qual a sua situação académica e profissional?

Sou licenciada em Relações Internacionais, atualmente sou Técnica Superior nos SASUM. 

Há quantos anos está nos Serviços e quais são, atualmente, as suas funções?

Estou na atual Divisão de Recursos Humanos há 24 anos, como responsável pelos vencimentos e recrutamentos. 

Gosta do que faz?

Apesar da minha formação académica não estar ligada aos Recursos Humanos, gosto muito das funções que desempenho. É uma área que tem estado sempre em constante evolução e me desafia a encontrar o equilíbrio entre a defesa do interesse da entidade patronal e os direitos e deveres dos trabalhadores. 

O que mais a motiva e quais as maiores dificuldades, no dia a dia, no desenvolvimento do seu trabalho? Como caracteriza o trabalho que é feito na Divisão de Recursos Humanos, em particular na sua área?

Nos SASUM existe há muitos anos, a convivência entre a legislação do setor privado e do setor público, isto é, trabalhavam para a mesma entidade funcionários públicos e trabalhadores com contrato individual de trabalho, cujas diferenças a nível de direitos e deveres eram acentuadas. Em 2009, com a alteração legislativa, os funcionários públicos e os trabalhadores com contrato individual de trabalho das instituições de ensino superior passaram a ser trabalhadores em funções públicas, e, em 2016, com a passagem da Universidade do Minho a Fundação, todos os novos trabalhadores foram admitidos ao abrigo do Contrato de Trabalho. Estes foram dois momentos marcantes a nível profissional, pois implicaram muito trabalho de adaptação.

Outro momento marcante foi a pandemia. As alterações constantes ao que se podia fazer, ao que era permitido, chegou a ser diário no início. Lembro-me de estar a preparar informações e circulares de manhã que à tarde já estavam desatualizadas…. Trabalhar em regime de teletrabalho foi desafiante, com muito tempo passado ao telefone, muita reunião online e muitas horas de trabalho para além das normais. Tive de me disciplinar a desligar tudo após o horário normal de trabalho…

Mais recentemente, outro momento marcante tem sido a desmaterialização de processos que os SASUM estão a implementar. Ao contrário do que acontece na UMinho, nos SASUM os processos de Recursos Humanos ainda eram todos em “papel”.

Tenho de assumir que tinha alguns receios quanto à adaptação dos trabalhadores ao uso de plataformas eletrónicas na gestão da sua relação com os Serviços e com a DRH. Esses receios foram infundados e posso afirmar, com orgulho nos meus colegas, que a adaptação foi muito mais fácil e rápida do que eu antecipava. 

Quais são as melhores e as piores memórias que tem do seu trajeto nos SASUM?

A interação com os meus colegas, no desenvolvimento das minhas funções, é uma das coisas que mais aprecio. Para isso também contribui a equipa que integro. O bom ambiente e o bom humor imperam no nosso gabinete, e isso é fundamental para que os dias, mesmo os mais difíceis, fluam facilmente.

Serão esses momentos de desafio profissional que marcam e marcarão as melhores memórias da minha passagem pelos SASUM.

O pior momento foi o falecimento do Nuno Cariano, que mais do que ser um colega de gabinete, era um amigo pessoal. O seu desaparecimento prematuro foi muito duro e difícil de ultrapassar, e sei que não fui a única nos SASUM a ficar abalada. Estou, neste momento, sentada na sua secretária, dessa forma não tenho a visão diária do vazio que deixou…

Como olha para o futuro?

Olho para o futuro com tranquilidade, mas também com desassossego. Tranquilidade em relação à família e aos amigos, desassossego em relação ao rumo que a sociedade está a tomar, com o crescimento dos extremismos e da intolerância. Infelizmente, a sociedade tem memória curta e não aprende com o passado.

Preocupa-me a falta de empatia que grassa na sociedade, o olhar cada vez mais para o umbigo e o não aceitar que as diferenças fazem parte e são essenciais para o bem-estar de todos.

Curiosidades

O que a marcou?

O nascimento dos meus filhos e acompanhar o seu crescimento até à vida adulta. Tenho orgulho na minha arquiteta, na minha mestranda em Engenharia Física e no meu caloiro em Engenharia Informática! Todos filhos também da UMinho!

O que ainda não fez?

Viajar, viajar, viajar.

Ainda tem um grande sonho?

