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“As taxas de empregabilidade, que rondam os 99%, são extraordinárias nos dias que correm.”


 

Qual a sua formação e trajeto académico?

Os meus interesses sempre foram mais
ou menos ziguezagueantes; na época em que estudei, havia, no 10º e 11º ano,
algo denominado por área B e que tinha a variante Informática. Nessa altura já
brincava com Basic e Pascal, e experimentava o Tex para escrever textos. A
escolha que tomei para o 10º ano era mais ou menos natural face aos meus
interesses e passatempos. Estudei em Coimbra, e nessa altura tive conhecimento
da Licenciatura em Matemática e Ciências Computação (LMCC). Esta informação
serve para mostrar que a boa publicidade desse curso não se limitava ao Minho.
Mas no 12º fiz mais um ziguezague e os interesses alteraram-se. No último
momento, acabei por escolher o curso de Matemática, na Universidade de Coimbra.
No 3º ano enveredei pelo Ramo de Matemática Pura. Terminado o curso, ingressei
no então Departamento de Matemática da Universidade do Minho. Fiz o mestrado
onde me licenciei, e o doutoramento na Universidade do Minho, orientado pelo
Prof. Roland Puystjens da Universiteit Gent. Quis o destino que mais de duas
décadas depois fosse convidado para ser Diretor de Curso da herança da bem
afamada LMCC.


Como caracteriza a sua função de diretor
de curso?

Como diretor de curso compete-me
zelar pelo funcionamento regular das atividades letivas, nomeadamente pelo
cumprimento das normas de funcionamento de cada semestre (calendário e
metodologias de avaliação), articulado com os responsáveis de cada UC.
Em particular existe um acompanhamento de cada semestre em sede de comissão de
curso por forma a identificar práticas de mérito e aspetos a melhorar nas
diferentes UCs.
A Universidade do Minho adotou um sistema integrado de qualidade que implica o
levantamento sistemático de feedback por alunos e pelos docentes.


O que o motivou a aceitar “comandar” este curso?

O convite foi-me endereçado pelo
Diretor do Departamento de Matemática e Aplicações, Doutor Rui Ralha. Não posso
afirmar que aceitei prontamente, já que considero um cargo com
responsabilidades acrescidas aos que tenho desempenhado em direções de curso, e
como tal merece uma cuidada reflexão. Os anos que lecionei uma disciplina
optativa no 4º ano da extinta LMCC e uma outra de 3º ano da atual licenciatura
ficaram gravados na minha memória como positivamente inesquecíveis. Esses anos
fizeram pender a minha decisão.


As experiencias anteriores têm-no
ajudado no cumprimento da sua função de diretor de curso?

Tenho pertencido a Comissões de
Curso ao longo destes últimos anos e portanto fui tomando consciência dos
problemas trazidos às Comissões de Curso e da carga burocrática que as afetam.

Quais são as maiores dificuldades no
cumprimento da sua função?

Este ano letivo está a ser
particularmente trabalhoso. Em 2012 a Licenciatura em Ciências da Computação
(LCC) foi alvo de uma reestruturação e na sequência o ano letivo iniciou-se com
3 planos de estudo em simultâneo e com muitos processos de equivalência
pendentes. A elaboração do relatório a ser submetido à A3ES foi outro momento
de intenso trabalho e de grande responsabilidade. Contei e conto com a ajuda
preciosa e incansável dos restantes elementos da Direção de Curso.



No seu entender, porque é que um futuro
universitário deve concorrer à Licenciatura em Ciências da Computação?

Vou ser franco: a LCC não é um curso
fácil. O grau de exigência é compatível com o que consideramos ser
imprescindível num licenciado em LCC que queira ingressar no mercado de
trabalho ou que queira prosseguir uma formação complementar profissionalizante.
Os licenciados em LCC estão habilitados a concorrer e frequentar um leque
alargado de cursos de 2º Ciclo quer da Universidade do Minho, como o Mestrado
em Matemática e Computação, o Mestrado de Informática e o Mestrado em
Engenharia Informática, quer em qualquer local na UE. O mercado de trabalho
acaba por servir de barómetro do sucesso do curso: apesar dos tempos difíceis
que atravessamos, os licenciados de LCC têm conseguido vingar. As taxas de
empregabilidade, que rondam os 99%, são extraordinárias nos dias que correm.


Quais são na sua opinião os pontos
fortes deste curso? E os pontos fracos?

O plano de estudos de LCC é coerente
e está dotado de um carácter experimental muito necessário nestas áreas.­ O
corpo docente que leciona as UCs do curso de LCC é constituído integralmente
por investigadores doutorados, em grande percentagem membros de centros de
investigação sediados na Universidade do Minho e financiados pela FCT.

