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“Estes alunos têm que fazer Erasmus, têm que estar abertos a ofertas de emprego e de estágio no estrangeiro.”


 
Qual a sua formação e trajeto académico?
Sou formada em Ensino de Português e Alemão pela Universidade do Minho e doutorada em Ciências da Linguagem, na área de Linguística Alemã.
Como caracteriza a sua função de diretora de curso?
Este curso é no fundo uma compilação de vários cursos, pois está dividido em três variantes e subdividido em 8 planos de curso. Antes de Bolonha tínhamos diferentes cursos em ensino de línguas, o curso pós-Bolonha agrega também esses cursos, por isso gerir este curso é complexo em tudo, fazer horários, organizar opções, organizar as inscrições dos alunos nas variantes? ser diretora deste curso é bastante exigente, dedico muito tempo a esta função. É já o meu segundo mandato e este cargo tem absorvido muito do meu tempo. Ser diretora de curso não foi uma opção minha, acho que nunca é, acabei o doutoramento e disseram-me que precisavam de mim, pois achavam que era muito organizada, uma característica essencial para dirigir, principalmente, este curso.
O que a motivou a aceitar “comandar” este curso? 
Este é o tipo de coisas às quais não se pode dizer que não, um dia tinha de ter um cargo e por isso achei que deveria começar já por este. Exercer um cargo faz parte das funções do professor universitário. 
As experiências anteriores têm-na ajudado no cumprimento da sua função de diretora de curso?
Sim, penso que o facto de ter sido aluna nesta Universidade ajudou bastante. Era aluna de uma licenciatura pré-Bolonha, mas muitas disciplinas e professores mantêm-se, o facto de ter conhecido a licenciatura por dentro tem sido útil.
Quais são as maiores dificuldades no cumprimento da sua função? 
A maior dificuldade prende-se mesmo com o trabalho burocrático. Sei que foi boa a intenção da Reitoria em introduzir ferramentas como o DUC, a plataforma elearning, os relatórios de autoavaliação, etc. só que a responsabilidade de gerir tudo ficou a cargo do diretor de curso, o que é um trabalho muito complexo, principalmente num curso como este que tem à volta de 60 disciplinas. 
No seu entender, porque é que um futuro universitário deve concorrer ao curso da Licenciatura em Línguas e Literaturas Europeias?
Primeiro penso que não se deve concorrer a um curso pensando apenas nas suas saídas, porque a situação do mercado de trabalho é muito instável e está a mudar constantemente. Penso que cada um deve seguir a área de que gosta. No meu caso gostava de línguas e de linguística, por isso acho que voltava a tomar esta decisão. Este curso tem muitas mais-valias. Em primeiro lugar tem as diferentes variantes e os diferentes planos de estudo, o que oferece ao aluno um leque variado de escolhas linguísticas. No caso do inglês, o aluno deve ter um bom nível para escolher a variante major inglês. Já quanto à segunda língua (a língua minor), pode ou não ter conhecimentos prévios. Quando reestruturei o curso, este ficou com dois perfis na língua minor. O aluno que entra no curso e não tem conhecimentos de alemão, francês ou espanhol pode começar do zero. Os alunos que têm conhecimentos entram num perfil mais elevado, o que é uma vantagem. 
Depois, para um aluno que quer ser professor de línguas, este é o único curso que lhe dá os ECTS necessários para entrar num mestrado em ensino. Além disso, o curso tem algumas disciplinas de tecnologias, o que é uma mais-valia. Os alunos têm, logo no primeiro ano, tecnologias de comunicação nas humanidades. Os que gostam dessa área têm a possibilidade de escolher opções de tecnologias no 3º ano. Têm ainda várias opções como marketing, animação cultural, opções pedagógico-didáticas. Através das opções, o aluno também já é orientado para decidir qual o mestrado que pretende seguir posteriormente. E os alunos sabem que atualmente é muito importante saberem línguas, pois muitos acabam o curso e vão para o estrangeiro trabalhar ou estudar.
Quais são na sua opinião os pontos fortes deste curso? E os pontos fracos?
Os mais fortes são a possibilidade de combinar as línguas, de iniciarem a aprendizagem de uma língua ou então irem para um perfil mais elevado, o facto de terem unidades curriculares de tecnologias e as diferentes opções. O mais complicado neste curso é gerir os oito planos, fazer horários, por exemplo. Neste curso não conseguimos evitar furos, pois há disciplinas comuns a todos os planos e a outros cursos e, como agora temos cursos em pós-laboral e não dispomos de mais pessoal docente (pelo contrário até), temos que puxar os horários diurnos para mais tarde para conseguir ocupar aquela faixa que é comum entre as 18h e as 20h, e é claro, por vezes, os alunos queixam-se dos horários. 