Tenho o sonho de me dedicar em exclusivo à arte têxtil, da qual sou uma grande curiosa e pequena “aprendiz”, se é que se pode ser aprendiz de arte…

Livro?

O Senhor dos Anéis.

Filme?

O Amor acontece. É essencial vê-lo uma vez por ano, pelo menos…

Uma música e/ou um músico?

Freddie Mercury.

O que gosta de fazer nos tempos livres? 

Sou uma devoradora de séries! Gosto de bordar, costurar, mexer em linhas e tecidos. Gosto de mexer na terra no meu jardim, mal começa o bom tempo a despontar.

Vício?

Sou fumadora, se não tivesse esse defeito seria perfeita, o que seria uma chatice…

Um lugar?

Cabanas de Tavira.

A Universidade do Minho?

Passado, Presente e Futuro.

Texto: Ana Marques

Foto: Nuno Gonçalves

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PERCURSOS…

PERCURSOS…

Filomena Costa é natural e vive em Braga há 38 anos. Casada, mãe de um casal de 10 e 3 anos, desempenha funções nos Serviços de Ação Social (SASUM) há 14 anos. Atualmente, faz parte do Departamento de Apoio Social (DAS), uma equipa com cerca de 50 trabalhadores. Nesta entrevista, a trabalhadora, adstrita ao Centro Médico, fala-nos do seu percurso de vida e experiência profissional, conta como é vivido o dia a dia, assumindo adorar o faz.

Como chegou aos SASUM e qual o seu percurso académico e profissional?

Fiz a Licenciatura em Enfermagem na Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho (UMinho) de 2005 a 2009. No final do curso, dediquei-me exclusivamente ao atletismo, por opção minha. Primeiro porque não queria afastar-me da minha residência (local de treino e família), e segundo, em Braga, estava difícil arranjar trabalho na minha área. Decorridos alguns meses, os resultados que obtive não foram os que desejava e comecei a pensar em trabalhar na minha área. Por coincidência, em 2010, surgiu a oportunidade de começar a trabalhar no Centro Médico dos SASUM. Fui informada que iriam abrir um Centro Médico na Universidade e iam contratar três enfermeiras. Fiquei muito feliz por se lembrarem de mim (pelo meu percurso desportivo e académico na UMinho) e muito entusiasmada com o novo projeto. Fui à entrevista e fui posteriormente contactada para começar a trabalhar.

Há quantos anos está nos Serviços e quais são, atualmente, as suas funções?

Comecei a prestar serviço de Enfermagem para os SASUM em outubro de 2010 (5h/dia), e em maio de 2018 assinei um contrato de trabalho. Exerço atualmente funções como Enfermeira (Técnica Superior) no Centro Médico dos SASUM, em Braga.

Gosta do que faz?

Adoro o que faço, gosto da minha intervenção na comunidade académica (com os alunos e trabalhadores docentes e não docentes). É um trabalho gratificante e desafiador. Temos um papel fundamental na promoção da saúde, na promoção do bem-estar físico, mental e social da nossa comunidade. Tento sempre realizar o meu trabalho o melhor que consigo, indo de encontro às necessidades e satisfação dos utentes e do serviço. Sinto-me muito acarinhada na nossa comunidade académica.

O que mais a motiva e quais as maiores dificuldades, no dia a dia, no desenvolvimento do seu trabalho?

Sinto que cresci como pessoa e também como profissional. Sou um “bocado” perfecionista, adapto-me facilmente e tenho um ótimo ambiente de trabalho. Além das intervenções de enfermagem (tratamento de feridas, administração de injetáveis, avaliação de vários parâmetros e outros cuidados de enfermagem), também temos o trabalho administrativo (atendimento ao público, apoio às Consultas disponibilizadas no Centro Médico, …). Gosto de estar próxima dos alunos/utentes, poder ajudar/apoiar no que conseguir, para que sintam/saibam que os vemos como um todo.

As maiores dificuldades que sinto são as situações de cariz financeiro com que lido (ainda temos alguns alunos com dificuldades a nível alimentar), as situações familiares (alterações nos laços familiares), a falta de empatia, sendo a nossa intervenção essencial, em alguns casos.

Como caracteriza o trabalho que é feito no Departamento de Apoio Social, em particular na sua área?

