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“A Licenciatura em Matemática é um curso de banda larga”



Qual a sua formação e
trajeto académico?

Estudei Matemática em Berlim, Alemanha, e fiz
o meu doutoramento na área da Topologia Algébrica na Université Catholique
de Louvain,
na Bélgica, em 1998. Depois do doutoramento dei aulas na
Universidade de Lille, em França. Desde o ano letivo 2001/2002 estou na UM,
onde sou Professor Auxiliar.

Como caracteriza a
sua função de diretor de curso?

A função principal do Diretor de Curso é assegurar o normal
funcionamento do curso e propor medidas que visem ultrapassar dificuldades
funcionais encontradas. Enquanto Diretor de Curso sou um e
lo de comunicação
privilegiado entre os alunos, os docentes e o Departamento.

O que o motivou a
aceitar “comandar” este curso?

O convite foi-me
dirigido pelo Diretor do Departamento de Matemática e Aplicações, o Prof. Rui
Ralha. Como já pertencia à anterior Comissão de Curso da Licenciatura em
Matemática, aceitei este convite com naturalidade.

 As experiencias anteriores têm-no ajudado no
cumprimento da sua função de diretor de curso?

Como pertencia à
Comissão de Curso anterior, estava bem preparado para o cargo. Para além disso,
fui durante muitos anos Coordenador Erasmus do meu Departamento. Nesta função
elaborei muitos planos de equivalência para alunos da Licenciatura em
Matemática. Esta experiência ajuda-me claramente agora nesta tarefa.

Quais são as maiores
dificuldades no cumprimento da sua função?

Sentimos os efeitos
da crise orçamental. Por falta de verbas não podemos implementar certas medidas
de melhoria do curso. Por exemplo, gostaríamos de oferecer um apoio tutorial
para os alunos do 1º ano, mas não podemos contratar os monitores necessários
para isto.

Outro problema é que
a crescente integração informática na Universidade não conduz sempre à
simplificação dos processos. Tivemos, por exemplo, recentemente um problema com
o calendário de exames. A Comissão de Curso tinha proposto ao Conselho
Pedagógico um calendário de exames sem quaisquer sobreposições de exames. O
calendário de exames final, feito usando um programa informático, não
contemplou isto e houve exames de UCs diferentes que tiveram lugar ao mesmo
tempo. Tenho dificuldades em imaginar que não houve salas disponíveis para
poder implementar o nosso calendário de exames.


No seu entender,
porque é que um futuro universitário deve concorrer à Licenciatura em
Matemática
?

Esperamos sempre que
os nossos alunos estejam motivados pelo gosto pela Matemática. A licenciatura,
sobretudo quando completada por um mestrado, fornece aos alunos o conhecimento
em Matemática e as técnicas matemáticas necessárias para modelar e resolver
problemas de âmbito científico ou tecnológico do mundo empresarial e da
investigação. As capacidades de rigor e de análise que os alunos desenvolvem
durante os seus estudos ser-lhes-ão, certamente, muito úteis no seu futuro
profissional.

Quais são na sua
opinião os pontos fortes deste curso? E os pontos fracos?

Como ponto forte
destacava o facto de termos um corpo docente estável, experiente e com formação
avançada nas áreas lecionadas no curso. Os docentes estão, em geral, muito
disponíveis para os alunos e existe uma grande variedade de apontamentos e
outros elementos de apoio ao estudo elaborados pelos docentes. Outro ponto
forte do curso é o número significativo de UCs com componente laboratorial a
funcionar em laboratórios de computação bem equipados.

Um ponto fraco do
curso é a articulação com os Mestrados do Departamento de Matemática e
Aplicações. Muitas vezes o Departamento não consegue abrir os Mestrados que os
alunos preferem. Neste momento, o DMA está a repensar a sua oferta ao nível de
mestrados.

O que caracteriza
este curso da UMinho relativamente aos cursos da Licenciatura em Matemática de
outras universidades?

A Licenciatura em
Matemática é um curso de banda larga, fornecendo os conhecimentos básicos em
Matemática, quer na sua componente fundamental quer na sua componente aplicada.
O plano de estudos contempla as diversas áreas básicas, e grande parte das
áreas complementares, internacionalmente consideradas essenciais numa formação
de 1º ciclo em Matemática. O que diferencia o curso da UM de outros é o relevo
dado à utilização de software de cálculo simbólico, numérico e de
Estatística.

Existem hoje em dia
excesso de profissionais em determinadas áreas. O que podem esperar os alunos
da Licenciatura em Matemática quanto ao mercado de trabalho?