O que caracteriza este curso da UMinho relativamente aos cursos de Licenciatura em Línguas e Literaturas Europeias de outras universidades?
Existem os cursos em Línguas, Literaturas e Culturas em Lisboa, Porto, Aveiro e Coimbra e noutras universidades, por isso, temos alguns termos de comparação. Relativamente às outras universidades, a nossa nota mínima de entrada e os índices de procura do curso são muito bons. Os nossos indicadores de emprego também são muito positivos comparando com os de outras universidades, por isso estamos bem. 
Existem hoje em dia excesso de profissionais em determinadas áreas. O que podem esperar os alunos da Licenciatura em Línguas e Literaturas Europeias quanto ao mercado de trabalho? 
O que eu lhes digo é que não podem pensar que acabam o curso e têm emprego garantido. Estes alunos têm que fazer Erasmus, têm que estar abertos a ofertas de emprego e de estágio (também) no estrangeiro. Esta licenciatura é de apenas três anos, oferece uma formação de base em línguas mas os alunos devem estar a abertos a prosseguir a sua formação, em Portugal ou no estrangeiro. Muitos dos nossos alunos vão fazer mestrado para fora, aproveitam os intercâmbios e projetos interuniversitários, tanto durante a licenciatura como a nível da pós-graduação. Eles estudam línguas estrangeiras, por isso, passar algum tempo no país onde podem falar a língua que estudaram com falantes nativos é uma mais-valia importante.  
Acompanhou o período das reformas de Bolonha, marcado por uma profunda alteração do modelo de ensino. Como o avalia?
A ideia era boa, mas o problema é a interpretação que se faz de Bolonha, e cada país fez a sua interpretação. Não sei se os alunos ganharam muito com Bolonha em Portugal, porque nós temos um sistema muito rígido. As nossas licenciaturas têm um determinado número de disciplinas que estão publicadas em Diário da República, se quisermos mudar uma disciplina temos que fazer uma reforma e os novos planos têm que ser novamente publicados. É tudo muito pouco flexível. Um sistema como o que existe por exemplo na Alemanha vai mais ao encontro do espírito de Bolonha. Aí a licenciatura tem disciplinas obrigatórias e depois tem opções que os professores podem criar e oferecer pontualmente, como seminários, variando a oferta letiva. 
Penso que dessa forma os alunos ganham mais. Mas acho que Bolonha veio melhorar este curso. No caso das línguas saiu a parte da formação de professores. Quem quiser ser professor tem que tirar o mestrado em ensino. A introdução de opções profissionalizantes foi positiva. Estas dão aos alunos um cheirinho do caminho que podem prosseguir posteriormente. Um aluno que entre atualmente numa licenciatura de 3 anos tem que perceber que terá uma formação base e que terá que seguir depois o seu percurso, por exemplo, num mestrado. 
Quais são as suas prioridades para o curso nos próximos tempos?
A prioridade é dar tempo para estabilizar o curso, depois de um período de reestruturações sucessivas. Desde que estou na direção de cursos já fizemos 3 alterações ao(s) plano(s) de estudos do curso. Fomos vendo onde é que havia problemas e tentámos colmatá-los. Esta 3ª reforma já não foi iniciativa minha, mas impulsionada pela Reitoria. No próximo ano, o curso já vai abrir com a opção UMinho, uma opção aberta a todos os cursos da UM. Será uma mais-valia os alunos poderem escolher uma opção que não é da área do ILCH. Teremos ainda outras opções comuns a todos os cursos do ILCH. Espero que esse bolo comum facilite a organização da oferta das unidades curriculares opcionais.
Em relação ao curso, temos alguns projetos, como o projeto de tutoria em pares ? TUTOPAR-LLE. Alunos de anos mais avançados ajudam os colegas que têm mais dificuldades nas línguas ou nas metodologias de estudo, durante duas horas por semana. A iniciativa já funciona pelo 3º ano consecutivo e tem sido positiva. Agora temos que dar tempo para que estas reformas também dêem frutos. 
Quais são para si os principais desafios?
Neste momento o principal desafio é o financeiro. Temos que ultrapassar esta crise. No ILCH estamos com problemas na manutenção do corpo docente, sobretudo dos leitores, os docentes que efetivamente dão as aulas de línguas. O problema é que temos os cursos, temos os horários pós-laborais e cada vez menos pessoas para dar as aulas. Daí a necessidade de juntar cursos em muitas UCs. O maior desafio do curso é superar estas dificuldades financeiras e superar a crise nas Humanidades, que está a afetar toda a Europa. As Humanidades não geram o dinheiro que outras áreas como as engenharias, economia, tecnologias, etc. conseguem gerar, e nunca o vão fazer. 
Texto: Ana Coimbra
anac@sas.uminho.pt
(Pub. Abr/2012)



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