A qualidade dos licenciados neste
curso está refletida nas taxas de empregabilidade. Ou seja, o mercado reconhece
as mais-valias decorrentes em ter como colaborador um licenciado de LCC.
A pouca divulgação da área junto dos alunos pré-­universitários  leva a
que a LCC seja, para alguns alunos, uma segunda opção após Engenharia
Informática. Este é um ponto fraco que pretendemos contornar.


O que caracteriza este curso da UMinho
relativamente aos cursos da Licenciatura em Ciências da Computação de outras
universidades?

As áreas científicas que suportam
LCC são a Matemática, as Ciências da Computação e as Tecnologias da Computação.
Estas complementam-se, dando aos licenciados conhecimentos sólidos e extensos
dos problemas relacionados com a eficaz e correta utilização dos métodos e
técnicas computacionais. A formação matemática ministrada, por um lado, torna
os alunos capazes de desenvolver e verificar rigorosamente soluções corretas e
eficientes. Por outro lado, esta formação deverá desenvolver nos alunos uma
grande flexibilidade e uma grande adaptabilidade na resolução de novos
problemas, levando­-os a desenvolver os seus próprios modelos, métodos, técnicas
ou ferramentas computacionais.

Este equilíbrio de forças é apenas
comparável à formação oferecida pela Faculdade de Ciências do Porto. Os alunos
que se inscrevem em LCC contam com instalações e equipamentos afetos aos
departamentos envolvidos adequados à lecionação de turnos laboratoriais e à
execução dos projetos das diferentes UCs. A formação dos alunos complementa-se,
por exemplo, com a participação nas Jornadas de Informática JOIN e na ISci
Interface Ciência que visam promover a interação entre os alunos e o tecido
empresarial.


Existem hoje em dia excesso de
profissionais em determinadas áreas. O que podem esperar os alunos da
Licenciatura em Ciências da Computação quanto ao mercado de trabalho?

São cada vez mais importantes e necessários cientistas na
área da computação quando nos vemos cada vez mais confrontados com software em
todas as áreas. Torna-­se imperativo observar a qualidade do software
desenvolvido, sobretudo em áreas críticas.
­O reconhecimento, pelas entidades empregadoras, da mais-valia de um licenciado
em LCC está patente nos índices de empregabilidade.

De acordo com http://www.dges.mctes.pt/DGES/pt/Estudantes/Acesso/Genericos/IndicedeCursos, a empregabilidade dos licenciados em LCC ronda os 99%. Tal
não obsta a que os licenciados de LCC possam prosseguir os seus estudos em
cursos de 2º e 3º Ciclos.

Acompanhou o período das reformas de
Bolonha, marcado por uma profunda alteração do modelo de ensino. Como o avalia?

A adoção das normas decorrentes do
Processo de Bolonha afetou de forma mais ou menos semelhante todas as
licenciaturas. Gosto de destacar a implementação dos ECTS em substituição das
Unidades de Crédito: estas últimas apenas levavam em linha de conta o número de
horas de aulas, enquanto que no novo modelo são contabilizadas as horas de
contacto, de trabalho e de avaliação. Vimos uma redução do número de horas de
contacto, e uma contabilização do número de horas de trabalho autónomo por
parte dos alunos. No entanto, e fazendo fé no que os alunos indicam nos
inquéritos que preenchem, os hábitos de trabalho independente não são o ponto
forte dos nossos alunos. Os hábitos vão-se alterando e moldando; quem sabe se
no futuro próximo o discurso será diferente?

Bolonha trouxe novidades também na
denominação do curso. A Licenciatura em Matemática e Ciências da Computação era
uma referência a nível nacional que produziu excelentes profissionais e
investigadores – algo que foi recordado em 2012, nas comemorações dos 25 anos
de L(M)CC. A qualidade e a exigência na formação mantêm-se.


Quais são as suas prioridades para o
curso nos próximos tempos?

Pretendemos desenvolver ações de
divulgação sobre a área e o curso na comunidade por forma aumentar o número de
candidatos à Universidade do Minho que escolhem LCC como primeira opção. Por
exemplo, a realização atividades que envolvam a visita de alunos pré-­universitários
ao Campus sob a temática das Ciências da Computação fará alguma da divulgação
desejada.

Quais são para si os principais
desafios?

Um tipo de desafios com que me
deparo quase diariamente é o da operacionalização da licenciatura: recolher
sensibilidades de colegas e dos alunos, tratar de assuntos burocráticos
associados ao curso, resolver o melhor possível os problemas que surgem no
dia-a-dia.
Um segundo tipo de desafios enquadra-se numa perspetiva a médio e longo prazo:
é necessário o reforço na divulgação da LCC por forma a podermos aumentar o
número de bons alunos que escolhem LCC. 


Texto: Ana Coimbra

Fotografia: Nuno Gonçalves

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