Existem diversos
setores da economia que necessitam de profissionais com conhecimentos avançados
em Matemática. Um exemplo é o setor financeiro como os bancos e os seguros.
Também as tecnologias de segurança informática e de comunicações na Internet
baseiam-se em Matemática sofisticada. É óbvio que os professores de Matemática
precisam de uma formação sólida em Matemática. Este setor encontra-se
infelizmente praticamente fechado neste momento. Os matemáticos estão de facto
habilitados para trabalhar em muitas áreas porque as capacidades de raciocínio
lógico, de abstração e de análise de estruturas complexas que têm, pela sua
formação, são competências que os qualificam para as mais diversas tarefas de
organização de processos como, por exemplo, de produção ou logísticos.

Antes de iniciar a
vida profissional, muitos alunos optam, e isto é, na minha opinião, muito
razoável, por estudar mais dois anos e fazer um Mestrado a fim de aumentar as
suas qualificações. A Licenciatura em Matemática dá acesso a diversos Mestrados
da UMinho e de outras universidades na área da Matemática e noutras áreas como,
por exemplo, na Economia. O Departamento de Matemática e Aplicações tem
atualmente vários mestrados: temos o Mestrado em Matemática, que é um mestrado generalista,
e temos mestrados especializados em subáreas da Matemática, como o Mestrado em
Estatística e o Mestrado em Matemática e Computação que está na interface entre
a Matemática e a Informática. Como já disse, a oferta de Mestrados do DMA está
a ser repensada neste momento.


Acompanhou o período
das reformas de Bolonha, marcado por uma profunda alteração do modelo de
ensino. Como o avalia?

A principal alteração
introduzida pelo processo de Bolonha no ensino superior foi a divisão das
antigas licenciaturas de 5 anos em cursos de 1º ciclo de 3 anos e cursos de 2º
ciclo de 2 anos. A atual Licenciatura em Matemática sucede, quase diretamente,
à licenciatura pré-Bolonha em Ensino de Matemática. O plano de estudos desse
curso misturava disciplinas de Matemática e disciplinas de Educação, tendo sido
o peso total das disciplinas de Matemática essencialmente de três quintos. O
efeito de Bolonha é a concentração da parte da Matemática nos três primeiros
anos. Quem quiser hoje fazer uma formação correspondente à antiga Licenciatura
em Ensino de Matemática tem de fazer primeiro a Licenciatura em Matemática e
depois um Mestrado adequado em Educação. Assim, no caso da nossa licenciatura,
a diferença é que a escolha da especialização é feita mais tarde, depois de 3 anos
de formação de base em Matemática. Visto as dificuldades económicas atuais,
esta alteração parece-me positiva.

Em relação às
metodologias de ensino, estas não se alteraram significativamente com o
processo de Bolonha. As aulas teóricas continuam a ser dadas no quadro, e os
alunos resolvem exercícios em casa e nas aulas práticas. Na minha opinião é bom
que não se tenha alterado este modelo clássico do ensino da Matemática que é
aplicado com sucesso em todo o mundo.

Quais são as suas
prioridades para o curso nos próximos tempos?

É muito provável que
o curso seja avaliado no próximo ano letivo pela A3ES, a Agência de Avaliação e
Acreditação do Ensino Superior, e é obviamente muito importante conseguir que o
curso seja bem avaliado e continue acreditado. Outra prioridade é a
estabilização da procura do curso. Depois de alguns anos difíceis, o curso
conseguiu este ano letivo encher na primeira fase do concurso nacional de
acesso ao ensino superior público. De facto, temos muitos alunos com boas
médias e que escolheram o curso como primeira opção. Esta situação deve-se
certamente também ao esforço que o Departamento de Matemática e Aplicações e a
Escola de Ciências têm feito ao nível da divulgação dos cursos. Devemos
trabalhar no sentido de continuar com uma boa procura do curso por alunos bons
e motivados.

Quais são para si os
principais desafios?

É vital para o curso
melhorar a articulação entre a licenciatura e a oferta educativa do
Departamento de Matemática e Aplicações ao
nível do 2º ciclo
. Verifica-se, de facto, que muitos alunos estão
interessados no Mestrado em Matemática Económica e Financeira que é um curso
que o DMA tem em conjunto com a Escola de Economia e Gestão e cuja abertura o
DMA não tem conseguido concretizar nos últimos anos. Temos de sensibilizar os
alunos para os Mestrados que o DMA pode abrir e temos de reestruturar a nossa
oferta de cursos de 2º ciclo indo ao encontro das expectativas dos alunos. O
DMA está consciente destes problemas e está a trabalhar para encontrar
soluções.


Texto: Ana Coimbra

Fotografia: Nuno Gonçalves


(Pub. Mar/2013)

 

 

 

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