É um trabalho bastante exigente, com muita responsabilidade e fundamental no apoio à comunidade. Requer muita atenção, presença e empatia. Trabalhamos para a promoção da saúde e prevenção da doença, tentamos melhorar a qualidade de vida dos utentes e o seu bem-estar. Intervimos a nível da Educação para a Saúde (importância de uma alimentação saudável e exercício físico regular, tentar levar uma vida saudável, hábitos de sono/repouso adequados e comportamentos apropriados).

Para além das suas funções diárias no centro médico da UMinho, é também atleta/maratonista. O que significa para si o desporto e poder continuar a conciliar o trabalho com a paixão pelo desporto e pelas maratonas?

Quando trabalhava 5h/dia era mais fácil conciliar atletismo e trabalho, agora com 7h/dia requer uma maior organização da minha parte.

O desporto para mim é vida, fazer exercício físico todos os dias é um grande prazer, torna o meu dia a dia mais feliz, com mais energia e sinto-me melhor, mentalmente e fisicamente. O atletismo é muito importante na minha vida, consegui excelentes resultados, fiz amizades e acima de tudo, faz-me ser uma melhor profissional no meu trabalho, consigo gerir melhor o tempo e as prioridades, sou mais ativa/dinâmica, tenho melhor capacidade de lidar com situações novas/inesperadas e consigo transmitir algum conhecimento das minhas experiências.

O que mais destaca no seu percurso desportivo?

Destaco ter conseguido mínimos para os Jogos Olímpicos de 2016 (Rio de Janeiro) na Maratona, ter ganho em 2015 a Maratona de Sevilha (alcançado a minha melhor marca pessoal na maratona 2h28’ no dia do meu 30ºaniversário) e o meu 12.º lugar na Maratona do Mundial de Pista em 2015 (Pequim).

O mais importante e do mais me orgulho, é que sei estar no atletismo, porque para além de ser competitiva, também criei amizades, sou humilde e justa.

Estás a trabalhar para estar nos próximos Jogos Olímpicos?

Não penso nos próximos JO, porque já são em agosto de 2024, mas penso, sim, nos Jogos Olímpicos de 2028. Sei que é muito difícil e tenho de ser realista, a idade avança (terei 43 anos), mas para mim, impossível é o que nunca se tentou. Passei e estou a passar uma fase mais complicada, de lesões e recuperação (o Gonçalo demorou a dormir noites completas) e diminuiu o meu rendimento. Vou continuar a treinar/trabalhar para tentar obter bons resultados, se conseguir ir aos JO seria um sonho tornado realidade. Um sonho adiado, porque os JO 2016 foram-me tirados, foi muito injusto e eu treinei para aquele resultado. Fica na memória o ter conseguido mínimos para uns JO, um momento muito feliz da minha carreira desportiva.

Quais são as melhores e as piores memórias que tem do seu trajeto nos SASUM?

As melhores memórias que guardo são as pessoas que conheci e me marcam/marcaram enquanto pessoa, que me fizeram crescer, aprender e melhorar.

Como olha para o futuro?

Com esperança, otimismo e pensar que melhores dias virão. Temos um papel importante na sociedade e temos de transmitir bons valores, de respeito, educação, interajuda …

Curiosidades

O que a marcou? O nascimento dos meus filhos.

O que ainda não fez? Viagem à Tailândia.

Ainda tem um grande sonho? Sim, estar presente nuns Jogos Olímpicos.

Livro? Isto Acaba Aqui (Colleen Hoover).

Filme? Prometo Amar-te (Michael Sucsy).

Uma música e/ou um músico? Bryan Adams.

O que gosta de fazer nos tempos livres?  Viajar, passear com a família e conviver com os amigos.

Vício? Correr!!!

Um lugar? O Mar.

A Universidade do Minho? É um prazer trabalhar na UMinho!

Texto: Ana Marques

Foto: Nuno Gonçalves

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“Os grupos culturais têm como missão inspirar a Universidade e os universitários …”

“Os grupos culturais têm como missão inspirar a Universidade e os universitários …”

Com o objetivo de cumprir a tradição dos fados nas Serenatas da Academia, o Sina nasceu a 1 de março de 2022, sendo o grupo mais recente da Universidade do Minho (UMinho).

