Publicado em Deixe um comentário

Universidade do Minho: Quando dormir corrige os problemas de miopia



 


No estudo “Efeitos das propriedades biomecânicas da córnea na resposta ortoqueratológica”, Sofia Nogueira, recém-licenciada em Optometria e Ciências da Visão na Universidade do Minho, analisa a reação da córnea e da correção visual de 14 pacientes que interromperam o tratamento, após o uso de lentes de contacto especiais durante nove meses. “Os resultados demonstram que a maioria dos sujeitos consegue ter uma visão satisfatória durante dois dias sem utilizar as suas lentes”, realça a investigadora, orientada pelo professor da Escola de Ciências da UMinho, José González-Méijome.


 


A investigação centra-se na ortoqueratologia, técnica clínica que utiliza lentes de contacto rígidas e permeáveis aos gases concebidas para remodelar a córnea a fim de reduzir ou eliminar temporariamente defeitos da visão como a miopia e o astigmatismo. As lentes ortoqueratológicas têm como objetivo moldar o “epitélio” – camada mais superficial da córnea. Destacam-se das lentes ditas normais por serem de “geometria inversa”. “As lentes utilizadas no tratamento têm uma conformação contrária à da córnea para aplaná-la e, por conseguinte, corrigir a miopia”, explica Sofia Nogueira.


 


Os resultados são uma extensão dos trabalhos desenvolvidos por José González-Méijome e colaboradores do Laboratório de Investigação em Optometria Clínica e Experimental (CEORLab) do Centro de Física da UMinho. “Os pacientes envolvidos na experimentação foram avaliados no âmbito de estudos iniciados pelo docente, sendo que já usavam lentes há cerca de nove meses”, explica a licenciada. Um dos objetivos principais da investigação foi verificar até que ponto o aplanamento da córnea persiste, mesmo após a interrupção do tratamento. “A regressão do efeito ortoqueratológico tende a ser mais significativa após o segundo dia”, confirma Sofia Nogueira. Verificou-se ainda uma pequena recuperação do efeito do tratamento, o que poderia ser atribuído à pressão exercida pelas pálpebras fechadas sobre os olhos durante o período de sono. Os resultados provam que a retenção do efeito ortoqueratológico pode prolongar-se até ao terceiro dia. Contudo, esta conservação temporária da curvatura da córnea é variável de paciente para paciente, sendo necessário desenvolver, segundo José González-Méijome, novos trabalhos sobre esta questão.


 


Tratamento é reversível


 


Durante os três dias foram realizadas várias medições aos parâmetros biomecânicos, ao nível de curvatura da córnea e à acuidade visual. O trabalho demonstra a perda gradual do efeito ortoqueratológico, sendo que o tratamento torna-se normalmente menos eficiente em casos de miopia mais elevada. Em casos de miopia baixa (inferior a -1.5 dioptrias), a deterioração visual é mínima no final do primeiro dia, o que não justifica a utilização de lentes durante a noite. O mesmo já não acontece com os míopes com mais dioptrias: “Apesar de alguns pacientes ainda sentirem as repercussões dos efeitos, a maioria dos envolvidos tinham que dormir com lentes de contacto no segundo dia, tendo já perdido grande parte da compensação obtida com o tratamento”, explica a investigadora.


 


José González-Méijome assegura, contudo, que pacientes com miopia até seis dioptrias “podem utilizar as lentes durante o sono e retirá-las de manhã usufruindo de uma boa visão durante todo o dia. É normal que o tratamento regrida naturalmente e que a córnea adote novamente a sua forma original se o paciente deixar de utilizar as lentes de contacto durante a noite”, afirma. O tratamento é um processo gradual que não depende apenas da utilização adequada das lentes de contacto. O investigador já tinha constatado num estudo, desenvolvido em 2008, que as propriedades biomecânicas da córnea condicionam o grau de sucesso. Este projeto vem confirmar, neste caso, que a regressão da terapia está igualmente relacionada com fatores intrínsecos do olho.


 


Primeiro estudo mundial na área é da UMinho


 


As repercussões das propriedades biomecânicas da córnea na resposta ao tratamento ortoqueratológico já foram sugeridas na literatura internacional, contudo nunca tinham sido demonstrado. O primeiro estudo publicado a nível mundial sobre esta questão foi desenvolvido, em 2008, por José González-Méijome, Jorge Jorge e António Queiros, do Centro de Física da UMinho, Cesar Villa, da Universidade Europeia de Madrid, e Manuel Parafita, da Universidade de Santiago de Compostela. As lentes de contacto são utilizadas por cerca de 120 milhões de pessoas em todo o mundo. Calcula-se que, em Portugal, aproximadamente 3 a 4 por cento da população deva recorrer a este método para corrigir defeitos de visuais.


 


__________________________________________


Gabinete de Comunicação, Informação e Imagem


Universidade do Minho


Tel.: (+351) 253601109 /28 | 961766329


Fax: (+351) 253601105


E-mail: gcii@reitoria.uminho.pt



(Pub. Set/2011)


 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *