
Encontro Nacional na UMinho traça novos caminhos para a ação social no ensino superior
Ana Marques ⠿ 09-06-2025 15:00
A Universidade do Minho acolheu, no dia 6 de junho, o II Encontro de Administradores de Ação Social das Universidades Públicas Portuguesas, reunindo responsáveis de várias instituições do país para um debate centrado nos modelos de gestão e nos desafios crescentes enfrentados pelos serviços de apoio aos estudantes.
O encontro decorreu no auditório do IB-S – Instituto de Ciências e Inovação para a Bio-sustentabilidade, no campus de Gualtar, e contou com a presença de representantes dos Serviços de Ação Social da Universidade do Minho (SASUM) – entidade organizadora –, bem como da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Universidade do Porto (SASUP), Universidade de Coimbra (SASUC), Universidade de Aveiro (SASUA), ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, Universidade de Lisboa, Universidade de Évora e Universidade dos Açores.
Na sessão de abertura, a administradora dos SASUM, Alexandra Seixas, destacou a importância do encontro como espaço de partilha e desenvolvimento conjunto: “Esperemos que este seja um momento de crescimento para todos, um momento de troca de ideias e de aprendizagem. E que estas possam contribuir para a melhoria dos serviços”, afirmou.
Durante a manhã, os SASUM apresentaram o seu modelo de gestão direta, ainda predominante, mas já sob pressão com a entrada em funcionamento de duas novas residências universitárias que duplicarão a oferta de camas. Foram também apresentadas alternativas de gestão, com base num estudo da Deloitte (2021), que analisa diferentes práticas na área da ação social.
Um dos temas centrais foi o impacto desta expansão da capacidade de alojamento na UMinho, que traz consigo novos desafios de gestão e operação. “Será que continuamos a cumprir os nossos objetivos? Precisamos de novos modelos ou basta evoluirmos nos que temos?”, questionou Alexandra Seixas, sublinhando a importância de uma reflexão conjunta sobre o futuro da ação social no ensino superior.
Heliana Silva, diretora do Departamento de Apoio ao Administrador dos SASUM, acrescentou: “Gerir estruturas de grande escala com recursos limitados obriga-nos a repensar os modelos e o futuro.”
Durante a apresentação, foram ainda discutidos os modelos e principais instrumentos de gestão (protocolos, prestação de serviços, subcontratação), bem como os respetivos prós e contras. A gestão direta permite maior controlo e alinhamento com a missão institucional, mas implica riscos operacionais, financeiros e de sustentabilidade a longo prazo. Por outro lado, a concessão pode libertar recursos e trazer know-how especializado, embora acarrete riscos de perda de controlo, falhas contratuais e necessidade de estruturas de monitorização robustas. “Às vezes, pensamos que ao concessionar deixamos de ter um problema, mas os desafios da gestão contratual podem ser ainda maiores”, alertou Heliana Silva.
O debate que se seguiu revelou realidades muito distintas entre instituições. O administrador da Universidade de Lisboa, Pedro Simão, partilhou as dificuldades em manter os serviços em exploração direta, sobretudo na área alimentar, devido à escassez de mão de obra qualificada:
“Neste momento, temos apenas duas unidades alimentares em exploração direta. As restantes operam com fornecedores externos, porque não conseguimos contratar cozinheiros ou assistentes por valores compatíveis com o custo de vida em Lisboa.”
Na área do alojamento, o desafio é comum: crescimento acelerado da oferta sem financiamento correspondente. Além das dificuldades financeiras, foi destacada a responsabilidade civil direta dos administradores perante incidentes, bem como os elevados custos de manutenção de equipamentos modernos e complexos, muitas vezes fornecidos por empresas internacionais com difícil acesso técnico.
O debate permitiu um diagnóstico claro: o modelo de ação social está sob enorme pressão em todo o país. Constrangimentos financeiros, escassez de pessoal, exigências técnicas cada vez mais complexas e a incerteza quanto aos apoios do Estado foram identificados como barreiras críticas à planificação a médio e longo prazo. Ainda assim, a colaboração entre instituições, através de grupos de trabalho e partilha regular de práticas, foi reconhecida como uma força essencial para a construção de soluções sustentáveis.
O encontro culminou numa reflexão alargada sobre o futuro da ação social no ensino superior e sobre o modelo institucional que a deve sustentar. “Temos de deixar de ser vistos apenas como ‘quem serve refeições’ ou ‘quem tem quartos’. A ação social deve ser reconhecida como uma função estratégica das universidades, ao serviço da equidade, do sucesso académico e do desenvolvimento humano”, defendeu o diretor dos SASUP, Miranda Coelho.
O Encontro deixou claro que não existem soluções fáceis nem universais, mas sim uma vontade coletiva de mudança. A partilha aberta de experiências — das dificuldades às inovações — fortaleceu a rede de colaboração entre instituições.
Com a promessa de continuar a reflexão nos próximos encontros, os participantes saíram de Braga com uma certeza partilhada: o futuro da ação social no ensino superior exige coragem institucional, compromisso político e investimento real.
Atualizado a 09-06-2025 15:00