​O Sina é um grupo de Fados com influência do Fado de Coimbra e de Lisboa, mas que se distingue pela intenção de desenvolver o Fado do Minho e de o dar a conhecer à sua população. O grupo nasceu após o repto lançado pela Associação Académica da Universidade do Minho. Dez alunos da UMinho, Beatriz Torres, Daniela Sousa, Francisca Alves, Inês Ferreira, João Monteiro, Margarida Pereira, Maurício Vale, Nuno Mendes, Pedro Belo e Ricardo Remelgado, juntaram-se para e criaram o grupo que agora faz sucesso.

O UMdicas esteve à conversa com a direção do grupo para saber mais sobre o Sina, sobre a sua origem, trajeto, sobre os seus projetos e sobre o seu futuro.

De que é feito este grupo e como se caracterizam?

Neste momento, o grupo é constituído por alunos e ex-alunos da UMinho, caracterizados pelo seu interesse e paixão pelo fado e todas as suas tradições.

Como descrevem o vosso trajeto e que balanço fazem?

O nosso trajeto tem sido de procura constante por evolução, por desafios e crescimento artístico.

Em que se destaca e diferencia o Sina dos outros grupos culturais?

O Sina destaca-se de outros grupos de fados pela abertura a qualquer aluno ou ex-aluno da UMinho, e não apenas masculino como acaba por ser mais usual. Destaca-se, também, pela procura constante pela inovação, por não se restringir a um estilo de fado específico, assim como pela procura por uma linguagem própria no fado enraizada na cultura minhota.

Participam em espetáculos e eventos muito diferenciados. Como caracterizam as vossas performances em palco? O que trouxeram e trazem ao panorama cultural da Universidade?

Participamos em espetáculos em vários tipos de recintos. Para além das atuações académicas, fazemos também atuações noutro tipo de eventos, tanto públicos como privados. Tendo também participado em eventos de solidariedade. Procuramos sempre abordar o fado no seu todo e em todas as suas facetas, assim como demonstrar que é possível criar novas culturas musicais e artísticas.

Por quantos elementos é constituído o grupo atualmente, e quem pode fazer parte dele?

Atualmente, o grupo é constituído por 12 membros, sendo que também se procede consistentemente ao ensino e integração de futuros membros. Qualquer atual ou antigo aluno da Universidade do Minho pode fazer parte do grupo.

No vosso percurso, quais os momentos e participações que destacam? Qual o vosso ponto alto do ano?

Há que destacar duas atuações recentes: a atuação nas Serenatas Velhas, neste último mês de outubro, e a atuação nas Estrelas ao Sábado, um programa na RTP, onde conseguimos passar à próxima etapa da competição. Estas terão sido, até agora, os pontos altos do nosso ano.

Quais os projetos do grupo mais importantes a curto/médio prazo?

A curto/médio prazo, para além das atuações ligadas ao calendário académico, procuramos estender o nosso leque de atuações (não só na nossa região como pelo país) e começar a criar uma cultura de fado na cidade de Braga.

A dinamização do grupo, torná-lo cada vez mais atrativo é, provavelmente, um dos vossos grandes objetivos. O que têm a dizer aos interessados em fazer parte do grupo?

Gostaríamos de dizer que têm toda a abertura não só para fazer parte do grupo, mas, também, para entrar em contacto com o grupo e partilhar o amor que temos por esta música.

Qual é maior sonho do Sina? O que ainda não fizeram e gostavam de concretizar?

O maior sonho do Sina é podermos passar a nossa mensagem e a nossa paixão a todos os que nos ouvem.

Como veem o panorama dos grupos culturais universitários em Portugal e a nível internacional?

A qualidade e a projeção dos grupos culturais tem crescido cada vez mais, em grande parte devido ao ótimo trabalho desenvolvido e ao apoio que têm recebido ao longo dos anos. São, hoje em dia, um estandarte do que a Universidade do Minho representa.

Como analisam o contexto dos grupos culturais na vida da Universidade e de um universitário?

Os grupos culturais têm como missão inspirar a Universidade e os universitários, criar e cristalizar a identidade da instituição que os acolhe, assim como representar os seus valores em todas as oportunidades que lhes forem providenciadas. Servem como um lembrete de que a experiência académica vai muito além do estudo, sendo também feita de amizade, acolhimento e da exploração das coisas que verdadeiramente nos fazem felizes e completos.

Uma mensagem à comunidade académica?

