
UMinho desenvolve vacina experimental contra a candidíase
GCI ⠿ 16-07-2025 10:00
Testes pré-clínicos foram promissores e perspetiva-se ensaios em humanos. Doença provoca um milhão de mortes por ano
Cientistas da Escola de Ciências da Universidade do Minho (ECUM) testaram com sucesso em animais uma vacina contra a candidíase invasiva, uma infeção fúngica que pode ser fatal para doentes imunocomprometidos, como quem faz transplantes ou quimioterapia. Nos ensaios pré-clínicos, animais vacinados registaram menos sintomas, maior taxa de sobrevivência e melhoria do estado geral do organismo após infeção. A equipa da professora Paula Sampaio quer agora fazer testes clínicos em humanos, para aferir a segurança e eficácia da vacina.
O projeto nasceu há dez anos nos laboratórios em Braga e, após várias tentativas, criou-se uma nanopartícula esférica de gordura (lipossoma), que transporta e apresenta duas proteínas do fungo Candida albicans ao sistema imunitário. Este reconhece-as e ataca o fungo quando o volta a ver. “Estas infeções são difíceis de diagnosticar atempadamente e de tratar, devido à toxicidade e resistência aos antifúngicos, mas a nossa vacina experimental conseguiu estimular o sistema imunitário a reconhecer e combater o fungo; acreditamos por isso que pode vir a reduzir a mortalidade, os internamentos prolongados e os custos associados, podendo ser um avanço importante na proteção de doentes em risco”, revela Paula Sampaio, do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da ECUM.
Os resultados do trabalho saíram na revista “npj Vaccines”, do grupo Nature, envolvendo ainda Augusto Costa-Barbosa, Inês Pacheco, Andreia Gomes, Tony Collins e Célia Pais, todos do CBMA e do Instituto de Ciência e Inovação para a Bio-Sustentabilidade (IB-S) da UMinho, além de Alexandra Correia (Instituto de Biologia Molecular e Celular, IBMC) e Manuel Vilanova (IBMC e Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, i3S), ambos da Universidade do Porto.
As infeções por Candida mais frequentes surgem nos genitais, dobras da pele, unhas, boca e sistema digestivo. No entanto, em pacientes com imunidade baixa, este fungo pode entrar na corrente sanguínea, infetando órgãos internos e provocando candidíase invasiva. A candidíase invasiva afeta 1.5 milhões de doentes por ano, sendo que cerca de um milhão (63%) acaba por morrer.
Diferentes de vírus e bactérias, os fungos geram pouca atenção, mas as suas infeções são cada vez mais frequentes e paralelas, como aquando da Covid-19. A Organização Mundial de Saúde lista o Candida albicans entre os fungos mais urgentes na pesquisa científica e médica. “A candidíase é uma infeção oportunista, por vezes confundida com outras condições, o que dificulta o diagnóstico e reduz a perceção pública da sua gravidade; a ausência de campanhas de sensibilização e o fraco conhecimento geral sobre infeções fúngicas também levam a que seja subvalorizada no debate sobre saúde pública”, realça Paula Sampaio. “Mais do que diagnósticos eficientes, precisamos sobretudo de terapias para baixar a percentagem de mortalidade”, sustenta a docente.
Atualizado a 16-07-2025 10:00