Saltar para o conteúdo

Sítio Oficial de Informação dos Serviços de Acção Social da Universidade do Minho

Página Inicial/Notícias/

O impacto das redes sociais na política foi debatido por António José Seguro

A imagem pode conter: José, Seguro, António

O impacto das redes sociais na política foi debatido por António José Seguro

Ana Marques ⠿ 24-04-2025 15:00

A sessão inaugural das VII Jornadas de Ciência Política da Universidade do Minho, realizada esta quarta-feira, dia 23 de abril, foi marcada por uma reflexão profunda sobre o impacto das novas tecnologias na política contemporânea. Convidado especial do primeiro painel do ciclo EEGConnect, o antigo ministro António José Seguro trouxe uma análise crítica sobre o papel das redes sociais, os desafios da democracia e o comportamento político atual.

Moderado por Manuel Pinto, estudante de Ciência Política da Escola de Economia, Gestão e Ciência Política da Universidade do Minho, o debate iniciou-se com uma questão sobre o papel dos debates televisivos e a sua influência na opinião pública. Seguro apontou que “o problema dos debates é mais o antes e o depois do que propriamente os debates em si”, sublinhando que os formatos atuais frequentemente estão mais focados no espetáculo mediático do que no conteúdo político.

Sobre o crescente papel das redes sociais, o ex-ministro foi claro: “As redes sociais são mais um instrumento de troca de informação e de comunicação, com uma virtude: o acesso universal e gratuito. Mas também favorecem o extremismo e o radicalismo, criam bolhas, dividem e manipulam.” Alertou ainda para a responsabilidade individual na sua utilização: “Compete a cada um de nós decidir se replicamos ou paramos. A instituição mais eficaz é cada cidadão.”

Seguro destacou também a necessidade urgente de uma educação democrática, considerando que a democracia tem sido muitas vezes limitada ao funcionamento institucional, negligenciando a formação cívica: “Cuidámos das instituições, mas não cuidámos da formação democrática das pessoas”, afirmou.

Referindo-se à atual erosão democrática observada em várias partes do mundo, apontou que “pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, há um recuo democrático, tanto na qualidade como no número de países que são efetivamente democráticos.”

Durante a conversa, foi abordado também o conceito de desafeição política, quando os cidadãos se afastam do debate público. Seguro defendeu que a solução passa por reduzir a distância entre a democracia ideal e a democracia real: “Quanto maior essa distância, maior a desilusão”, destacou.

Num olhar mais abrangente sobre a relação entre tecnologia e democracia, a conversa abordou os desafios colocados pelas grandes plataformas digitais e pela inteligência artificial. Foi sublinhado o poder crescente dessas empresas e o seu impacto direto nas democracias: “As plataformas digitais têm um poder enorme de influência e manipulação, podendo impactar diretamente a eleição de um candidato A ou B”, referiu Seguro.

Neste contexto, a regulação tecnológica foi apresentada como uma prioridade para garantir a integridade democrática. “A regulação na Europa não é uma limitação; é uma necessidade para garantir a liberdade e a concorrência justa”, afirmou o orador, contrastando com o modelo norte-americano mais permissivo.

A discussão tocou também o tema da confiança nos sistemas eleitorais, especialmente face a uma eventual transição digital. “Se temos um sistema onde há confiança, qualquer transição, como a introdução do voto eletrónico, precisa de garantir que esse nível de confiança seja mantido”, advertiu Seguro, defendendo uma implementação gradual e cuidadosamente testada.

Por fim, abordou-se o papel promissor — mas também ambíguo — da inteligência artificial na vida democrática. “A IA pode ser uma aliada, mas não deve substituir o pensamento crítico. Ela deve ser usada para orientar, não para fazer o trabalho por nós”, afirmou o ex-governante.

A sessão terminou com uma nota de esperança e responsabilidade coletiva: “A democracia exige vigilância, participação e consciência. Não é só o governo que cuida dela. Somos todos nós”, concluiu.

Esta sessão integrou o programa EEGenerating Skills e marcou o arranque de dois dias de debates sob o tema "Política na Era Digital", que reúne estudantes, académicos e especialistas para discutir os desafios da política num mundo cada vez mais digitalizado.

Atualizado a 24-04-2025 15:00