Gostaríamos de agradecer todo o apoio e presença que a comunidade académica nos tem prestado e continuaremos a trabalhar para que todas as nossas atuações sejam cada vez melhores, e sempre memoráveis. E a qualquer interessado em entrar no grupo, que entre em contacto com o grupo através das redes sociais.

Texto: Ana Marques

Foto: AAUMinho

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PERCURSOS…

PERCURSOS…

Fátima Gomes é natural e vive em Braga (Gondizalves) há 62 anos. Casada, com duas filhas e dois netos, desempenha funções nos Serviços de Ação Social da Universidade do Minho (SASUM) há 33 anos. Atualmente, faz parte do DCF, uma equipa com cerca de 20 trabalhadores.

Nesta entrevista, a trabalhadora, adstrita ao Departamento Contabilístico e Financeiro (DCF) dos Serviços de Ação Social da Universidade do Minho (SASUM), mais especificamente, à Divisão de Contabilidade e Tesouraria, fala-nos do seu percurso de vida e experiência profissional, conta como é vivido o dia a dia, assumindo que ser avó tem sido “uma das experiências mais gratificantes da minha vida”, e afirmando que a sua maior motivação “é poder contribuir para o bom funcionamento dos SASUM”.

Como chegou aos SASUM e qual o seu percurso académico e profissional?

O meu percurso académico foi marcado por diferentes fases de aprendizagem. Em 1999, ingressei no ensino recorrente, onde completei o terceiro ciclo do ensino básico, equivalente ao 9.º ano. Posteriormente, através do programa ‘Novas Oportunidades’, obtive o 12.º ano de escolaridade, consolidando assim a minha formação.

O meu percurso profissional teve início em 1978, num laboratório de análises clínicas, onde adquiri valiosos conhecimentos e experiência na área. Em fevereiro de 1990, dei um novo passo na minha carreira ao começar a trabalhar nos SASUM, por meio de um contrato com a Associação Académica da Universidade do Minho. Neste novo ambiente profissional, em fevereiro de 1996, já com contrato com os SASUM, desempenhei funções administrativas no apoio de secretariado ao Gabinete do Administrador e na área da Tesouraria. Em 2001, iniciei uma nova fase da minha carreira profissional, como assistente administrativa, e desde então e até à presente data, tenho desempenhado funções, no atual, DFC, mais especificamente na Divisão da Contabilidade e Tesouraria.

Há quantos anos está nos Serviços e quais são, atualmente, as suas funções?

Estou nos Serviços há 33 anos e, ao longo desse tempo, as minhas responsabilidades evoluíram para funções específicas relacionadas com o processamento de faturação. Além disso, desempenho atividades de controlo das dívidas e apoio a verificação e recebimento de dinheiro proveniente das unidades dos SASUM.

Gosta do que faz?

De uma maneira geral, sim. Apesar da repetição das tarefas, cada uma é singular e distinta, o que traz uma certa variedade e desafio ao trabalho.

O que mais a motiva e quais as maiores dificuldades, no dia a dia, no desenvolvimento do seu trabalho?

O que mais me motiva no dia a dia é contribuir para o bom funcionamento dos SASUM. Em relação às dificuldades, destaco o esforço associado à necessidade de atender às exigências e prazos diários para verificação e envio dos documentos.

Como é um dia de trabalho de Fátima Gomes?

O dia de trabalho de Fátima Gomes segue uma rotina habitual que envolve várias tarefas dentro da Divisão da Contabilidade e Tesouraria. Uma parte significativa das minhas atividades diárias consiste na verificação do numerário das unidades, na emissão de faturas e no suporte a outras tarefas relacionadas com esta Divisão. No que diz respeito à faturação, as minhas tarefas incluem diferentes etapas. Começo por atualizar as distribuições recebidas através do docUM e por email para preparar a emissão das faturas. Também verifico os saldos das notas de encomenda, quando necessário, e procedo à emissão dos documentos, enviando-os para as entidades correspondentes, como clientes e Unidades da Universidade do Minho. Além disso, uma parte importante do meu trabalho consiste na verificação e no contacto com os clientes para garantir o recebimento dos valores pendentes. Em resumo, o meu dia de trabalho está relacionado com a gestão financeira, faturação e apoio administrativo no âmbito da Contabilidade e Tesouraria, assegurando que os processos sejam concluídos com precisão e eficiência.

Como caracteriza o trabalho feito no Departamento Contabilístico e Financeiro, em particular na sua área?

