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Bienal de Educação arranca com apelos a uma escola pública humanista, crítica e comprometida com o futuro

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Bienal de Educação arranca com apelos a uma escola pública humanista, crítica e comprometida com o futuro

Ana Marques ⠿ 18-06-2025 12:00

A Universidade do Minho deu início, esta segunda-feira, 16 de junho, à primeira edição da Bienal de Educação, promovida pelo Instituto de Educação (IE). A sessão de abertura contou com intervenções de Beatriz Pereira, presidente do IE, Álvaro Laborinho Lúcio, representante da direção da Bienal, e Rui Vieira de Castro, reitor da UMinho. Os discursos convergiram numa visão da educação como alicerce da democracia, da justiça social e da construção de futuros sustentáveis, sublinhando o papel da universidade e da escola pública como espaços de transformação e compromisso.

A Bienal, que decorre sob o tema "O futuro é a educação: as pessoas, a vida e a escola", afirma-se como um espaço de diálogo intergeracional e interdisciplinar, abrindo caminho à escuta ativa de crianças, jovens, profissionais e investigadores.

A presidente do Instituto de Educação abriu a sessão afirmando a centralidade da educação numa perspetiva de vida inteira: “A educação é um elemento fundamental dos zero aos 100 anos.” Referindo que “a Bienal nasce da convicção de que a educação é o maior contributo para a democracia, a tolerância e a convivência entre os humanos e entre estes e o planeta”, e sublinhando o papel da universidade na promoção de “uma pedagogia ativa, crítica, criativa, colaborativa e corresponsável.”

Para Beatriz Pereira, num tempo marcado pela polarização, pela desinformação e por crises sociais e ambientais profundas, é essencial “valorizar o pensamento, o tempo e o sentido” e recusar o caminho do “imediatismo e da pressão performativa.” A responsável do IE enfatizou ainda que falar de educação é falar de pluralidade e das bases que sustentam uma sociedade democrática: “Falar de educação é falar da diversidade de famílias, de línguas, de nacionalidades e dos espelhos de sustentação da educação.” Assumindo o propósito da Bienal, destacou a escola pública como espaço de esperança, autonomia e cidadania: “A escola pública é hoje o espaço por excelência do exercício da autonomia e da cidadania.” Concluiu reiterando a missão do evento: “Esta Bienal quer ser um espaço de diálogo, de produção de conhecimento e de compromisso com uma educação pública, democrática e de qualidade.”

No mesmo tom, Álvaro Laborinho Lúcio, antigo ministro da Justiça e reconhecido pensador da educação, centrou a sua intervenção na necessidade de reconhecer a criança como sujeito político e cívico desde o início da vida. “A primeira dimensão é a da educação. A segunda é a da liberdade. E a terceira é a da democracia”, afirmou, defendendo que estes pilares não podem ser encarados separadamente. “Não se pode dizer que se é livre e viver-se amarrado. Não se pode dizer que se vive em democracia e viver-se numa construção social autoritária, negadora da cidadania de alguns.”

Laborinho Lúcio defendeu ainda uma pedagogia que reconheça o papel político das crianças e jovens, salientando que “a vida da criança é hoje, não é amanhã” e que não basta prepará-la para o futuro — é preciso envolvê-la no presente. “Se eu não viver como cidadão enquanto sou criança, a cidadania será sempre um adereço que me vai sendo imposto, e não uma estrutura que interiorizei.”

Já o reitor da UMinho começou por enaltecer a pertinência da Bienal num momento de “profunda transformação, com características que configuram uma transição civilizacional”, afetando os planos tecnológico, ecológico, social, económico e cultural. Alertou para os perigos da “fragilização da confiança nas instituições democráticas”, da “exclusão digital” e de um “mal-estar social difuso” que alimenta “o populismo, o extremismo e a desinformação.”

Para Rui Vieira de Castro, a educação deve voltar a ser entendida como “um espaço de formação humana, técnica, ética e cívica”, e não como mero instrumento de empregabilidade. “A educação é a base sobre a qual se constrói o futuro”, afirmou. Defendeu uma visão ampla e humanista da educação, que integre “a preparação para cenários de mudança e incerteza”, “a promoção dos valores da sustentabilidade e da cidadania global” e o “reforço da cultura democrática e da confiança nas suas instituições.”

Reafirmando o compromisso da universidade com o seu tempo e com a sociedade, o reitor sublinhou o papel do IE como “lugar de formação, de investigação, de intervenção social e de promoção de valores”, e destacou a importância da formação de professores como eixo estruturante do projeto educativo. “Vemos os estudantes como sujeitos de esperança e de transformação. Valorizamos os educadores. Reconhecemos que nenhuma política educativa será eficaz sem os professores.” Acrescentou ainda: “A universidade afirma a educação como espaço de liberdade, complexidade e construção de sentido, recusando visões redutoras da escola, dos estudantes ou da sociedade.”

A Bienal decorrerá ao longo da semana, com dezenas de painéis, oficinas, sessões artísticas e intervenções públicas que integram docentes, investigadores, estudantes, crianças, jovens, famílias, associações, escolas e comunidades. Ao colocar a educação no centro da vida pública, a Universidade do Minho assume o desafio de “pensar em relação ao projeto coletivo, humanístico e transformador ao serviço de uma sociedade mais justa”, concluiu o reitor.

Atualizado a 18-06-2025 12:00