Trabalhar na Divisão da Contabilidade e Tesouraria é um desafio que exige uma extrema responsabilidade, devido aos procedimentos minuciosos que devemos seguir no âmbito da faturação e a todas as exigências legais que precisamos cumprir.

Quais as melhores e as piores memórias que tem do seu trajeto nos SASUM?

Relativamente às melhores e piores memórias no meu percurso nos SASUM, prefiro focar-me nos desafios enfrentados e nas oportunidades que surgiram. Estes momentos proporcionaram um constante crescimento e aprendizagem ao longo do caminho, seja pela evolução das práticas de trabalho ou pelo avanço tecnológico que experimentei.

Como olha para o futuro?

De forma expectante.

Curiosidades

O que a marcou?

O nascimento das minhas filhas.

O que ainda não fez?

Andar de avião.

Livro?

Não tenho hábito de ler.

Filme?

Titanic.

Uma música e/ou um músico?

Tony Carreira.

O que gosta de fazer nos tempos livres?

Nos meus tempos livres, uma das coisas que mais valorizo é estar com a minha família e amigos, quer seja para conversar, fazer atividades juntos ou simplesmente desfrutar da companhia uns dos outros.

Vício?

Não tenho.

Um lugar?

Praia.

A Universidade do Minho?

Instituição importante tanto para o ensino quanto para as cidades de Braga e Guimarães.

Texto: Ana Marques

Foto: Nuno Gonçalves

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Entrevista à Administradora dos SASUM, Alexandra Seixas

Entrevista à Administradora dos SASUM, Alexandra Seixas

Alexandra Seixas é Administradora dos Serviços de Ação Social da Universidade do Minho (SASUM) há pouco mais de um ano. Alumna da UMinho, é licenciada em Informática de Gestão e fez todo o seu percurso profissional na academia minhota. A responsável faz um balanço positivo deste ainda pequeno trajeto à frente da instituição, revelando estar a ser um desafio “ainda maior do que estava à espera”.

Quem é a Administradora dos SASUM?

Sou uma alumna da UMinho, de Informática de Gestão (designação do curso à data), com todo o percurso profissional desenvolvido na “casa”, tendo passado por vários serviços e desempenhado diversas funções e cargos. Casada e mãe de dois filhos já adultos e com muita vontade de ver acontecer, quer na dimensão pessoal, quer na profissional.

É a primeira mulher administradora dos SASUM. Como surgiu o convite e como o encarou?

O convite foi-me endereçado pelo Senhor Reitor, como é natural, sendo que se trata de um cargo de nomeação. Pese embora não deixe de considerar um (bom) sinal dos tempos a cada vez maior taxa de ocupação de cargos de responsabilidade por parte de mulheres, gosto de pensar que é porque temos cada vez mais mulheres preparadas para isso e com vontade disso! Não apenas pelo simples facto de serem… mulheres!

Ser Administradora dos SASUM é, para si, uma missão profissional ou um prazer pessoal?

As instituições precisam de quem nelas esteja por espírito de missão. Mais que nunca.

Com um longo curriculum ao serviço da UMinho, uma relação iniciada ainda enquanto estudante. Em que se alterou a sua vida com o abraçar deste projeto?

Ficou bem mais dinâmica, digamos… A minha fase de vida pessoal permite-me abraçar este desafio com uma entrega que não teria há uns anos. Mas sim, é um projeto que exige uma entrega muito grande, um empenho diário, motivação e muita força de vontade!

Como caracteriza a sua função? As experiências anteriores têm-na ajudado no cumprimento deste novo cargo? Quais os maiores desafios inerentes ao cargo que exerce?

Eu encaro a função como eminentemente executiva. Sei que há abordagens diferentes, porventura mais estratégicas, mas eu não consigo desligar estratégia, de ação. Sou de terreno, gosto de ver acontecer. O maior desafio diria que é o da sustentabilidade financeira do Serviço, pois sem ela não é possível prosseguir a nossa missão.

Penso que todo o percurso profissional nos prepara para qualquer desafio, pois somos o que fizemos, e como fizemos, ao longo da nossa carreira. Mas diria que o meu envolvimento na desmaterialização e reengenharia de processos na Universidade, em 2014, dotou-me de competência e visão importantes para o desempenho desta função.

Acresce o cargo de chefe de divisão nos Serviços Académicos e ainda o cargo de secretária de Escola que me permitiu conhecer as dinâmicas pedagógicas e, por conseguinte, as relacionadas com os estudantes e as suas necessidades.

Após um ano à frente dos destinos dos SASUM, que balanço faz desta experiência?

Um desafio ainda maior do que estava à espera, confesso. Pela complexidade da organização – por ser mais pequena que a UMinho, facilmente se cai no logro de pensar que os processos serão mais simples, o que não é, de todo, verdade. Menor dimensão pode ser sinónimo de maior complexidade e eu tenho testemunhado isso diariamente. Mas é, certamente, um balanço que faço pela positiva, pelo que de enriquecedor comporta e pela natureza social do serviço que presta.

Como caracteriza os SASUM atualmente e quais são, na sua opinião, os maiores desafios da Administração que lidera?

Os SASUM são uma organização que presta serviços aos estudantes, com foco nos mais carenciados, e, por isso, é nobre a sua missão. Os desafios são enormes, já referi o da sustentabilidade financeira, mas podemos referir a requalificação do edificado, sobretudo o edificado que acolhe os nossos estudantes residentes, mas também o restante que acusa as suas já mais que duas décadas sem intervenção de fundo. Também, o parque de equipamentos já obsoleto que serve as nossas cozinhas e torna as tarefas dos nossos colaboradores mais pesadas e demoradas. Há muitos desafios, mesmo, mas eu diria que estes são os que estão completamente identificados como necessitando de atenção e soluções urgentes. Outros, como o do alargamento da prestação de serviços, como é o caso da área da saúde mental, por exemplo, já têm luz ao fundo do túnel, tendo os SASUM integrado a candidatura da Universidade no âmbito do Programa de Promoção da Saúde Mental no Ensino Superior, juntamente com a Escola de Psicologia, a Escola de Medicina e a AAUMinho.

Existe algum projeto/plano especial que gostasse de ver concretizado até ao final do seu mandato? Quais as áreas onde vai centrar a sua atenção?

Os referidos na resposta à pergunta anterior. Acresce a desmaterialização e reengenharia de processos que já encontrei em andamento, mas que vou fazer questão e garantir a sua implementação plena e abrangendo a totalidade do Serviço e dos processos, o que não estava previsto no processo em curso que encontrei.

Na prossecução da sua tarefa enquanto administradora, quais têm sido as maiores dificuldades com que se tem deparado?

As maiores dificuldades têm sido principalmente de natureza financeira e a gestão da articulação das pessoas e serviços.

Sente que tem uma equipa motivada e empreendedora?

Sim, sinto. Tenho, nesta fase, uma equipa com quem conto para levar a cabo as estratégias e respetivas ações que a concretizem. Estou certa de que a qualidade da colaboração e o comprometimento de cada membro refletem-se na qualidade do serviço que oferecemos aos estudantes.

Quais os projetos infraestruturais ou outros, mais importantes dos SASUM a curto/médio prazo?

Nessa matéria diria, sem dúvida, as novas residências em Braga e em Guimarães. Ainda que os SASUM não sejam os “donos de obra”, acompanham e integram comissões e júris de procedimentos prévios à construção e/ou reabilitação dos respetivos edifícios e vão gerir o seu funcionamento e a sua atividade. A disponibilização destes equipamentos vai duplicar a oferta de quartos e a sua operacionalização vai ser um desafio gigantesco para a estrutura.

Qual o orçamento dos SASUM para 2024?

Cerca de 9.800 milhões de euros. Valor do orçamento submetido: 9.850.866,00 €.

Os SASUM têm uma grande capacidade de arrecadação de receitas próprias. O que representam estas, atualmente, no total do orçamento dos SASUM? De que formas poderão os SASUM reforçar as suas receitas próprias?

A capacidade de arrecadação das chamadas receitas próprias dos SASUM é assinalável, de facto, representa cerca de 62% do orçamento total e queremos, através da oferta de novos serviços e serviços mais apelativos, aumentar essa capacidade, claro. Mas também está na nossa mira a captação de verbas via concurso a financiamento externo, dimensão na qual já estamos a trabalhar, nomeadamente no que respeita ao previsto na candidatura submetida no âmbito do programa de promoção da saúde mental no ensino superior que já referi acima, mas também vamos procurar solucionar, por essa via do financiamento externo, a requalificação muito urgente dos edifícios das Residências.

Os SASUM têm vindo a fazer uma grande aposta na área da sustentabilidade. O que tem sido feito e onde querem chegar?

Os SASUM têm feito essa aposta, de facto. Considero, inclusivamente, que o trabalho que conseguiram fazer é notável, mas considero também que esse trabalho faz sentido se alargado à UMinho como um todo. Nesta fase, será nesse caminho que vamos trabalhar.

A falta de alojamento para os estudantes universitários tem sido uma das questões na ordem do dia. Por outro lado, tem havido protestos relativamente à qualidade das residências disponíveis. O que está a ser feito pelos SASUM e pela Universidade no sentido de ir ao encontro das exigências dos estudantes?

Penso que já respondi a esta questão em mais que uma resposta dada acima, mas reforço que sim, o alojamento e a qualidade de vida nas nossas residências são uma prioridade completamente identificada e para a qual estamos a trabalhar com muito afinco, esgotando todas as vias e percursos ao nosso alcance.

O desporto continua a ser uma das grandes bandeiras dos SASUM. A aposta e investimento no desporto será para continuar e reforçar?

O desporto é uma aposta da UMinho e da AAUMinho e os SASUM têm, como tal, encarnado esse desígnio o melhor que pode e que sabe com os meios que tem e que lhe são disponibilizados. Nesta medida, continuará a ser uma aposta dos Serviços, sim.

A UMinho foi premiada com Selo Estudante-Atleta. Este será para revalidar daqui a dois anos? Qual a estratégia?

Certamente que continuaremos a lutar pela excelência na prestação de serviços que permita aos estudantes apostarem em carreiras duais, sendo essa uma aposta estratégica da UMinho. Neste contexto, continuaremos a desenvolver a atividade de suporte a esse desígnio e a revalidação desse selo será, penso eu, algo quase natural, diria.

Como caracteriza a situação atual da ação social no ensino superior? Quais são os aspetos mais positivos e os mais negativos da atualidade?

A ação social no ensino superior engloba apoios indiretos e diretos. No que respeita aos apoios indiretos, os serviços de alimentação são afetados atualmente pela instabilidade dos mercados, da qual resultam variações súbitas de preços e constrangimentos vários nos procedimentos de aquisição de produtos. Este contexto afeta sobremaneira o serviço que pretendemos prestar aos estudantes, nomeadamente o fornecimento de refeições sociais.

Ainda neste grupo de apoios indiretos, os serviços de alojamento estudantil, apesar dos esforços internos para garantir as melhores condições de conforto, estão altamente condicionados, por um lado, pela falta de camas e, por outro, pela falta de financiamento que permita investir na reabilitação das infraestruturas e na renovação de mobiliário e equipamentos.

Neste particular, é positivo que o Orçamento do Estado para 2024 preveja o aumento de verbas para ação social indireta – reforço de 40 euros por estudante bolseiro alojado – contudo, ainda muito aquém dos valores de apoio que o Estado atribui aos estudantes bolseiros que, por falta de vaga nas residências públicas, ficam alojados no setor privado.

Importa, por isso, insistir num caminho de reforço dos recursos dos Serviços de Ação Social, de maneira a permitir a prestação de um serviço de qualidade e acessível a todos os estudantes que dele precisam para frequentar o ensino superior.

No que concerne aos apoios diretos, nomeadamente à atribuição de bolsas de estudo, regista-se como positivo o alargamento do limiar de elegibilidade, o que tem vindo a permitir apoiar mais famílias com insuficiências económicas, sendo, porém, necessário refletir também sobre outras condições de elegibilidade previstas no regulamento de atribuição de bolsas, tendo em consideração não só a conjuntura económica atual, como, sobretudo, o contexto de crescente internacionalização do ensino superior, que tem comportado novos desafios também no campo dos apoios sociais a disponibilizar aos estudantes.

Que mensagem gostaria de deixar à Academia e aos trabalhadores dos SASUM?

Aos estudantes, reforçar o que o maravilhoso hino da UMinho afirma: “estes anos são viagem” e ela deve mesmo ser aproveitada ao máximo! Estamos cá para ajudar nesse percurso!  Aos trabalhadores dos SASUM, uma mensagem de agradecimento e de reconhecimento pelo muito que por aqui se faz todos os dias com tão pouco!

Texto: Ana Marques

Foto: Nuno Gonçalves